A gente esteve nas últimas quatro semanas conversando com os alunos, militando entre os recreios, militando nos intervalos de aula. E isso é o mais importante: a gente mobilizou uma escola inteira simplesmente com o diálogo. Por Coletivo Estudantil da Sudoeste

Os trabalhadores da educação estadual de Goiás estão em greve há quinze dias, acompanhando uma série de greves na educação que vem ocorrendo esse ano. Um dos elementos interessantes que vem quebrando a tradicional apatia de um processo controlado pelo sindicato são as manifestações estudantis em apoio à greve. Em Goiânia já ocorreu uma manifestação dos estudantes dos Colégios Militares (ver aqui), uma manifestação no Colégio Estadual Irmã Gabriela em Aparecida de Goiânia (ver aqui) e uma manifestação no interior, em Caldas Novas (ver aqui). O último protesto agora foi na região sudoeste de Goiânia e os estudantes paralisaram as aulas em apoio ao movimento grevista. Tivemos a oportunidade de entrevistar alguns deles, do Coletivo Estudantil do Colégio Estudantil da Sudoeste, e conversar sobre o que aconteceu.

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Passa Palavra (PP):  E o que aconteceu hoje no colégio?

Coletivo Estudantil da Sudoeste (CES): Simples. Vou falar da maneira mais breve possível. A gente mobilizou a comunidade estudantil ontem pela manhã para que a gente estivesse em reunião e decidisse se haveria aula ou não por conta do movimento grevista. Por que a gente acabou aderindo hoje? A gente se conscientizou e começou a acreditar que só pode haver aula nas unidades escolares se os alunos estiverem dentro das salas de aula. Por que disso? Por que a gente boicotou as aulas de hoje? Porque os professores que estão lecionando e ministrando aula para a gente na escola estão por pura pressão do governo do estado. São os professores que não têm a segurança de um concurso público. Os professores que, se aderissem ao movimento grevista, estariam desligado de suas funções. A gente se conscientizou de que o governo do estado não pode prejudicar a comunidade estudantil. Eles podem (e conseguem) prejudicar os professores, mas não conseguem prejudicar a comunidade estudantil. Então a comunidade estudantil da nossa escola aderiu ao movimento grevista dos professores.

PP: Como que vocês se organizaram pra fazer essa paralisação?

CES: Diálogo. Puramente diálogo. A gente esteve nas últimas quatro semanas conversando com os alunos, militando entre os recreios, militando nos intervalos de aula. E isso é o mais importante: a gente mobilizou uma escola inteira simplesmente com o diálogo.

PP: Vocês têm contato com pessoal de outros colégios ou com professores envolvidos na greve?

CES: O que acontece é que o movimento é puramente estudantil. Não existe professor dentro do nosso movimento. Mas em referência às outras escolas, a gente tentando ir montar um grêmio estudantil na unidade escolar mais próxima.

PP: Como os professores da escola reagiram ao movimento de paralisação de vocês?

CES: Os professores abriram os olhos e se viram presos de verdade. O que acontece? A gente esteve em reunião com os professores antes da explosão do movimento, antes de tomar essa magnitude que tomou. Os professores em si apoiam a nossa causa e apoiam a nossa causa porque sabem, os professores sabem que estamos lutando por eles enquanto eles estão presos nos grilhões. Grilhões esses do Estado.

PP: Como a direção da escola reagiu ao movimento de vocês?

CES: Acredito eu que ela tenha levado para o lado pessoal e que ela acredita que estejamos questionando a autoridade dela, mas não, a luta é pelos professores. Ela impôs algumas barreiras, sim, ela militou contra, sim, fez alguns comentários e tópicos reacionários na internet. Mas ela em si não se impôs, porque sabe que a comunidade estudantil é bem mais forte que uma opinião só. Houve um momento em que a direção da escola falou que quem não entrasse na aula seria suspenso. Mas só entrou alguns alunos do primeiro ano, nós que éramos mais velhos na escola sabíamos que ela não podia fazer isso. E conseguimos fazer com que voltassem pra fora depois.

PP: E os pais e familiares dos colegas?

CES: A gente não teve muito contato com os pais, não. Mas a gente viu que eles estão do nosso lado também no momento em que os pais começaram a voltar mais cedo pra buscar os filhos da escola.

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