Por José R. da Silva Maramonhanga

Só não vê quem não quer. O movimento sindical, sob a batuta das centrais sindicais, é traidor e está complemente apodrecido. Tal como protagonizou no período que antecedeu a aprovação da famigerada “reforma trabalhista”, encena resistência, articula reuniões, assembleias e atos comportados; enquanto promove escusas articulações de bastidores. Nesses entendimentos com sórdidas figuras do governo, dizem falar em nome dos trabalhadores e aposentados mas utilizam essas tratativas para barganhar por seus próprios interesses. Essas reuniões são a continuidade da trilha de traição das centrais sindicais. Quem duvida, recorde-se do que aconteceu no período da aprovação da contrarreforma trabalhista no desgoverno do vampiro Temer e da coparticipação das centrais na edição de outras medidas de ataque aos direitos dos trabalhadores nos desgovernos Dilma, Lula e FHC.

Os atos e assembleias programadas para o dia 20 de fevereiro não passam de jogada de cena para ganhar protagonismo e cacife para posterior traição e benesses nas mesas de negociação. Já na posse do novo gerenciamento do país, dia 1º de janeiro, as centrais sindicais enviaram uma carta para o fascista Jair Messias Bolsonaro, em tom “respeitoso”, apresentando “a disposição de construir um diálogo” e o desejo de “um amplo processo de discussão e negociação”; assinada pelos pelegos Vagner Freitas/CUT, Miguel Torres/Força Sindical, Ricardo Patah/UGT, Adilson Araújo/CTB, José Calixto/NCS e Antonio Neto/CSB.

No último dia 13 de fevereiro, na casa do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o corrupto deputado Paulinho da Força (SD-SP) e outros dirigentes da Força Sindical se encontraram com o representante dos bancos e das empresas de capitalização, o bandido-ministro da Economia, Paulo Guedes, que prepara o envio da proposta de destruição da Previdência Pública ao Congresso [realizada no dia 20/02], e com o algoz dos direitos no governo Temer e atual secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho. Ouviram o bandido-ministro banqueiro, afirmar que a aprovação da reforma nos termos propostos por ele, em combinação com uma nova reforma trabalhista, criando a chamada “carteira de trabalho verde-amarela”, que retira todos direitos trabalhistas atuais, supostamente criaria empregos e renda suficientes para aliviar o fictício rombo do atual sistema; tudo isso, em “clima cordial”, conforme registrou o jornal O Globo, sem contestação da pelegada.

Já no dia 7 de fevereiro, em duas reuniões no Palácio do Planalto: no primeiro andar, pelegos da CUT e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – Vagner Freitas, Sérgio Nobre, Wagner de Santana e Moisés Selerges – bajularam o general golpista e atual vice-presidente, Hamilton Mourão; no quarto andar, pelegos da Força Sindical, UGT e falsos representantes dos Aposentados – João Inocentini, Ricardo Patah, Canindé Pegado, Natal Leo, Warley Martins, Marcos Bulgarelli – bajularam os atuais secretários de Previdência Social, Rogério Marinho e do governo, Leonardo Quintão.

Os pelegos fazem essas reuniões com as “autoridades” de turno, tal como fizeram com as “autoridades” do governo Temer no período que pavimentou a aprovação da contrarreforma trabalhista. Eles buscam holofotes, encenam ser contra a “reforma da Previdência” mas cumprem o papel de vis traidores e de negociadores da destruição de direitos dos trabalhadores, em troca de benesses e projeção. Com o banqueiro Guedes, os pelegos da Farsa Sindical fizeram tratativas em torno da volta da compulsoriedade de desconto dos aposentados, sem necessidade de renovação de autorização anual, e de seus interesses da previdência complementar e empréstimos consignados que manejam através de cooperativas de crédito e outras arapucas. Com o milico golpista, os pelegos da CUT advogaram os interesses das indústrias do ABC e falaram sobre a “disposição de diálogo”. Reles “Joaquins Silvérios dos Reis”, mensageiros das montadoras transnacionais e indústrias satélites instaladas no ABC e bajuladores do governo fascista.

Na tratativa com um dos algozes dos direitos trabalhistas, os pelegos da Farsa e da UGT reclamaram do item da medida provisória 871, baixada no último dia 18 de janeiro, que exige a autorização anual dos aposentados e pensionistas para os descontos destinados às entidades de aposentados que são feitos diretamente nos contracheques (cada uma dessas centrais sindicais traidoras tem o seu próprio sindicato de aposentados).

Mesmo com o governo maquinando a total destruição da Previdência Pública e a total destruição dos direitos trabalhistas, mesmo com o governo decretando o rebaixamento do valor do salário mínimo e editando medidas provisórias e outros decretos com mais ataques aos direitos dos trabalhadores, aposentados e pensionistas, as traidoras centrais têm as mesmas práticas de conciliação e traição que tiveram nos governos anteriores de Temer, Dilma, Lula, FHC. Durante os governos petistas, vários desses pelegos integrantes das centrais sindicais ou dos partidos a que elas são subordinadas, ocuparam postos ministeriais e outros cargos do governo onde implementaram várias medidas de ataque aos direitos dos trabalhadores.

Recordemos: no dia 11 de julho de 2017, o degenerado governo Temer, através de um acordão entre PMDB, PSDB, PT, PCdoB e todos demais venais partidos que pululam o Congresso e também em conluio com as cúpulas pelegas e traidoras das centrais sindicais, aprovou a famigerada “reforma trabalhista”, modificando cerca de 200 itens da CLT, destruindo direitos dos trabalhadores conforme as imposições da FEBRABAN, CNA, CNI, entre outras agências patronais. Com o aceno da promulgação de uma medida provisória que garantiria uma nova fonte de financiamento em substituição a extinta contribuição sindical, Temer assegurou a cumplicidade do movimento sindical. Nesse próprio dia da aprovação da lesiva “reforma” trabalhista no Senado, membros das cúpulas da Força Sindical, UGT e do Fórum Sindical dos Trabalhadores (FST) se reuniam com o então ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, para articular esse novo tipo de imposto sindical e a manutenção da fonte de dinheiro para os cofres das centrais, todo sistema confederativo e também para as entidades sindicais do setor patronal. Nesse mesmo dia 11/07/2017, membros das cúpulas da CUT, CTB, Intersindical e CGTB, lideradas por sua representação parlamentar composta por notórios pelegos como Paulo Paim e confortavelmente instalados em uma das salas do Senado, aceitaram o esquartejamento dos direitos trabalhistas respaldando a “negociação” e o acordão para votação e aprovação da contrarreforma.

Súper Porky

A dita “reforma” trabalhista trouxe desemprego e contratações precarizadas e abusivas, tudo com a complacência e silêncio cúmplice das centrais, envolvidas nas campanhas eleitorais e nas espúrias articulações para manter o sistema de contribuições compulsórias. Agora, até sindicatos ditos combativos passaram a advogar e a aplicar as lesivas medidas de alteração da CLT contra seus próprios empregados e seus representados; aceitam a inclusão de vários itens da nova legislação em seus acordos e convenções coletivas de trabalho, como as permissivas “comissões de conciliação” e até a fraude da emissão da denominada “certidão de quitação anual” para trabalhadores com contratos de trabalho vigentes ou não. Com essa “certidão” as empresas fraudam o pagamento de verbas salariais e outras obrigações e buscam impedir ações judiciais. As centrais e até sindicatos ditos combativos compactuam com tudo isso para garantir “a manutenção do movimento sindical” – garantia da sobrevivência de sua burocracias traidoras e conciliadoras.

Com total apoio da corja atrelada e domesticada do movimento sindical, os gerenciamentos de Lula e Dilma, sob o manto de “valorização”, “avanço” etc, também desferiram várias medidas anti-operárias, entre elas:

– Golpe na aposentadoria dos servidores públicos, com o fim da integralidade e da paridade e cobrança de contribuição dos inativos;
– Manutenção da política de arrocho salarial, arrocho no salário mínimo e aposentadorias;
– Manutenção do lesivo fator previdenciário e criação de tabela progressiva para dificultar o acesso a aposentadoria integral;
– Favorecimento ao capital financeiro com continuidade da política de “ajuste fiscal”, cortes de recursos das áreas sociais, isenções fiscais para grandes grupos econômicos, farra das empreiteiras, “crédito consignado” etc;
– Restrição do acesso ao seguro-desemprego, a pensões por morte e ao abono salarial;
– Repressão às greves operárias nas obras do PAC e outras;
– Criação do programa nacional de repressão (Pronasci), instalação de UPPs nas favelas, criação da Força Nacional, premiação da delação; criação de lei “antiterrorismo”;
– Aumento da terceirização, lei de escravidão imposta aos motoristas, extinção da carteira de trabalho para os safristas, trabalho aos domingos para os comerciários;
– Financiamento, cooptação e legalização das centrais sindicais, pluralismo sindical, fóruns tripartites, publicidades, jetons nos conselhos de órgãos e empresas públicas, etc e etc.

A pelegada também completamente envolvida em Fundos de previdência complementar, fundos de pensão e cooperativas de crédito vinculadas a sindicatos, exploram os associados e aposentados. É o caso da Força Sindical e da CUT, com cooperativas como as do Sindicato Nacional dos Aposentados da Força / Sicoob-Coopernapi, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC / CredABC – Cooperativa de Crédito dos Metalúrgicos do ABC, Sindicato dos Bancários de São Paulo / Bancredi etc. Na lista de “serviços e produtos” estão: capitalização obrigatória para acessar crédito consignado descontado diretamente na folha de pagamento da empresa ou na conta do INSS do aposentado, venda de seguros, e em algumas até abertura de conta corrente, débito automático, cartão de crédito, além de investimentos de risco, consórcio de imóveis, carros, motos, viagens etc.

O principal acionista da assassina e criminosa empresa Vale é a Litel Participações, com 20,98% das ações, empresa criada pelos fundos de pensão dos empregados do Banco do Brasil (Previ), da Caixa Econômica Federal (Funcef), da Petrobras (Petros) e da Cesp (Funcesp). Somente a Previ tem 17,55% das ações da Vale e é responsável por indicar quatro membros do conselho de administração da companhia. Os fundos exclusivos pertencentes às fundações de previdência fechada detém quase R$ 2 bilhões em ações da Vale e a pelegada participa do esquema. Dados do último informe estatístico trimestral da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), relativo a março de 2018, registrava que os planos de previdência de associações (instituídos) reuniam 157,28 mil participantes e patrimônio de R$ 8,176 bilhões.

É só ver o perfil e a prática da cúpula das centrais, confederações, federações, e até mesmo dos sindicatos, para ver como, com raríssimas exceções, todas são compostas por elementos completamente distanciados das bases, burocratas que estipulam suas próprias altas remunerações, desvinculados do trabalho que em tempos distantes exerceram (muitos nem isso), cercados de uma corte de funcionários, carros, mordomias, aburguesados, totalmente maleáveis aos interesses patronais, apologistas da institucionalidade, instrumentos de conciliação e de pugnas por ocupar cargos no parlamento, nos organismos governamentais, fundos de pensão, cooperativas de crédito etc. Essa corja participou diretamente da institucionalização das mais diversas medidas de cortes de direitos aplicadas pelos sucessivos governos de turno.

As centrais sindicais que dizem “defender a Previdência Pública”, tutelaram a implantação da previdência complementar, tudo de olho na participação rendosa nos conselhos deliberativo e fiscal, via gestão paritária – metade dos membros indicada pela empresa patrocinadora e a outra metade escolhida em eleições manipuladas pela aristocracia sindical. À título de ilustração, uma CPI que investigou os fundos de pensão, concluiu que, entre 2011 e 2015, os fundos da Caixa Econômica Federal (Funcef), dos Correios (Postalis), da Petrobras (Petros) e do Banco do Brasil (Previ) tiveram prejuízo de R$ 113 bilhões com a desvalorização de ativos. A CPI sugeriu o indiciamento de 145 suspeitos de envolvimento em esquemas de corrupção nos quatro fundos. Junto com dirigentes dessas entidades ligados ao PT e ao MDB, o ministro de Bolsonaro, Paulo Guedes, que articula a destruição da Previdência Pública, é investigado desde o dia 2 de outubro/2018 pelo Ministério Público Federal em Brasília por suspeita de envolvimento em fraudes em fundos de pensão com captação ao menos de R$ 1 bilhão dos fundos de forma irregular.

Al Rojo Vivo

Outras centrais dirigidas pelo oportunismo eleitoreiro, como a CSP-Conlutas/PSTU e a Intersindical/PSOL, também estão no mesmo campo, orbitam e obedecem as agendas pelegas das centrais legalizadas. Tudo justificado pelo canto de sereia de “amplo chamado a unidade de ação”. Tal “unidade de ação” redunda na dissipação de forças, oportunismo e respaldo aos diversos ataques dos governos de turno aos trabalhadores. Respaldaram inclusive as medidas do governo petista de sufocar as justas revoltas e greves que irromperam de forma violenta nas obras massacrantes do PAC, como a constituição do falacioso tripartite “Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Indústria da Construção”. Envio de tropas da Força Nacional e da PF para sufocar as justas revoltas operárias, assassinatos cometidos pela polícia nos canteiros de obras, mortandade causada pelas terríveis condições de trabalho; tudo isso contou com a cumplicidade das centrais e sindicatos em conluio com o governo petista e as corruptas empreiteiras da construção. Adotaram a mesma atitude quando o governo Dilma acordou com as assassinas Vale e BHP Biliton/Samarco, a criação de uma Fundação (Renova) para tirar as responsabilidades dessas empresas pelos assassinatos de 19 pessoas e crime economico-socio-ambiental em Mariana, Minas Gerais. Mesmo roteiro de impunidade, conciliação e conluio, que assistimos agora do governo Bolsonazi com a Vale nos assassinatos de mais de 300 pessoas e crime economico-socio-ambiental em Brumadinho.

Quixeramobim, 15/02/2019

8 COMENTÁRIOS

  1. Precisamos de mais “Maramonhangas”, de mais “Funcionários do Metrô” no Passa Palavra… Precisamos focar no mundo da matéria… No mundo real, que produz e reproduz o mundo material… O resto, são “plumas e paetês”… Trabalhador trabalha, e quando morre não vira purpurina…. Trabalhador trabalha, e quando morre, morre sem saber que só tem uma vida…. Que se passe a palavra, mas que a palavtra leve o trabalhador adiante…

  2. “A renúncia à luta de classes e à solidariedade internacional por parte do proletariado socialista, tanto na paz como na guerra, equivale ao suicídio”. Rosa Luxemburgo, revolucionária alemã (1871-1919).

  3. Abaixo os oportunistas, abaixo a colaboração de classes e a prostração ante a legalidade burguesa!

  4. Recentemente viralizou pelas redes sociais um vídeo de um eletricitário questionando a Reforma da Previdencia..
    Só a titulo de sugestão mesmo, o PP tvz possa agir como agente nisso, recebendo e divulgando esses vídeos. só uma sugestao. hehe

  5. Caro Alberto,

    A principal função do Passa Palavra é justamente divulgar as opiniões dos trabalhadores, é passar a palavra. Caso você ou qualquer outra pessoa tenha interesse em divulgar algum vídeo, ou textos, basta enviar para o nosso email, que iremos avaliar tal publicação, de acordo com nosso Estatuto Editorial e nossos Pontos de Partida.

    Cordialmente,
    Passa Palavra

  6. Ao que tudo indica, se o autor do texto e sua possível organização tomarem de assaltos os aparelhos, fazendo com que os trabalhadores não sejam mais “dirigidos” pelos malvados, a coisa anda.

    Chega a ser assustador como a esquerda, seja ela pelega ou boazinha, não se desprende das amarras de um CNPJ regulamentado pelo Estado- central ou sindicatos (sem falar da grana do desconto em folha) e repete os feitos do SPD, USPD ou qq tradeunista amante do Estado. O trem é tão alienado do partido histórico que alguns sindicalistas, chegam ao cúmulo, de arrotar por aí que a utilização do movimento sindical para “apaziguar os trabalhadores” é coisa nova, por isso os sindicatos são centrais…
    “primeiro a tragédia depois a farsa”

  7. O bê-á-bá da luta de classes indica que “a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”.
    A história tem demonstrado que a burguesia assegura seu domínio e a escravidão assalariada através do seu órgão de submissão de uma classe por outra – o Estado – criando uma “ordem” que legaliza e consolida essa submissão, buscando amortecer a colisão das classes; e que o exército permanente e a política são os principais instrumentos do seu poder governamental.
    Todas amarras de “regulamentações” e, especialmente, a atuação dos aparatos repressivos e dos meios de comunicação, que também estão em suas mãos, são para servir a burguesia e somente a aristocracia sindical, agora financeirizada, os tolos ou os mal intencionados podem querer impingir a “esquerda” se prender ao Estado; esse produto do antagonismo inconciliável das classes, que deve ser destruído e não reformado, se se aspira realmente alcançar a liberdade dos explorados.
    E cá prá nós, quem, de sã consciência, não vê que soou a hora desse podre e genocida Estado burguês no Brasil, serviçal dos bancos, das mineradoras e de outros grandes grupos econômicos, que cumpre caninamente as imposições do FMI, Banco Mundial e congêneres e de suas forças repressivas assassinas que executam uma política de barbárie social, assassinatos de Marielles, de negros, de índios, de operários, de camponeses, de estudantes, de pobres! E que a aristocracia operária, esse principal apoio social (não militar) da burguesia vai ser inevitavelmente varrida!!!

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