Mais um caso de violência provocado pela polícia portuguesa. Manifestantes pacíficos sobre tema anódino são agredidos sem qualquer justificação. Por Passa Palavra

A atitude violenta, agressiva e insultuosa dos agentes estendeu-se, aliás, aos simples passantes que não gostaram do que viram e o manifestaram. E também aos que “se atreveram” a tentar fotografar ou filmar os desacatos dos polícias (apesar disso publicamos algumas fotos “sobreviventes” e estamos a tentar obter outras que melhor documentem o acontecimento). Nos bairros pobres da periferia, era já óbvio que as esquadras e os agentes têm instruções no sentido de criminalizar e reprimir duramente quaisquer protestos. Este caso mostra que essas orientações tenderão a estender-se a quaisquer movimentos cívicos, mesmo os mais inofensivos, que pretendam trazer algum protesto para o espaço aberto das ruas.

Eis o relato dos acontecimentos, pelo próprio grupo atingido:

Na sexta-feira, 16 de Janeiro, decorreu uma celebração na praça do MFA, no centro da zona pedonal [reservada a pedestres] de Almada [cidade da margem sul do Tejo, em frente a Lisboa], cujo objectivo era reclamar a zona pedonal para os peões [pedestres] (visto que ela é todos os dias atravessada por centenas de carros, autocarros [ônibus], táxis, tornando-a, talvez, na “zona pedonal” menos pedonal do mundo…). Uma iniciativa pacífica, de festa e celebração, com jogos com crianças, lanche, distribuição de informação, música e sobretudo muita festa.

Por volta das 18h, a banda Ritmos de Resistência estava já a tocar há algum tempo, andando pela zona pedonal, incomodando (assim como os carros incomodam as pessoas numa zona pedonal) mas não bloqueando o trânsito. Um grupo de polícias veio a correr na nossa direcção, empurrando violentamente várias pessoas da banda. Agarraram então uma rapariga [moça] que estava com a sua filha bebé ao colo e empurraram-na bruscamente da frente de um carro. Um dos polícias ameaçou a rapariga dizendo-lhe “se não sais do meio da rua, bato no teu bebé”.

Logo imediatamente a polícia reparou que havia uma pessoa com uma máquina de filmar perto da rapariga e foi-lhe tentar apreender a máquina, ao que essa pessoa, pacificamente, se recusou, pois não estava a perceber para que os agentes queriam o filme. Perante isto, pediram-lhe a identificação, ao que ele respondeu que o faria apenas depois de o polícia também se identificar (pois nenhum dos agentes presentes tinha identificação). A partir daí a actuação da polícia tornou-se mais violenta e as respostas eram invariavelmente do tipo “eu dou-te a minha identificação, o caralho” ou “se me continuas a pedir a identificação levo-te detido”. Várias pessoas foram mandadas ao chão e a pessoa que estavam a tentar identificar foi imobilizada por 4 ou 5 agentes de uma forma completamente desproporcionada. Uma pessoa que estava a tirar fotos da agressão foi então agredida por um polícia que lhe tentou tirar a máquina fotográfica, mandando-a ao chão, e que quase lhe partiu um dedo. Várias pessoas foram obrigadas a apagar as fotos que tinham da actuação policial.

Outra pessoa, ao aproximar-se da situação, foi socada na barriga por um agente. Ao mostrar a sua indignação foi ameaçado fisicamente: “dei-te uma e volto-te a dar, filho da puta”. Ao que levou outro murro e o agente ainda acrescentou “se eu não estivesse fardado já te tinha fodido todo”. Essa pessoa caiu então por cima da que estava a ser detida e o grupo de polícias começou a dar bastonadas de uma forma extremamente violenta.

Nesta confusão outro jovem aproximou-se e levou uma bastonada na cabeça, ficando a jorrar sangue. Uma senhora que se encontrava a ver toda esta situação (juntamente com muitas outras pessoas que entretanto se tinham juntado) foi também empurrada por um agente e caiu ao chão, tendo batido com a cabeça. Um agente à paisana, que entretanto tinha tirado o distintivo, aproximou-se de algumas pessoas da banda e disse para um dos seus elementos “eu sou psp, voltas-te a meter com os meus colegas e eu faço-te a folha, filho da puta”.

Já na esquadra as agressões continuaram quando as pessoas tentaram saber das pessoas que tinham sido detidas. E só aí, e com a presença do advogado, é que foi possível obter a identificação de alguns dos agentes envolvidos. O balanço desta festa/celebração foi: muita animação, convívio e festa, mais três feridos e dois detidos.

Consideramos toda a acção da polícia completamente desproporcionada e desnecessariamente violenta. Foi chocante o clima de impunidade em que vive a polícia. Quando se informaram os agentes de que seria apresentada queixa pelo seu comportamento as respostas foram risos e gozo.

Para lutar contra a violência policial e para continuar a exigir uma verdadeira zona pedonal no centro de Almada, realizou-se no dia 23 de Janeiro, às 16h, uma “marcha do caracol” onde não se verificaram incidentes.

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