O que pôde ser analisado em 2013 e que ao menos transparece agora é que o MBL tenta usar de uma pauta comum (o aumento das tarifas) e criar um corpo virtual de militantes para suas mobilizações particulares. Por Zeppo Molotov

Antes de qualquer coisa esse texto traz uma denuncia. Assim que foi anunciado o possível reajuste das tarifas do transporte coletivo em Goiânia e região metropolitana o Movimento Brasil Livre (MBL) se organizou através das paginas administradas por estudantes das maiores faculdades privadas de Goiânia (Unip, Anhanguera e FacUnicamps) na tentativa de construir um movimento contrario ao aumento das tarifas. A proposta não seria de todo o mal se não estivesse vinculada ao MBL. Após o que ficou conhecido como as “jornadas de junho” e logo após a revogação do aumento nas tarifas do transporte em todo o país, uma onda conservadora começou a tomar o espaço onde antes estavam estudantes e trabalhadores que em nada se interessavam e/ou identificavam com as pautas daqueles que incessantemente gritavam: “vem pra rua!”. Os mesmo que gritavam por pautas diversas como as PECs, o impeachment e principalmente contra a corrupção deram origem a dois movimentos (que em nada se posicionam favoráveis aos interesses dos estudantes e trabalhadores); o Movimento Brasil Livre (que ficou conhecido posteriormente como MBL) e o Vem Pra Rua. O foco desse texto é analisar qual é o real interesse do MBL na luta contra o aumento da tarifa no transporte coletivo em Goiânia e para isso é preciso analisar algumas questões.

1. A que classe notadamente o MBL defende?

Junho tem seu fim, o aumento é revogado. De forma intencional ou não a luta foge do controle daqueles que ajudaram a construir. O que poderia ter se tornado um movimento ainda mais radicalizado, fora do (mínimo) controle do Movimento Passe Livre, das Frentes de Luta e do Tarifa Zero proporcionou que movimentos antagônicos aos interesses da classe trabalhadora emergissem. De que forma pode-se entender esse processo de emergência de tais movimentos? O que pôde ser analisado em 2013 e que ao menos transparece agora é que o MBL tenta usar de uma pauta comum (o aumento das tarifas) e criar um corpo virtual de militantes para suas mobilizações particulares. O que surge de novo nesse modelo de mobilização é que ao menos dessa vez o MBL não está buscando diretamente a apropriação da luta contra o aumento das tarifas e sim, tentado construir por seus moldes reformistas e institucionais. Como pôde ser observado, as ações do MBL pós 2013 têm cada vez mais flertado com a “velha política” (força que até então se diziam contrários) e dessa forma participando em um nível cada vez maior dos ambientes institucionais. É notório que os seus interesses são contrários aos interesses da classe trabalhadora, uma vez que apoiam e defendem medidas e reformas que em nada beneficiam os interesses dos trabalhadores e estudantes e, que visa somente à manutenção do status quo. A posição que o MBL ocupa no campo político é de uma organização ‘’guarda-chuva’’ para as pressões dos grandes empresários e da burocracia institucional e não defende nenhuma proposta que não traga algum beneficio a um desses grupos, como pode ser constatado em uma das conversas em um grupo chamado ‘’Não ao Aumento!’’ que fora criado pelos mesmos no aplicativo WhatsApp, em que um membro argumenta que ‘’para o não aumento das tarifas é preciso lutar também pelo fim dos monopólios do transporte’’ e não para o fim de todo e qualquer monopólio ou pela autogestão do transporte pelos trabalhadores. É interessante a esses grupos lutarem pelo fim de tais monopólios, pois assim pode ser instituir outros ou então, como tanto gostam de defender “abrir concessão ao livre mercado”. É claro a quais interesses o MBL defende e quais interesses busca defender ao apoiar a luta contra o aumento das tarifas.

2. O ônus do movimento estudantil

É preciso ainda refletir sobre o alcance o MBL nas faculdades/universidades privadas, uma vez possui forte influencia nesses ambientes e em sua maioria os estudantes advêm da própria classe trabalhadora. Ao movimento estudantil cabe o ônus por não se constituir como uma força de fato radical fora das faculdades/universidades publicas e, por essa ausência cresce exponencialmente uma tendência neoliberal e conservadora tal qual o MBL. Ou o movimento estudantil se organiza no sentido de construir uma base nesses ambientes ou será cada vez mais aglutinado por essas forças reacionárias, alheias aos interesses dos estudantes. O MBL só está em ascensão, pois nessas instituições não existe ao menos um movimento de oposição de fato compromissado com os interesses dos estudantes e não com um trampolim político/eleitoral. O movimento estudantil que não nega a si mesmo e busca avançar, no sentido de ampliar suas bases tende a ser palco de disputas reacionárias e reformistas. O MBL busca justamente isso – a solidificação de uma pseudolegitimidade – ao se afirmar como uma alternativa à esquerda ou como eles pontuaram no grupo a “pessoas que não se pode manter um dialogo”.

3. Uma luta, dois caminhos

O Movimento Contra Catraca, precisa ter claramente definido a que classe defende. Talvez seja um desafio definir claramente a quem suas ações visam beneficiar, pois o movimento não é composto por grupos homogêneos. Porém, ao aceitar nem que seja uma mínima participação do MBL, ficamos a mercê das mesmas ideias e praticas que dizemos combater. Se dissermos estar ao lado dos estudantes e da classe trabalhadora não faz sentido promover uma espécie de aliança para com os inimigos. Ou combatemos os interesses oportunistas desses grupos ou nos tornaremos base para o trampolim eleitoral de indivíduos que até então não compactuamos. A critica em relação a presença desses grupos em pautas que até então eram ignoradas pelos mesmos, deve ser constante e precisamos avançar no sentido de não permitir que esses grupos cresçam no seio do movimento estudantil, pois como já foi dito – os seus interesses são antagônicos aos interesses dos estudantes. Ainda sobre o interesse do MBL na luta contra o aumento das tarifas é preciso esclarecer que o seu método de luta é contrario as nossas ações, pois em suas palavras não concordam com o travamento de ruas e avenidas, nem com a radicalidade da ação direta. Essa postura é problemática, pois se prontificaram a participar das atividades do MCC e possivelmente queiram disputar as tomadas de decisão – que ate então são coletivas e em sua maioria firmadas pelo consenso. O transporte que queremos é um transporte gerido pelos trabalhadores e para os trabalhadores. Não podemos deixar que indivíduos e grupos antagônicos a esses interesses tomem conta da luta e direcionem a seus interesses particulares. Entretanto, não podemos abandonar a critica as nossas ações e buscar a partir delas um movimento sólido que de fato busca a aniquilação da tarifa e trabalha por um novo modelo de organização social.

3 COMENTÁRIOS

  1. Por falar nisso, em São Paulo também haverá aumento dos preços das passagens. Vamos ver como o tal MBL irá se comportar lá, já que o prefeito Dória é seu aliado.

  2. algumas coisas me fugiram a percepção enquanto analisava sobre a questão do interesse do mbl na luta contro o aumento da tarifa e percebi que precisavam ser acrescentados na analise para que não ficasse distópico:

    permitir que o MBL participe ou não das reuniões e de manifestações não combate diretamente o prolema central. o que acontece é que o MBL está num processo de deslegitimação da forma de luta que já era operada no transporte em goiania. cabe criticas a esse modelo de luta e como se desdobra do dia a dia, mas ainda assim é uma forma de organização horizontal e em determinados momentos ultrapassa a barreira do institucionalismo e de fato se radicaliza em suas ações. embora o que é tido como trabalho de base se limite apenas a uma panfletagem em terminais de ônibus e em escolas (nas vésperas das manifestações), a tentativa do MBL é de deslegitimar nossas ações no sentido de as classificar como ineficazes. para isso o MBL não necessariamente precisa estar vinculado, nem que seja minimamente ao MCC, pois a sua atuação em lugares onde o movimento estudantil não existe ou o que existe são frações das juventudes de burocracia eleitoral contribuem para a solidificação e a legitimação de movimentos alheios aos interesses do conjunto da classe trabalhadora, tal como o MBL. é possível pressupor que após a exposição do caso e as ultimas reuniões do MCC a militância se proponha a construir algo realmente efetivo, no que diz respeito ao trabalho de base nesses locais, via núcleos nos locais de estudo, trabalho e moradia. porém o que se mostra ainda aparente na práxis do MCC é a fetichização dos métodos de luta utilizados em 2013. muito se falou sobre observar os erros e avançar na construção de um movimento ainda mais horizontal e radicalizado, porém na construção coletiva das propostas e ações se evidenciou as velhas praticas de 2013, sem se dar conta do contexto histórico e o nível de organização da base. Ou falharemos miseravelmente na tentativa de construir uma jornada de lutas tal qual 2013 ou de fato rompemos com esse fetiche e avançamos na superação das velhas praticas que hoje se mostram ineficazes, para de fato construirmos um movimento radicalizado e dar continuidade (ou não) ao que faltou em 2013 por motivos específicos daquela conjuntura. o MCC não pode se deixar levar por qualquer anacronismo histórico em relação a 2013. é preciso frisar novamente que é importante analisar as questões relativas a conjuntura politica e a luta do trasporte, mas o que precisamos romper é com a ideia de que a unica forma de construir um movimento de fato radicalizado é seguindo os métodos de luta e organização de 2013. é preciso ainda esclarecer (para que não surja equívocos) que essa critica aos métodos de luta e de organização não diz respeito a auto-organização e a coletivização das tarefas e tomadas de decisão, pois esse modelo ainda se mostra eficaz. precisamos combater de fato a velha concepção de trabalho de base, os velhos modos de atuação das organizações tanto verticais quanto principalmente as organizações tidas como horizontais dentro do MCC e fundamentalmente as disputas no espaço que teoricamente é coletivo. Por fim, cairemos na romantização das ideias e em nada conseguiremos avançar sem termos claramente definido o que temos por decisões coletivas, organização horizontal, trabalho de base e principalmente se não abandonarmos o fetiche por 2013.

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