Por Nick Heath

Durante a guerra civil na Rússia, o governo de Lênin se deparou com um número de levantes, predominantemente camponeses, que ameaçaram derrubar o regime. As acusações de que esses levantes eram liderados pelos Kulaks (elite camponesa), apoiados pela Reação Branca e pelos camponeses pobres, inconscientes dos seus reais interesses de classe, podem ser justificadas? Ou foi como oponentes de esquerda ao bolchevismo que iniciaram a Terceira Revolução?

Todos aqueles que levam a revolução social no coração devem condenar a fatal separação existente entre os proletariados da cidade e do campo. Todos os esforços devem ser feitos para acabar com essa separação, pois disto temos todos que estar conscientes – de que se tanto os trabalhadores da terra, os camponeses, quanto os trabalhadores da cidade não derem as mãos por uma ação revolucionária comum, todos os esforços revolucionários das cidades serão condenados ao inevitável fiasco. A chave da questão revolucionária está aí e deve ser resolvida, senão morrerá – Bakunin, Obras Completas, “Sobre o pangermanismo germânico”.

O marxismo ortodoxo reduziu o papel do campesinato

Camponeses russos na primeira década do século XX

De acordo com o marxista alemão Karl Kautsky o pequeno camponês era um condenado. Era taticamente útil mobilizar as massas camponesas. Em sua obra A Questão Agrária, ele coloca que os objetivos de curto prazo dos camponeses e da classe média baixa, não menciona a burguesia, eram opostos aos interesses de toda a humanidade enquanto uma ideia incorporada de uma sociedade socialista. Quando o proletariado [referindo-se à classe trabalhadora industrial] passa a tentar gozar dos resultados da revolução, seus aliados – o campesinato – certamente se voltarão contra ele… a constituição política do campesinato vai de encontro a qualquer função ativa ou independente e impede o alcance de sua própria representação classista… Sua natureza é burguesa e em certos campos revela sua natureza reacionária… Essa é a razão da proposta anterior ao congresso que diz que é uma ditadura do proletariado somente, apoiada pelo campesinato… O campesinato deve assessorar o proletariado e não o contrário, ou seja, o proletariado realizar os desejos dos camponeses.

Já Leo Jogiches disse, no 8º Congresso do Partido Social Democrata Polonês: “ditadura do proletariado apoiada pelo campesinato”. (E a discussão prosseguiu no Congresso onde foi pronunciado que o “campesinato não pode desempenhar funções autônomas ao lado do proletariado”, as quais os Bolcheviques atribuíram a ele). Rosa Luxemburg compartilhou da desconfiança de Leo Jogiches e viu os camponeses apenas como forças reacionárias.

O próprio Lênin, extremamente flexível no nível tático, e extremamente rígido no nível ideológico, estava consciente do que estava fazendo quando seu partido promoveu o slogan da ditadura do proletariado e do campesinato. No entanto, após o triunfo Bolchevique colocou que “seria ridículo falar da unidade entre camponeses e proletariado, do papel democrático… Agora, temos que pensar no socialismo, na ditadura do proletariado” (Duas táticas da Social Democracia na revolução democática, 1905).

Já Trotsky teve uma tão áspera atitude com os camponeses que sequer cogitou uma aliança com eles: “o proletariado entrará em conflito não somente com os grupos burgueses que o apoiou durante o primeiro estágio da guerra revolucionária, mas também com os camponeses (1905, obra escrita em 1907-1909).

Camponeses russos na primeira década do século XX

Os Bolcheviques definiram os kulaks como camponeses ricos, aptos a venderem seus produtos no mercado e produzir para autosubsistência, bem como aptos para empregar mão de obra e vender a produção excedente. Eles eram vistos como membros da pequena burguesia no interior do país, preparados para desenvolver sua agricultura através do avanço capitalista. No segundo estágio da revolução, após o estágio burguês inicial, os kulaks (e uma “substancial parte do campesinato médio” – Lênin) se aproximariam da burguesia, enquanto que o proletariado se reagruparia com o campesinato pobre. Mas como Ferro coloca: “a indagação feita a respeito do kulak sob certo aspecto era parcialmente falsa, tratava-se de perseguir sombras, uma vez que eles tinham desaparecido, ou se nivelado aos demais camponeses, desde a Revolução de Outubro”[1]. O que é certo é que os Bolcheviques alijaram vastas massas camponesas no período do “Comunismo de Guerra”, entre 1918-1921, sobretudo com a política de requisição dos grãos e através da repressão da cheka (polícia política bolchevique). Os bolcheviques inseriram os kulaks como inimigos na luta de classes e ao fazê-lo superestimaram sua riqueza. Selunskaia relata que, na verdade, apenas cerca de 2% podiam ser classificados como genuinamente kulaks, ou seja, camponeses ricos[2]. Uma estatística oficial revela os seguintes dados: em 1917, 71% dos camponeses cultivavam menos de 4 hectares; 25% tinha entre 4 e 10 hectares; somente 3.7% tinha mais do que 10 hectares. Tais faixas de distribuição mudaram respectivamente em 1920 para: 85, 15 e 0.5%. Outro critério, a posse de cavalos, de acordo com as mesmas estatísticas pode ser usado para relatar a mesma distribuição de riquezas: 29% não tinha nenhum cavalo sequer, 49% tinha um, 17% tinha dois e 4,8% tinha mais do que 3 (em 1917). Em 1920 os dados mudaram respectivamente para 27,6, 63,6, 7,9 e 0,9%[3]. De fato, o número de kulaks – aqui se referindo às normas bolcheviques de denominação de riqueza – estava diminuindo e o nivelamento estava em curso. No que tange a requisição dos grãos, o líder bolchevique Kubanin admitiu que metade da comida coletada apodreceu e muitas cabeças de gado morreram ao serem transportadas em carruagens, devido à falta de água e comida[4].

Comunismo de Guerra

Camponeses russos durante a Guerra Civil (1918-1921)

Em reação ao comunismo de guerra, várias insurreições emergiram. No leste da Ucrânia o movimento makhnovista, inspirado e militarmente liderado pelo anarquista camponês Nestor Makhno, foi um dos movimentos mais avançados ideologicamente. Deve-se lembrar que os makhnovistas controlaram esta parte da Ucrânia antes da chegada do exército vermelho e tiveram êxito ao derrotar as tropas austro-germânicas e os brancos. Os makhnovistas recrutaram um número de anarquistas que fugiam do norte ou da perseguição bolchevique, ou que retornavam do exílio para trabalhar na Confederação Anarquista Rebate (“Nabat”) na propaganda e no trabalho cultural e educacional junto aos camponeses. Os makhnovistas viram a ameaça branca como um perigo maior do que os bolcheviques e optaram por uma série de alianças com eles, formando uma frente única contra os líderes brancos Denikin e Wrangel. Na realidade, parece ser muito evidente que Wrangel teria tomado e esmagado a Ucrânia, tomado Moscou e destruído o governo bolchevique, se não fossem os esforços dos makhnovistas. Ao final da campanha conjunta contra os brancos na Crimeia, os comandantes makhnovistas foram convidados pelo Exército Vermelho a comparecerem aos quartéis-generais e prontamente foram executados. O próprio Makhno resistiu por meses, antes de ser forçado a se retirar para além da fronteira[5].

A Cheka e os Prodrazverstksa (esquadrões de confisco de alimentos) jamais se apresentaram no centro makhnovista de Hulyai-Polye antes de 1919, mas os camponeses que viviam em Ekaterinoslav e Alexandrovsk tiveram muitas experiências com eles. Em outras áreas de insurreição a oposição inicial foi muito mais resultado das políticas do “Comunismo de Guerra” bolchevique.

Estandarte do Segundo Regimento Consolidado do Exército Makhnovista

No oeste da Siberia (e na Siberia como um todo – ver nosso artigo sobre o Makhnovismo na Siberia) o regime havia enfrentado provavelmente a sua pior ameaça, e é possível que esse fato, muito mais do que a insurreição em Kronstadt no mesmo ano, tenha sido o que o forçou a mudar o seu curso. Krasnaya Armiya (periódico do Exército Vermelho, publicado pela Academia Militar, dirigido a um pequeno círculo de leitores do Comunista) teve que admitir em sua edição de dezembro de 1921 que a execução da coleta de grãos na primavera de 1920 virou o campesinato contra os comunistas e que o “movimento na região de Ishimsk aconteceu sob a mesma bandeira que uma vez foi colocada pelos marinheiros de Kronstadt”. O Exército Vermelho teve que admitir essa inaptidão, além da má gestão da economia e da criminosa tomada de propriedades que foram algumas das causas da insatisfação dos camponeses. O jornal reconheceu o efeito moral quando eles viram em primeira mão que a comida requerida deles apodrecia nas carruagens que a transportava. Atos provocativos dos representantes do governo das agências de cobranças de impostos estimulavam levantes de vilas inteiras. O jornal também relatou um movimento único nas regiões de Don e Kuban, liderado por Maslakov, um ex-comandante do Exército Vermelho, cujo objetivo era declarar guerra aos “sabotadores do poder dos soviets e ao alto comissariado comunista”[6]. Na realidade, seus alvos compunham toda a brigada do Exército Vermelho.

Articulações

De fato, o levante de Maslakov em fevereiro de 1921 no leste da Ucrânia rapidamente se articulou com os makhnovistas através do destacamento militar de Brova, um comandante makhnovista. Alguns comandantes do Exército Vermelho se revoltaram, como por exemplo o batalhão em Mikhailovka liderado por Vakulin, e posteriormente por Popov; e no território cossaco do Don (em dezembro de 1920) Vakulin apareceu à frente de uma força de 3.200 homens, seis vezes a quantidade que tinha no início, quando então se deslocou para o leste da região dos Urais e conseguiu aprisionar uma força de 800 homens do Exército Vermelho. Mas em 17 de fevereiro de 1921 ele perdeu uma batalha na qual morreu e F. Popov, cossaco do Don e também socialista-revolucionário, assumiu. O grupo de Popov recuou para as províncias de Samara e depois para Saratov, manobra que o permitiu reunir forças. O Exército Vermelho estimou que agora ele reunia uma força de cerca de 6 mil homens. Isso permitiu que capturassem um batalhão inteiro do Exército Vermelho. Tal evento pareceu ter sido uma derrota eventual, se acreditarmos nas fontes bolcheviques. Em Samara, um oficial social-revolucionário de esquerda, Sapozhkov, se revoltou com o Exército Vermelho e liderou “elementos social-revolucionários e anarquistas” (de acordo com o historiador soviético Trifonov). Ele mesmo era filho de um camponês da província. Esse levante começou por volta de 14 ou 15 de julho de 1920 com uma força de 2.700 homens. Sapozhkov morreu em batalha no dia 6 de setembro após dois meses de luta. Seu posto foi ocupado por Serov, que ainda conseguiu reunir 3 mil combatentes e que lutou até o verão de 1923, combate com maior duração comparado com qualquer outro entre os movimentos revoltosos, com exceção de Makhno.

Insurrectos de Tambov

Na região de Tambov, outra séria insurreição começou em agosto de 1920 sob liderança de Alexander Stepanovitch Antonov. Aqui, da mesma forma, a revolta começou em virtude da requisição dos grãos. O próprio Antonov era um ex-socialista revolucionário e, posteriormente, um socialista-revolucionário de esquerda, que dizia defender trabalhadores e camponeses contra os Bolcheviques. Outros grupos proeminentes nesse movimento foram: socialistas-revolucionários, socialistas-revolucionários de esquerda e os anarquistas. Os antonovistas estavam aptos a reunir 21 mil combatentes a tempo. O anarquista Yaryzhka comandou um destacamento do movimento antonovista sob a bandeira negra do anarquismo. Enquanto esteve no exército durante a Primeira Guerra Mundial ele golpeou um oficial em 1916, sendo preso e se convertido ao anarquismo como resultado de suas experiências. Começou as operações no outono de 1918 e lutou até que foi assassinado pelos bolcheviques no outono de 1920.

Como podemos notar, todos os levantes ou movimentos de oposição ao leninismo entre o campesinato ocorreram mais ou menos ao mesmo tempo, no período de 1920-1921. De fato, somados ao levante dos marinheiros em Kronstadt em 1921, eles se tornaram um grave ameaça ao controle bolchevique. Os objetivos dos insurgentes de Kronstadt parecem ter feito um eco nos movimentos camponeses. Isso não surpreende, considerando que muitos marinheiros de Kronstadt tinham origens camponesas. O levante do oeste da Sibéria adotou as demandas de Kronstadt, como notou Krasnaya Armiya. Após a insurreição em Tambov, as autoridades Soviéticas encontraram as resoluções de Kronstadt escondidas em um importante lugar dos antonovistas. O próprio Antonov estava tão entristecido pelas notícias da derrota do levante de Kronstadt que se tornou um compulsivo por vodca, ou ao menos é o que se alega. Parece que alguns dos marinheiros de Kronstadt escaparam do esmagamento da insurreição e se articularam com os antonovistas. Em 11 de julho uma cavalaria bolchevique lutou em uma batalha contra um pequeno bando de antonovistas, socialistas-revolucionários, trabalhadores e marinheiros. Lutaram com tamanha firmeza até que alguns poucos sobreviventes atiraram primeiro em seus cavalos e depois em si mesmos, de acordo com o chekista Smirnov. Um bolchevique notou em 1921 que “os anarco-makhnovistas na Ucrânia reimprimiram os apelos dos marinheiros de Kronstadt e em geral não esconderam a simpatia por eles” [7].

Acusações

Está claro que os kronstadtianos eram opostos à restauração czarista e tinham sido também responsáveis pela queda do regime de Kerensky. Os makhnovistas foram igualmente implacáveis contra os brancos. Nenhuma aliança foi considerada por eles contra os bolcheviques e, na realidade, os makhnovistas formaram uma aliança anti-brancos com os bolcheviques, e a última delas foi a causa da sua derrota, como vimos acima. O movimento foi profundamente influenciado pelo anarquismo e é pouco provável sustentar colaboração com um dos seus inimigos mortais. Tal como Maslakov, ele tinha sido um comandante vermelho confiável e parece ter lutado por um comunismo sem comissários. Krasnaya Armiya admitiu que os insurgentes nas regiões de Don e Kuban “não concordaram com a luta contra a agitação dos guardas brancos”. Quanto à Antonov, ele “se comprometeu não dificultar as ações contra os bolcheviques, tal como cortar as comunicações atrás das linhas de frente, mas se contentou com o combate punitivo aos destacamentos enviados contra os camponeses”[8]. Antonov tinha sido preso sob o czarismo em virtude de suas atividades como socialista-revolucionário durante e após a Revolução de 1905 com uma sentença de 12 anos na Siberia e, por isso, era pouco provável que o movimento camponês ao qual pertencia favoreceria o retorno aos velhos dias.

Resolução dos insurrectos de Kronstadt

Outra acusação contra os movimentos camponeses era a de que eles eram liderados por kulaks que arrastavam o restante do campesinato. Uma análise das principais lideranças no interior do movimento makhnovista, no entanto, não confirma isso. Trotsky disse que “eliminar Makhno não significa o fim do makhnovismo, que tem suas raízes nas massas camponesas ignorantes”. Mas todas as lideranças makhnovistas das quais temos informações biográficas, vieram do campesinato pobre, incluindo o próprio Makhno, e em alguns casos vieram do campesinato médio. Como coloca Malet: “os bolcheviques desconstruíram totalmente a natureza do movimento makhnovista. Este não foi um movimento de kulaks, mas sim formado por uma ampla massa de camponeses, especialmente camponeses pobres e médios”[9]. Nós temos poucas evidências empíricas da composição dos levantes camponeses nas regiões de Don e Kuban. Radkey providenciou alguma informação sobre a insurreição de Tambov através de uma pesquisa feita sob condições difíceis e descobriu que Antonov foi filho de artesão de uma pequena cidade – dificilmente um kulak! Há evidências de que algumas lideranças antonovistas eram de origem kulak (baseado em arquivos bolcheviques) e, ainda, um historiador da Cheka teve que admitir que uma “considerável parte do campesinato médio” apoiou a insurreição[10]. Há evidência de que Antonov teve apoio do campesinato pobre e alguns trabalhadores da província [11].

Ponderações

Deve-se ponderar as alegações do “caráter kulak” destes levantes. Mesmo que se admita que alguns kulaks fizeram parte deles, deve-se levar em consideração que, dentre as poucas evidências disponíveis, outras frações do campesinato foram partes ativas. E o que pode ser dito das alegações de que, muito ao contrário de ser contrarrevolucionários, os levantes foram o início de uma “Terceira Revolução” (considerando as revoluções de fevereiro e de outubro)? Este termo parece ter sido desenvolvido pelos anarquistas do movimento makhnovista, aparecendo em uma declaração de um dos seus órgãos, o Exército Soviético Revolucionário, em outubro de 1919. E reapareceu durante a insurreição de Kronstadt. Anatoli Lamanov desenvolveu essa tese nas páginas do Kronstadt Izvetia, o jornal dos insurgentes, do qual ele foi um editor. Lamanov foi um líder da União dos Socialistas-Revolucionários Maximalistas em Kronstadt e viu aquela insurreição como o início de uma “Terceira Revolução” que derrubaria a “ditadura do Partido Comunista com sua Cheka e o capitalismo de Estado” e transferiria todo poder aos “sovietes livremente eleitos” e transformaria os sindicatos em “associações livres de trabalhadores, camponeses e dos intelectuais trabalhadores”[12]. Os maximalistas, uma divisão dos socialistas-revolucionários, reivindicavam uma revolução agrária, urbana e social, uma República dos Trabalhadores dos Sovietes Federados, antiparlamentarismo e desconfiança dos partidos. Há poucas evidências sobre as articulações entre eles e os makhnovistas, embora seja improvável que o slogan tenha surgido em dois lugares totalmente independentes. “Aqui em Kronstadt foi colocada a primeira rocha da Terceira Revolução, golpeando as últimas algemas das massas trabalhadoras e abrindo uma ampla e nova estrada para a criatividade socialista”, proclamaram os kronstadtianos[13].

O termo “Terceira Revolução”, no entanto, parece vago, sem uma ideia clara de como realizar essa revolução. Teve seus adeptos nos círculos makhnovistas e possivelmente no oeste da Sibéria e com Maslakov, mas nunca houve uma aproximação unificada desenvolvida com o objetivo de realizá-la. O que distinguiu o movimento makhnovista do de Tambov foi suas antigas ideologias específicas. O movimento de Antonov não tinha ideologia, “sabiam do que eram contra… mas, por outro lado, somente noções confusas de como ordenar a Rússia na hora da vitória”[14]. O antonovismo foi um movimento local, com perspectivas locais. O makhnovismo foi abrangente e articulado com Maslakov. O próprio Makhno fez campanha tanto no Volga, quanto em torno da região de Don e se articulando com outros grupos similares. O destacamento makhnovista sob Parkhomenko foi enviado à região de Voronezh no início de março de 1921 e isso pode ter sido uma tentativa de articulação com os destacamentos antonovistas sob Kolesnikov.

Camponeses russos durante a Guerra Civil (1918-1921)

Mas a vasta expansão da União Soviética abreviou as articulações entre os movimentos. Além disso, eles parecem ter enfrentado a ignorância mútua e difusa tanto das suas existências quanto dos seus objetivos.

Já onde houve consciência, houve esforços mínimos de articulação entre os movimentos por um ataque organizado contra o governo bolchevique. A insurreição de Kronstadt foi, posteriormente, considerada precipitada em vários meses pelos seus principais líderes[15]. Localismo e a falta de uma estratégia global similar romperam o elo entre Antonov e os movimentos em Don, Kuban e nas regiões do oeste da Siberia, bem como pelo caráter espontâneo dos levantes. Os makhnovistas podem ter tido melhor controle sobre a situação, mas fracassaram em unir a oposição ao se aliarem uma segunda vez com os bolcheviques, a despeito das experiências infelizes. De qualquer forma, o somatório dos levantes apresentou séria ameaça ao regime, forçando-o ao menos a mudar do Comunismo de Guerra para a Nova Política Econômica (NEP).

Nick Heath
Editado por Libcom
Primeiramente publicado em Organise! #63

Notas
[1] Ferro, p. 138.
[2] Izmeniia 1917-20, in Atkinson.
[3] L Kritsman, The Heroic Period of the Great Russian Revolution, 1926 in Skirda.
[4] Kubanin ‘The anti-Soviet peasant movement during the years of civil war (war communism) 1926, in Skirda.
[5] Palij, Malet, Skirda todos citam evidências dos destacamentos makhnovistas salvando a capital bolchevique.
[6] Maximoff , p.148.
[7] Lebeds, citado por Malet.
[8] Radkey , p.82.
[9] Malet, p122.
[10] Sofinov, em Radkey, p.106.
[11] Radkey , p107-110.
[12] Ver Getzler.
[13] Avrich, p.243.
[14] Radkey, p.69.
[15] Ver Avrich

Bibliografia
Avrich, P. Princeton (1970) Kronstadt 1921.
Atkinson,D. Stanford (1983) The end of the Russian Land Commune 1905-1930
Lewin, M. Allen & Unwin (1968) Russian Peasants and Soviet power
Mitrany, D. Weidenfeld & Nicholson (1951) Marx and the Peasant.
Malet, M. MacMillan (1982). Nestor Makhno in the Russian Civil War
Palij, M. Washington (1976) The Anarchism of Nestor Makhno.
Radkey, O. Hoover (1976) The Unknown Civil War in Soviet Russia.
Maximoff, G. P. Cienfuegos (1976) The Guillotine at Work.
Skirda, A. Paris (1982) Nestor Makhno, Le Cosaque de l’Anarchie.
Ferro, M. RKP (1985) The Bolshevik Revolution, A Social History of the Russian Revolution.
Getzler, I. Cambridge University Press (1983) Kronstadt 1917-1921, the Fate of a Soviet Democracy.

Glossário Kulak – elite camponesa.
Muzhik – camponeses mais pobres.
Brancos – reação à Revolução Russa que se reuniu em torno dos tzaristas.
Socialistas-Revolucionários – partido revolucionário que viu nos camponeses um papel chave e pensou ser possível que a sociedade russa evitasse o capitalismo e fosse direto à sociedade socialista.
Socialistas Revolucionários de Esquerda – dissidência radical dos Socialistas Revolucionários.

Traduzido por Fagner Firmo de Souza Santos a partir do original disponível neste link e revisado pelo Passa Palavra. Este artigo faz parte do esforço coletivo de traduções do centenário da Revolução Russa mobilizado pelo Passa Palavra. Veja aqui a lista de textos e o chamado para participação.

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