Uma visão autoritária de esquerda, que levou ao colapso das experiências dos socialismos “reais” e, pela censura e repressão dentro da esquerda, impediu o surgimento de propostas alternativas. Marlene Azor entrevistada por Red Protagónica Observatorio Crítico


Leia aqui a 1ª parte desta entrevista.

Observatorio Crítico:Qual o motivo de seu vínculo com a sociologia?

Marlene Azor: Foi o marxismo ocidental que estudei que me ensinou a “desencantar” a realidade, como dizia Max Weber, portanto meu encontro com os fundadores da Teoria Sociológica, Durkheim, Weber, Parsons, Merton, etc., foi uma etapa natural para mim. Ainda que Parsons de O sistema social sempre me pareceu muito “normalizador” das relações sociais, toda a sociologia da estratificação social de seus sucessores me permitiu elaborar análises frutíferas. Logo descobri Pierre Bourdieu e Michel Foucault, e eles significaram um acervo fundamental em minha visão sociológica e global, não “estadocêntrica”, dos problemas sociais.

OC: Pouco ou nada se conhece sobre a sociologia cubana anterior a 1959 e talvez nada após essa data. Tal como o que acontece com a antropologia, parece que Cuba não é um terreno fértil para essas duas ciências sociais. Como se insere uma graduada de Comunismo Científico da União Soviética dos anos 80 neste panorama aparentemente desértico?

MA: Mais uma vez, graças às leituras facilitadas pelos meus amigos intelectuais cubanos, tive acesso a todo o marxismo ocidental desconhecido para mim e a todo pensamento progressista que analisou as experiências dos Socialismos de Estado. Por outro lado, também li O Capital de Marx até Parsons, Weber, parte da Escola de Frankfurt, tudo isso por minha conta, e continuo agradecendo aos meus amigos. Se a sociologia e a antropologia não floresceram, isso se deu por tudo que acabo de mencionar sobre a possibilidade de acesso à informação necessária sobre a realidade e sobre os autores não publicados no país, sobre poder elaborar pesquisas sem ter de contar com uma permissão do partido e não só realizá-las a pedido deste. Enquanto as pesquisas sociológicas continuarem a ser consideradas “segredo de Estado” não se pode desenvolver nem a antropologia nem a sociologia e as demais ciências sociais.

OC: Qual o papel desempenhado pela sociologia na trindade institucional presente no título “Faculdade de Filosofia, Sociologia e História” nos anos 90?

MA: A Sociologia sempre foi a irmã caçula [irmã mais nova] quando retornou nos anos 90. Convivi com as primeiras quatro gerações de sociólogos formados nos anos 90 e foram para mim – em uma parte importante – estudantes muito inquietos pelo conhecimento, com perguntas muito enriquecedoras, estudiosos e rebeldes como devem ser os estudantes universitários, os conheci e, em alguns casos, orientei seus trabalhos de teses de licenciatura. Eram pesquisas interessantíssimas, que acabaram enterradas na biblioteca da Faculdade, se é que ainda existem.
Ainda acho que não se deveria comprar o pacote completo da ajuda soviética. Se essa maneira de se fazer Ciências Sociais foi importada, é devido à pouca clareza da direção cubana ou porque isto possibilitava enquadrar uma produção e um pensamento apenas para louvar o sistema cubano o os países do sistema soviético do mesmo tipo. Acredito que existiu um propósito político explícito, pois intelectuais que desenvolviam outros marxismos existiam, e foram censurados.

OC: Ainda está presente em muitas mentes cubanas aquele discurso de Fidel de 1998 na escadaria da Universidade, em que ele deu todo seu apoio nas eleições da FEU à estranha figura política de Hassan Pérez Casabona. Em sua opinião, quais foram os principais aspectos da relação universidade/sociedade na Cuba dos anos 90?

MA: Bem, sobre Hassan, soube que conseguiu a licenciatura sem ter terminado. Ele não chegou ao quarto ano, quando seria meu aluno, foi no terceiro que foi presenteado com a licenciatura porque era o novo golden boy [menino de ouro] de Fidel. Foi assim que o conheci, pela sua reputação e pela informação que te disse agora. Não acho que mereça mais linhas.

OC: No ano de 1999 você emigrou para a França. Qual o pano de fundo desta decisão?

MA: Com todo o itinerário de formação de que te falei, em 1995 decidi escrever uma tese de doutorado com o conhecimento que tinha acumulado sobre as Experiências históricas dos Socialismos de Estado. A tese tinha um capítulo dedicado aos debates marxistas ocidentais sobre estas experiências, de 1917 até 1990. Em seguida, analisava o debate sobre a modernidade e a pós-modernidade em relação às semelhanças entre o capitalismo e o socialismo histórico com o paradigma moderno do capitalismo mundial e, portanto, sistematizava as encruzilhadas econômicas, sociais, políticas e ideológicas deste tipo de sistema, baseada em pensadores marxistas e não marxistas.
Em 1996 defendi a tese numa banca [juri] presidida por Talía Fung e, para constrangimento da banca, das dez pessoas presentes, sete dormiram durante a defesa. De repente, Carmen Gómez, já falecida, acordou e se levantou muito agitada, perguntando por Lenin: “E Lenin, onde está?”, frente a isso, levantei a toalha da mesa de discussão para ver se via Lenin escondido. Talía a mandou ficar quieta, mas esta foi a tônica do espetáculo, mais próprio de Muppets Show do que de uma defesa de doutorado. Saindo, deixei claro que não defenderia uma segunda vez com esta banca, me fizeram esperar um ano e finalmente voltei a defender em 1997.
A segunda defesa teve dois militares e três civis. Os militares somente negavam com a cabeça tudo o que eu dizia. Dos civis, um ficou dormindo durante a defesa, outro iria viajar e saiu da defesa, e outro soube que votou a meu favor. Nenhuma das duas defesas foi unânime, sempre existiram intelectuais decentes, mas, mesmo obtendo 11 endossos positivos, em ambas fui politicamente censurada e as razões para não me concederem o doutorado foram nos dois casos risíveis. Tinham medo – que se mantém, ainda hoje – de ver as similitudes daquele sistema com o nosso. A partir daquele momento, e desde a primeira defesa, me tornei um personagem proscrito para as instituições e seus funcionários, decidi que não teria mais lugar na universidade e fui embora. Meus amigos foram solidários, mesmo que temerosos pela minha atitude, mas pouco puderam fazer para eliminar o rótulo de “maldita” que me cercou desde então. Fartei-me da censura e repressão ao pensamento revolucionário – a partir da perspectiva da escola de Frankfurt e não da visão oficial do governo cubano – e decidi buscar novos horizontes onde poderia ser livre para pensar e expressar os pensamentos que sempre defendi.

OC: Falávamos de suas experiências profissionais na França e no México.

MA: Na França fiz tudo o que corresponde a um emigrado comum, mas também defendi o mestrado em sociologia, que já havia concluído na Universidade de Havana, em conjugação com a Universidade Autônoma de Barcelona, na qual entrei imediatamente depois de ser suspensa pela segunda vez no doutorado. Então fiz um DEA (Diploma de Estudos Avançados) em Paris VIII em Sociologia, porque na França, como em outros países europeus, exigem um ano a mais de estudos depois do mestrado e antes do doutorado. É um ano em que cumpre 12 matérias e apresenta uma tese. Imediatamente depois de concluí-la, me pediram para assumir um curso de iniciação em Sociologia. Como não era professora em tempo integral, só me pediram duas vezes, não vi possibilidade de ser contratada em tempo integral. Sem isso teria que fazer outros trabalhos para me manter, e tampouco seria possível fazer o doutorado sem uma renda estável. Vim para o México e comecei a estudar tudo relacionado ao desenvolvimento do capital humano nas empresas, pois isso poderia proporcionar cursos de capacitação, me mantendo até entrar há um ano e alguns meses em um doutorado na Universidade Autônoma do Distrito Federal. O México é um país maravilhoso, melhor do que a França. Sem se importarem com minha idade e minha condição de estrangeira, me concederam uma bolsa de estudos.

OC: Nos últimos anos tem sido gerado um universo de criação amplo e rico por intelectuais cubanos emigrados, entre os quais se destaca Haroldo Dilla, outrora pesquisador e diretor de estudos latino-americanos do extinto Centro de Estudos sobre a América (CEA). Em suas mais recentes publicações digitais, Dilla utiliza em diferentes momentos os termos polêmicos inseridos, ainda que não somente, no histórico conflito cubano-estadounidense: diáspora e exílio. Que considerações estes dois conceitos merecem para você?

MA: Eu diria que diáspora, a partir do ponto de vista etimológico, é a dispersão de uma comunidade pelo mundo, e nisso Haroldo tem razão ao sinalizar a dispersão dos cubanos pelo mundo, ainda que a política oficial somente se preocupe, fale e se pronuncie sobre a imigração para os EUA. O resto é colocado no mesmo saco ou mencionado de passagem sem nenhuma incidência em nossos destinos. É a política migratória cubana que nos faz exilados, porque uma vez que saímos do país perdemos todos nossos direitos de cidadãos, mesmo o de regressar, se discordarmos da política em curso ou da anterior do governo cubano. Essa política migratória nos torna reféns de uma política invisível publicamente, mas que se aplica de maneira discricionária, deixando os emigrados sem qualquer direito de viver fora e manter atualizado um passaporte cubano para poder entrar na ilha, de nada vale tê-lo – apesar de nos custar bastante caro – porque você pode ser detido no aeroporto e ser expulso do país. É esta política discricionária, não pública e sem direitos que produz o exílio.

OC: Na página inicial da revista eletrônica Cubaencentro aparece uma pesquisa com os leitores em que se misturam estes conceitos da seguinte maneira: “Intelectuais na diáspora, acha que um escritor no exílio deve publicar e distribuir seu trabalho em Cuba?”. Da sua tripla posição de intelectual e escritora que vive fora de Cuba, como analisa esta problemática?

MA: Acredito, como disse o escritor Leonardo Padura, que a Cultura cubana é una, quer se produza dentro ou fora do país, e estas barreiras entre os intelectuais de dentro e fora não são mais do que o fruto de uma confrontação entre os Estados que se transfere aos cidadãos cubanos pela síndrome da “fortaleza sitiada” e pela intolerância do governo cubano às diferenças ideológicas. Tem sido uma política histórica contra os intelectuais que se vão e se pronunciam de maneira crítica sobre a realidade cubana; são considerados “inimigos” da nação. Mesmo que agora esta política tenha mudado, ainda prossegue com muitas exclusões, porque mal começou a se descongelar. Temos que passar dos intelectuais mortos que são publicados aos que estão vivos e não são somente cubanoamericanos.

OC: Em sua opinião, que tipo de sociedade civil existe em Cuba?

MA: Existe uma sociedade civil emergente de todos os signos ideológicos e muito plural em seu conteúdo. Ativistas culturais, sociais e políticos, com formas de associação na maioria ilegais, porque o registro de associações foi congelado em 1996, data a partir da qual não existe possibilidade de se registrar; antes disso, as que não professavam uma posição ideológica clara em favor do socialismo estatal cubano nem sequer podiam se registrar. Às vezes a explicação destas limitações pelo argumento da política norte-americana sobre Cuba me tem feito pensar que temos uma independência muito limitada – teria que lutar por uma terceira – e uma soberania inexistente, porque a soberania se baseia nos direitos dos cidadãos e, ainda que constem no papel da Constituição, não se cumprem mais que os direitos sociais muito deteriorados desde a crise dos anos noventa.

OC: Você tem acordo com a ideia de que, em vista do acontecido nos últimos anos, se faz necessária uma reformulação da concepção de “cidadão”, que transcenda as fronteiras do realsocialismo cubano?

MA: Uma concepção real de cidadão em sua dimensão civil, política e social nunca existiu na história de Cuba na plenitude destas três dimensões. Antes da revolução, a dimensão social foi esquecida, e assim somente uma parte da população podia participar e tomar decisões como cidadãos, porque não existia uma integração social majoritária. Sem integração social, também são deixados à margem todos os que não podem ascender às condições mínimas para exercer uma cidadania civil e política. A Revolução Cubana privilegiou os direitos sociais, mas proibiu os direitos civis e políticos, subordinados a uma lógica similar ao pensamento dominante da esquerda do século XX. Este pensamento hegemônico da esquerda internacional e nacional do século passado demonizou os direitos liberais, como o direito à liberdade de expressão, associação, mobilidade interna e externa, liberdade de informação, entre outros, entendidos como direitos burgueses que teriam que ser eliminados. A participação política foi entendida, no caso de Cuba, como uma mobilização permanente para fins sociais, políticos e econômicos, mas esta concepção de participação cidadã, que não pode incidir sobre a tomada de decisões nem sobre o controle das decisões dos eleitos, não permite apontar nem controlar nada. Os eleitos são representantes do interesse do governo cubano, mas não existem mecanismos reais que permitam a incorporação de demandas.
Os direitos civis não se reconhecem nem pela legislação penal nem pela civil (falo de uma supersaturação ideológica de ambas legislações, que subordinam tudo ao interesse do socialismo, e esta interpretação sobre o socialismo tem sido a estabelecida pelo governo). Se cada setor interessado no socialismo tem uma imagem diferente da sociedade, a que se aplica na legislação civil e penal é a filiada ao governo. É uma visão autoritária de esquerda, que levou ao colapso das experiências dos socialismos “reais” e, pela censura e repressão dentro da esquerda, impediu o surgimento de propostas alternativas.

OC: Como definiria a responsabilidade e o posicionamento político, especificamente da esquerda, nesta potencial reformulação? Que papel outorga aos intelectuais e artistas cubanos neste processo?

MA: Considero que o pensamento de esquerda cubano tem ficado muito para trás pelas razões que mencionei, e hoje, apesar de esforços muito valiosos, continua preso mais nas críticas do que existe e menos focado nas propostas de mudança. Acredito que é preciso diferenciar entre a esquerda acadêmica e a esquerda ativista. A primeira se pronuncia pela socialização do poder político e econômico, mas não especifica de que maneira fazer isto na realidade cubana. Os ativistas têm análises muito mais profundas sobre os problemas estruturais do Socialismo de Estado cubano, mas suas propostas continuam sendo gerais em muitos sentidos. Não existem propostas de esquerda alternativas às instituições, procedimentos e mudanças jurídicas que deveriam conduzir o país em direção a um socialismo desejado. Quer dizer, mesmo que as propostas dos ativistas sejam muito mais específicas, são-no na perspectiva dos mecanismos econômicos, e quase nada nos âmbitos político e civil. Creio que os ativistas de todos os signos políticos têm em comum a busca dos direitos de liberdade de associação, expressão, mobilidade e informação, mas a agenda dos grupos liberais tem mais claro o tipo de instituições, de direitos e mudanças jurídicas desejadas. Isto tem a ver com um acúmulo histórico de que a esquerda tem padecido, e que somente estão projetando os ativistas. Inclusive na América Latina existem mecanismos de pensamento e ação de esquerda mais avançados que em Cuba.

OC: Sua opinião sobre um artigo recente do blog eletrônico Diário de Cuba: “um dos acontecimentos mais interessantes na cena política cubana […] o surgimento de projetos alternativos não abertamente políticos, mas sim culturais e sociais, de pensamento. Tratam-se de projetos que criticam práticas institucionais e dão voz a setores até agora excluídos do debate social”.

MA: Eu concordo com essa opinião, mas para mim os grupos que são mencionados no artigo são diferentes. Uns mais centrados nas mudanças culturais da racialidade, os transsexuais, a ecologia, uma nova cultura cidadã, outros com maior profundidade sobre a sociedade desejada. Existem em seus discursos valores, interesses e propostas de direitos e instituições latentes ou explícitas. Um olhar mais aprofundado e detalhado revelaria propostas diferentes da sociedade desejada e isto mostraria uma maturidade consciente, superior à analisada pelo autor do artigo.

OC: Até que ponto pode se conceber o aparecimento destes universos de grupos ou instituições alternativas e blogs eletrônicos em Cuba como um fenômeno democrático? Precisa Cuba de uma democracia paralela e/ou em confronto com a real socialista?

MA: É inegável a importância de todos estes novos atores sociais e culturais para uma ampliação e enriquecimento da democracia cubana. Cuba precisa de uma democracia paralela à real existente, porque agora os mecanismos são os mesmos que impossibilitaram a incidência da cidadania nas decisões, no controle e no resultado das decisões. Continua a existir uma democracia da minoria, excludente dos interesses diretos e aspirações da maioria, ainda que o Granma se empenhe em dizer o contrário, e o discurso oficial também. As estruturas criadas e os procedimentos estabelecidos para a democracia política em Cuba estão concebidos e funcionam para outorgar a democracia à elite política e militar do país.

OC: Você acredita ser possível a conformação em Cuba de um paradigma democrático de esquerda, alternativo e eficaz na interpelação tanto do experimento estadista como da realidade do poder capitalista?

MA: Parece-me que é possível e, mais ainda, imprescindível. Os obstáculos estão na intimidação permanente a todos os que questionam a ordem atual e fazem propostas alternativas; porém, a desvantagem histórica da qual parte a esquerda cubana, pelas razões já mencionadas, deve ser solucionadas, sob pena de esvaziar o conteúdo e a influência de um projeto de esquerda alternativo para nosso país. A esquerda em Cuba não está no poder.

OC: Recentemente tem feito análises sobre as práticas intelectuais de esquerda internacionais e seus reflexos a respeito da experiência real socialista cubana. Poderia destacar algumas ideias a respeito?

MA: Publiquei um artigo na revista mexicana Nexos em janeiro de 2011, onde me dedico à análise dos intelectuais da esquerda internacional que apoiam o governo de Cuba e entendem a realidade do país através do discurso oficial. O que estes intelectuais “cegos” fazem é “esquecer” do povo cubano e de quebra desprestigiar as ideias socialistas de emancipação social. Acredito que existam interesses em jogo. Eles utilizam seu apoio à Cuba para seus interesses políticos pessoais, e o governo cubano para os próprios. O povo cubano é um pano de fundo do que os interessa. É um pacto de cavalheiros entre elites.

OC: Existem, entre as novas reflexões dentro, fora e sobre Cuba, alguns níveis nos quais se pode observar certa tendência a uma “análise da desmontagem” da etapa civilizatória atual. Em sua opinião, onde termina a destruição e o desmonte e começa a construção na visão de uma futura Cuba?

MA: Tudo depende da capacidade da cidadania para pensar e atuar na direção desejada e exigir as mudanças. Não há desmonte em Cuba, salvo a redução das gratuidades e sem o apoio da cidadania. Basta ver os resultados do debate sobre o Programa do partido. O que há, a partir do governo, é uma articulação nova a um modelo que aponta a China e o Vietnã, e não aos países nórdicos. Portanto, a esquerda deve resistir a essas mudanças somente em relação à liberação econômica e apresentar alternativas. Algumas existem, porém não têm sido escutadas até esse momento, como, por exemplo, o incremento substancial das cooperativas urbanas, além das agrícolas.
Muitos anos de crises não superadas e a falta de discussão de alternativas e mudanças na situação do país fizeram com que o pêndulo político se inclinasse em direção a uma democracia liberal e uma economia de mercado como aspiração das maiorias e dos ativistas de muitas tendências. Muitas coisas podem ser resgatadas da democracia política liberal e complementadas com outras formas de democracia direta, desde que ao mesmo tempo se pense quais os meios para o financiamento dos direitos sociais adquiridos – tripartidos, bipartidos ou estatais (pelo Estado, as empresas e os indivíduos) – e as reformas das leis e das instituições. O que fica claro para todas as tendências ideológicas é a necessidade de mudanças estruturais da sociedade cubana. Se isso é o desmonte, efetivamente essa é a tendência majoritária. No que diz respeito à construção da futura Cuba, as demandas concretas não governamentais ainda estão muito pouco desenvolvidas e isso está relacionado com a falta de democracia interna. A Cuba do futuro depende dos cidadãos e não do Estado.

Tradução: Passa Palavra
Originalmente publicado em espanhol: aqui.

A segunda fotografia a partir de cima e as três últimas são de Elio Delgado.

3 COMENTÁRIOS

  1. Um zero à esquerda, pois é mais uma dissidente que não realiza a crítica pela esquerda. Uma liberal fora do espírito que norteia o Passa palavra.

  2. Não se questiona aqui alguns pressupostos do artigo como a necessidade de ampliação da participação popular e e necessidade da liberdade de expressão, na Universidade, na imprensa e na sociedade em geral. Entretanto, a crítica ao sistema cubano esta no texto alicerçada e valores e referenciais teóricos de direita. As preocupações teóricas exemplificadas nos comentários da entrevistada, assim como seus interesses e referenciais bibliográficos,temas como teoria da capital humano,pós modernismo proporcionam uma suspeita sobre o ângulo que a crítica esta sendo realizada.
    Por exemplo, segundo a entrevistada: “Muitas coisas podem ser resgatadas da democracia política liberal e complementadas com outras formas de democracia direta, desde que ao mesmo tempo se pense quais os meios para o financiamento dos direitos sociais adquiridos – tripartidos, bipartidos ou estatais (pelo Estado, as empresas e os indivíduos) – e as reformas das leis e das instituições. ”
    Ainda segundo a entrevistada: “Uma concepção real de cidadão em sua dimensão civil, política e social nunca existiu na história de Cuba na plenitude destas três dimensões.” A acusação é a de que nunca existiu cidadania de fato em Cuba no sentido pleno. De fato, porém, perguntaria… Onde ocorreu?
    Não se questiona aqui as idéias críticas apresentadas ao sistema de ensino, por exemplo. O artigo contribui em alguns pontos. Principalmente na defesa das formas autônomas de organização dos diversos grupos na sociedade cubana
    Mas a entrevistada desenvolve a crítica a Cuba sob princípios políticos da denominada “democracia representativa” ocidental não me parecendo uma análise fomentada pela perspectiva teórica ao qual a entrevistada apresentou ser adepta.
    A questão que me parece válida é o desenvolvimento de críticas e proposições, mas que sejam orientadas num sentido de preservação das conquistas e ampliação real das formas de aprofundamento de organização e participação popular socialista.
    saudações
    Jefferson

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