A comunidade da Vila Brandão resiste às investidas de um governo de mãos dadas com a especulação imobiliária. Como sempre, a “modernização” da cidade se expressa na expulsão das comunidades pobres e negras da orla e do centro da cidade. Por Passa Palavra

A nova gestão [em Salvador, Bahia] do prefeito reeleito João Henrique mal começou e já mostrou a sua nova face. Se no governo anterior ainda havia o discurso da “Participação Popular”, a nova Prefeitura atualmente se mostra recheada pelos discursos e práticas de extrema-direita do Ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e do DEM f090327_vilabrandao4[Partido Democratas, um dos mais conservadores do Brasil], tendo como slogan “Salvador de um novo tempo”. A mudança no perfil e discurso da Gestão Municipal fica patente já em sua nova logomarca. Os bonecos de seres humanos, negros e mulheres com punhos erguidos, são substituídos por prédios de várias cores, os novos “sujeitos” da cidade. Salvador deixa de ser “popular” e passa a ser “de um novo tempo”…

É dentro deste contexto que deve ser interpretada a mais nova investida do governo municipal. Ontem foi o Canal de Mussurunga [bairro localizado no centro da cidade], onde várias famílias foram expulsas de forma violenta para criar mais um sistema viário para a Paralela [avenida de Salvador que liga o centro ao aeroporto e hoje maior alvo das especulações, ver aqui e também aqui]. Hoje o alvo é a comunidade da Vila Brandão, dando continuidade a uma história centenária de “modernização” da cidade que se expressa, nitidamente, na expulsão das comunidades pobres e negras da orla e do centro da cidade.

f090327_vilabrandao1A Vila Brandão é uma comunidade com quase 70 anos de existência, formada por pescadores, camelôs [vendedores ambulantes], autônomos e outros trabalhadores pauperizados e, em sua maioria, negros, sendo que nos últimos anos muitos artistas e estrangeiros se agregaram à comunidade. Mas essa comunidade negra e pobre cometeu o pecado de estar localizada justamente no centro da elite racista de Salvador, entre a Barra e a Graça, e não no subúrbio, onde ficaria distante dos olhos e das políticas públicas municipais. Logo, deve ser punida com a pena capital: a extinção. Não é à toa que são estas as expressões usadas pelo Jornal Correio da Bahia, máximo representante desta mesma elite e com fortes ligações com o DEM.

Entretanto, a comunidade sempre resistiu. Resistiu às diversas investidas do Yatch f090327_vilabrandao2Club, localizado a poucos metros da comunidade; resistiu à especulação imobiliária interna, onde segmentos da sociedade com maior poder aquisitivo compram casas e descaracterizam o meio, expulsando indiretamente os antigos moradores; resistiu à ação de empreendimentos imobiliários, que em 2007 destruíram a Mansão Wildeberg [considerada patrimônio histórico] e tentaram ludibriar a comunidade, oferecendo falsas vantagens. Agora, espera-se que a comunidade resista mais uma vez à ação truculenta do Ministro Geddel, por meio de sua marionete, o prefeito da capital.

Movimentos sociais (entre eles o Movimento Negro), entidades de assessoria, universidades, Ministério Público, Defensoria Pública, artistas e outras personalidades, que sempre apoiaram a Vila Brandão, precisam agora somar força à mobilização da comunidade na luta contra sua extinção. No dia 29/03, domingo, foram marcadas diversas atividades na comunidade para dar prosseguimento à sua história de resistência (ver nosso Calendário de Março, dia 29).

Na nossa secção Em Directo, aqui, veja o vídeo Vila Brandão – 69 anos de [R]existência.

Petição online aqui.

9 COMENTÁRIOS

  1. Bem colocada toda a questão. Parabéns!!!
    Não vamos nunca mais permitir que a injustiça caia sobre nós!!
    Nós somos muitos!!! e se sentarmos ante ao outro e contar sobre os nossos problemas que enfrentamos, vamos chegar a conclusão que não são particulares, e isso é o que nos dará a força de um vulcão em erupção, quando todos souberem que lutamos pelos mesmos ideais!!!
    Avante a luta!!!
    A vitória!!!

  2. CORREÇÃO: na verdade Mussurunga fica no “miolo” da cidade, e não no Centro, pois a região que é conhecida como centro é a parte histórica, apesar de geograficamente se localizar em uma das pontas, enquanto o verdadeiro centro [geográfico], não exerce relevante função política e comercial — dentro dos parâmetros do capital — e é de ocupação relativamente recente. E é aí, no “Miolo”, que Mussurunga existe.

  3. Isso é uma injustiça, pois depois de tantos João Henrique quer derrubar um local seguro e calmo.
    Eu quero justiça.

  4. Adorei a matéria, show de bola, eu como morador da Vila e apaixonado por aquele lugar..,fico muito FELIZ e com mais folego, de lutar pelo meu Habitat de vida ! Agradeço pela FORÇA e estou DISPOSIÇÃO .

  5. Oi,
    Sou Nerea, estudé no ano 2006-2007 na UFBA com um intercambio de estudantes entre mina faculdade (UPV-EHU , Pais Vasco, Espanha)e a UFBA. Durante o curso eu morei na Vila Brandao com essa comunidade maravlilosa, super bacana e bem tranquila.
    Desde a Espanha envio um grande abraçao para tudos/as moradoras que tam boas forom conmigo.Charli, Grilo, Jimena, Liborio, Mariana, Nelson, Adriana…para tudus/as. E sem desde aqui posso ajudar so tem que falar.
    Força Vila Brandao!!!!Força Negra!!!!!

  6. Quem paga IPTU tem direito de fato a reclamar, quem não paga infelismente não vai ter muitos argumentos. A comunidade da vila Brandão se instalou no local a muitos anos mas isso não quer dizer que os terrenos foram adquiridos. E propriedades, especialmente nessa área mais antiga da cidade, tem dono. Se o verdadeiro dono do local quiser fazer uso do espaço que é seu, o pessoal terá que se retirar querendo ou não. Essa é a lei, é assim que o mundo está organizado, o sistema capitalista se baseia na propriedade privada e é preciso organização e respeito às regras pra que a vida aconteca de forma organizada. É uma pena que uma comunidade pacifica como a da vila brandão perca o privilégio de morar com uma das mais espetaculares vistas da nossa cidade, mas se deve manter o respeito pelas regras do sistema em que vivemos.

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