Por Passa Palavra

No dia 19 de dezembro de 2018 ocorreu uma pequena manifestação em frente ao Colégio Santo Américo, um dos mais tradicionais de São Paulo, contra a demissão de quarenta e nove professores.

A direção do colégio não se deu ao trabalho de explicitar os motivos da demissão. No entanto, nas conversas entre os colegas foram levantadas diferentes possibilidades: diminuição do passivo trabalhista; enxugamento do corpo docente; perseguição política; crise financeira da escola. Fica claro que não se trata de um processo de demissão comum, mas de uma escolha do Colégio de fazer uma grande mudança no corpo docente.

Em material publicado recentemente os professores resgatam três pontos que consideram relevantes para explicar as demissões: a luta pela Convenção Coletiva, a eleição para Delegado Sindical e a organização interna contra as contratações em massa. Todos eles mostram um avanço da construção coletiva dos professores tanto para questões internas da escola quanto para demandas coletivas de toda categoria. As demissões atingiram muitos dos professores envolvidos nesse processo de construção, inclusive o delegado sindical, o que torna a demissão ilegal. A decisão coletiva dos professores, junto ao Sinpro-SP, foi entrar com um processo coletivo de demissão em massa para que os professores sejam reintegrados às suas funções.

O dia escolhido para a manifestação foi o da formatura do terceiro ano do Ensino Médio, cerimônia para qual o colégio não convidou os professores que tinham acompanhado todo o processo escolar daqueles alunos e alunas. Professores demitidos e professores e alunos de outras escolas distribuíram uma carta escrita pelo corpo docente e outra escrita por uma comissão de alunos. Foi possível também conversar com as famílias que, em sua maioria, estavam sensíveis à situação, pois reconheciam naqueles professores e professoras referências na formação dos seus filhos. Poucos foram os pais que se incomodaram com a distribuição das cartas.

Boa parte das famílias aceitou o convite para uma conversa em frente ao local de formatura, na qual o delegado sindical (demitido) fez uma fala crítica à instituição e à truculência das demissões, e outro professor leu um texto que homenageava os alunos e reforçava os momentos de aprendizagem compartilhados entre aquele grupo de professores e os alunos que se formavam naquela noite. A cerimônia de formatura atrasou cerca de 40 minutos. Mesmo com os insistentes apelos do padre para que as famílias entrassem, elas continuavam junto aos professores, no sentimento que pareceu sintetizado na fala de uma pai: “mas, sem os professores, qual o sentido de tudo isso?”

Não foram todos os professores que se dispuseram a participar do ato, postura compreensível devido ao grau de exposição que se sujeita nesses momentos e o processo de constrangimento que sofreram na demissão. Chamou muita atenção a completa ausência dos dirigentes sindicais que tinham se reunido com os professores apenas dois dias antes. Por que o Sinpro-SP não enviou nenhum representante para a escola? Em parte a estratégia do sindicato, e também de parte dos trabalhadores, parece estar focada em judicializar a luta, tirando do âmbito da ação direta dos trabalhadores a contraposição aos desmandos dos patrões. Sem dúvida essa estratégia pode conseguir um maior ganho material para os trabalhadores, e também ajuda àqueles que não pretendem se expor politicamente pensando na empregabilidade em outras escolas no futuro; mas, no entanto, em que medida isso permite um avanço na resistência contra as demissões? Como isso fortalece a organização entre os trabalhadores? Nos parece que a panfletagem cara a cara, feita com pessoas de diferentes escolas, sejam professores, auxiliares e alunos, dá mais passos concretos na construção dessa rede de solidariedade.

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