Após esperar mais de um ano e meio para ter o abastecimento de água solucionado pelas empresas IBS e Aurora, moradores do assentamento resolveram tomar uma medida drástica. Apreenderam o caminhão capaz de concluir a perfuração do poço. Por Passa Palavra

ATUALIZAÇÃO 05/02: Representantes da empresa responsável pelos poços e técnicos do Incra foram ao assentamento e se comprometeram a arrumar os dois poços e, inclusive, cavar um terceiro, além de consertar os canos. Os assentados estão no aguardo que até esse fim de semana as promessas sejam cumpridas.

ATUALIZAÇÃO 08/02: Um dos poços foi consertado; visando garantir que as promessas sejam integralmente cumpridas, os assentados mantém o caminhão retido.

Na tarde da última sexta-feira de janeiro, dia 30, os moradores do Assentamento Milton Santos resolveram tomar uma medida drástica, visando sanar o problema da falta de água em sua comunidade, que já se arrastava há mais de 1 ano e meio: uma “ação direta” contra as empresas IBS e Aurora. As empresas deixaram incompletos os dois poços que fizeram na região impossibilitando o abastecimento de água para todos os moradores. Após mais uma visita e mais uma promessa de solução – e de apenas um dos poços – a paciência dos assentados chegou ao limite.

Visando pressionar as empresas e o Incra – co-responsável pelo descaso na vigilância da prestação do serviço – a tomarem as medidas para solucionar a situação, os assentados apreenderam no Milton Santos o carro da IBS, uma empresa terceirizada que presta serviços técnicos para o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e o caminhão da Aurora, empresa contratada para perfuração de poços que ganhou a última licitação. Era esse caminhão que supostamente consertaria um dos poços, no entanto os funcionários afirmaram que o veículo não estava equipado para tal, o que na visão dos moradores comprovou a falta de escrúpulos das empresas que venceram a licitação e não cumpriram sua parte no acordo.

A ação, que obrigou os técnicos a saírem a pé do assentamento[1], tem o intuito de pressionar estas empresas a voltarem com uma solução para que os dois poços perfurados por elas – e que foram conquistados após a luta para a permanência das famílias no assentamento Milton Santos – passem a funcionar e abasteçam tanto o consumo doméstico das 68 famílias de moradores quanto garantam a irrigação da produção.

Para que esse abastecimento seja assegurado, os assentados precisariam de 4 poços funcionando no local. Por enquanto, contam com apenas um em funcionamento e uma roda d`água, os quais já existiam no assentamento desde que foi ocupado, fazendo-os tocar seu cotidiano com bastante dificuldade. Desde que esses dois poços foram construídos pela IBS e Aurora, após a vitória da luta de janeiro de 2013, nunca funcionaram. Portanto, para que tudo fosse regularizado, faltaria ainda a construção de mais um poço e a resolução imediata dos problemas dos que já estão perfurados.

A situação no assentamento é de indignação e luta contra esse descaso. Desaforado, o proprietário de uma das empresas entrou em contato com as lideranças da comunidade, visando reaver o carro e o caminhão, e ameaçou os assentados dizendo-lhes que “tomaria as medidas cabíveis”. Os moradores responderam que isso os deixava satisfeitos e que é isso mesmo que esperam, que ele tome as medidas cabíveis, o que no entender dos assentados refere-se aos procedimentos para conserto dos poços que foram pagos e nunca funcionaram.

Aguardamos os próximos atos dessa revolta pela água, que certamente não será tema só do Assentamento Milton Santos, mas deve se alastrar cada vez mais pelo Estado e pela capital paulista.

Notas

[1] Não querendo penalizar os trabalhadores pela irresponsabilidade das empresas, os próprios assentados que apreenderam os automóveis se dispuseram a levar os técnicos até a rodoviária mais próxima, e assim foi feito.

1 COMENTÁRIO

  1. Há poucos meses atrás, um trabalhador, que dirigia caminhões-pipas, ao invés de levá-lo onde estava determinado pela empresa, resolveu levar o caminhão e abastecer as casas do seu bairro – o Jardim Pantanal – que em outubro, já sofria racionamento.
    Creio que, durante o ano de 2015, veremos muitas revoltas eclodindo, não com a questão da água, que se faz urgente, mas também pelas medidas de maior flexibilização do trabalho que estão sendo impostas.
    Toda força para a luta!

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