Nesta terça-feira, 03 de novembro, Florianópolis viveu um dia intenso, em que o calor de algumas lutas acendeu os ânimos e conseguiu mesmo que momentaneamente – romper com a apatia e normalidade do cotidiano da cidade.

Paralisação dos trabalhadores do transporte coletivo. Greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Zona Azul [estacionamento público], da Saúde, e da empresa responsável pela coleta de lixo na cidade (Comcap). Mobilização dos funcionários da segurança pública e da administração estadual. Quebra-quebra no Terminal Integrado do Centro (Ticen). Em meio a tantas lutas, o que podemos tirar?

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Foto: Hermínio Nunes / Diário Catarinense

A paralisação no transporte coletivo e a reação da população: quebra-quebra no terminal

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Foto: Susi Padilha / Diário Catarinense

Motivados pelo anúncio de cortes de linhas e redução drástica de horários dos ônibus, pelo projeto de privatização da Zona Azul, pela defesa dos postos de trabalho dos cobradores e possibilidade de cancelamento da participação nos lucros, os trabalhadores do transporte coletivo de Florianópolis fizeram uma paralisação de quase 2 horas na manhã desta terça.

A paralisação completa do serviço, além de mostrar aos patrões e à prefeitura a organização e disposição de luta da categoria, despertou na população um sentimento de revolta e indignação.

Após dois aumentos consecutivos nas passagens de ônibus, o que era caro ficou ainda mais caro, tornando a tarifa de Florianópolis a mais cara do Brasil. Mas o que era ruim podia ainda piorar: por determinação da Secretaria de Transportes, na figura do secretário e vice-prefeito da cidade João Batista, diversos horários foram cortados e linhas remanejadas, aumentando o tempo de espera e a lotação nos ônibus, tudo em nome da “eficácia” e “racionalidade” do sistema.

Neste quadro de intensa exploração, a paralisação nos serviços de transporte foi só o estopim da revolta: catracas, bebedouros e guaritas foram destruídos no Terminal do Centro, num protesto espontâneo da população contra o sistema de transporte. Durante 30 minutos a cidade reviveu um pouco dos momentos críticos de revolta popular que marcaram a chamada Revolta da Catraca (2004 e 2005), mostrando que uma vez mais estamos chegando ao limite da aceitação deste cotidiano de exploração, e que o próximo aumento nas tarifas encontrará uma resistência muito maior da população.

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Foto: Susi Padilha / Diário Catarinense

Apenas a atuação da Polícia Militar e de bombas de efeito moral puderam conter o protesto, com um saldo de duas pessoas detidas.

Mais greves

Em campanha por reajuste salarial, melhores condições de trabalho e pela realização de concursos públicos, os trabalhadores da Comcap entraram em greve na manhã de hoje, juntamente com os servidores da Saúde, que lutam por reajuste salarial, aumento no vale alimentação e revisão nos casos de insalubridade.

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Foto: Guto Kuerten / Diário Catarinense

As duas categorias conseguiram forte adesão entre os trabalhadores e as greves continuarão nos próximos dias…

Trabalhadores da Zona Azul

zona-azul_03-11Em greve desde o dia 22 de outubro (veja mais aqui), apesar das ameaças da prefeitura, que chegou a contratar trabalhadores substitutos para furar a greve, os trabalhadores da Zona Azul mantiveram sua organização na luta contra a privatização do serviço, que poderia gerar quase 300 demissões.

Na tarde de hoje a categoria manteve a greve, realizando um protesto em frente à sede da Zona Azul e uma passeata no centro da cidade.

O projeto que prevê a privatização do serviço foi votado durante a noite, numa exaustiva sessão que se prolongou durante horas e que, com a Câmara lotada e muita pressão popular, incluiu uma emenda que retira a possibilidade de privatização. Mas a luta continua, para que o prefeito não derrube essa emenda e para que não haja demissões.

Com a palavra os trabalhadores:

Em meio às mobilizações, dois trabalhadores nos ensinam importantes lições, demonstrando que o caminho da vitória passa necessariamente pela solidariedade e unificação prática das lutas. Desafio em que ambos dão exemplo de coragem e disposição. Passa Palavra

4 COMENTÁRIOS

  1. “num protesto espontâneo da população contra o sistema de transporte.”

    Galera, vamos manerar. A população quebrou tudo por que ficou revoltada com a greve isso sim. Greve essa que será o principal argumento pra mais um aumento da passagem, estratégicamente planejado pra este verão, durante o recesso escolar.

    Funcionários do transporte + empresários de Fpolis = um caso de amor.

    obs: Minha opinião provavelmente será censurada. É a vida.

  2. Caro Tiago,

    Discordo completamente das tuas colocações.

    Em primeiro lugar, é necessário ter em conta o que a revolta da população tinha como alvo: as catracas, bebedouros, guaritas, etc do terminal, e não os trabalhadores do transporte coletivo.

    É do sistema como um todo e de seu modelo que estamos tratando, e qualquer greve no transporte não pode ser pensada separadamente, pois enquanto estivermos dentro de um modelo em que os custos do transporte (salários e benefícios dos trabalhadores incluídos) são financiados inteiramente pela tarifa paga pelo usuário ficamos nesta encruzilhada: para manter o lucro dos empresários ou os usuários têm que conviver com um serviço de péssima qualidade ou a exploração dos trabalhadores se intensifica (ou as duas coisas acontecem ao mesmo tempo).

    Para mudar este quadro, só muita luta e uma nova concepção de transporte público: Municipalizado (controlado e administrado pelo poder público com participação popular) e com Tarifa Zero, ou seja, financiado indiretamente através de uma reforma tributária que onere os setores mais ricos da sociedade promovendo distribuição de renda. Para conhecer mais sobre esta discussão, recomendo que visite o TarifaZero.Org (http://tarifazero.org), página que reúne uma grande quantidade de materiais sobre o assunto.

    No mais, dizer que existe ligação entre os trabalhadores do transporte e os empresários é comprar o discurso pronto dos setores mais reacionários da cidade.

    Você viu quais foram as reivindicações dos trabalhadores nesta última paralisação? 1- Contra a privatização da Zona Azul (ou seja, em solidariedade à greve destes trabalhadores); 2- Contra a redução de horários e cortes de linhas (pauta ligada a nós usuários); 3- Pela manutenção dos postos dos trabalhadores; 4- Pela não retirada da PL.

    Ou seja, foi uma greve que visava igualmente os interesses da categoria e do resto da população.

    Quem conhece o Sintraturb sabe da importante atuação deles em diversas outras lutas na cidade, da dedicação e solidariedade por eles oferecida (assim como da parte de outros sindicatos) na recente greve dos trabalhadores da Zona Azul, etc.

    São os interesses da população que utiliza o transporte que se conjugam com os dos trabalhadores do sistema. Resta a nós construirmos a unidade nesta luta.

  3. Acho incrível Khaled que eu e você defendamos a mesma transformação no sistema de transporte de Fpolis e, mesmo assim, você consiga começar sua resposta com:

    “Discordo completamente das tuas colocações.”

    E para piorar você me acusa de comprar discurso dos setores reacionários. Deslegitimando por completo qualquer comprometimento social e qualquer grau de opinião própria que eu possa ter.

    A tua opção de retórica enfraquece e desmotiva aqueles que tentam somar forças a esta causa tão importante.

  4. Tiago,

    Acho que o debate não deve se tornar uma briga pessoal. Minha intenção não é a de questionar ou de deslegitimar o comprometimento ou a opinião de ninguém, mas entendo que interessa aos setores que controlam a cidade manter a divisão das lutas dos trabalhadores e dos usuários do transporte.

    Prova disso é a campanha insistente da imprensa hegemônica e do Sindicato das Empresas de Transporte de Florianópolis com o intuito de demonizar o Sintraturb e suas legítimas greves. A mesma tática de divisão também é usada pela mesma imprensa quando noticiam as manifestações contra os aumentos nas tarifas como manifestações simplesmente de estudantes, para que o trabalhador não se sinta parte desta luta.

    Quem conhece a atuação do Sintraturb sabe do compromisso da categoria com as mobilizações na cidade. O próprio Movimento Passe Livre sempre teve relações muito próximas com a direção do sindicato.

    No mais, é no trabalho prático que se constrói a unidade e se somam forças para a luta.

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