Enquanto estava em São Petersburgo passava todos os dias ao lado do cruzador Aurora, um barco pequeno, aliás, que o mito tornou grande e o génio de Eisenstein no Outubro, imenso. E todos os dias via os turistas dentro do navio a fotografarem-se uns aos outros, encavalitados no canhão da proa. Pensava se em Moscovo os turistas também se fotografariam abraçados à múmia do Lenin. Passa Palavra

5 COMENTÁRIOS

  1. Diz-se, à boca pequena, que só os tardobolcheviques leninoturistas o fazem. Depois, desodorizam-se e viajam para a disneylândia norte-coreana…

  2. Este “Canhões e Múmias”, redigido em luso vernáculo, lembra-me, pelo estilo, João Bernardo. Terá sido ele o autor?
    Nosso bom e velho JB, Spinoza contemporâneo que (re)lê Marx e que, em boa hora, alforriou-se do ‘tripalium’ das polêmicas – estéreis, quase todas. Agora, TAODADAISTAmente, com máscula delicadeza e maiúscula generosidade, ocupa-se em polir as lentes de sua obra teórica e afiar o gume de sua crítica – literária, inclusive, como, por exemplo, nos excelentes OS SENTIDOS DAS PALAVRAS e A SOCIEDADE BURGUESA DE UM E OUTRO LADO DO ESPELHO.
    Aludindo ao ‘more’ spinozano, desejo-te Saúde & Alegria, caro João Bernardo.

  3. A semelhança não fica só no estilo, mas extrapola para a metáfora toda, afinal antes do ponto final de JB era aqui, nesse Aurora onde tantos se fotografam com a devida brilhantina e o devido algodão aos ouvidos, que nosso velho bolchevique às avessas oferecia o fígado em bolo que, prometeusarcasticamente, depois de devorado tornava a ser oferecido no dia seguinte, num insistente roubar do fogo de Héstia e oferecer – inútil – aos que só se interessam por espelhos e flashs. Deixou-nos então um silêncio, que devia incomodar os corvos.

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