Solidariedades piratas

por Manolo

Interessam-me as edições ditas “piratas”, em especial quando feitas para apoiar alguma causa coletiva.

Isto um dia já foi comum. Foi o se deu, por exemplo, na Bahia, no apoio aos demitidos da greve da Pelikan nos anos 1980. Esta greve de 25 dias é, portanto, um dos “eventos fundantes” da geração do Sindiquímica/BA que em 2006 chegou ao Governo da Bahia.

A história

Solidariedades piratasEsta aqui da foto é a reedição, com outro nome, de O Inimigo Oculto: ensaio sobre a luta de classes — manifesto antiecológico, originalmente publicado no Porto pela editora Afrontamento em 1979.

O autor, João Bernardo, é sabidamente um defensor público das reedições ditas “piratas”. Toda a renda desta edição foi para os trabalhadores da siderúrgica Coferraz demitidos depois de uma dura greve em 1982.

A empresa foi duramente atingida pelos cortes nas obras públicas feito pelos militares no mesmo ano por causa da crise da dívida externa. Reduziu sua produção, demitiu trabalhadores e fechou as portas ainda em 1982. Antes disto, atrasou os pagamentos por vários meses, o que forçou os trabalhadores a entrar em greve.

Com a dura repressão logo providenciada pela empresa, somado ao anúncio por ela de que “não faria acordo” por já estar com concordata preventiva na justiça, o nível de tensão se elevou. Os trabalhadores mais desesperados quebraram os escritórios da empresa, tocaram fogo nos vestiários, foram atacados pela polícia. No corre-corre e quebra-quebra que se seguiu nem os moradores das ruas próximas escaparam dos
cassetetes.

A edição

Além da história, a edição é bem simples.

A capa, de um tipo de cartolina simples, só tem ilustração na frente. O miolo é literalmente uma fotocópia da edição portuguesa original, mostrando inclusive as bordas fotocopiadas da matriz em cada página. Não há qualquer crédito editorial, exceto a indicação, na capa, de que se trata da “Edição dos demetidos do ABC”.

Solidariedade

Num livro como este pouco me interessa o conteúdo. Quero saber é da história por trás da edição. Isto aqui é um pedaço de muitas solidariedades militantes: a do autor, a dos editores anônimos, a dos compradores. E agora a minha ao resgatar esta história, porque os demitidos da extinta Coferraz ainda em 2011 brigavam para receber algo da massa falida.

Como terá se resolvido a história?

(Retirado de uma postagem no Instagram)

4 COMENTÁRIOS

  1. Recebi do autor a seguinte informação complementar, que disponibilizo após autorização:

    “A sugestão da edição deveu-se ao Maurício [Tragtenberg], disse-mo ele, dentro de um conjunto de iniciativas para angariarem dinheiro para aquela gente. Mas não creio que tivessem sido só os da Coferraz, apesar de serem eles que constam na capa. Creio que foram de outras empresas também, e lembro-me de o Zé Maria [de Almeida, do PSTU] me ter dito que ele foi um dos que beneficiou, por assim dizer, da iniciativa.”

  2. camaradas, o atual estilo do site é muito bom em vários sentidos, mas tenho a impressão de que alguns materiais novos ficam um pouco escondidos. Sou dos leitores que consulta a lista de “comentários recentes”, e se o comentário do Manolo não houvesse existido eu nunca teria chegado à postagem original. Não seria possível alguma alternativa onde exista também uma lista de últimos materiais subidos ao site? Creio que na versão mais antiga havia uma destas.

  3. Caro lucas, os artigos publicados nesta nova seção, a “Achados & Perdidos”, não são inéditos. São artigos já divulgados nas redes sociais ou em qualquer outro canto e por isso decidimos que não deveriam aparecer em destaque. De qualquer forma, eles são lançados novamente nas redes socais através dos nossos perfis (Facebook e Twitter). Para os leitores que não utilizam as redes sociais, recomendamos a instalação de um “leitor RSS” enquanto não encontramos uma solução melhor. E, claro, agradecemos a sugestão!

    Cordialmente,

  4. ADENDO a LUCAS:

    Aproveitando o gancho, proponho tornar viável um mecanismo de acesso à totalidade das intervenções (ensaios, artigos, comentários etc.) por autor. E, refinando a pesquisa, assunto, período, nexos etc.

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