A AMEAÇA DE REMOÇÃO FORÇADA DOS TRABALHADORES DA LADEIRA DA CONCEIÇÃO CONTINUA

Em 15 de julho deste ano, os artífices da Ladeira da Conceição receberam uma ordem para desocupação forçada dos Arcos que ocupam para moradia e trabalho, no prazo de 72 horas, emitida pela SUCOM a pedido do IPHAN, que pretende a “reabilitação” dos Arcos da Ladeira para a instalação de residências artísticas.

Não bastasse a ilegalidade e imoralidade de uma ordem de desocupação num prazo tão curto e sem qualquer negociação com os ocupantes dos Arcos, chega a ser cruel o pretexto usado pelo IPHAN, que diz pretender a reabilitação dos Arcos para a instalação de residências artísticas, desconsiderando que, a Ladeira da Conceição é conhecida pela atividade comercial, especialmente de pequenos comerciantes autônomos que exercem os ofícios de marmoristas, ferreiros e serralheiros. Trata-se de ofícios tradicionais, cujos conhecimentos são passados de geração a geração, e que estão sob pena de extinguir-se, dadas as dificuldades de transmissão e concorrência com novas modalidades de trabalho.

Os marmoristas, ferreiros e serralheiros preservam um patrimônio cultural imaterial, representado por certos modos de saber-fazer hoje raros. Parte destes saberes está relacionado à cultura material das religiões afro-brasileiras. O ofício de ferreiro é fundamental para a produção de insígnias materiais das divindades. A Ladeira da Conceição concentra alguns dos poucos remanescentes detentores destas artes.

A partir da organização dos artífices e de toda mobilização que desencadearam como forma de resistência a mais este processo de gentrificação no Centro Antigo de Salvador, a desocupação forçada não ocorreu, após a ocupação do IPHAN pelos trabalhadores dos Arcos, e deste órgão ter se esquivado do dialogo, a Prefeitura Municipal de Salvador, representada pela Secretaria de Desenvolvimento Turismo e Cultura estabeleceu uma mesa de negociação chamando o IPHAN, através da Coordenação do PAC Cidades Históricas, visando a permanência dos trabalhadores nos Arcos e a garantia de que qualquer reabilitação atenderá os interesses daqueles que fazem a história da Ladeira da Conceição, a partir do desenvolvimento de seus ofícios de marmoristas, ferreiros, serralheiros, dentre outros.

Assim, desde julho para cá os artífices participaram de 07 mesas, na qual a Prefeitura e o IPHAN se responsabilizaram pela execução do projeto de reabilitação, que deverá ser discutido com os ocupantes dos Arcos, e garantindo a permanência destes no local, tendo ficado agendada para o dia 14/11/2014 uma reunião conjunta entre SEDES, IPHAN e artífices para apresentação do projeto elaborado pela Domus (empresa contratada pelo IPHAN para elaboração do projeto de reabilitação) com os ocupantes dos Arcos.

Ocorre que, sem maiores esclarecimentos, o IPHAN não se fez presente nessa reunião, na qual não foi possível a apresentação preliminar do projeto de requalificação, como anteriormente combinada. A SEDES informou que sem a proposta inicial não é possível pensar as próximas etapas necessárias a reforma dos Arcos. O IPHAN justificou, informalmente, sua ausência alegando que a não participação na reunião se devia ao fato da contratação da Domus não prevê a metodologia de construção participativa, situação que recoloca a ameaça de remoção forçada dos artífices da Ladeira da Conceição e o completo descaso do órgão federal com as promessas que foram anteriormente feitas, inclusive a de garantia de que qualquer reabilitação a ser feita teria a finalidade de garantir a permanência dos atuais ocupantes nos Arcos, sendo pensadas a partir das demandas destes.

Diante deste cenário, a resistência dos artífices dos Arcos da Ladeira da Conceição permanece e conclama o apoio dos diversos parceiros na luta pela permanência dos artífices nos Arcos da Ladeira da Conceição.

Artífices dos Arcos da Ladeira da Conceição

ladeira

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