Por Nine

Cupido, de Edvard Munch (1907)
Cupido (1907)

Certo dia desses eu não dormi em casa, fui para outra cidade, saí com amigos e parentes, fui a um show e o meu companheiro ficou na cidade na qual moramos juntos e foi à praia transar com uma conhecida dele. Tudo bem, nosso relacionamento é aberto, coisa que alguns chamam de amor livre, mas que nada, a coisa não foi assim tão tranquila, foi a primeira vez que ele transou com alguém que não eu desde que estamos juntos. Ele até já tinha beijado outras mulheres, mas sexo não, essa foi a primeira vez dele.

Vejam, a seguir, o que escrevi para ele no dia seguinte:

«Amore di mi vida!

Aff, eu vim pro trabalho pensando no que escrever, e agora me lembro bem pouco de tudo o que pensei (risos).

Bom, como é de praxe, estou escrevendo, pois acho que sou melhor (risos) escrevendo do que falando.

Bom, quando recebi sua mensagem, ontem, ainda na madrugada, me contando que havia ido à praia e transado com ela, fiquei surpresa e com uma pontinha de ciúmes. Minha primeira reação foi a de buscar um problema, por isso perguntei por que é que você não me contou antes e por isso não fui muito educada em algumas mensagens que trocamos na madrugada. Porque naquele então era óbvio que eu queria saber desse caso desde a hora que você recebeu um e-mail dela, muito antes de sair pra transar com ela. Mas depois eu caí na real e parei de tentar arranjar um problema que eu pudesse realmente ficar brava com você.

Mandei a mensagem perguntando como havia sido e você respondeu aquilo. Rolei na cama, dormi muito mal, pensando e relendo a mensagem que dizia: “Loucura completa. Cheguei a suar e tomar banho de mar.” Por favor, não pense que eu sou uma doida ciumenta (risos). Mas não posso negar que foram assim as três horas de “sono” que tive.

Conforto (1907)
Conforto (1907)

Fui para casa, torcendo para que você não estivesse lá. Não estava a fim de te ver, não tão cedo. Precisava de um tempo, para pensar em nós, para passar o ciúme que a essa hora era quase nada.

Cheguei e você estava lá, demorei pelo menos uns 15 minutos dentro de casa sem ir ao quarto, pensei em sair sem falar com você, mas, não consegui. Aí quando você acordou, estava, primeiramente, assustado com as coisas pouco educadas que eu havia escrito, mas depois falou e fez tudo o que eu estava precisando ouvir e sentir.

Acredite, eu sabia que este dia chegaria e pensei que sofreria muito, muito mais. Sempre que você me conta que beijou alguém eu rezo um mantra pra mim mesma: “Ele só está fazendo o que foi combinado… O combinado não foi contar dos casos nos quais estamos envolvidos, então, ele está contando, ele está cumprindo com o combinado… Eu também faço dessas coisas… Ele me ama… Lembre-se dos momentos juntos… Eu já fiquei com outras pessoas e o meu seu sentimento por ele é ainda mais forte”. Tipo revistinha do Bidu, mas funciona comigo.

Se eu te disser que levo nosso relacionamento aberto numa boa, mentirei, não só pra você (que muito me conhece) mas principalmente pra mim.

Como eu já te disse, sei que vai chegar um dia que estarei totalmente desapegada desse sentimento de “ameaça”. Pois ele está cada vez mais fraco e logo vai passar.

Amor e Psique (1907)
Amor e Psique (1907)

Eu ainda acredito que essa nossa forma de construir é a melhor pra nós. E a hora que eu ou você mudar de ideia, sei que podemos construir de uma outra forma ainda melhor para nós.

Amo-te cada dia mais e eternamente. A cada dia, perto ou longe de você, sinto o quanto você é importante na minha vida e o quanto eu quero que você continue fazendo parte dela, desse nosso jeito, que é só nosso, e que só nós sabemos construir cada dia melhor. Estou me sentindo mais amada e importante do que nunca!!!!

Uma vida só, e o “Amor pra sempre!” serão poucos pra nós, por isso vamos viver esse nosso amor intensamente e a cada dia, sem perder em aproveitar um só momento juntos.

I love you forever,
Da sua Nine».

As obras que ilustram o artigo são de Edvard Munch.

4 COMENTÁRIOS

  1. Voto

    (para Nine e seu companheiro)

    O silêncio é prova de amor,
    carta de alforria do corpo
    do amado, que em seu pio pudor
    crava o perdão bruto no torso.

    No arder da devota mudez
    há um querer por liberdade.
    Compartilhando-se a nudez
    há de calar-se a vaidade.

    Em louca orgia fala a alma
    através da língua pagã,
    com seus gemidos e murmúrios.

    Os que tudo falam sem calma
    padecem, em febre terçã,
    dos desamores prematuros.

  2. EX-VOTO

    silêncio = ouro
    matéria-prima de penico
    no reino da liberdade
    gargalhadas gerais

    indevoluta nudez
    é a de quem
    deseja e não age
    gargareja não ruge
    ou pior
    ruge e não ataca

  3. Tudo bem! mas e as outras pessoas que se envolvem com quem tem um relacionamento aberto? São coisificadas, reificadas e instrumentalizadas em nome do desejo? sei que é uma pergunta ingênua, mas gostaria de entender como funciona o outro que não está na relação principal e coexiste numa espécie de relação subordinada. Quer dizer aquele que vai virar comentário do casal… Penso isso depois de ter lido A convidada e ter me ferrado, provavelmente virei somente um comentário e uma doce foda!

  4. O outro se lasca, amiga. A não ser que busque somente sexo.

    Uma conhecida minha sintetizava – em tom de deboche – que relacionamento aberto terminava em ‘bucho ou em choro’; ela foi econômica porque pode terminar em bucho e em choro. =)

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