A territorialidade é um elemento central nos casos analisados. O contexto de intervenção é urbana: isso determina uma materialidade e representações simbólicas específicas da vida na cidade, sem as quais perderiam sentido. Por Estudantes na Cátedra Livre Americanista – UBA (2015) [*]


Partindo da definição de Guy Debord sobre a “sociedade de espetáculo” [1], analisamos algumas intervenções urbanas que representam formas de resistência popular no plano da memória coletiva. Particularmente a prática de colocar placas, pinturas murais e monolitos em locais de trânsito massivo lembrando militantes populares mortos pela repressão Estatal (ditatorial ou democrática) nos levou a pensar algumas questões sobre as políticas estatais de narrar o passado e sua contraparte nas estratégias populares de memória. Temos a intenção de abrir o debate teórico e político sobre estas experiências gerando um material disparador que possa ser disseminado, apropriado, modificado, completado e discutido em diferentes âmbitos dentro e fora da universidade; um insumo para a Cátedra Livre de Estudos Americanistas (UBA) e para qualquer pessoa interessada em aprofundar ainda mais o assunto. Os casos que tomamos para iniciar esses debates são: as placas colocadas pela “Coordenadora de Bairros pela Memória e Justiça”, as placas colocadas em homenagem a Carlos “Petete” Almirón e as intervenções urbanas sobre o “Massacre de Floresta”.

Os Casos

Carlos “Petete” Almirón

Carlos “Petete” Almirón militava na zona sul da Grande Buenos Aires, na cidade de Lanús. Construía com os seus companheiros no Movimento 29 de Maio e participava da Coordenadoria contra a Repressão Policial e Institucional (CORREPI). Em 2001, juntamente com milhares de manifestantes participou da rebelião popular que derrubou o governo da Aliança. Foi morto por balas da polícia em 20 de dezembro, aos 23 anos. Desde então ele é um exemplo da juventude rebelde da Argentina. Em sua homenagem diferentes placas foram colocadas. A primeira, construída pelo G.A.C. (Grupo de Arte Callejera), foi colocada em 2002 a poucos metros da esquina onde “Petete” foi assassinado [Foto 11]. Esta teve de ser recolocada poucos anos depois de que o Governo da Cidade de Buenos Aires a removesse, juntamente com outras dedicadas a outros assassinados do 2001. Outro conjunto de placas foram feitas em 2005 pela FA.SIN.PAT (Ex- Zanon), fábrica recuperada por seus trabalhadores na província de Neuquen, e foram transportadas a Buenos Aires. Daquelas que sobreviveram à viagem, uma foi colocada na estação Lanús do trem metropolitano [Fotos 12 e 14], durante um ato político constantemente assediado pelas forças repressivas. Em 2014 o município de Lanús remodela a estação, retirando a placa. Em breve será recolocada por seus companheiros e companheiras.

Baldosas x la Memória [Azulejos pela Memória]

Durante o final dos anos 90 e início dos anos 2000, na Cidade de Buenos Aires como no resto da Argentina, começaram a se organizar os bairros pobres da periferias, mas também alguns bairros nos quais a classe trabalhadora estava menos precarizada. Neste contexto de mobilização social, a expressão da violência estatal na forma de repressão motivou que se retomasse fortemente nos espaços organizados a necessidade de reconstruir a história do que havia acontecido na última ditadura civil-militar argentina.

Depois de iniciativas artísticas em espaços públicos, como o siluetazo [Foto 5], ou escrachos a figuras de repressão militar, as assembleias dos bairros passam a gerar ações duradouras, já não sob a forma de denúncia, mas sim como memória do que o Estado tentou apagar: os militantes, os inimigos da ditadura. O grupo Barrios x la Memória – Almagro foi formado no ano de 2006, inspirado pelo trabalho feito por outras iniciativas de bairros [Foto 10] e também do Colégio Nacional de Buenos Aires [Foto 9]. Eles trabalham com familiares pesquisando arquivos e listas variadas de desaparecidos para reconstruir não só o itinerário institucional do aparelho repressivo, mas também a vida de cada desaparecido/a, seu ambiente privado e militante. Estudantes, intelectuais, sindicalistas, ativistas e militantes sociais, as memórias de seus parentes, suas histórias pessoais em seus cotidianos, o bairro, os locais de estudos [Fotos 6 e 7]. Em 2008 editaram o livro “Baldosas x la Memoria”, onde juntam centenas de histórias e documentam seu trabalho com os azulejos, o momento no qual intervêm no território de maneira física e duradoura, à vista daqueles que o habitam, a fim de fazer viva a memória dessas lutas – desses militantes populares. Em 2010 eles fizeram o segundo volume do livro, e em 2013, o terceiro, ampliando as histórias e os bairros intervencionados.

O Massacre de Floresta [bairro de Buenos Aires]

“Foi em 29 de dezembro [de 2001], (…) o garotos foram mortos por um ex-policial, estavam assistindo à televisão no comércio do posto de gasolina, [na televisão] estavam descendo o cacete num policial e os garotos estavam comemorando, e então ele [o ex-policial] começou a mandar bala aí mesmo, um deles escapou por sorte (…) À medida que o dia passava, o povo do bairro foi se informando de que não foi um roubo, a empregada do comércio do posto declara que não foi um roubo ”.

“Se forma uma marcha espontânea até a delegacia e a repressão começa. Tiros, gases, as pessoas não se foram, eles resistiram e começou a aparecer gente de todos os lados (havia pessoas de Almagro, de outros bairros, todos atirando pedras). (…) Chegamos a um quarteirão da delegacia. (…) Isso durou cerca de 12 horas. (…) Não éramos todos jovens, tinha gente mais velha, vizinhos que nos permitiam entrar na casa para beber água durante a noite. “

“Foi por isso, por essa mobilização, que ocorreu o julgamento, que ele foi preso [o ex-policial]. (…) Depois houve um acompanhamento, os pais e as mães não ficaram quietos”.

“Depois, todos os dias 29 dos meses do primeiro ano havia uma marcha. Até que ele foi julgado e então deixou de haver. Era muito massivo. (…) Ele agora está livre, sob prisão domiciliar em Berazategui”
Trechos da entrevista com a equipe editorial do jornal “All Boys y nada más.”

Discussões, problemas e perguntas

Debord sintetiza o espetáculo como “o capital a um tal grau de acumulação que se torna imagem” [2] e a partir daí conceitualiza o seu papel na comunicação: separados de seus produtos, os trabalhadores não só distanciam-se pela forma na qual produzem, mas também da comunicação direta entre os produtores. A acumulação de produtos em um segmento da sociedade também envolve a concentração em uma visão unificada do mundo e da comunicação, que se torna domínio exclusivo da direção do sistema, ou seja, a burguesia [3]. Como então compreender as intervenções analisadas, reconhecendo que constituem em si uma forma de comunicação? É possível uma intermediação do discurso concentrado e monolítico do capital, em um mundo onde a alienação do proletariado inclui os planos material e simbólico?

Raymond Williams, ao escrever sobre hegemonia, coloca a questão de que é preciso atentar àquelas “formas alternativas ou diretamente opostas da política e da cultura”[4] que estão sempre presentes. Estas são formas que pertencem a um contexto social, econômico e político determinado, que fazem eco das condições materiais em que os sujeitos reproduzem sua vida, que implicam planos do passado e projetam expectativas futuras. Isto é, são históricas. Acreditamos que é importante pensar sobre as intervenções analisadas neste sentido: como práticas contra-hegemônicas que representam um desafio, uma resistência dentro do campo da cultura [5]. Esta afirmação não exclui considerar suas contradições no momento de interagir com formas de representação que são direcionadas ou exercida a partir do Estado (ou seja, a partir da classe dominante) – ao contrário, as formas Estatais podem incorporá-las como parte da ação contra-hegemônica. Mudar o nome de uma rua [Fotos 21 e 31], “escrachar” um monumento público [Foto 26] ou colocar placas de homenagem nas calçadas de uma cidade [Foto 25, mesma esquina da placa de Rodolfo Walsh], é também retomar formas de transmissão cultural herdadas e impostas a partir da formação do Estado nacional. Sua reapropriação é um ato político envolvendo uma tensão necessária com a dominação (existe algo que “não se diz”, se “invisibiliza” ou é “contado de forma incompleta ou distorcida” pelo poder [6]), mas não coloca necessariamente em pauta a destruição desta dominação. Em alguns casos estes atos visam deslegitimar e denunciar a ação do Estado, em outros, repor a voz dos “de baixo”, em outros, simplesmente complementar ou completar a função Estatal de transmissão histórica[7]. Um exemplo dessa tensão é o uso que “Bairros pela Memória e Justiça” faz da legalidade jurídica para entrar em ambientes educacionais estaduais e colocar placas de forma coordenada com professores, centros de estudantes ou outros atores, fazendo uso da Lei 546 da Cidade Autônoma de Buenos Aires (promulgada em 2001), que habilita oficialmente as listas de desaparecidos das instituições educacionais e respalda a sua visibilidade.

É interessante pensar no momento de transição ditadura-democracia da década de 80 e no período aberto desde 2001 como os contextos para tais práticas. Por isso escolhemos experiências relativas a assassinados pela ditadura – anos 70 – e pela democracia – rebelião popular de 2001. As intervenções que falam sobre os primeiros habitualmente repõem o nome do/a desaparecido/a, mas não a sua filiação partidária, realizando de fato uma nova homogenização dos “militantes populares”[Fotos 6 e 15]; seus protagonistas [das intervenções] se centram na memória como uma ferramenta do “nunca mais” [palavra de ordem que delimita a repressão como fenômeno ditatorial] e como luta para que “não se repita o terrorismo de Estado.” Um caso diferente é o das placas colocadas pela comissão interna de trabalhadores do Banco de la Nación Argentina em 2002 [Foto 8]. As placas originais foram destruídas em uma reforma da rua Reconquista, quando então a comissão e os familiares votaram pressionar o governo da cidade, através da instituição bancária, para fabricar novas placas com o mesmo conteúdo, incluindo a filiação partidária de cada desaparecido/a [8].

As intervenções referentes aos assassinados em 2001 tendem a ter uma crítica explícita da continuidade repressiva e fazem referência à resistência da atualidade incorporando uma denúncia aos mecanismos repressivos da democracia burguesa [Fotos 11 e 12]. Em algumas delas também encontramos outras formas de homogeneização, por exemplo, “Los pibes de Floresta”[Os garotos de Floresta] são retratados todos com a camisa do All Boys, quando apenas um deles pertencia ao clube de futebol [Foto 17] – o que consideramos que pode ser uma maneira de realizar, como também nas intervenções sobre os assassinados dos 70′, uma reapropriação popular massiva dos que estão desaparecidos/assassinados.

No relato de alguns integrantes do “Baldosas x la Memória”, pode-se interpretar um posicionamento que visa obrigar o Estado a cumprir com a responsabilidade de garantir a memória coletiva, enquanto que esta exigência não é geralmente incorporada na referencia às “vítimas” da democracia como Petete ou os jovens de Floresta. Uma interpretação possível é que se criou em alguns setores sociais um sentido comum institucionalista refletido na crença de que o Estado deve contar a história completa, ou melhor, a história dos vencidos. Deve fazê-lo em escolas e outras instituições públicas, museus, meios massivos de comunicação, etc. Esta idealização tem a ver com os valores da transição democrática que penetrou profundamente mesmo algumas expressões ex-militantes dos anos do auge revolucionário: é exigido ou esperado do Estado que cumpra esta função, porque se trata agora de um estado “democrático”. E, de fato, o governo kirchnerista pós 2001 respondeu a essa demanda, embora as formas e consequências disto não sejam um debate que possa ser abordado nesta análise.

Também nos resulta útil aplicar à estas práticas culturais as categorias de “residual” e “emergente” que Williams propôs. A utilização de placas ou a renomeação de ruas fazem uso de formas residuais de transmissão da memória histórica que eram centrais em outro momento do capitalismo, mas não o são na atualidade [Fotos 3 e 25]. Apesar disso (e ao contrário do “arcaico”), estão cumprindo uma função social e isso explica por que são intervencionadas, reapropriadas ou ressignificadas pelos setores populares. Os murais de rua, por outro lado, parecem corresponder mais ao campo do emergente, ou seja, práticas alternativas desenvolvidas pela classe explorada que são construídas dentro dos limites e formas impostos pelos elementos hegemônicos. Em ambos os casos, essas práticas põe em ação os mecanismos da hegemonia para legitimar-se frente à iniciativa popular: cooptação, sua incorporação como práticas estatais, valorização e divulgação nos meios de comunicação, o financiamento econômico, incorporação a um enquadre legal, a estetização da memória em museus, entre outros.

Debord defende que “como se tem assegurado que muitas poucas pessoas saibam onde encontrar as coisas autênticas ali onde elas ainda existem, o falso pode legalmente assumir o nome do verdadeiro que foi extinto.” Assim, diferentes faces da luta revolucionária e anti-capitalista são incorporadas ao repertório de figuras de referência da construção de identidade kirchnerista, conciliando-os discursivamente com a ação estatal contra a qual combateram, gerando um achatamento histórico onde a política revolucionária transforma-se em política social-democrata como uma evolução lógica e não como degeneração fatídica. É assim que os rostos de Guevara e Tupac Amaru se tornam parte da celebração do bicentenário do Estado Argentino, ou que o nome de Rodolfo Walsh “livre-pensador, vítima e não-combatente” batiza uma estação de metrô: uma forma de assassinar uma segunda vez, post mortem, as derrotas revolucionárias. [Foto 22]

No mesmo sentido a luta contra a repressão estatal, de longa data na Argentina, toma distintos caráteres a partir de 2001 pela violência dos enfrentamentos e consequências políticas subsequentes. Contra isso a hegemonia implantou vários mecanismos para limitá-la, cooptar ou invisibilizá-la. A placa de Petete colocada na Capital Federal (como o resto das que foram postas pelo G.A.C. nessa zona) foi retirada pelo governo da cidade para expandir o circuito do “Metrobus” [corredor de ônibus] sem hesitação. Teve de ser recuperada dos armazéns do Governo da Cidade de Buenos Aires e reinstalada. Algo semelhante aconteceu em Lanús: durante a remodelação da estação ferroviária foram removidos um monumento ao General Belgrano e a placa: o monumento foi reinstalado, a placa não. Os azulejos colocados por “Barrios x la memória” nas calçadas da cidade em alguns casos foram intervencionadas, pintadas ou removidas, forçando o grupo a recolocá-las. A colocação da placa dos desaparecidos do Clube All Boys foi resistida pelos dirigentes do clube e o no momento de sua inauguração foi acompanhada por um discurso “oficial” que excluía a importância da militância e colocava em primeiro plano a filiação esportiva, omitindo a motivo de seus assassinatos [Foto 15]; por outro lado, organizações afins ao governo nacional kirchnerista tomaram a iniciativa de fazer um mural onde a placa em memória aos caídos foi instalada, apropriando-se da ideia de lembrá-los que tinha sido de iniciativa de uma vizinha do bairro e apoiada por militantes sociais do clube. [Foto 16]

Outra aresta que aparece na hora de analisar a ação do Estado a partir da estetização e “museificação” da memória, construindo espaços destinados a ser reservatórios daquela, nos quais se transmite a narrativa oficial sobre a repressão e o assassinato estatal [Foto 28 – Parque de la Memória, Buenos Aires]. Algumas perguntas se abrem sobre quais são as funções que cumprem este espaço, como estratégia estatal que é replicada em várias lugares além da Argentina [Fotos 28 e 29 – Museu da Memória, Santiago de Chile], ao pensar que implicações tem um espaço organizado arquitetonicamente para construir o seu visitante em termos de espectador (passivo) do passado, acompanhado de um discurso oficial que o concilia com o presente ao apresentar-se a si mesma como uma “reparação histórica” dos crimes de Estado.[9]

Não se trata simplesmente da ação violenta ou dissimulada das classes dominantes contra a iniciativa popular, mas também entra em jogo o que Cornelius Castoriadis caracterizava como a “delegação do proletariado nas instituições.” Os limites políticos que muitos dos protagonistas destas ações têm ao momento de construir uma narrativa contrassistêmica ou francamente revolucionária em sua prática devem ser analisados tendo em conta a “derrota” dos projetos revolucionários dos anos 60 e 70 e do “ideal democratista” fortemente construído durante a transição alfonsinista e particularmente reforçada pelas classes dominantes a partir da ruptura institucional que representou o 2001. Nas palavras do autor: “O proletariado não é algo alheio ao capitalismo; nasce na sociedade capitalista, está nela, participa, a faz funcionar. Ideias, normas, atitudes capitalistas constantemente tendem a introduzir-se no proletariado e, enquanto dure a sociedade atual, não deixará de ser assim. A situação do proletariado é absolutamente contraditória, porque ao mesmo tempo que é o que dá origem aos elementos de uma nova organização humana e de uma nova cultura, nunca poderá ser completamente separada da sociedade capitalista em que vive. A impressão mais profunda desta sociedade se manifesta mais nos planos em que menos costuma ser pensada: os costumes seculares, as evidências de senso comum burguês que ninguém põe em causa, a inércia, a inibição da criatividade e a atividade dos homens sistematicamente organizada pela sociedade” [10]. Isto não nega que existam condições materiais, políticas e culturais para uma mudança radical na sociedade ainda hoje. O que implica é reconhecer-nos como sujeitos dentro do campo das ciências humanas que devem refletir sobre os limites e os alcances das práticas sociais, a fim de superá-las criativamente.

A territorialidade é um elemento central nos casos analisados. O contexto de intervenção é urbana: isso determina uma materialidade e representações simbólicas específicas da vida na cidade, sem as quais perderiam sentido [11]. A circulação maciça de mercadorias e pessoas de maneira mais ou menos integrada entre a Capital Federal e a Grande Buenos Aires é uma realidade diária (e na maioria das vezes traumática) para milhões de trabalhadores/as, que tem sido economicamente e culturalmente imposta pelas classes dominantes. Deve ser analisada e desnaturada para se entender como vivem e intervêm os sujeitos envolvidos nesse vasto território. É um espaço específico que configura, entre outras práticas sociais, os trajetos das organizações populares, militâncias individuais e as táticas de repressão estatal. Assim o contam os protagonistas de “Barrios X la Memória y Justiça” ao verem-se obrigados a expandir a colocação de placas (originalmente concebidos para bairros da Capital Federal) em diversos locais nos conurbanos sul e oeste a partir da demanda de companheiros e parentes de assassinados dos anos 70. Da mesma forma testemunham as placas de Petete Almirón: uma foi colocada no centro da cidade, lugar permanentemente ocupado para manifestações e protestos pelas organizações de toda a área metropolitana, e outra a vários quilômetros de distância, na cidade de Lanús, onde ocorria sua militância cotidiana.

Nos casos analisados aparece sempre o pertencimento geográfico dos/as militantes morto/as (indicando seu bairro de infância, local de trabalho, estudo ou militância). Os protagonistas destas ações propõem incorporá-los/as territorialmente, fazê-los/as parte visível e tangível do espaço habitado para que habitem o espaço da memória coletiva. Interpretamos nisto a necessidade de se criar uma identificação com o/a ausente que transcende o vínculo político, familiar ou militante, incorporando-os/as ao conjunto da classe trabalhadora a partir de uma proximidade simbólica mais vivencial (de tal bairro, de tal clube de futebol, de tal escola, de tal agência do banco, etc.) É, acima de tudo, uma forma de resistência contra o estranhamento e o esquecimento dos e das rebeldes patrocinado pelo Estado.

Notas

[*] Tradução realizada pelo colaborador Primo Jonas

[1] “A sociedade que se baseia na industria moderna não é fortuita ou superficialmente espetacular, ela é fundamentalmente espetacularista. No espetáculo, imagem da economia reinante, o fim não existe, o processo é o todo (…). O espetáculo submete os homens vivos na medida em que a economia os submeteu totalmente. Não é mais que a economia desenvolvendo-se a si mesma. É o reflexo fiel da produção das coisas e da objetificação infiel dos produtores”. Traduzido de Debord, Guy. La Sociedad del Espectáculo. Kolectivo Editorial “Ultimo Recurso”, 2da edición, 2007, Rosario. Pág. 28.

[2] Ibidem, Pág. 34.

[3] Ibidem, Pág. 32.

[4] Williams Raymonds. Marxismo y literatura. Ediciones Península, Barcelona, 1980. Capítulos 6 y 7. Pág. 135.

[5] ”(A hegemonia) não se dá de forma passiva como uma forma de dominação. Deve ser continuamente renovada, recreada, defendida e modificada. Mesmo assim, é continuamente resistida, limitada, alterada, desafiada por pressões que de nenhum modo lhe são próprias. Por tanto devemos agregar ao conceito de hegemonia o de contra-hegemonia e de hegemonia alternativa, que são elementos reais e persistentes na prática” Ibidem, Pág. 134.

[6] “Fazemos os azulejos para barrar todas estas negações, que são a essência mesma do terrorismo de Estado. Cada azulejo trás uma presencia material a uma história (ou mais) e se constitui como um marco no espaço urbano. Assim, convoca a uma memória coletiva que, longe de venerar uma memória estéril ou estática (de museu), trace uma ponte entre gerações distintas e se coloque a serviço do presente e do futuro” Barrios X la Memoria y Justicia. Baldosas por la Memoria. III, 1ra edición. Instituto espacio para la Memoria, 2013, Pág. 8.

[7] “ (…) Tentamos reconstruir hsitórias de vida dos militantes populares detidos-desaparecidos ou assassinados pelo terrorismo de Estado, antes e durante a última Ditadura Militar. (…) reconstruímos pedaços de história, deixamos um sinal de sua existência no lugar onde viveram, cursaram estudos, trabalharam, militaram ou onde os encontraram as balas dos genocidas, e buscamos testemunhos de sua passagem por cada um de nossos bairros. Queremos que as calçadas pelas quais transitaram falem deles”. Barrios X la Memoria y Justicia. Baldosas por la Memoria. I, 2da edición. Instituto espacio para la Memoria, 2011, Pág. 9.

[8] Graciela, nossa entrevistada, menciona que houve concessões tanto de parte do grupo de familiares como da instituição: se por um lado conseguiram manter o conteúdo, tiveram que aceitar a estética institucional das novas placas.

[9] “A ordem territorial não é somente a ausência de desordens e revoltas, senão principalmente a designação a cada um de seu lugar na cidade/sociedade” Cuadernos de Negación n.7 2012

[10] Castoriadis Cornelius. La experiencia del movimiento obrero. Vol 2: Proletariado y organización

[11] A respeito, Debord diz: “A sociedade que modela todo o seu entorno edificou sua técnica especial para trabalhar a base concreta deste conjunto de tarefas: seu próprio território. O urbanismo é esta tomada de posse do meio ambiente natural e humano pelo capitalismo que, desenvolvendo-se logicamente como dominação absoluta, pode e deve agora refazer a totalidade do espaço como sua própria decoração (…) Pela primera vez uma nova arquitetura, que em cada época anterior estava reservada à satisfação das classes dominantes, se encontra diretamente destinada aos pobres. A miséria formal e a extensão gigantesca desta nova forma de hábitat procedem conjuntamente de seu caráter de massa. A decisão autoritária, que ordena abstratamente o território em território da abstração, está evidentemente no centro destas condições modernas de construção.” Debord, Guy. La sociedad del espectáculo. Kolectivo Editorial “Ultimo Recurso”, 2da edición, 2007, Rosario, Pág. 111, 112.

Fotografias anexas

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Bibliografia consultada

– Barrios X la Memoria y Justicia. Baldosas por la Memoria. I, 2da edición. Instituto espacio para la Memoria, 2011.
– Barrios X la Memoria y Justicia. Baldosas por la Memoria. III, 1RA edición. Instituto espacio para la Memoria, 2013.
– Castoriadis Cornelius. La experiencia del movimiento obrero. Vol 2: Proletariado y organización. Barcelona, Tusquets, 1979.
– Debord Guy. La sociedad del espectáculo. Kolectivo Editorial “Ultimo Recurso”, 2da edición, 2007, Rosario.
– Williams Raymonds. Marxismo y literatura. Ediciones Península, Barcelona, 1980. Capítulos 6, 7 y 8.

Bibliografia sugerida

– Grupo de Arte Callejero. GAC. Pensamientos, prácticas, acciones. Tinta Limón, Buenos Aires, 2009.
– Longoni, Ana y Bruzzone, Gustavo (compiladores). El Siluetazo, 1ra edición. Adriana Hidalgo Editora, Buenos Aires, 2008.
Documentários sugeridos

– Fusilados de Floresta. Diego H. Ceballos. (2005)
– Calles de la Memoria. Carmen Guarani. El desencanto Films. (2013)
– Para que no caigas. Vida y militancia de Carlos “Petete” Almirón. HLI. (2015)

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