Por um feminismo autônomo

Encerrada (será?) a Copa da Fifa se intensificam os balanços sobre tudo que passou e sobre o seu legado.
Nessa toada, vale recordar o serviço a que se prestou a Marcha Mundial das Mulheres ao ir a público com uma nota em defesa de Dilma Roussef, no contexto das vaias na abertura da Copa, sustentando que ela fora vítima de violência sexista e, buscando, assim, ao que parece, “pautar o feminismo” durante o mega evento.
Ao colocar a Presidenta no lugar de vítima, parecem querer ocultar que foi a própria Presidenta, por meio da opção do governo federal por trazer a Copa da FIFA para cá, fazendo dela símbolo e expressão do grandioso projeto neodesenvolvimentista que o Partido dos Trabalhadores capitaneia, quem colocou a elite brasileira branca e preconceituosa dentro dos estádios.
Contrasta com esse pronunciamento em defesa de Dilma Roussef, a ausência de qualquer ação ou manifestação de solidariedade, por parte da Marcha Mundial das Mulheres, quanto aos impactos reais provocados pela Copa da Fifa:
mães pretasàs mulheres pobres, negras e descendentes indígenas e latinas, habitantes das periferias urbanas, as mais atingidas pelos despejos ocorridos nesse período, por vivenciarem um verdadeiro “matriarcado de miséria”, como alvos principais da perversa articulação do patriarcado, do racismo e do capitalismo;
às mães pretas e pobres das favelas e morros do Rio de Janeiro que viram intensificado o extermínio sistemático de seus filhos, afrontadas em sua maternidade e largadas à própria sorte sem qualquer amparo psicológico, graças ao “apoio” do governo federal ao estado do Rio de Janeiro com o envio de tropas das Forças Armadas e mais de 200 milhões para reforço das operações policiais de ocupação dos morros e ao descaso de Dilma com exigências como as já formuladas e pleiteadas pelo movimento Mães de Maio;
às mulheres pretas e pobres encarceradas e às familiares enfileiradas nas portas dos presídios, novamente, as mais atingidas pela política de encarceramento em massa, que opera um vertiginoso aumento da população prisional, em especial das mulheres, política esta não apenas não combatida pelo governo federal, mas apoiada por meio do Programa Nacional de Apoio ao Sistema Prisional, aprovado no ano de 2011, e ainda mais fomentada, com a legislação “de exceção” imposta pela FIFA, que todas sabemos, ficará e recairá, certamente, sobre a população marginalizada;
Revista-de-mulheres-em-presidios-2-23-04-14-567x340às mulheres trabalhadoras informais, que, aliás, são maioria nestes postos de trabalho mais precarizados, informação, inclusive, comumente veiculada nos materiais produzidos pela MMM, que foram impedidas de trabalhar nas proximidades dos espaços sedes da Copa e, portanto, de prover seu sustento e de seus filhos, graças à legislação imposta pela Copa de Dilma;
Violência sexista é o que todas nós e essas nossas irmãs das quebradas sofremos, não porque o “acesso ao espaço público” seja um “ato de ousadia”, mas porque sempre nele estivemos para sermos exploradas e para sermos controladas e violentadas (como continuamos a ser), pelo Estado brasileiro, capitaneado, hoje, por Dilma Roussef.
O recurso ao discurso de defesa do “acesso da mulher ao espaço público”, tão comum nos movimentos feministas brancos e liberais, cumpre aqui o papel de legitimar o lugar de Poder Institucional que Dilma “acessou” – o Estado – espaço pelo qual, nós mulheres periféricas, pobres e negras, não nutrimos qualquer esperança, vez que se trata de uma estrutura somente capaz de perpetuar, como no mega evento da Copa da FIFA, as desigualdades sócio-raciais e de gênero que alicerçam a sociedade.
Violência sexista, portanto, é o que o Estado de Dilma comete e a defesa da Chefa de Estado é expressivo do “feminismo de Estado” em que a Marcha Mundial das Mulheres tem, sobretudo após a ascensão ao Poder do Partido dos Trabalhadores, se especializado, ao organizar-se como porta voz “das mulheres” e eleger uma plataforma central de “reivindicações feministas” (em que ficam minimizadas ou mesmo excluídas desse rol diversas demandas de “outras mulheres”, que passam a ser etiquetadas como “demandas das mulheres, porém não-feministas”), atuando, assim, na tradução das “demandas feministas” em ações da política institucional, na forma reformas no sistema político-representativo, de inclusão nos órgãos políticos de decisão e de gestão e, também, na forma de planejamento, condução e fiscalização de políticas públicas e serviços. Tudo isso, por sua vez, revela um movimento cooptado pelas instâncias estatais, que não faz mais do que legitimar o Estado, fascista, que vem sendo aperfeiçoado por Dilma e a “esquerda” que governa o país.
Nosso Poder, ao contrário, é Popular, construído de baixo e de maneira autônoma; não temos ilusões com o “acesso” ao Poder Estatal!!!
FEMINISTAS PELO FIM DO ESTADO, DO RACISMO, DO CAPITALISMO E DO PATRIARCADO!

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