Por Trabalhadores Invisíveis

Publicado originalmente aqui.

UMA NOVA PÁGINA NA HISTÓRIA?

Alguns trabalhadores Invisíveis visitaram o bloqueio no Posto Aparecidão, em Aparecida de Goiânia. Mais de mil caminhões parados, inclusive caminhões de pequeno porte.

Um trabalhador fala que optaram por parar os caminhões de pequeno porte porque eles estavam tentando burlar a paralisação. “Pode perguntar”, diz um participante do movimento, “pra qualquer pessoa por aqui – não paramos nenhum caminhão com carga viva, remédio, oxigênio. Temos critérios”. Perguntamos pra uma mulher que ajudava na distribuição de alimentos como estava o movimento. “É o primeiro que eu participei, moça”, ela diz sorrindo tímida, “mas se melhorar isso aqui estraga, viu”?

UMA NOVA IMAGEM DE SI MESMOS

“A sociedade sempre nos viu de forma negativa”, diz outro caminhoneiro autônomo no bloqueio de Aparecida de Goiânia. “Antes disso aqui eu tinha vergonha de falar no que eu trabalhava. Se perguntavam eu dava rodeio, rodeio até que chegava… ‘eu tenho um caminhão’. Envergonhado. Porque a gente só é associado à coisa ruim. Se lembrava, quando lembrava, não era coisa boa. Agora isso tá mudando. Posso ter orgulho de ser o trabalhador que sou. Estamos escrevendo uma nova página da história”.

COMO COMEÇOU

O piquete começou com um pequeno grupo de caminhoneiros que não aguentavam mais. Cinco trabalhadores tentaram paralisar a rodovia pra chamar a atenção usando seus caminhões e corpos. “Agora tá tudo lindo, mas no começo não era assim não. Foi bem difícil”. A polícia chegou ameaçando e mandando tirar. O trabalhador reagiu: “Podem me matar então, porque não vou sair daqui”. A repressão recuou. Aos poucos, foram parando mais e mais caminhões. Os primeiros piqueteiros dizem que todos caminhoneiros aderiram de forma voluntária – aquela adesão incentivada pela obrigação da solidariedade com os colegas. Assalariados e autônomo compõem o movimento. Os motoristas que furam os bloqueios são alvo de uma conversa no ponto mais próximo da rodovia e geralmente se convencem que não é uma boa ideia atrapalhar o movimento. Assim o movimento cresceu de cinco foi pra mais de mil caminhões. “A gente era uma minoria. Ninguém achava que ia dar certo. Hoje a maioria tá conosco. E nem precisamos bloquear a rodovia!” A maior parte nunca participou de movimento. Uma trabalhadora que ajuda na organização dos estoques tem uma referência, no entanto. “Eu morava em frente ao sindicato dos metalúrgicos na década de 70. Eu achava lindo aquele movimento. Eles decidiam parar e paravam mesmo! E todo mundo teve que respeitar eles. Faziam o que a gente está fazendo agora. Mas eu não participava, só via de casa né.

O QUE QUEREM?

Existe um consenso que só vão quando estiverem satisfeitos. “Vou ser sincero com vocês – hoje eu pago pra trabalhar. Isso tem que mudar”. Exigem redução no combustível, garantias que o preço não vai aumentar tanto, medidas imediatas em relação aos pedágios. Políticas pra empréstimo, subsídio, impostos? O governo que se vire – ou que ouça os caminhoneiros. Eles tem várias ideias. “Se for pra ter negociação, que pegue seis caminhoneiros dos bloqueios e peça pra eles comunicarem o que a gente pensa”, diz um piqueteiro, “esses sindicatos aí a gente não aceita não”.

E A INTERVENÇÃO MILITAR?

“Veja bem, a gente sabe que provavelmente não vai acontecer. Mas achamos que a intervenção militar é pra tirar todos esses políticos corruptos e instaurar novas eleições com pessoas limpas”, diz um trabalhador. “No mínimo, os políticos que virem os outros caindo vão ficar com medo de fazer tanta bobagem com o povo”. E se virar ditadura, perguntamos? “Você sabe que isso não vai acontecer!”. “Queremos que a sociedade veja que não lutamos apenas pelo nosso – não queremos pagar o roubo desses políticos e achamos que a sociedade não deve pagar também. Eles que paguem na cadeia”. E quem a gente coloca no lugar? Um trabalhador responde com um sorrisinho… “É, isso é um problema né… não sei… difícil”! Também não soubemos responder. E tu aí que está lendo, que acha que a gente tem que fazer?

COMO SE MANTÉM?

“Recebemos doações todos dias. Do povo comum, trabalhadores, de alguns empresários que se identificam. Mas a maioria é de gente comum. Temos muito apoio da sociedade!”. Uma organizadora nos mostra os estoques: estão organizados por categoria de doação nos caminhões. Os antigos instrumentos de trabalho se tornam infraestrutura da luta. “No começo a gente dava comida pra todo mundo. Mas começou a faltar comida pros caminhoneiros do piquete, porque a comunidade também vinha aqui comer”. Como resolveram esse problema? A caminhoneira sorri e diz “Criamos uma identificação dos caminhoneiros. Depois que a gente come distribuímos para as pessoas que vem aqui e precisam”. Ela diz que eles precisam fazer isso porque o tempo que estão parados estão sem ganhar. Com o fim do movimento, vão precisar distribuir o estoque entre eles pra aguentar os prejuízos. E o resto vai pra instituições de caridade. Seria uma espécie nova de fundo de greve?

RECADO PARA OS DEMAIS TRABALHADORES

Pedimos que mandassem um recado para os demais trabalhadores. Passamos dois deles. O primeiro, de um caminhoneiro autônomo: “Queremos dizer que os trabalhadores estão aqui, conosco. Não estão escondidos. Estão na rua na luta. Não estamos sozinho. Achamos que podemos escrever uma nova página para esse país. Um país limpo, honesto, de gente trabalhadora. Que esses políticos paguem pelo dano que praticaram contra o país”. O segundo, de uma caminhoneira: “O Brasil não pode ser de uma elite interessada só no próprio bolso e em seu benefício próprio. O Brasil tem que ser dos trabalhadores”.

Se Temer cair, quem abaixa o combustível? Caminhoneiros em luta em Aparecida de Goiânia

SE O TEMER CAIR, QUEM ABAIXA O COMBUSTÍVEL?UMA NOVA PÁGINA NA HISTÓRIA?Alguns trabalhadores Invisíveis visitaram o bloqueio no Posto Aparecidão, em Aparecida de Goiânia. Mais de mil caminhões parados, inclusive caminhões de pequeno porte. Um trabalhador fala que optaram por parar os caminhões de pequeno porte porque eles estavam tentando burlar a paralisação. “Pode perguntar”, diz um participante do movimento, “pra qualquer pessoa por aqui – não paramos nenhum caminhão com carga viva, remédio, oxigênio. Temos critérios”. Perguntamos pra uma mulher que ajudava na distribuição de alimentos como estava o movimento. “É o primeiro que eu participei, moça”, ela diz sorrindo tímida, “mas se melhorar isso aqui estraga, viu”?UMA NOVA IMAGEM DE SI MESMOS“A sociedade sempre nos viu de forma negativa”, diz outro caminhoneiro autônomo no bloqueio de Aparecida de Goiânia “Antes disso aqui eu tinha vergonha de falar no que eu trabalhava. Se perguntavam eu dava rodeio, rodeio até que chegava…. ‘eu tenho um caminhão’. Envergonhado. Porque a gente só é associado à coisa ruim. Se lembrava, quando lembrava, não era coisa boa. Agora isso tá mudando. Posso ter orgulho de ser o trabalhador que sou. Estamos escrevendo uma nova página da história”COMO COMEÇOU?O piquete começou com um pequeno grupo de caminhoneiros que não aguentavam mais. Cinco trabalhadores tentaram paralisar a rodovia pra chamar a atenção usando seus caminhões e corpos. “Agora tá tudo lindo, mas no começo não era assim não. Foi bem difícil”. A polícia chegou ameaçando e mandando tirar. O trabalhador reagiu: “Podem me matar então, porque não vou sair daqui”. A repressão recuou. Aos poucos, foram parando mais e mais caminhões. Os primeiros piqueteiros dizem que todos caminhoneiros aderiram de forma voluntária – aquela adesão incentivada pela obrigação da solidariedade com os colegas. Assalariados e autônomo compõem o movimento. Os motoristas que furam os bloqueios são alvo de uma conversa no ponto mais próximo da rodovia e geralmente se convencem que não é uma boa ideia atrapalhar o movimento. Assim o movimento cresceu de cinco foi pra mais de mil caminhões. “A gente era uma minoria. Ninguém achava que ia dar certo. Hoje a maioria tá conosco. E nem precisamos bloquear a rodovia!” A maior parte nunca participou de movimento. Uma trabalhadora que ajuda na organização dos estoques tem uma referência, no entanto. “Eu morava em frente ao sindicato dos metalúrgicos na década de 70. Eu achava lindo aquele movimento. Eles decidiam parar e paravam mesmo! E todo mundo teve que respeitar eles. Faziam o que a gente está fazendo agora. Mas eu não participava, só via de casa né”…O QUE QUEREM?Existe um consenso que só vão quando estiverem satisfeitos. “Vou ser sincero com vocês – hoje eu pago pra trabalhar. Isso tem que mudar”. Exigem redução no combustível, garantias que o preço não vai aumentar tanto, medidas imediatas em relação aos pedágios. Políticas pra empréstimo, subsídio, impostos? O governo que se vire – ou que ouça os caminhoneiros. Eles tem várias ideias. “Se for pra ter negociação, que pegue seis caminhoneiros dos bloqueios e peça pra eles comunicarem o que a gente pensa”, diz um piqueteiro, “esses sindicatos aí a gente não aceita não”.E A INTERVENÇÃO MILITAR?“Veja bem, a gente sabe que provavelmente não vai acontecer. Mas achamos que a intervenção militar é pra tirar todos esses políticos corruptos e instaurar novas eleições com pessoas limpas”, diz um trabalhador. “No mínimo, os políticos que virem os outros caindo vão ficar com medo de fazer tanta bobagem com o povo”. E se virar ditadura, perguntamos? “Você sabe que a intervenção não vai acontecer!”“Queremos que a sociedade veja que não lutamos apenas pelo nosso – não queremos pagar o roubo desses políticos e achamos que a sociedade não deve pagar também. Eles que paguem na cadeia”. E quem a gente coloca no lugar? Um trabalhador responde com um sorrisinho… “É, isso é um problema né… não sei… difícil”! Também não soubemos responder. E tu aí que está lendo, que acha que a gente tem que fazer?COMO SE MANTÉM?“Recebemos doações todos dias. Do povo comum, trabalhadores, de alguns empresários que se identificam. Mas a maioria é de gente comum. Temos muito apoio da sociedade!”. Uma organizadora nos mostra os estoques: estão organizados por categoria de doação nos caminhões. Os antigos instrumentos de trabalho se tornam infraestrutura da luta. “No começo a gente dava comida pra todo mundo. Mas começou a faltar comida pros caminhoneiros do piquete, porque a comunidade também vinha aqui comer”. Como resolveram esse problema? A caminhoneira sorri e diz “Criamos uma identificação dos caminhoneiros. Depois que a gente come distribuímos para as pessoas que vem aqui e precisam”. Ela diz que eles precisam fazer isso porque o tempo que estão parados estão sem ganhar. Com o fim do movimento, vão precisar distribuir o estoque entre eles pra aguentar os prejuízos. E o resto vai pra instituições de caridade. Seria uma espécie nova de fundo de greve?RECADO PARA OS DEMAIS TRABALHADORESPedimos que mandassem um recado para os demais trabalhadores. Passamos dois deles. O primeiro, de um caminhoneiro autônomo “Queremos dizer que os trabalhadores estão aqui, conosco. Não estão escondidos. Estão na rua na luta. Não estamos sozinho. Achamos que podemos escrever uma nova página para esse país. Um país limpo, honesto, de gente trabalhadora. Que esses políticos paguem pelo dano que praticaram contra o país”. O segundo, de uma caminhoneira: “O Brasil não pode ser de uma elite interessada só no próprio bolso e em seu benefício próprio. O Brasil tem que ser dos trabalhadores”.

Posted by Invisíveis on Monday, May 28, 2018

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