Os críticos nacionalistas esgrimem em vão contra uma realidade que já não existe, se é que alguma vez existiu. Por João Bernardo

O Brasil vive uma profunda mudança de sua inserção na economia e na política globais. Nunca antes na história deste país se produziu, exportou e investiu tanto, em especial fora das fronteiras – desenvolvendo as empresas transnacionais de origem brasileira. Nunca antes a política externa brasileira foi tão independente – com base na exploração dos recursos econômicos da América Latina e na disputa de mercados e de espaços de investimento em África. Nunca antes o Brasil foi tão engajado – ao ponto de grandes capitalistas apoiarem políticas compensatórias “de esquerda”. Na verdade – e é o que queremos investigar com esta série de artigos – nunca antes o Brasil foi tão imperialista.

Leia a primeira, a segunda e a terceira partes do artigo.

Encerro nesta 4ª parte a análise crítica das acusações dirigidas contra a saída de investimentos directos para o estrangeiro.

2.

Uma variante do argumento de que a saída de investimentos directos corresponderia a uma exportação de postos de trabalho pretende que a internacionalização das empresas, constituindo uma emigração de capitais, implica a redução do nível de investimentos no país. Mas como a geração de emprego e o aumento dos investimentos estão intimamente ligados, as conclusões a que cheguei a respeito de uma podem aplicar-se ao outro. O World Investment Report 2006 mostrou que, tal como sucede com a criação de emprego, também a saída de investimentos directos provoca, após um curto prazo, efeitos positivos sobre o investimento nas economias de origem, tanto em desenvolvimento como desenvolvidas [1].

transnacionais-16Nos países menos desenvolvidos sucede algumas vezes que as companhias procedam a investimentos externos directos ou até se deslocalizem porque as condições de origem não lhes proporcionam expandir ali as actividades, quer devido à fragilidade do tecido económico quer devido à instabilidade política. Mas, se assim for, não é a saída de investimentos directos que cria problemas ao país; pelo contrário, é porque esses problemas já existem que os capitais se dirigem para o estrangeiro. Como observou Márcia Tavares, «do ponto de vista do país de origem, a internacionalização nesses casos é uma solução mais do que um problema. É a alternativa à perda de competitividade de uma empresa nacional e possivelmente à sua eventual saída do mercado» [2].

Em circunstâncias mais comuns pode suceder, como indicou o World Investment Report 2006, que as firmas de países em desenvolvimento prefiram recorrer aos financiamentos estrangeiros do que aos nacionais para expandir a sua actividade além-fronteiras [3]. Assim, no caso do Brasil, onde o financiamento é difícil e as taxas de juro elevadas, a obtenção de fundos em condições mais favoráveis pode ser um dos factores que levam uma companhia a internacionalizar-se, de acordo com Daniela Corrêa e Gilberto Lima [4]. O mesmo sucede noutros países em desenvolvimento. No Brasil, aliás, esta situação tornou ainda mais necessário o crédito fornecido às companhias transnacionais pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social, BNDES, para suprir as deficiências do financiamento interno.

3.

Na mesma perspectiva das acusações anteriores, que têm em comum a presunção de que a saída de capitais provocaria uma contracção económica no país de origem, há quem argumente que a emissão de investimentos directos, passando parte da actividade de uma empresa para o estrangeiro, diminui a receita dos impostos. A isto deve responder-se, tal como às objecções similares, que o aumento do volume de investimentos directos dirigidos para o exterior reforça a capacidade económica da empresa no país onde se situa a matriz e, portanto, cria condições para que aumente a receita fiscal do Estado relativamente ao que aconteceria se aquele investimento não tivesse ocorrido.

4.

Deparo igualmente com a acusação de que a transnacionalização prejudica a balança de pagamentos do país porque implica a saída de divisas. Mas esta acusação esquece que regressam das filiais lucros e dividendos em moeda estrangeira, num montante que ficou assinalado na tabela 4 da 2ª parte relativamente aos investimentos realizados nos Estados Unidos pelas companhias transnacionais oriundas de três países emergentes. «A repatriação futura de lucros também pode contribuir positivamente para a posição do balanço de pagamentos no longo prazo», recordaram Luciano Coutinho et al. [5]. Basta agora citar o caso da Vale: «Cerca de 90% de sua receita, que alcançou US$ 8,5 bilhões [milhares de milhões] em 2004, e menos de 30% de seus custos são denominados em dólares norte-americanos» [6].

transnacionais-15Aliás, esta crítica é contraditória com aquela outra que pretende que as companhias transnacionais só investem para levar lucros para os países de origem. É um exercício de ironia, seguir as circunvoluções a que os nacionalistas são obrigados a proceder perante os mecanismos económicos contemporâneos.

Sem me afastar muito do assunto, cabe notar que a crítica à transnacionalização das empresas brasileiras na perspectiva da balança de pagamentos relaciona-se com outra questão, se considerarmos que as críticas à política anti-inflacionista do Banco Central correspondem, no fundo, a uma polémica do nacionalismo contra a internacionalização da economia. A política cambial que tem sido seguida e a manutenção da inflação dentro de limites baixos e das taxas de juro relativamente elevadas são indispensáveis para atrair investimentos estrangeiros, tanto investimentos directos como capitais mais voláteis, que por sua vez têm sido necessários para equilibrar as contas quando ocorrem défices da balança comercial. É precisamente a este mecanismo que os nacionalistas se opõem. Nos casos extremos, as opções inflacionárias constituiriam uma forma de desincentivar o afluxo de capitais estrangeiros.

5.

Por fim, uma das críticas à transnacionalização das empresas defende que o estabelecimento de filiais no estrangeiro diminui as exportações. Este argumento começa por não levar em consideração que cada vez mais a economia se compõe de serviços e que uma boa parte dos serviços, fora da área da electrónica, não pode ser exportada e só pode ser vendida no estrangeiro através do estabelecimento de filiais da companhia fornecedora. Mas vejamos aquela objecção com algum detalhe.

Mostrei num artigo deste site dedicado à geopolítica das companhias transnacionais que no sistema contemporâneo, em que cada filial corresponde a uma fase de cadeias produtivas integradas globalmente, a transnacionalização estimula o comércio intrafirma, incluindo portanto as exportações. Na época anterior, quando predominavam as companhias a que propriamente devemos reservar a denominação de multinacionais, em que as filiais reproduziam em menor escala o modelo da sede, podia suceder que as exportações do país de origem passassem a concentrar-se em bens de capital e noutros artigos coadjuvantes da produção nas filiais. Mas a situação alterou-se com a reorganização da relação entre sede e filiais e a difusão de companhias verdadeiramente transnacionais, desenvolvendo-se as transacções no interior das firmas, que sob o ponto de vista nacional são classificadas como comércio externo.

Além disso, o aumento do nível tecnológico e da produtividade das empresas de um país leva-as a incorporar mais valor acrescentado aos artigos que exportam, e uma economia beneficia tanto mais quanto mais valor acrescentado tiverem as suas exportações. Ora, sabemos que as empresas aumentam a produtividade e progridem tecnologicamente ao internacionalizar-se.

Nestas condições, vários estudos têm mostrado a existência de uma correlação positiva entre os investimentos directos oriundos dos países desenvolvidos e as exportações provenientes desses países, e esta correlação parece tornar-se especialmente acentuada nos investimentos directos dirigidos pelos principais países emergentes para outros países em desenvolvimento. Segundo o World Investment Report 2006, pode suceder, nomeadamente nas economias em desenvolvimento, que a muito curto prazo o investimento directo tenha repercussões negativas sobre as exportações do país de origem, mas a situação inverte-se gradualmente e, com o crescimento das operações da firma, os efeitos tornam-se positivos [7]. No caso do Brasil a tabela 1 mostra como é desprovida de fundamento a noção de que os investimentos directos prejudicam as exportações do país de origem.

Tabela 1: Relação entre as exportações e a internacionalização das empresas no Brasil (ano 2000)

Fonte: Glauco Arbix, Mario Sergio Salerno e João Alberto De Negri, «Internacionalização gera emprego de qualidade e melhora a competitividade das firmas brasileiras», em João Alberto De Negri e Mario Sergio Salerno (orgs.), Inovações, Padrões Tecnológicos e Desempenho das Firmas Industriais Brasileiras, Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, 2005.

Resumindo os ensinamentos da tabela 1, as firmas internacionalizadas, embora constituíssem só 2,6% do total e mobilizassem apenas 1/4 da força de trabalho, foram responsáveis por 3/4 das exportações. Os critérios de financiamento do BNDES procuram acentuar o movimento subjacente, já que o seu estatuto «prevê que o apoio a investimentos diretos no exterior deve beneficiar exclusivamente empresas de capital nacional. Como requerimentos de desempenho que constituam contrapartida ao financiamento para investimentos no exterior, o incremento nas exportações líquidas da empresa em função do projeto apoiado deverá ser equivalente ao investimento total do empreendimento no prazo máximo de seis anos» [8]. Também a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos, APEX, «vê nos investimentos no exterior um mecanismo para a promoção das exportações e considera que há uma crescente convergência entre a promoção de exportações, de IDE [investimento directo no exterior, emanado do Brasil] e de IED [investimento estrangeiro directo, recebido pelo Brasil]. A agência vê vantagens comerciais, produtivas (aumento da eficiência decorrente da busca de fatores estratégicos) e tecnológicas, com spillovers no mercado interno» [9].

A uma grande distância de tudo isto, os críticos nacionalistas esgrimem em vão contra uma realidade que já não existe, se é que alguma vez existiu.

Notas

[1] United Nations Conference on Trade and Development, World Investment Report 2006. FDI from Developing and Transition Economies: Implications for Development, Nova Iorque e Genebra: United Nations, 2006, págs. xxviii, xxix e 180.
[2] Márcia Tavares, Investimento Brasileiro no Exterior: Panorama e Considerações sobre Políticas Públicas, Santiago, Chile: CEPAL, 2006, pág. 34.
[3] United Nations Conference on Trade and Development, World Investment Report 2006, op. cit., pág. 197.
[4] Daniela Corrêa e Gilberto Tadeu Lima, «Internacionalização produtiva de empresas brasileiras: caracterização geral e indicadores», Boletim de Informações Fipe, nº 319, 2007, pág. 16.
[5] Luciano Coutinho, Célio Hiratuka e Rodrigo Sabatini, «O investimento direto no exterior como alavanca dinamizadora da economia brasileira», em Octavio de Barros e Fabio Giambiagi (orgs.), Brasil Globalizado. O Brasil em um Mundo Surpreendente, Rio de Janeiro: Elsevier, 2008, pág. 66.
[6] Ana Cláudia Além e Carlos Eduardo Cavalcanti, «O BNDES e o apoio à internacionalização das empresas brasileiras: algumas reflexões», Revista do BNDES, vol. 12, nº 24, 2005, pág. 60.
[7] United Nations Conference on Trade and Development, World Investment Report 2006, op. cit., págs. xxviii-xxix e 181.
[8] Ana Cláudia Além e Carlos Eduardo Cavalcanti, «O BNDES e o apoio à internacionalização das empresas brasileiras: algumas reflexões», op. cit., pág. 71.
[9] Márcia Tavares, op. cit., pág. 39.

10 COMENTÁRIOS

  1. Prezado João Bernardo
    O texto mostra de maneira direta e clara a improcedência dos argumentos normalmente opostos à internacionalização da economia brasileira, ou pelos quais se busca negar essa realidade e, por conseguinte, a considerar os seus efeitos sob os mais diversos pontos de vista. Tento articular isto, no entanto, com as duas grandes tendências entre as quais oscilou o processo de formação econômica do Brasil. De um lado, a da constituição de um sistema econômico nacional, autônomo, com os centros de decisão internalizados e baseado na expansão do mercado interno, em um processo de desenvolvimento vinculado a reformas estruturais. De outro, a do modelo dependente ou associado, com preponderãncia das empresas multinacionais e dos sistema financeiro internacional, dependente finaceira e tecnologicamente e vinculado às oscilações externas da economia mundial. Indago então se, na sua visão (gostaria de conhecê-la, se possível e não for isto um abuso de minha parte), essa irresistível atuação transnacional do capital acabaria apenas por ensejar, na linha deste segundo modelo, uma política econômica a privilegiar a inserção internacional do Brasil em detrimento da industrialização e da concepção do mercado interno como uma espécie de centro dinâmico da economia? Seria viável, não obstante, conceber um projeto político mobilizador, um Estado autônomo, forte e não autoritário, capaz de definir e comandar uma estratégia de retomada do processo de desenvolvimento do país, com inclusão das massas urbanas e rurais, enfrentando as classes economicamente dominantes e rompendo com a situação de dependência? Ou, simplesmente, não haveria espaço para política econômica alguma?
    Abraço.

  2. Caro Paulo Piza,
    Quando você sintetiza «as duas grandes tendências entre as quais oscilou o processo de formação econômica do Brasil» menciona, de um lado, a «constituição de um sistema econômico nacional, autônomo, com os centros de decisão internalizados e baseado na expansão do mercado interno». Ora, nos dois artigos intitulados A viagem do Brasil da periferia para o centro, procurei mostrar que a estes factores juntou-se outro — a abertura do país aos investimentos directos oriundos do estrangeiro. Foi isto que permitiu que o Brasil não ficasse isolado das redes mundiais de tecnologia. Neste contexto, convém ainda recordar que o aumento da produtividade baseado em inovações tecnológicas não ocorre apenas nos países de desenvolvimento antigo, como os Estados Unidos, o Japão e os que hoje formam a União Europeia. Em http://passapalavra.info/?p=28241 indiquei vários exemplos de avanços tecnológicos em países emergentes, e convém acrescentar que a tecnologia não é apenas material mas também social, ou seja, diz também respeito às formas de gestão da empresa e às formas de organização da força de trabalho. Nesta perspectiva, o facto de companhias transnacionais como a Odebrecht ou a Cemex — exemplos entre muitos outros — serem originárias de países emergentes como o Brasil e o México pressionou-as a criarem e aplicarem tecnologias sofisticadas de redução de custos. Mas quando você evoca a possibilidade de «um projeto político mobilizador, um Estado autônomo, forte e não autoritário, capaz de definir e comandar uma estratégia de retomada do processo de desenvolvimento do país, com inclusão das massas urbanas e rurais, enfrentando as classes economicamente dominantes e rompendo com a situação de dependência», eu não posso deixar de pensar — não sei se para escândalo seu, mas estou certo de que para escândalo de muitos leitores — nos governos de Lula e de Dilma. Em primeiro lugar, o Estado brasileiro é democrático mas é capaz de um grande grau de intervenção económica, não só directamente, graças ao BNDES, mas também indirectamente, graças à sua capacidade de influir na utilização dos fundos de pensões sindicais. Em segundo lugar, os governos de Lula e de Dilma correspondem a uma forte mobilidade social ascendente, operada através da burocracia sindical e da ampliação do ensino superior, o que resultou numa renovação interna das classes dominantes. Em terceiro lugar, nunca se deve esquecer o Programa Bolsa Família e quando se falar dos movimentos sociais será conveniente ter em conta que Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, tem como uma das suas funções articular as relações do governo com as ONGs e com os movimentos sociais, e que esta articulação se faz ao mais alto nível. As coisas nem sempre são o que parecem. Em breve começarei a publicar neste site uma longa série de artigos dedicada à economia brasileira actual e no futuro imediato, e tentarei então esclarecer melhor alguns aspectos. De qualquer modo, a acima de tudo, convém nunca esquecer que hoje as nações estão ultrapassadas enquanto unidades económicas e que a actuação das companhias transnacionais, tanto as oriundas dos países mais evoluídos como as oriundas dos países emergentes, cria uma nova geografia económico-social e uma nova geopolítica.
    Abraços.

  3. Gostaria de saber quem seriam os tais “nacionalistas” que o João Bernardo pinta como se fossem os mais patetas seres humanos do mundo. É muito fácil debater com algum interlocutor imaginário que aceita passivamente todas as objeções e é incapaz de responder inclusive às provocações.

    Mas, já que esta é a parte final, vou tentar sintetizar a concluír com algumas críticas, para que assim a necessidade de um interlocutor real e distinto dos nacionalistas imaginários fique suprida:
    1) acho realmente muito estranho que o autor comece dizendo que critica as empresas multinacionais por serem capitalistas, sem denegri-las em relação às nacionais. PArece um belo exercício de retórica, quanto mais que tudo o que vêm depois é o contrário, uma apologia da empresa multinacional privada, tentando demonstrar, não sem um certo tom de desespero, que ela são boas para o país que investe, para o que recebe o investimento, para os trabalhadores, para o Estado, para os cães sem dono, as velhinhas atravessando a rua, etc. No mínimo, é muito contraditório que um autodeclarado “anticapitalista” faça tantos elogios (e APENAS elogios) ao imperialismo econômico, porque, afinal de contas, é o que é uma empresa multinacional.
    2) Os “argumentos” se limitam, em boa parte, a modelos estatísticos descritivos oficiais, sem análise, questionamento metodológico, nada, apenas citações e um pequeno comentário triunfante, dizendo que “isso refuta os argumentos dos ‘nacionalistas'”. A noção mais elementar de metodologia das ciências sociais ensina que estes modelos foram construídos com pressupostos, e que se dialoga com eles como bibliografia secundária, teórico-analítica, e não como bibliografia primária, fontes ou documentos. Mas admitamos que, em alguns casos, a bibliografia é óbvia e as limitações também. Qual é o significado dos resultados destes estudos, face ao sistema capitalista dependente/periférico do Brasil? Das tabelas sobre remessas de lucros as conclusões do João Bernardo são assustadoras, em conflito flagrante com os dados, enquanto que as estatísticas sobre o salário médio pago pelas empresas de capital nacional, estrangeiro ou misto sugerem uma ingenuidade assustadora. Em outras, falta contrastar com dados mais amplos: ok, as multinacionais investem em tecnologia… mas o investimento total em tecnologia no Brasil exibe qual proporção entre gastos públicos e privados? O gasto privado é subsidiado ou incentivado pelo poder público? E quanto o Brasil investe em ciência e tecnologia no total? No impulso ao empirismo, perde-se de vista que os “dados” do artigo (todos obtidos de segunda mão) são na verdade resultados de estudos que possuem seus próprios pressupostos, suas definições, métodos e técnicas.
    3) Como em outros, a tese deste artigo parece ser resumida em alguns pontos, muito simples: a) o Brasil está se convertendo em país capitalista central; b) essa mutação se deveu aos programas de privatização e abertura comercial dos anos 1990; c) como país central, o Brasil agora é imperialista, o que irritaria os nacionalistas imaginários do JB. O a) é óbviamente falso, o Brasil continua dependente de mercados externos para exportar matérias-primas, investe muito pouco em tecnologia, apresenta níveis baixos de produtividade, não possui capacidade industrial-militar para intervir em outros países, no máximo para auxiliar os EUA em tropas de ocupação. O b) é risível, não explica porque diabos todos os países latinoamericanos e africanos que também fizeram privatizações e aberturas comerciais não se tornaram todos centrais, a não ser nas reportagens da Veja e do The Economist sobre o Chile, tanto mais tosca é a afirmação quanto mais a privataria gerou um processo de desindustrialização e reprimarização de que o país não mostra sinais de recuperação. O c) é ao mesmo tempo um pouco verdadeiro e um pouco falso, pois o Brasil realmente pratica um subimperialismo em relação a pequenos países pobres da América LAtina e África, só que ao mesmo tempo sofre uma espoliação imperialista ainda maior dos países centrais. E por que a exportação de capital por parte da elite brasileira, associada à internacional, irritaria nacionalistas realmente nacionalistas? Seriam só motivos para comemorar.
    4) Investimentos internacionais são feitos no Brasil desde antes da Abolição, quando empresas inglesas já monopolizavam a iluminação pública e outros serviços. À partir dos anos 1950, com JK (e não com Jango, como o JB afirmou erroneamente em outro artigo), as empresas multinacionais ganharam incentivos fiscais, créditos, se beneficiaram de investimentos, etc., ou seja, muito mais concessões que os antigos contratos públicos com o Estado. A ditadura civil-militar de 1964-85 aprofundou essa política de financiamento nacional e estatal dos investimentos privados internacionais, práticamente pondo o Estado à serviços destas empresas, que além de contratos públicos, créditos, incentivos fiscais e outros privilégios, gozavam ainda de reservas de mercado e barreiras protecionistas. Qual é a novidade, portanto? A introdução do neoliberalismo, por obra de Collor e FHC, principalmente no monetarismo e na entrega de empresas e serviços públicos para empresas multinacionais privadas e ONGs, mantendo, no entanto, a lógica de financiamento de investimentos privados por meio de recursos públicos, o que Noam Chomsky chamou de “socialismo dos ricos”. Qual foi a inovação de Lula? Apesar de manter a política financeira e agrícola de FHC, Lula ampliou/unificou/criou políticas compensatórias (bolsa-família, Minha casa minha vida) e redistributivas (aumento do salário mínimo, microcrédito rural) e implantou planos de investimentos por meio das empresas estatais. O problema é que estes investimentos públicos foram feitos em “parcerias” com empresas privadas multinacionais ou mistas, onde a estatal entrava com o investimento e a privada saía com o lucro. Se quiser números, basta saber que, dos 503 bilhões de investimento do PAC 1, 287 são direta e oficialmente estatais, sendo que o restanto dos investimentos, supostamente privados, é verdade é “induzido” pelo Estado, ou seja, financiado por empréstimos a baixos juros e longo prazo pelos bancos estatais, isenção fiscal, investimentos prévios não-contabilizados… Na exploração de petróleo temos o exemplo perfeito. As empresas que fazem parceria com a Petrobrás não arcaram com os pesados custos de pesquisa, mapeamento dos campos, tecnologia, infra-estrutura básica, mas se beneficiam e LUCRAM sobre os investimentos feitos anteriormente pela estatal. Por que será que o JB não comenta essa socialização dos custos que vêm junto com a privatização dos lucros? Porque essa realidade (esses “fatos” como ele adora divulgar) não corresponde à imagem rósea e conciliadora que ele apresenta do imperialismo econômico, do neoliberalismo e do lulismo.

  4. Mais uma vez, Matheus aparece no debate, criticando, atacando, acusando e sempre cheio de razão.

    O rapaz é verboso: formula sentenças, destila certezas e contesta os dados expostos nos artigos (sem apresentar uma análise trabalhada suficientemente para fazer frente ao que diz estar errado), sempre baseando-se em argumentos fechados, desprovidos de fatos, dados, números e uma base real que lhes dê guarida. E assim prossegue Dom Quixote, encarando moinhos-de-vento como se fossem dragões.

  5. Já preveni noutra ocasião que não responderia mais aos comentários de Matheus. Há um mês atrás, um velho lutador anticapitalista, tão velho como eu, fez circular numa lista de e-mails uma cópia do meu artigo «Odebrecht e a luta social», publicado neste site ( http://passapalavra.info/?p=41170 ), e aproveitou para fazer observações aos comentários de Matheus. A respeito do primeiro escreveu, entre outras coisas: «Camarada Matheus, antes de tudo sejamos mais modestos e menos arrogantes», e também: «O grande problema é que, em nosso país (Brasil), o que mais temos são Matheus… sobretudo nas cúpulas de partidos de esquerda (supostamente de esquerda – melhor dito); organizações e movimentos populares; etc. Embora cansativo, é a mais pura verdade: Os Matheus, longe de exceção, são a regra. Tomemos portanto — todos nós — cuidado para não virarmos Matheus. Aí será o caos». E a respeito de outro comentário de Matheus observou: «Camarada Matheus, desta vez você extrapolou qualquer limite. Quanto mais o João Bernardo insiste para que você pense, mais você se nega terminantemente a fazê-lo. Dê um tempo, meu irmão». Desde há cinquenta anos que sou um militante anticapitalista, em vários países e em várias condições, em ditaduras e em democracias, na ilegalidade e na legalidade, mas se alguma coisa eu encontrei de idêntico nos lugares por onde passei são os Matheus, todos feitos pelo mesmo molde.

  6. As indagações do tal “Matheus” devem ser preservadas neste espaço, deixem o moço (ou a “moça”) escrever à vontade, os leitores deste espaço sabem que é uma intervenção retórica, “covarde” (um “pateta” nacionalista como ele mesmo diz – cobra os nomes dos nacionalistas e não se apresenta aqui como um interlocutor; pronto: está resolvida a questão, se nos próximos artigos o João Bernardo referir-se aos nacionalistas “patetas”, simplesmente os nominará de “matheus” – nesse termo, a expressão síntese de carradas e carradas de historiadores, sociólogos, etc, e todos muito habilidosos com as “mediações” metodológicas no trato das fontes primárias, secundárias, milenárias…)
    Mas o que importa mesmo é que cada vez mais e mais “matheus” leiam o que o autor vem apresentando neste espaço. E olha que o “matheus” apresenta indagações interessantes que poderiam mesmo levar a cabo um ótimo debate, mas… como todos estão a perceber, o “matheus” deve ser pessoa muito ocupada com as institucionalidades acadêmicas, aqueles alunos todos a “admirá-lo(a)” como professor(a) “genial”, aquelas aulas semanais de militância retórica, os inúmeros congressos para o fornecimento de copiosos cheques acadêmicos para a conta bancária do Lattes S/A, tudo isso dá uma trabalheira dos diabos, assim, os “matheus” ficam a espreitar o mundo dos outros como se fosse deles para depois sob o chicote do anonimato desancar o trabalho dos outros em berros indignados (alguém pode imaginar os “matheus” tendo que mostrar serviço fora das salinhas de aula ou das sessões nos congressos acadêmicos sempre com os mesmos apaniguados? é possível encontrar um “matheus” fora dessas zonas de conforto a debater para valer? Evidente que não, por isso é que são “matheus”…)
    Mas, como dizia no início, deixem todos os “matheus” escrever aqui à vontade, e nenhum autor de artigos aqui publicados é obrigado a responder aos leitores…
    O leitor pode imaginar o tesão que este “matheus” em específico não sentiu por si mesmo (a) depois de ter escrito o que aqui escreveu? Deve ter ido ao espelho para ver-se nele cheio de orgulho…
    Passem sempre a palavra para os “matheus”…porque no fim de tudo sempre são “amiguinhos(as)” ocultos do Passapalavra…

  7. As respostas à minha crítica foram realmente muito engraçadas. Só ofensas pessoais, ataques nervosos e patéticos, mais patéticos do que os “nacionalistas” imaginários que o João Bernardo precisar inventar (sem nomear jamais! afinal, adversário bom é aquele que fica caladinho…) para atacar. Afinal, seria muito mais difícil criticar intelectuais como Carlos Nelsom Coutinho, Francisco de Oliveira, Wanderley Guilherme dos Santos, Jacob Gorender, Antonio Cândido, etc., ainda mais porque estes ainda estão vivos, e também não seria fácil criticar as obras de Furtado, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Ruy Mauro Marini, Teotonio dos Santos, Atílio Borón, Edgardo Lander, Guerreiro Ramos, etc. então é necessário atacar as teorias do subdesenvolvimento de forma mais baixa e sórdida. Por exemplo, fazer o famoso “argumentum ad hitlerum”, reduzindo toda a reflexão sobre o subdesenvolvimento, ao longo de décadas e décadas à leitura do Manoilescu… Afinal, estes latinoamericanos são um bando de acéfalos, precisam que um europeu, com toda modéstia e carinho, diga que décadas de pesquisa e debate feitos por ele não são nada além de importação de idéias fascistas, que eles são um bando de fascistas, só não sabem disso. É este europeu que quer me dar lições de humildade!
    Esta de “não vou responder o Matheus porque ele malvado, bobo e feioso”, que o João Bernardo adotou para FUGIR DO DEBATE E DO QUESTIONAMENTO, é apenas uma tática para não enfrentar indagações e evidências que refutam os mitos políticos que ele vêm divulgando com os seus textinhos no PP, sempre aplaudidos e aclamados por seus discípulos, que, vejam só que curioso, admitem que ” o ‘matheus’ apresenta indagações interessantes que poderiam mesmo levar a cabo um ótimo debate”. Que grande concessão a quem se atribui toda a vilania existente no mundo!
    O engraçado é o esboço da minha biografia: “como todos estão a perceber, o “matheus” deve ser pessoa muito ocupada com as institucionalidades acadêmicas, aqueles alunos todos”. Engraçado! Agora existe algum problema em ser professor e pesquisador? A revista Veja mal poderia escrever algo tão… reacionário. Só vi algo parecido em alguns ataques furiosos de Hitler e Goebbels contra os “intelectuais”. Mas eu esqueci que desde que o João Bernardo promoveu a empresa Odebrecht a um modelo para a esquerda, o bom mesmo é ser empresário capitalista… O resto do comentário do João Alberto é muito engraçado, cheio de especulações sobre a minha pessoa, inclusive insinuando que eu não uso o nome verdadeiro.
    É realmente muito, mas muito sintomático que que os meus questionamentos agora sejam respondidos, sim, respondidos, mas apenas com ataques pessoais e até difamação, acusações sem fundamento e mil jogos verbais defensivos, sem esquecer de projetar em mim o que percebem (e detestam) em si mesmos. Eu, uma pessoa que sequer conhecem e que julgam conhecer nos mínimos detalhes, bastanto juntar um punhado de estereótipos. Afinal, o que é dirigir um artigo contra “nacionalistas” fictícios, que atacar um estereótipo? É o mesmo que faz a extrema-direita, Olavo de Carvalho, o terrorista norueguês Brivik, Berlusconi, p.ex., quando começa a xingar os “comunistas”. Para o Berlusconi, até The Economist é comunista. PAra o JB e seus discípulos, sabe-se lá quem na esquerda brasileira não é um “nacionalista”, com excessão dele e de um punhado de iluminados que o defendem neste site. E tudo porque eu disse: “esses ‘nacionalistas’ são uma ficção, se precisam de um interlocutor, aqui estou eu, que não sou nacionalista mas posso quebrar um galho”. É assim que retribuem o meu altruísmo.
    De repente, até mesmo a crítica metodológica virou motivo para desqualificações pessoais sobre “carradas de historiadores, sociólogos, etc, e todos muito habilidosos com as “mediações” metodológicas no trato das fontes primárias, secundárias, milenárias”. Me esqueci que o João Bernardo pode dispensar estes problemas metodológicos que afligem o comum dos mortais que se dedicam a pesquisas, os pobres coitados que precisam se preocupar com os limites do entendimento de que falava Kant. Agora, mediações metodológicas são dispensáveis, pois temos a própria revelação divina expressa nos artiguinhos do PP. O próximo passo será publicar um artiguinho dizendo que metodologia é coisa de fascista.
    O melhor de tudo foi o João Bernardo apelar para uma espécie de “aura de ancião sábio”, falando de seus “50 anos de militância anticapitalista”, e citando um suposto “velho lutador anticapitalista”. Eu poderia responder que é uma pena que, em 50 anos, não tenha sido capaz de aprender muita coisa, e agora ande aí fugindo de debates porque não quer ver seus “artigos geniais” serem refutados. Também perguntaria se os “50 anos de militância” dele valem mais que os de outros, de Luís Carlos Prestes, Plínio Sampaio ou Jacob Gorender, p.ex., mas esqueci que ele é um europeu superior que deve orientar nossos débeis cérebros subdesenvolvidos. O triste é que esse JB fica fazendo cabecinhas por aqui, como se vê nos comentários mau humorados com que os seus fãs desqualificam qualquer crítica. Para eles, fazer pensar é concordar dogmáticamente com o JB, e discordar dele é o contrário. Estranho conceito de pensamento, que lembra antes a ausência dele!

  8. Prezado (a) “Matheus”,
    meu nome é João Alberto da Costa Pinto e como você também sou um “matheus” que dá aulas numa universidade federal periférica, em Goiânia (tenho a certeza de que jamais serei competente como os pensadores do marxismo “nacional” a que você faz referência para dar aulas em “ótimas” universidades) e veja só que lugar “triste” para se estar a pensar sociologicamente e historiograficamente a “questão nacional” e ainda por cima “alienado” aos “dogmatismos” que o conjunto da obra do João Bernardo podem sugerir (“dogmatismos” é o que você na sua larvar estultice está a afirmar).
    Disse no meu comentário anterior que as suas proposições desenvolviam indagações interessantes para um debate aberto – por que não escreve um artigo ou uma série e apresenta-os no PassaPalavra, como termo de interlocução direto aos argumentos do “europeu superior”? O cara é português, como um “português”, coitado, pode ser um “europeu superior”, rs, o(a) senhor(a) faz-me rir… mas se você tivesse lido a obra do mesmo e como me parece um(a) moço(a) sensível veria que teria diante dos seus olhos uma proposta teórico-investigativa extraordinariamente criativa para ser comparada com os grandes quadros da tradição marxista contemporânea, e, perdoe-me pelo meu jubiloso dogmatismo (coisas desta minha periferia bovarista, entenda, por favor), poderia perceber também que não há nada que se possa comparar em termos de grandeza e esforço analítico com o que toda a tradição marxista “nacional” já produziu. Nada!!.
    Diga-nos o seu nome completo “matheus”, diga-nos se é menina ou menino, quem sabe assim não posso convidá-lo (a) a estar comigo numa banca em Goiânia e, juntos, preenchermos os nossos Lattes S/A avaliando uma tese ou dissertação sobre algum marxista “nacional”, diante da qual o(a) senhor(a) poderia avaliar com todo o rigor canônico dos sociologismos universais se tal trabalho estaria adequado às regras científicas assim como às regras da ABNT (da edição de 2009, que você deve conhecer tão bem)… viu como poderíamos ser “sérios”?
    Então, diga seu nome completo, escreva um artigo aqui no PassaPalavra, tenho a certeza que os europeus daquele Portugal tão miudamente superior e os muitos brasileiros dogmatizados e fanatizados pela “bernardiana” aceitariam o seu texto para todos assim aprendermos também a admirar com respeito o marxismo do(a) “matheus”…
    Perdoe-me dizê-lo assim, e não se ofenda com a ilação, mas seus termos nesta última missiva fizeram-me lembrar (e muito) certo conhecido que por aqui anda a bater a cabeça no espelho, pois trás sempre a testa cheia de hematomas, alguém que quer ser “superior” sendo “matheus” e goiano. Uma piada.

  9. É senhor mesmo.Ele (Matheus) tem um blog. Só que pegou pesado demais quando escreveu que o João Bernardo promoveu a Odebrecht como um modelo para a esquerda, não sei de onde Matheus tirou isto.

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