Recentemente soube por meio de pessoas de confiança que um militante do movimento estudantil e de trabalhadores foi acusado de crime grave por um grupo de meninas. Joyci Viegas de Freitas Silva

Nos últimos anos venho acompanhando o ressurgimento de um movimento estudantil combativo e independente. Participei de algumas lutas como trabalhadora da educação, outras fiquei mais como apoio e observadora. Mas em todas elas percebia que a união de trabalhadores e estudantes em torno de um projeto político próprio e autonomista tinha grande potencial transformador.

Até ai tudo bem…

Venho de uma militância independente (era o nome que usávamos), de forma resumida que não se atrelava aos partidos políticos e buscava uma prática horizontal. Eramos um grupo de mulheres que combatiam as chamadas “velhas práticas” do movimento estudantil — o aparelhamento dos partidos políticos das entidades estudantis. Mas também quero comentar uma das principais lutas que travamos no movimento estudantil, a luta contra o machismo, o movimento estudantil é um meio em que ele aparece constantemente, não preciso discorrer muito sobre esse assunto.

Até ai tudo bem, nenhuma novidade…

Venho acompanhando a “primavera das mulheres” ou “Primavera feminista” e o surgimento de novas práticas de grupos feministas que se expõem, se posicionam publicamente e trazem toda uma estética provocativa e de denúncia, que muito me agrada os olhos e o coração.

Até ai tudo bem…

Mas no final do ano passado (2017) se intensifica uma prática aqui em Goiânia, o escracho. No escracho os caras abusadores, machistas, são denunciados na internet e linchados na rede social pelos mesmos grupos. Durante o processo de denúncia (acompanhei TODAS), chorei muito, por todas as minas, por todas nós, que vivemos sob esse sistema patriarcal e capitalista. Poucas mulheres deixaram de sofrer algum tipo de abuso e assédio, e essa ação deve sim ser expurgada da nossa sociedade. O corpo da mulher não é um bem público, “meu corpo minhas regras”, certo?

Mas voltando às denúncias, quando elas começaram aqui, as pessoas com quem conversei sobre o assunto achavam no geral uma pratica “exagerada”, mas de qualquer forma se falava que um extremo leva a outro, Goiânia sempre foi extremamente machista, os homens daqui precisavam de uma “sacudida” com a exposição desses casos de abusos/estupros que inúmeras meninas sofreram e sofrem nessa cidade. O primeiro meio que surgiu essa denúncia no final do ano passado se não me engano foi do meio musical… Achei de extrema importância dar voz as minas que sofrem muitas vezes e se acham culpadas de atos que se referem a homens abusadores, que existem em todos os meios.

Bem posso contar um pouco da minha experiência de mãe – trabalhadora — companheira ou simplesmente de uma mulher, que o machismo cai em cima das nossas cabeças todos os dias. E TODOS os dias deve ser combatido, em todas as instâncias.

Até ai ok…

Recentemente soube por meio de pessoas de confiança que um militante do movimento estudantil e de trabalhadores foi acusado de crime grave por um grupo de meninas. O escracho foi feito, alguns o acusavam, ignoravam e cochichavam que tinha acontecido isso aquilo, o famoso disse-me-disse e essa história o transformou em bode expiatório de um grupo de pessoas de Goiânia. Um certo grupo da militância, que usa e muito essa prática do escracho achou o que faltava para renovar suas energias… Acionaram o botão de escracho nas redes sociais contra esse militante, que seguramente esteve presente em várias lutas sociais já há alguns anos. Repito, estou me referindo a um certo tipo de militância, pois conheço companheiros sérios e comprometidos com a luta que estão sempre na lida nos seus locais de trabalho em suas escolas, universidades, campo, ocupações.

O que diferencia esse escracho de outros é que ele vem acompanhado de inúmeros comentários maldosos e cruéis. Por que esse escracho específico vem com, digamos, um pacote completo, de difamação em TODAS as instâncias da vida desse camarada e de desqualificação total de suas praticas, de sua forma de se expressar, de sua vivência política que a bem pouco tempo atrás muito foi avaliada como colaborativa e construtiva. É uma avalanche de acusações e desafetos que extrapolam a questão da “denúncia”. Ora, se estão abordando questões pessoais que extrapolam a denúncia não é de se desconfiar que o objetivo principal desse grupo não é que seja feita a justiça, mas sim neutralizar socialmente e politicamente o camarada em questão.

Bem, recentemente, reacenderam esse processo de escracho que vem se baseando em exposições de narrativas e em disputas de espaços políticos e públicos, pois a sensação que dá é que, o objetivo fundamental desse grupo que efetiva essa prática é que o camarada desapareça do movimento político e dos espaços públicos da cidade.

ESSE é o ponto principal, é onde quero chegar e ai já me coloco como feminista, libertária, mãe, trabalhadora. Afirmo com todas as letras e consequências e mesmo que ele não precise de nenhum tipo de defesa, que as pessoas o acusaram sem nenhum tipo de prova (dada a gravidade da denúncia) como disse, a partir de um narrativa “esparramada” aos 7 ventos, de forma bem planejada com o objetivo claro de queimar esse camarada principalmente com fins políticos e com nuances de vingança pessoal.

Joyci Viegas de Freitas Silva

Trabalhadora da educação estadual

Goiânia, Outubro de 2017.

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