Transporte é uma necessidade básica: dependemos dele diariamente para viver e nos deslocar pela cidade (ir e voltar da universidade, por exemplo). É por isso que o transporte coletivo deveria ser um serviço verdadeiramente público, de acesso universal e entendido como um direito. Mas a realidade é outra: controlado por empresas privadas, o sistema de ônibus em São Paulo hoje funciona como um negócio muito lucrativo. Isso fica visível nos altos preços das tarifas, que só aumentam; mas não para por aí. Toda organização do sistema é planejada para favorecer o lucro dos empresários, e nunca as necessidades dos usuários. O que está acontecendo na Cidade Universitária é um exemplo disso.

Em 2012, o trajeto da linha 107T-10 “Tucuruvi – Butantã USP” foi reduzido até Pinheiros e, em 2013, a linha 177P “Metrô Santana – Butantã USP” foi reduzida até o Metrô Butantã. Com isso, quem vinha em um só ônibus direto até a universidade, agora tem de ir até o Terminal Butantã e de lá pegar um circular – normalmente enfrentando filas e viajando de pé em veículos completamente lotados. A situação que já está ruim pode ficar pior: dizem alguns cobradores que o objetivo é cortar todas as linhas que passam dentro do campus e deixar só os circulares. Por que?

As empresas de ônibus ganham a cada passageiro transportado. Mesmo as viagens que o Bilhete Único cobre com a integração gratuita são pagas indiretamente, por um subsídio que a Prefeitura dá às empresas. Para os empresários, então, é sempre mais lucrativo que um passageiro faça mais de uma viagem para chegar ao seu destino. Por isso, enquanto os estudantes perdem mais tempo no trânsito diariamente, o consórcios comemoram a maximização de seus lucros: seu monopólio saiu fortalecido e as linhas menos rentáveis foram cortadas.

O modelo de transporte baseado no lucro é também um modelo tirano: quem decide tudo são as próprias empresas, sem espaço para os passageiros e trabalhadores. Ainda assim, por vezes conseguimos impor nossas vontades na marra, lutando por nossos interesses. Em 2009, a inauguração do Term. Campo Limpo causou do corte de 10 linhas que operavam na região, isolando todas comunidades adjacentes – assim como o Term. Butantã fez com a USP –, mas veio acompanhada de uma série de protestos. Em outros bairros, situações parecidas frequentemente terminam com a população trancando as vias, ônibus queimados ou capotados, forçando o poder público a recuar.

Mesmo na USP, essa história não é nova: em 2006, como parte de um processo de “racionalização” dos itinerários que seguiu a implementação do Bilhete Único, a Prefeitura anunciou o corte de 1/3 das linhas do município – entre elas todas os ônibus azuis que atendiam o campus (igual está acontecendo agora!). Em resposta, foram realizados vários catracaços (abertura de portas traseiras à força) na Cidade Universitária e, algum tempo depois, o MPL ocupou a Secretaria de Transportes. Após reuniões de negociação com a Secretaria de Transportes, a mobilização conquistou que parte das linhas, entre elas as da USP, fossem mantidas.

Contra as catracas na Cidade Universitária! A organização do transporte com base no lucro está intimamente ligada à organização do espaço urbano com base na segregação. As catracas nos ônibus apenas denunciam como a cidade está cheia de catracas invisíveis, separando os bairros e as pessoas, elitizando alguns espaços e marginalizando outros, etc. Na Cidade Universitária, o seccionamento de linhas serve não só aos interesses dos empresários de transporte, mas a um projeto de universidade que vem sendo imposto pela Reitoria. Eliminar os ônibus que circulam no campus significa restringir cada vez mais o acesso a ele. A USP literalmente ganhou novas catracas no início de 2012, com a substituição dos antigos circulares sem tarifa (ou melhor, com Tarifa Zero) por ônibus convencionais e a implementação do Bilhete USP. Desde então, os moradores da São Remo e os trabalhadores terceirizados tiveram que começar a pagar para realizar suas viagens diárias. Deslocar-se no campus passou a ter um preço.

O MPL-SP repudia o corte das linhas que dão acesso à USP, e todas as catracas que vem sendo implementadas pela reitoria sem qualquer diálogo com a comunidade universitária, sempre que possível em momentos que dificultem a mobilização dos trabalhadores e estudantes. Em defesa da universidade pública, do direito à cidade e do direito ao transporte, apoiamos a mobilização da comunidade universitária, que acreditamos ser o único instrumento capaz de reverter as medidas tomadas.

Por uma vida sem catracas! Toda cidade para todos!

Movimento Passe Livre – São Paulo (MPL-SP)

Informações sobre as experiências de luta mencionadas no Terminal Campo Limpo podem ser encontradas aqui; já sobre o corte de linhas e ocupação da Secretaria Municipal de Transportes podem ser lidas aqui, aqui e aqui.

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