Maximalista, estudante de química e editor dos jornais de Kronstadt, foi sentenciado à morte após o levante de 1920. Por Nick Heath

Anatoli Nikolaevich Lamanov nasceu em 3 de julho de 1889. Seu pai era o tenente-coronel Nikolai P. Lamanov, chefe de equipe da frota russa na base naval de Kronstadt em 1913, sua mãe simpatizava com o populismo e seu irmão mais velho era Piotr Lamanov, um tenente da marinha que também participou das primeiras agitações revolucionárias em Kronstadt em 1917 e comandou as forças navais.

Como estudante do terceiro ano da Universidade Nacional de Química, Anatoli ganhou muita simpatia entre os trabalhadores, marinheiros e soldados de Kronstadt por suas visitas para palestras sobre história natural, geografia e tecnologia durante os anos da guerra. Ao contrário de seu irmão mais velho, que tinha ligações com os socialistas-revolucionários, ele parecia não ter vínculo direto com nenhum agrupamento político.

Mapa de Kronstadt

Ele é descrito pelo britânico Morgan Phillips Price, correspondente em Moscou do Manchester Guardian, como tendo “cabelos longos, olhos sonhadores e a expressão de um idealista”, “fervoroso, amigável e de certa forma enigmático”.

Tornou-se liderança do treinamento vocacional do departamento municipal de educação em Kronstadt. Ao mesmo tempo, foi eleito para o Comitê do Movimento pelos empregados do laboratório químico de Kronstadt. Era delegado do Soviete de Trabalhadores de Kronstadt entre março e abril e, de maio em diante, do Soviete de Trabalhadores e Soldados. Fez muitos discursos nas sessões do Soviete. Era um holofote da Facção Sem-Partido, ao lado de Ippolitov, Rivkin e Zverin. Em agosto, o grupo Sem-Partido se juntou o racha de esquerda radical e antiparlamentar dos socialistas-revolucionários, a união dos SRs com os maximalistas, mudando seu nome nesse processo. Sobre esse grupo, Getzler comenta “…ele rejeitava o sectarismo partidário, defendia um sovietismo puro e por isso adequou-se admiravelmente à paisagem precocemente revolucionária e marcadamente soviética de Kronstadt…” (p. 37).

Lamanov era também editor do jornal de Kronstadt, Izvestia. Ele foi descrito pelo astuto bolchevique F. Raskolnikov em suas memórias como sendo “cem por cento filisteu” (filisteu era uma palavra muito usada à época pelos bolcheviques, especialmente por Lênin e Trótski, para descrever seus oponentes políticos). Ao contrário, longe de ser um filisteu, Lamanov era um incansável defensor da democratização (na falta de palavra melhor) da revolução e, junto a isso, de uma iniciativa de educação e cultura para as massas, incluindo o teatro: “…o teatro complementa o que nós vemos e escutamos na vida, e que lemos nos livros; ele injeta novas ideias nas mentes dos espectadores, ideias que são novas não por causa de seu conteúdo, mas por causa da sua incorporação anterior à nós no palco”.

O Soviete se fez aberto a oradores de todos os grupos revolucionários: bolcheviques, socialistas revolucionários e tipos anarquistas.

Os bolcheviques sempre foram uma minoria dentro do Soviete de Kronstadt, ainda que fizessem incansáveis esforços para manipular os procedimentos. Lamanov relembrou os bolcheviques de que eram as pessoas que tinham feito a Revolução de Fevereiro, não o partido.

Os maximalistas mantiveram um grande número de delegados no Soviete ao longo de sua história, ainda que Lamanov tenha rompido com eles no final de 1919. Isso se deu porque ele queria se distanciar do bombardeio à sede do Partido Comunista em Moscou, que ele condenava e acreditava que os maximalistas estivessem envolvidos.

Ele estudou para se candidatar à membro do partido bolchevique em algum momento em 1920. Não participou das primeiras agitações da revolta [de Kronstadt naquele ano] e não serviu no Comitê Revolucionário durante o levante. Todavia, continuou a editar o Izvestia e a divulgar em suas páginas as palavras de ordem da “Terceira Revolução” e do comunismo sem a “comissarocracia”. Lá anunciou sua desistência do Partido Comunista em março, dizendo que na verdade sempre continuou sendo um maximalista. Por isso o Izvestia se tornou o porta-voz dos insurgentes de Kronstadt, preenchendo suas páginas com cartas e posicionamentos de muitos dos rebeldes.

Foi preso em março de 1921 pelas tropas soviéticas. As pressões do interrogatório da Cheka parecem ter quebrado ele, uma vez que deu evidências contra outros líderes da revolta. Ele confessou que “o motim de Kronstadt veio como uma surpresa para mim. Eu via o motim como um movimento espontâneo”, mas posteriormente em seu depoimento alegou que o motim havia sido planejado desde o início pelos SRs de esquerda!

Sentenciado à morte em 20 de abril pela Cheka de Petrogardo como um “contrarrevolucionário”, foi fuzilado no dia seguinte e teve seu corpo enterrado na cidade.

Referências:
Getzler, I. Kronstadt 1917-1921: The Fate of a Soviet Democracy.
<http://lists.memo.ru/d19/f388htm>
<http://elibrary.ru/item.asp?id=9440549>
The Truth about Kronstadt.

Traduzida do original no Libcom pelo Passa Palavra, esta biografia integra o esforço de traduções de 100 anos da Revolução Russa (confira aqui o chamado e a lista completa de obras).

Leia também: A revolta de Kronstadt, de Ante Ciliga

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here