Mini-entrevistas com trabalhadores sobre a situação da mobilização em seus locais de trabalho. Por Passa Palavra

Diante do chamado de “greve geral” do dia 15 de março e propostas de reforma da previdência e trabalhista que avançam no Congresso e da já quase consumada regulamentação da terceirização das atividades-fim, não há dúvidas de que há muito de interesse a ser discutido entre esquerda e trabalhadores. Pensamos que é importante, nesse momento, iluminar um aspecto dessa situação que não está tendo muita atenção: como estão reagindo, nos seus locais de trabalho, os trabalhadores às movimentações dos sindicatos, empresas e governo?

Por isso, elaboramos essas perguntas para termos um panorama melhor de como os trabalhadores vêm reagindo aos ataques do governo no seu cotidiano. Onde foi possível, pedimos para a pessoa informar o seu tipo de vínculo trabalhista (se CLT, freelancer, trabalhador de aplicativo, comissionado, servidor público, terceirizado) e o tipo de local de trabalho (se indústria, escritório, escola, empresa, público ou privado, etc.)

As perguntas foram 4:
1) Você parou no dia 15 de março? Sozinho ou com o local de trabalho?
2) Por que parou ou não parou? O sindicato influenciou na decisão?
3) Você acha que vão ser aprovadas as reformas do governo? Isso te preocupa? Preocupa teus colegas?
4) Pretendem parar no próximo dia de paralisação? Acham que vão conseguir?

As seguir, algumas respostas que conseguimos.

Trabalhador administrativo de uma Universidade Pública

1) Eu parei no 15M, junto com a maior parte dos meus colegas de trabalho, mas alguns se recusaram, e pediram para serem respeitados…

2)Parei para sinalizar força coletiva junto aos companheiros do país todo. Mas não o faria de forma isolada localmente. E tô nadando num certo isolamento aqui, então, acho que não conseguiria sem o “aval sindical”… Não colo com o sindicalismo burocrático, mas, no meu local de trabalho, ainda não conseguimos paralisar sem resguardo desta entidade “representativa”. Somos companheiros bem diferentes entre nós, inclusive ideologicamente. E há pouco espaço para consciência de classe.

3) Pelo que tá posto pelas grandes mídias, e também pelas pequenas, pelos neoliberais do governo, e também pelos do ex-governo, as reformas serão executadas uma a uma. É óbvio que isso me preocupa. Mas o que mais me deixa preocupado não são as ações do governo, elas já estão pré-formatadas, previstas. O que assusta mesmo é a baixa reação nossa, a desorganização das bases, e a covardia das centrais sindicais. Até onde dialogo com meus colegas de trabalho, alguns se preocupam com as ações dos governos, mas não enxergam saídas. Tão perdendo fé na luta também. Outros, simplesmente culpabilizam o cenário de ataque a um governo apenas…

4) Pretendo parar dia 28, mas não ir para Brasília. Cansei de Brasília, do circo sindical, da voltinha na esplanada quase sem efeito, com pouca ação. Quero participar de um ato local. E a galera que trampa comigo deve parar também, com algumas exceções.

Trabalhadora de um Instituto Federal de Ensino
1) Uma parte parou.

2) Algumas pessoas estão receosas mas o sindicato influenciou a parar.

3) Todos aqui acham que vai ser aprovada e dizem se preocupar mas não agem.

4) Nem estamos sabendo do próximo dia, mas se o sindicato mediar é possível que ocorra paralisação.

Jornalista
1) Não.

2) Não parei porque achei que não ia rolar movimentação, o vulgo não botei fé. (O sindicato) não influenciou.

3) Sim. Bastante. Com toda certeza.

4) Pretendo conversar com meus colegas de trabalho e parar de qualquer jeito no próximo dia, nem que seja sozinha.

Professor de uma escola pública
1) No dia 15 a escola em que trabalho parou totalmente no turno matutino, e no turno vespertino parcialmente, funcionaram 3 turmas. Mas todas as professoras do vespertino participaram do ato do dia 15 na parte da manhã.

2) Acho que a paralisação foi mais forte pela gravidade da causa mesmo. A discussão foi feita sobre a Reforma da Previdência e acho que o sindicato dos professores não foi citado e o fato de ir a uma manifestação que ele convocou gerou um certo desconforto para quem aderiu a paralisação. Mas de qualquer forma um grande número de trabalhadores da educação foi para a Assembleia Legislativa de Goiás e escolheram isso ao invés da construção de um outro ato ou outra forma de manifestação.

3) Acho que essas reformas serão aprovadas. Isso me preocupa e aos meus colegas. Mas não conseguimos sair da indignação para uma ação coletiva e mais radicalizada.

4) Acho que não temos força para parar dia 28, ainda que não seja impossível. Quem sabe dia 31… o problema é que tudo se personaliza demais e a resistência vai se enfraquecendo tamanha a perseguição começa a sofrer.

Servidor público “1” de uma cidade do interior
1) Parei. Todos do colégio onde trabalho pararam

2) Parei porque percebo que se não houver luta, não haverá chance de continuarmos com direitos. O sindicato ajudou.

3) Acho que vão ser aprovadas. Preocupa muito, muitos colegas entendem que precisamos agir, grande parte ou não entendem ou não estão dispostos a lutar.

4) Acredito que vamos parar dia 28, é preciso mostrar a força dos trabalhadores.

Servidor Público “2” de uma cidade do interior
1) Parei. Todos do colégio onde trabalho pararam.

2) Parei porque a escola votou por parar e eu respeito, mas sou temporária e tenho medo de perder o emprego. O pessoal do Sintego explica os direitos e diz que não podemos perder.

3) Acho que vão ser aprovadas. Preocupa, mas fico pensando que não vamos ter força para barrar o governo. Tem colega que se preocupa em ver que não vão mais se aposentar.

4) Acredito que a escola vai fechar, tem muita gente revoltada aqui.

Celetista “1” de uma cidade do interior
1) Não. Ninguém do lugar onde trabalho parou. Cidade pequena é complicado fazer greve.

2) Não parei porque em cidade pequena é complicado fazer greve.

3) Tomara que não. Preocupo como vou trabalhar até uma idade onde não terei forças. Tem colega que acha normal, nem falam nada.

4) Acredito que não.

Celetista “2” de uma cidade do interior
1) Parei. Eu e mais três companheiros paramos.

2) Parei porque precisa de parar essa insanidade do governo. Não teve sindicato aqui não.

3) Se a gente não lutar muito vão ser aprovadas sim. Preocupo muito. A maioria dos colegas nem tomam conhecimento, tem é raiva de nós que paramos.

4) Se parar será somente nós quatro novamente.

Celetista de uma empresa pública de produção de água
1) Sim, todo o serviço da área de produção parou.

2) Parou o setor de manutenção de serviços 100%, o pessoal do escritório e da informática não parou. O sindicato realizou uma reunião um dia antes com os trabalhadores influenciando na decisão.

3) As reformas serão aprovadas se não tiver mobilização dos trabalhadores com apoio da sociedade. Me preocupa, mas esta contradição conduzirá aos trabalhadores para um novo campo de luta, pois a forma de organização do movimento sindical atual está decadente e superado. Os colegas de produção estão preocupados, mas não é o fim do mundo.

4) Sim, o setor de manutenção irá parar, precisamos ampliar a participação da área de escritório e informática. As coisas serão cedidas, mas o principal, se manter esta correlação de forças, a elite irá conseguir a reforma da previdência.

Servidora pública de capital
1) Sou servidora pública, moro em uma capital e trabalho em um departamento com aproximadamente 40 pessoas, mas na minha sala, são só 5 contando comigo. No dia 15 de março, paralisei as atividades e fui participar das manifestações que estavam acontecendo no centro da cidade. No meu departamento, o atendimento ao público foi fechado, mas alguns colegas continuaram trabalhando, incluindo os terceirizados, que não podem paralisar. Dos colegas que trabalham na minha sala, uma estava de atestado médico, dois continuaram trabalhando e a outra aproveitou a paralisação para passar o dia com a família. Nas outras salas, ouvi alguns trabalhadores comentando que a diretora estava pressionando para a não-paralisação, mas que iriam paralisar do mesmo jeito.

2) De certa forma, o apoio do sindicato é importante porque assim não ficamos “desamparados” e não temos o ponto cortado, então isso sempre influencia na decisão de paralisar ou não. Mas, por outro lado, os eventos do sindicato são sempre mal divulgados, eles quase nunca passam nos locais para conversar, divulgar ou apoiar nada, acabei ficando sabendo da paralisação por meio dos colegas de trabalho.

3) Eu acho que, se continuar nesse ritmo, os locais de trabalho desorganizados e pessoas participando dos atos de maneira isolada, as reformas do governo serão aprovadas sim. Isso me preocupa bastante porque pode significar o início de uma série de medidas cada vez pior e talvez o fim da aposentadoria e seguridade social para os trabalhadores. Os meus colegas também estão, em geral, muito assustados. Os que trabalharam no dia 15 de março, também discutem as medidas e estão bastante alarmados, mas aí me pergunto: se estão tão preocupados, porque não organizam ou participam das atividades de luta ou, pelo menos, porque não paralisam?

4) Quanto ao dia 28 de março, nem estava sabendo que haveria paralisação. Se vamos conseguir ou não vai depender da organização/correlação de forças no local de trabalho e do apoio do sindicato. Estamos sendo bastante pressionados a não entrar de greve este ano, principalmente com ameaças de corte de ponto, mas a chefia está sendo relativamente tranquila em relação a paralisações pontuais.

Celetista de uma lanchonete de academia de ginástica
1) Não, não parei.

2) Eu não parei porque eu só vi essa manifestação, mas o meu sindicato é de natação, que eu nem sei qual que é o Sindicato mesmo, lá não teve nada pra fazer manifestação.

3) Isso me preocupa muito, espero que não seja aprovada, até porque falta pouco pra eu me aposentar e eu espero que isso não dê certo.

4) Não, eu não vou parar, até porque a gente não pode ficar parando, porque emprego tá difícil e se a gente perde o que a gente já tem, aí fica um pouco pior.

Bancária, funcionária pública da Caixa Econômica
1) Eu não parei.

2) Pra banco é muito difícil de parar, o nosso sindicato é dos Bancários…

3) Acho que se a gente não se mobilizar é capaz de ser aprovada essa lei da previdência.

4) Nós estamos querendo parar sim, hoje nós mandamos um ofício pro Sindicato, pedindo o apoio deles, do Sindicato dos Bancários, para se unirem com outras frentes sindicais pra gente poder parar no dia 31/03.

Consultora de Sistemas Autônoma (Contrato Pessoa Jurídica) de uma empresa de Tecnologia da Informação, que presta serviço para outras empresas e instituições.
1) Não paramos, trabalhamos normal.

2) Nem temos contato com sindicato, pois somos terceiros nas empresas e nosso sindicato é de tecnologia.

3) Me preocupa sim, meus colegas, não muito, somente alguns. Nossa forma de contratação é um pouco diferente e, por isso, já não contamos com aposentadoria.

4) Não pretendemos e não vamos parar (eu gostaria), prestamos serviço, então não existe essa possibilidade, só se chegarmos na empresa e eles tiverem parados, aí talvez nos mande parar também ou ir trabalhar na própria consultoria, que é quem nos contrata.

Funcionário público da Secretaria Estadual do Meio Ambiente
1) A gente (cerca de 20% dos trabalhadores da sede da Secretaria Estadual do Meio Ambiente junto com outros funcionários da Secretaria dos Recursos Hídricos) fez uma paralisação no período da manhã, organizada pelos trabalhadores por fora da Associação de Especilistas Ambiental de São Paulo (AEASP) e depois a maior parte das pessoas foram para o ato na Av. Paulista.

2) Nós paramos especificamente por conta da reforma da previdência, mas por fora da Associação, que tirou o corpo fora porque ainda não tinha tido decidido em assembleia. A reforma da previdência ainda não foi colocada em pauta na Associação. Tem gente no interior, a Associação é meio nova e esse tipo de mobilização ainda é difícil, além de ter outras pautas da categoria sendo negociadas com o Secretário, então era estratégico não parar como Associação.

3) Acho que vai ser aprovada com alterações, desde que nos mobilizemos, se não passa tudo. Eu e todo o pessoal está extremamente preocupado, pois é, no mínimo, mais 5 anos de trabalho, talvez sem aposentadoria integral, podendo afetar outros direitos etc.

4) Não foi discutido ainda, mas esse grupo de trabalhadores disse que paralisa de novo. Será difícil mobilizar mais gente para o dia 31 agora, mas para participar da greve geral acreditamos que é possível mobilizar mais gente, cerca de 50% dos funcionários, talvez, por meio da Associação. Mas não sabemos ainda se temos esse direito à greve por fora da Associação, mas eu paro nem que seja faltando.

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