Por Coletivo CMI de Pres. Prudente & Passa Palavra

unesp-prudenteDas três universidades estatais que existem no estado de São Paulo, com certeza a Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP) é a que menos recebe atenção dos noticiários do país. Ofuscados pela popularidade que recebem a USP e a UNICAMP, importantes acontecimentos políticos ocorridos na UNESP muitas vezes nem chegam ao conhecimento da população. Talvez este ostracismo decorra do fato desta instituição amargar o status de ser uma “universidade caipira [provinciana]”, isto porque, a Unesp, na verdade, é formada por um conjunto de unidades pulverizadas por diversas cidades do interior do estado, ficando longe dos holofotes que sempre incidem nas capitais.

Em matéria de movimento estudantil combativo, no entanto, a comunidade unespiana nunca deixou a desejar em relação a seus pares mais famosos, sempre se mostrando bastante entendida e avançada neste quesito. A análise do movimento estudantil das duas últimas décadas facilmente confirmaria o que aqui se afirma, pois, nestes vários campi espalhados pelo estado, muita coisa importante acontece em termos de luta estudantil, mesmo que os feitos não sejam considerados dignos de uma manchete nacional. Especialmente as unidades das cidades de Assis, Marília e Presidente Prudente – embora não só -, são palco de uma militância estudantil significantemente agressiva e profícua, pelo fato de aí se concentrarem os cursos de licenciatura e humanidades, que tradicionalmente atraem mais os alunos de baixa renda que conseguem se infiltrar para dentro do ensino de nível superior.

unesp-assembA tradição de luta da estudantada do “triângulo da pobreza” – como são geograficamente conhecidos estes campi nos meios unespianos – novamente se confirmou este ano. Desta vez, na avant-garde do movimento estudantil paulista estão os alunos da unidade de Presidente Prudente, que ocuparam o espaço da diretoria da Faculdade de Ciência e Tecnologia, na noite do dia 02 deste mês. Na pauta de reivindicação, aquilo que é sempre reclamado pelos estudantes pobres que conseguem furar a barreira do vestibular [exame de acesso ao ensino superior] e teimam em permanecer na universidade estatal com igualdade de condições: melhoria dos programas de assistência estudantil.

Desde há algum tempo que as políticas de permanência estudantil das trêsunes-cartaz universidades estaduais paulistas, que já não eram suficientes, têm ficado defasadas em relação ao número oferecido de vagas. Diferentes planos de expansão universitária são arbitrariamente concebidos pela alta administração destas instituições sem que haja, paralelamente, o direcionamento proporcional de verbas aos programas de assistência, tais como: moradias estudantis, bolsas de subsídio e restaurantes universitários. Estes, se é que constam nos mirabolantes projetos, são relegados para as iniciativas filantrópicas de empresas e fundações privadas que cada vez mais se apoderam das instituições de ensino.

Isolado no extremo oeste do estado, o movimento dos estudantes da Unesp de Presidente Prudente não conseguiu muito mais do que algumas moções e cartas de solidariedade. No campus de Marília, inclusive, chegou-se a realizar uma manifestação em apoio. O que foi muito positivo, entretanto, insuficiente para evitar que, oito dias após a ocupação do prédio, a polícia começasse a rondar o campus e aproveitasse que a maioria dos alunos se encontrava em atividades de aula para efetuar a reintegração de posse, como houvera pedido a direção da faculdade, dois dias antes.unesp-marilia2

Mesmo sem oferecer resistência, os dez alunos que se encontravam no momento da ação policial foram indiciados como invasores e qualificados de ladrões, pois, segundo a direção da unidade, faltava uma peça de janela no espaço escolhido para a mobilização.

O mais preocupante de tudo isso é que, outra vez, um movimento audacioso foi abafado antes mesmo que suas boas novas fossem sequer anunciadas para todo o estado, induzindo a uma mobilização generalizada, que envolvesse também os estudantes e trabalhadores das outras instituições.

Entretanto, hoje, dia 17, será realizada uma nova assembléia, onde poderá ser deliberada uma nova onda de greves e ocupações, em conjunto com a estudantada de outros campi. Quem sabe, a atitude dos estudantes prudentinos não terá sido só o primeiro passo de uma mobilização mais ampla?

 

1 COMENTÁRIO

  1. A unesp soma mais de 20 anos de fortes lutas estudantís em seu interior. Lutas responsáveis por criarem toda uma rede de inclusão social universitária. O grande mérito do estudantado unespiano foi não ter embalado o foco parlamentarista para o qual o tentam arrastar as lideranças várias de sindicatos e ministros dos estudantes como dirigentes da UNE e UEE procurando, ao contrário, lançar combate aos gestores, tecnocratas, internos que são, enfim, os que mandam de verdade. Os que expulsam, os que proíbem, os que impedem ou não que um pobre tenha bolsa, moradia, alimentação, os que definem a qualidade dos cursos, as regras internas, as contratações e etc. Merece toda uma atenção a luta do povo caipira da unesp.

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