Aqui há uns dias, voltei a lembrar-me com saudade dos tempos em que um dos passeios favoritos da família, entre 1957 e 1959, quando vivíamos em Lisboa, era metermo-nos todos no carr(it)o Hillman – Pai, Mãe e quatro filhos – e ir até ao aeroporto, passar um bocado da tarde na esplanada do primeiro andar, ver aterrar e levantar aviões. Depois recordei-me que esse também era um passatempo cantado por Gilbert Bécaud no seu Dimanche à Orly. Avidamente, procurei a letra na Internet, encontrei-a, vi que datava de 1963, ou seja: em França, esse passeio agradável entrou pelos anos 60 adentro. Mas o que me impressionou mais ao reler a letra da canção, foram os pormenores que descrevem o que era, na altura, «un très chouette appartement» [um apartamento muito bom] comprado por um médio burguês que o podia pagar em «menos de vinte anos»: «On a le confort au maximum / Un ascenseur et une salle de bain» [Temos o máximo conforto / Elevador e casa de banho]! Em Paris, anos 60, vésperas do grande Maio, ainda uma casa de banho era um luxo, um «confort au maximum». Bem dizia o Dante Allighieri: «Nessun maggior dolor che ricordarsi del tempo felice nella miseria» [Não há dor maior do que recordar tempos felizes na miséria]. Óscar Mascarenhas

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