A questão que hoje se nos coloca é, noutras palavras, a seguinte: a nossa política visa a pureza ou a mudança? Por Kristian Williams

Há pouco mais de dois anos atrás, a 28 de fevereiro de 2013, durante um evento intitulado “Patriarcado e o Movimento”, assisti à tentativa da parte de uma amiga de colocar diversas questões a partir da sua experiência na resolução de violência doméstica e de outro tipo de abusos no contexto de formas de organização radical: “Por que os processos de responsabilização a que assistimos em subculturas radicais costumam falhar?”, perguntou. “Será que existe uma tensão entre apoiar a recuperação de uma sobrevivente e responsabilizar os criminosos?”.

A esta altura ela foi, literalmente, calada. Um rugir zangado surgiu da multidão, tanto da audiência como do próprio painel. Depressa, ouvi-la tornou-se impossível e, após alguns segundos, ela pura e simplesmente desistiu de tentar falar.

Ao longo das semanas seguintes, gerou-se um clima de desconfiança e recriminação, como a nunca assisti em mais de 20 anos de organização radical. Umas quantas pessoas foram culpadas por determinadas transgressões (a minha amiga foi uma delas, tendo sido acusada de violar a política de “espaço seguro” do encontro, de “visar” membros de audiência, e de utilizar “mecanismos patriarcais” na sua declaração). Outros foram denunciados por comportamento abusivo e sexista não especificado. E muitos mais foram acusados de apoiar, defender ou acompanhar os culpados de tais ofensas.

A subsequente controvérsia destruiu, pelo menos, uma organização política, e um incrível número de ativistas – muitos com mais de uma década de experiência – consideram a possibilidade de abandonar a política de uma vez por todas. Conheço pessoas que perderam amigos e amantes, não porque tenham feito algo, mas pelo que sentiam sobre o assunto. Algumas pessoas – na sua maior parte mulheres, curiosamente – confessaram-me estar com medo de tomar uma posição na controvérsia, com receio de escapar ao padrão definido e de serem denunciadas de má feministas.

Questionar

Face à discordância, seria esperado que questões em torno da resposta a comportamentos abusivos e da atribuição de responsabilidades assumissem uma especial relevância. Pelo contrário, num comunicado publicado após o evento, os organizadores do “Patriarcado e o Movimento”, sem se identificarem, tentaram impedir que estas perguntas pudessem ser colocadas de todo. E afirmaram:

Sentimos igualmente que conceber o discurso em torno das necessidades da sobrevivente enquanto “discordâncias políticas” ou “argumentos políticos” é por si só sexista – uma vez que se pretende que este diálogo seja esvaziado de uma narrativa subjetiva, ou que se estabelece uma esfera de igualdade de diálogo (porque, segundo eles, este não tem nada a ver com poder real) ou como se este diálogo não fosse à partida racializado e sexualizado. É igualmente problemático por sugerir a existência de uma racionalidade neutra e objetiva neste debate, ao invés da possibilidade do debate em si e do seu conteúdo serem o resultado social contingente da dinâmica de poder prevalecente”.

Se esta definição política faz tudo isso – assume a objetividade, a igualdade, a ahistoricidade, a neutralidade de raça e de género, e a inexistência de poder – então torna-se difícil de identificar a possibilidade de discussão política, não só sobre género, mas sobre tudo. Por outro lado, se o debate político assenta sobre estas condições, então não só ele é impossível, como desnecessário. É, precisamente, a disputa sobre a verdade, os factos contestados da história, a identidade, a desigualdade e o poder que atribuem à política a sua forma, o seu conteúdo e o seu significado. A segunda afirmação da citação contradiz a primeira: argumenta-se que a discussão não pode ser política por ser, necessariamente, política.

O comunicado prossegue:

Estes «debates» geram consequências. Existem corpos físicos envolvidos. Enquanto sobreviventes e feministas, devemos ser cautelosas face à colocação dos nossos corpos, segurança, bem-estar, bem como das nossas necessidades em torno dos nossos corpos, segurança e bem-estar como temas de um «debate político». Para nós, o que está em jogo é mais do que os méritos de um «debate». Discordamos da possibilidade de uma «discussão política» às nossas custas. O resultado poderá ser a nossa vida ou morte”.

É verdade: as consequências de um debate sobre responsabilização são sérias. Existem vidas, e não apenas princípios, em jogo. É por essa mesma razão que, ao invés de se não o fazer, estes assuntos devem ser discutidos.

Se a política tem algum significado, ele é o da existência de consequências – por vezes, literalmente, de vida ou de morte – das decisões que tomamos. Quando se trata de guerra, alterações climáticas, imigração, policiamento, saúde, condições de trabalho – em todas estas áreas, tais como na do género, “corpos, segurança, saúde, autonomia pessoal e bem-estar” estão em causa. É por isso que a política é importante.

Falácias

Ao tentar elevar o feminismo para lá do espaço da política, o comunicado dos organizadores vem, de facto, avançar com um determinado tipo de política. Com autoridade de causa, mas de forma anónima, os organizadores do “Patriarcado e o Movimento” declaram certas questões tabu, não só (retroativamente) para o seu evento, mas, aparentemente, em todo o lugar. Estas questões não podem ser colocadas porque, supostamente, existe apenas uma resposta, já conhecida por todos. A resposta é, em termos práticos, aquilo que a sobrevivente afirmar.

À luz desta teoria, a sobrevivente, e apenas ela, tem o direito de exigir, enquanto aos restantes cabe o dever de decretar sanções, sem colocar qualquer dúvida. O que implica que todas as alegações sejam encaradas como factos; e, frequentemente, alegações específicas nem são necessárias. Basta caracterizar o comportamento de alguém – ou mesmo o seu caráter – como «sexista», «misógino», «patriarcal», «silenciador», «persecutor», «inseguro» ou «abusivo».

E, partindo do princípio de que ser mau não permite nem ser melhor nem ser pior, todos estes termos podem ser usados. Afinal, o objetivo nem é fazer uma acusação, a qual poderia ser provada ou não, mas sim tecer um julgamento. Por conseguinte, vastos conjuntos de pessoas podem criticar ou mesmo punir alguma pessoa maligna sem sequer fingir saber o que é que ela, especificamente, poderá ter feito. Ele foi considerado criminoso; nada mais interessa.

Esta perspectiva esconde – e aqui jaz, talvez, o seu cariz apelativo – as complexidades das vidas reais, os múltiplos papéis que desempenhamos, as tensões que encarnamos e vivemos, e a maneira como participamos na manutenção dos sistemas de poder, ainda que nos oprimam. Sob este esquema, garante-se à partida que nenhuma sobrevivente possa ser igualmente uma abusadora, e que nenhum abusador possa ser o sobrevivente de uma violência cometida por outrem. Naturalmente, nenhuma vitimização passada poderá justificar ou desculpar qualquer abuso, mas a estrita dicotomia aqui implicada vem, de forma muita precisa, afastar o passado. Sob a mesma lógica, vem igualmente impedir a possibilidade de cura ou crescimento.

O que oferece, pelo contrário, é um dualismo confiante, em que sobreviventes e abusadores existem, não enquanto papéis que podemos por vezes preencher ou posições que podemos por vezes ter, mas enquanto tipos de pessoas particulares que são essencialmente essas coisas, encerradas para sempre numa ou noutra dessas categorias, e (não acidentalmente) estereotipadas com base numa convenção de género binária. A cada pessoa é atribuído um papel e, a um certo nível, reduzido à sua posição na estória. É-se apenas criminoso/abusador ou vítima/sobrevivente. Cada um deles é definido pelo sofrimento que causaram ou pelo sofrimento de que foram vítimas – mas nunca pelos dois em simultâneo.

Uma dupla transformação ocorre. O Patriarcado não é mais um modo de poder ou um sistema de estratificação social e torna-se, ao invés, identificável pelo comportamento de um homem individual, podendo este mesmo considerar-se a sua personificação. Ao mesmo tempo, tanto o criminoso como a sobrevivente são despersonalizados, retirados do contexto e das narrativas das suas vidas, e elencados enquanto figuras simbólicas de uma espécie de teatro da moralidade.

O nosso escrutínio direciona-se, então, do abuso para o abusador, do ato para o ator. Em vez da procura de meios de curar o dano realizado, investimos a nossa energia coletiva em julgar o caráter do homem responsável. O apoio à sobrevivente é equacionado com, e, posteriormente substituído, pelo castigo do criminoso.

Estas manifestações de indignação moral servem, acima de tudo, o pronunciamento da inocência e a confirmação da virtude dos seus responsáveis. E, enquanto tal, estranhamente, eles tornaram-se, obrigatórios. Uma vez que não se questiona a possibilidade de certa pessoa ter cometido um dado ato, mas antes se ele é maluco, então faz algum sentido que todo aquele que o “acompanhe”, “defenda”, “apoie” ou até goste dele – ou que seja incapaz de o denunciar – deva assumir uma parte da culpa. Assim, existe um forte impulso de alinhamento com o “lado certo”, de adesão à denúncia antes que se seja objeto de denúncia.

Implicações

A ideologia em exercício é auto-comiseradora, produzindo um movimento menos, e não mais, preparado para lidar com assuntos relativos a abuso sexual, violência doméstica, e outros efeitos do patriarcado. Impedir a discussão de certos assuntos não constitui um convite à aprendizagem e ao desenvolvimento. Um clima de humilhação pública vem incentivar as pessoas que cometeram erros a não admitir que o fizeram ou a tentar expiá-los. O clima pesado dificulta quem se encontra envolvido em atividades de responsabilização e de trabalho de suporte; estigmatiza os indivíduos que, por sua própria vontade, aderem a processos de responsabilização; e poderá reduzir as sobreviventes dos abusos, as suas experiências e as suas necessidades a símbolos políticos, usados por outros na defesa de uma linha ideológica específica.

As políticas em causa são também profundamente autoritárias, impedindo a consideração de um leque de questões relativas a autoridade, responsabilização, punição e exclusão. As suas defensoras reivindicam, de facto, um monopólio da prática feminista, excluindo outras perspectivas feministas. E assim silenciam quem discorda – literalmente, no caso do episódio do “Patriarcado e Movimento”.

Na situação que aqui descrevi, estas medidas estão a ser adotadas em nome do feminismo. Contudo, não existe nada que nos leve a acreditar que o padrão fique por aqui. As mesmas táticas estão à disposição de qualquer campo identitário ou ideológico que procura ver-se livre de influências burguesas, ou pacifistas que desejam romper totalmente com uma cultura de violência, ou ecologistas que procuram escapar da civilização, ou, na verdade, qualquer pessoa cujo radicalismo consiste na denúncia de alegados defeitos dos outros. A necessidade obsessiva de conformismo político, a mútua procura de falhas que a anima e o sentimento de isolamento bélico resultante – aliados a um tipo de competição farisáica, por um lado, e a um complexo de culpa masoquista, por outro – garante, em termos práticos, esta espécie de disputa intestina que vimos surgir não só em Portland, mas igualmente em Oakland, Minneapolis e também Nova Iorque.

O impulso totalitário encontrou a sua expressão, e revelou uma capacidade de destruição tal, em parte porque temos sido constantemente incapazes de encontrar os meios de lidar com discordâncias, de resolução de disputas, de respostas à violência, e (sim) de responsabilização de cada um. Sem estas ferramentas, dependemos – demasiado frequentemente – de testes de purismo ideológico, de tribos de amigos, de pressão dos nossos pares, de humilhação e ostracismo, bem como de dizer merda e de guerrinhas na internet. Tal comportamento há muito que faz parte da nossa cultura política.

Não nos pode surpreender, pois, que a tendência seja a de empurrar pessoas para fora, ao invés de as incluir. Quando tal o fazemos, a nossa capacidade de desenvolvermos uma ação importante diminui. Um ciclo de suspeição e exclusão passa a dominar. À medida que nos revelamos menos capazes, e menos interessados, em ter algum efeito na sociedade, tornarmo-nos cada vez mais focados nas ideias e identidades dos que pertencem ao nosso círculo. Nós avaliamo-nos uns aos outros de forma impiedosa, e quando descobrimos uma ofensa – ou apenas nos sentimos ofendidos – empurramos os que perderam a nossa aprovação.

À medida que o nosso círculo se torna cada vez mais pequeno, diferenças menores adquirem uma importância acrescida, levando a mais suspeição, condenação e exclusão – diminuindo o círculo ainda mais. Comportamo-nos, noutros termos, não como um movimento mas como uma cena – e uma cena particularmente facciosa, isolada e hostil.

Visões

Estão aqui em causa visões bastante distintas do que deve ser um movimento.

Numa dessas visões, o movimento e as pessoas que o fazem devem ser, a todos os níveis, irrepreensíveis, permanecendo como um exemplo, um farol no meio do oceano [1], à margem de todos os problemas da nossa sociedade. Atingir esta perfeição requer que separemos o trigo do joio, as boas das más pessoas, as verdadeiras feministas de todas as outras pessoas. Esta perspectiva produz, de forma quase automática, a tendência de protelar o dogma do grupo. Não basta fazer o que é correto; é necessário pensar correto e obter aceitação das pessoas corretas.

Na outra visão, contrastante, um movimento deve atrair pessoas para o seu seio, inclusive pessoas feridas, pessoas que cometeram erros, e aquelas pessoas que ainda estão a tentar descobrir qual a sua política. Tal requer, então, que se lide com a violência sexual e outro tipo de abusos através do contacto com pessoas que cometem tais atos. Devemos lutar com eles tanto quanto lutamos contra a opressão.

Nenhuma das abordagens parece ser fácil. Ambas enfrentam o desafio de desenvolver uma prática feminista no seio de uma sociedade sexista. Mas enquanto uma imagina os autores desta prática como indivíduos livres da mácula do patriarcado, a outra começa por reconhecer que nos encontramos todos marcados pelas forças contra os quais lutamos, que nos encontramos implicados nos sistemas de poder que nos oprimem. A primeira procura derrotar o patriarcado principalmente por via da exclusão; a segunda, através da transformação.

A questão que hoje se nos coloca é, noutras palavras, a seguinte: a nossa política visa a pureza ou a mudança?

 

Bio: Kristian Williams é autor de Os Nossos Inimigos de Azul: Polícia e Poder na América, Métodos Americanos: Tortura e Lógica de Dominação, e Dor: Notas sobre Tortura numa Democracia Moderna. Ele vive em Portland, Oregon. Texto traduzido a partir daqui (http://towardfreedom.com/29-archives/activism/3455-the-politics-of-denunciation)

Nota:

[1] Nota do Tradutor: a expressão traduzida é shinning city on a hill [uma cidade cintilante numa encosta], uma metáfora utilizada pelo ex-presidente e ator Ronald Reagan na descrição dos Estados Unidos.

6 COMENTÁRIOS

  1. ótimo texto e bem atual. fala bastante de processos que foram e continuam sendo vivenciados em minha cidade.
    mas achei meio confuso o início e tem alguns erros de digitação
    (a nossa política visa *o pureza = a pureza). será que uma revisão não resolve? de qualquer jeito, agradeço pela tradução.

  2. Ótimo texto. Parabéns pela tradução.

    Fiquei pensando num detalhe da tradução, que pode facilitar e mesmo enriquecer a compreensão. No parágrafo abaixo a palavra “cena” pode parecer estar meio fora de lugar:

    “À medida que o nosso círculo se torna cada vez mais pequeno, diferenças menores adquirem uma importância acrescida, levando a mais suspeição, condenação e exclusão – diminuindo o círculo ainda mais. Comportamo-nos, noutros termos, não como um movimento mas como uma cena – e uma cena particularmente facciosa, isolada e hostil.”

    Creio que aí o termo “scene” foi usado com um significado bem específico que ganhou na linguagem coloquial, algo que se aproxima da noção de “subcultura”, presente em frases como “a cena punk britânica”. Encontrei as seguintes definições em alguns dicionários:

    1. “Qualquer lugar onde fanáticos por música se reúnem para ouvir grupos musicais”

    2. “An area or sphere of activity, current interest, etc.: the rock music scene; the fashion scene”

    3. “The word ‘scene’ covers a large spectrum throughout recent history, but its most modern definition is used to describe certian subcultures and movements. The most notoriously famous and targeted is the alternative music scene, or more specifically, branches of the alternative music scene such as hardcore, indie, etc. (…) There indeed is competition among scenesters…sometimes friendly, sometimes not. (…) Those people who partake in scene lifestyle often choose to date/socialize only with those like them, which can cause bitterness or rejection to outsiders. (…) They feel that their scene style is not only a fashion statement, but an all-encompassing lifestyle. (…) Groups of hardcore scenesters start ‘crews’, often characterized by fierce brotherhood to the point of violence against others who are unlike them or who are in other crews.”

    Enfim, não sei se há uma palavra melhor que “cena” para traduzir “scene” no texto, mas talvez mereça uma nota ou explicação.

  3. Esse texto foi originalmente publicado em fevereiro do ano passado. Três meses depois, o autor, Kristian Williams, foi impedido de falar durante uma palestra que faria na Universidade Estadual de Portland. O motivo? Ter escrito o texto aqui traduzido.

    Aos gritos de “Fuck you, pig” (foda-se, seu porco) e “We will not be silenced in the face of your violence” (não seremos silenciados diante da sua violência) uma dúzia de ativistas identitários impediu que o anarquista pudesse realizar a palestra.

    O vídeo do que ocorreu pode ser visto aqui: http://www.campusreform.org/?ID=5612

    E diante dessa barbárie há gente que ainda acha que o silêncio e a apatia sejam soluções…

  4. ERRATA PATAFÍSICA:

    ANTES: “It may be enough to characterize someone’s behavior … as ‘sexist,’ ‘misogynist,’ ‘patriarchal, ‘silencing,’ ‘triggering,’ unsafe,’ or ‘abusive.’”

    DEPOIS: “It may be enough to characterize SIMONE DE BEAUVOIR … as ‘sexist,’ ‘misogynist,’ ‘patriarchal, ‘silencing,’ ‘triggering,’ unsafe,’ or ‘abusive.’”

  5. Dokonal,
    essa manifestação contra Kristian Willians, o autor do artigo que crítica essa busca de uma pureza, foi de tal modo realizada, com as pessoas em pé, ao entoarem cânticos a capela, tudo bem organizado e num time de dar inveja a algumas orquestras, que me lembrou muito cultos religiosos cristãos.
    We not silence in face of your violence, repetido em conjunto, com um ou outro verso adicionais pelos “cabeças”, transformou o que seria uma palestra que seria interrompida por uma manifestação, numa palestra transubstanciada em um culto.
    A pureza, talvez seja só um engraçado acaso, nas politicas de denúncia, transbordou da concepção teórica de fundo desses movimentos para a forma como são manifestados os atos de denúncia.
    Agora é só esperar para ver os “escrachos” serem realizados como novenas, exorcismo ou inquisição.

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