Graves agressões de paramilitares armados, identificados como membro da organização Paz e Justiça, ligada à oficialidade, têm ocorrido nos últimos dias contra a nova comunidade zapatista Comandante Abel (antes San Patrício) no município autônomo La Dignidad. Assim o denunciou a Junta de Bom Governo (JBG) ‘Nova Semente que vai produzir’, na zona norte de Chiapas.

A escalada de agressões, que tem chegado a disparos de armas de alto calibre contra os fundadores choles de Comandante Abel, começou no último dia 6, quando “às 7 horas, 55 pessoas com armas de diferentes calibres chegaram a se apossar de um terreno de nossas bases de apoio, a uns 200 metros da nova comunidade”. Esta foi criada no ano passado após incontáveis ações violentas contra as bases zapatistas em San Patrício. A Secretaria de Governo do Estado havia se comprometido a impedir mais ataques dos oficialistas.

A JBG identifica os agressores como moradores de Unión Hidalgo e como priistas de San Patrício (município oficial de Sabanilla), com o objetivo de “invadir e desalojar nossos companheiros de suas terras e pertences”. Instalaram coberturas e uma bandeira vermelha. “Às 11 começaram a roubar o milho verde dos companheiros. Às 12 fizeram um disparo. Às 15 horas chegaram três funcionários do mau governo no lugar onde se encontram os invasores, acompanhados de crianças filhos dos priistas de San Patrício, e voltaram logo depois”. Em seguida se uniram mais homens armados, chegando a 70 invasores. “Às 20 horas os paramilitares se mobilizaram em várias direções realizando 26 disparos”, especifica a JBG. À meia-noite, mais dois disparos, e chegaram reforços dos invasores, que ao amanhecer do 7 de setembro somavam 150. Roçaram matagais, destruíram “porteiras e alambrados das pastagens do coletivo de nossos companheiros”. Às 10.10, “um companheiro saiu da sua casa para observar e atiraram nele 30 cartuchos de grosso calibre”. Um projétil atingiu uma casa. Os atacantes eram “três invasores com uniformes militares e encapuzados”. Dois “ativaram pistolas 9 milímetros e o outro um [rifle] AR-15, com rajadas”. Às 10.30 o grupo oficialista cercou a comunidade a cerca de 150 metros de distância, com um total de 19 armas de fogo.

Segundo a JBG do caracol zapatista de Roberto Barrios, “os dirigentes do grupo armado Paz e Justiça que encabeçam esta operação de desalojamento, ameaças, agressões e roubos, como lhes indicam seus chefes do mau governo”, são policiais, comissários ejidais, ex-funcionários municipais e um ex-candidato do PRI, entre outros, de San Patrício e Unión Hidalgo.

“É a mesma guerra de contra-insurreição dos ricos poderosos contra nossa organização e nossos povos em resistência. O governo busca o derramamento de sangue e morte quando nossos povos estão construindo suas vidas por meio dos recursos que temos, que é a mãe terra onde vivemos”. A junta rebelde lembra que, em 1994, “a recuperamos com a vida e o sangue de nossos combatentes, e não vamos permitir que o mau governo por meio de seus paramilitares volte a tirá-la de nós, porque a terra é nossa, era de nossos avós e bisavós. Vamos defendê-la a qualquer preço; se não entende a razão, se o mau governo não tem coração humano; já sabemos que não tem um coração humano, mas o mais triste é que o mau governo não enfrenta diretamente o povo, utiliza o mesmo pobre fodido da mesma raça para cumprir seu objetivo de expropriar, matar e apoderar-se das riquezas”.

A JBG responsabiliza destas agressões o governo de Felipe Calderón Hinojosa, o governador Juan Sabines Guerrero e os prefeitos de Sabanilla, Genaro Vázquez Pérez, e de Tila, Sandra Cruz Espinosa.

Tradução Emílio Gennari.

Publicado originalmente em La Jornada  11/09/2012, por Hermann Bellinghausen.

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