Biografia do dramaturgo bielorusso que combateu entre os makhnovistas e foi perseguido sob o stalinismo. Por Nick Heath

Grigori (ou Ryhor) Kobets nasceu no dia 12 de julho de 1898 (no calendário gregoriano, dia 24) em Elizavetgrad (atual Kirovohrad) na Ucrânia, dentro do Império Russo.

Ele lutou no Exército Russo no front da Galícia entre 1914-1916, onde foi ferido. Entre 1916-1918, trabalhou em obras ferroviárias. Participou em ambas revoluções, de fevereiro e de outubro, integrando a Confederação Anarquista Nabat e, por um tempo, lutou com destacamentos armados makhnovistas, estando junto quando lutaram lado a lado com o Exército Vermelho e se uniram a este. Participou da defesa de uma cidade judia na região de Kirovograd tanto contra os petliuristas[1] quanto contra as forças de Grigoriev[2] um pogrom de judeus.

Propaganda vermelha contra Grioriev

Com o fim do pacto e os ataques dos bolcheviques aos makhnovistas, ele teve de se esconder da Cheka, mudando-se para Minsk onde trabalhou como estoquista. Lá se casou. Sua atuação como anarquista e makhnovista jamais foi perdoada e ele nunca recebeu uma pensão estatal.

Em 1928, graduou-se na escola vespertina de Minsk e, entre 1929-1930, trabalhou num jornal. Em 1934, trabalhou no Instituto de Professores de Minsk. Foi premiado com o título de Artista Honrado da República Socialista Soviética da Bielorrússia em 1935. Ele foi o autor da peça Guta, escrita em fins dos anos 1920, que recebeu o prêmio de primeiro lugar na Primeira Competição de Artes Teatrais de Toda União Soviética, em Moscou.

G. Kobets

Por todos os anos 30, trabalhou em Birobidzhan, escrevendo para o jornal Estrela Pacífica. Em 1938 foi preso pela polícia secreta stalinista, passando 9 meses encarcerado, torturado, acusado de espionar para o Japão, Polônia e Inglaterra, mas acabou absolvido no ano seguinte. Em 1939-1940, trabalhou como editor no estúdio de telejornal de Transbaikalia, em Khabarovsk. Escreveu o roteiro de cinema do musical de humor Praia Feliz em 1940. Seus filmes eram muito populares por toda a União Soviética, até o momento em que foram todos retirados de circulação, quando Kobets foi colocado sob suspeita.

Em 1941 foi preso novamente por “agitação anti-soviética” e sentenciado à execução por um pelotão de fuzilamento, pena comutada por dez anos nos campos de trabalhos forçados. Trabalhou nas ferrovias de Taishet com uma gangue de criminosos, contra quem logrou resistir. As autoridades haviam colocado-os juntos com a expectativa de que o assassinassem. Ao fim desse período, foi libertado. Ficou na Kirghizia e entrou no sovkhoz (fazenda estatal) de Chaldovar.

Em 1958, voltou a Minsk. Em outubro de 1960 foi anistiado. Morreu em 9 de setembro de 1990.

Cena de Iskateli schastya (1934), roteiro de Kobets

Nota da tradução
[1] O autor refere-se às forças de Symon Petliura, líder revolucionário ucraniano, nacionalista e socialista, que após a Revolução de 1917 passou a combater tanto o Exército Branco quanto os bolcheviques em defesa da independência da Ucrânia.
[2] Oficial cossaco durante o czarismo, Nikifor Grigoriev apoiou o governo revolucionário em 1917. Com suas tropas camponesas, genericamente referidas como “verdes”, combateu alinhado a nacionalistas ucranianos como Simon Petliura e depois nas fileiras do Exército Vermelho durante a tomada de Odessa. Acusado de saquear a cidade, rompeu com os bolcheviques e procurou abrigo no território makhnovista, onde foi julgado e sentenciado à morte  antissemita, Grigoriev foi responsável por um série de pogroms contra judeus ao longo da guerra civil.

Traduzido do original no Libcom pelo Passa Palavra, esta biografia integra o esforço de traduções de 100 anos da Revolução Russa (confira aqui o chamado e a lista completa de obras).

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