Por Passa Palavra

 

Como bem questionou algum dos participantes de um debate que o Passa Palavra organizou em favor da liberdade do ex-ativista italiano Cesare Battisti: que recado os órgãos de repressão e manutenção da ordem estarão passando para a juventude que inicia sua vida militante nos dias de hoje, se um militante do passado for preso e condenado à prisão perpétua por atos que teria cometido há mais de 30 anos atrás? Respondo: “Você, meu amigo, que pensa em dedicar sua mocidade a estas práticas subversivas e lutar por uma vida mais digna, justa e outras besteiras deste tipo, lembre-se de que todas as suas atitudes de hoje poderão lhe trazer nefastas conseqüências no futuro. Não se esqueça que daqui há 30 ou 40 anos estaremos lá, no seu encalço, como uma sombra, prontos para o abater.”

cesare-5Vivemos nesses dias uma grande expectativa de que, antes do fim de seu mandato, Lula conceda finalmente o status de refugiado político ao – hoje – escritor Cesare Battisti. Órgãos da grande imprensa divulgam que, na última sexta-feira, dia 03 de dezembro, o Presidente teria garantido a correspondentes internacionais que não deixaria esta decisão nas mãos de sua sucessora, Dilma Roussef. Apesar de já ter a decisão tomada em sua cabeça, Lula só estaria esperando o parecer final da Advocacia Geral da União (AGU) para dar a sua declaração final.

Tão logo a notícia se espalhou, o Ministro do Supremo Tribunal Federal e hoje um dos maiores e mais explícitos perseguidores de Battisti, Gilmar Mendes, correu à imprensa para sugerir que o caso poderia voltar a julgamento, acaso a diplomacia italiana alegasse que o pronunciamento jurídico tenha sido “confuso” e pedisse uma nova apreciação sobre a matéria.

Entre os apoiadores de Cesare no Brasil, há quem acredite que a sua “fuga sem fim” não cessará apenas com um parecer favorável de Lula. O maior exemplo disso seriam estas manobras jurídico-burocráticas reiteradas vezes acionadas pelos setores mais reacionários do Estado brasileiro. Para outros, atitudes como a de Gilmar Mendes não passariam de mera bravata de quem resiste em admitir a derrota.

Seja como for, é preciso manter-se em estado de alerta e não esmorecer na luta até que esta decisão favorável do Presidente se confirme, seja ela uma vitória parcial ou não. Battisti já está na cadeia brasileira há quase 45 meses, e não seria nada mal que, como presente de natal, pudesse passar o fim de ano entre os seus.

cesare-6Em relação à questão colocada no início deste texto, convém que se diga que toda pessoa que decide livremente em adentrar o terreno das lutas sociais deve estar ciente dos encargos que esta opção lhe implica. E é de se esperar também que não sejam outros os conteúdos ideológicos transmitidos pelos tradicionais aparelhos de repressão. Mas há que se acrescentar o seguinte: que legado a própria militância atuante deixa para as futuras gerações se um militante do passado é perseguido bem debaixo de seu nariz e pouco ou quase nada se faz para aliviar o companheiro? “Você, meu amigo, que cogita em dedicar sua mocidade às causas socialistas, lembre-se de que no futuro poderá ser perseguido, e estará sozinho, porque nós estaremos ensimesmados em nossos próprios problemas.”

Para além do ato humanitário de se solidarizar com um companheiro (o que, por si só, já valeria a pena), é este o verdadeiro conteúdo político que está por trás de todo caso Battisti, cujo desfecho ansiamos que seja breve. Ele diz muito mais sobre nós, a esquerda, e a nossa capacidade de pensar e conduzir um projeto a longo prazo, do que sobre a direita italiana, os neofascistas, os Berlusconis, os STFs, os Gilmar Mendes, os Lulas e etc.

Quer saber mais sobre o caso de Cesare Battisti? Leia aqui.

1 COMENTÁRIO

  1. “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou para depois do Natal a decisão sobre a extradição ou não do ativista político italiano Cesare Battisti. A informação foi dada pelo chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho.”

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