Por Ronan Gonçalves [1]

Junto com o crédito imobiliário, o cinema nacional também é um setor quase totalmente financiado por recursos públicos. Há ainda a semelhança de retirar recursos de todos e atender mais especificamente a classe média. O cinema nacional tem uma enorme dívida com a população brasileira. Apesar do bom exemplo de alguns filmes, como Cronicamente Inviável (2000), Central do Brasil (1998), Tropa de Elite (2007), O Prisioneiro da Grade de Ferro (2003), Notícias de uma Guerra Particular (1999) e Braços Cruzados, Máquinas Paradas (1978), há muito a ser feito.

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Descontração na sala de aula

Independente das leituras que se possa ter sobre os títulos citados, inegavelmente eles jogam luz sobre problemas brasileiros, forçando o debate e um maior esclarecimento sobre questões importantes. Num país com pouca leitura e milhões de iletrados ou analfabetos funcionais, o cinema adquire maior importância pedagógica. Muitos temas estão a espera de um filme à altura: biografias nacionais, a formação do país, o modelo de desenvolvimento, a questão urbana, a questão indígena, transportes, estrutura política, clientelismo, infância, novas migrações, moradia, movimentos sociais, escravidão, racismo… Falta-nos um Spike Lee, um Moore, um Mário Van Peebles (do magistral Panteras Negras, E.U.A., 1995). Nesse sentido, foi uma boa notícia a realização de Pro Dia Nascer Feliz (2007), filme documentário de João Jardim que aborda a educação no país.

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Professoras em conselho de classe

Ainda está para ser feito “o filme” sobre educação no Brasil, e o meu palpite é que um trabalho para dar conta da questão precisaria adotar a metodologia de O Prisioneiro da Grade de Ferro: treinar as pessoas envolvidas para manusearem as câmeras e deixar que elas filmem o seu cotidiano. Por mais desgraçado que seja o ambiente escolar mostrado, a simples presença de pessoas filmando acaba por esconder fatos, pois força um outro comportamento. Um exemplo é ver no filme a ausência de xingamentos e ofensas contra os alunos e suas famílias em reunião de professores. Apesar disso, Pro Dia Nascer Feliz é um dos melhores filmes que eu conheço sobre o tema e faz par com o francês Entre os Muros da Escola (2008) como roteiro obrigatório para gente da área ou interessados em geral.

A sinopse oficial de Pro Dia Nascer Feliz afirma que o filme trata da relação do adolescente com a escola, focando também a desigualdade social e a banalização da violência. De fato, o filme mostra o cotidiano escolar de uma região extremamente pobre em Pernambuco, outra precarizada no Rio de Janeiro, umas em situação de barbárie em São Paulo, uma em estado razoável em Itaquaquecetuba (SP) e uma escola de elite de São Paulo. Há uma nítida opção pelo aluno, mostrando jovens pressionados em busca de resultados, outros abandonados física e afetivamente pelos pais, submetidos a um conflito de gerações com os professores, abandonados por uma escola que muitas vezes nem aula tem. Mostra que há angústias comuns entre os jovens de todas as classes, mas um abismo social que os separa.

O mérito do filme está, primeiro, em abordar a questão sob forma documental. É um antídoto para Malhação, programa da TV aberta brasileira, de alta audiência entre os jovens, que aborda o cotidiano de uma escola particular. Eis que no vaivém dos capítulos de Malhação, a pretexto de se falar de estudantes e escola, os alunos não são focados como tais, mas como elementos conviventes em um shopping. Tanto é que praticamente só é focado o espaço fora da sala de aula, há pouco de estudantes e pouco de escola. No programa é mostrado namoro, fofocas, moda, briguinhas entre grupos, corpos belos, muito consumo, mas nenhuma pessoa na real condição de estudante, menos ainda do que é a média do estudante brasileiro. Certamente, se Malhação mostrasse a realidade do cotidiano escolar da população não teria a audiência que o shopping batizado de escola lhe dá. Trata-se de um exemplo do que não é a educação brasileira. Pro Dia Nascer Feliz desmascara o shopping-escola mostrado na TV.

Outro mérito: o filme conseguiu fugir de dois grandes estereótipos em filmes sobre educação. Geralmente, o romantismo é base do assunto e foca-se no professor, mostrando-o como herói. Num estereótipo, o professor é o herói libertário despertador de paixões, a exemplo de Escritores da Liberdade (E.U.A., 2007) e Sociedade dos Poetas Mortos (E.U.A., 1989). O salário, o trabalho e todas as adversidades não são entraves para o heroísmo individual docente, cuja vontade é capaz de derrotar todos os problemas. No outro estereótipo, em filmes como Ao Mestre com Carinho (E.U.A., 1967), o professor é retratado como um herói autoritário, regenerador moral, cujo pulso firme é o fio condutor da salvação de alunos tidos como moralmente perdidos. Em Mentes Perigosas (E.U.A., 1995), novamente o heroísmo individual da professora é a fonte de humanização de alunos selvagens.

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Sala de aula precária

Pro Dia Nascer Feliz foca o aluno e mostra o professor tal qual ele é: na escola dos pobres, um trabalhador precarizado tão vitimizado quanto os alunos e impotente diante do caos em que se vê imerso. Na escola dos ricos, um elemento de classe média desfrutando do status e respeito que as condições lhe oferecem. Aliás, uma forma interessante de se pensar o filme está na comparação da figura dos professores das diferentes escolas. De um lado, professoras descabeladas, com olheiras, cansaço visível e uma situação que leva muitos aos calmantes e antidepressivos: xingamentos, ofensas, descaso e a convivência em escolas e bairros que são uma tortura estética. Do outro, a suavidade de uma professora falando de O Cortiço, de Aloísio Azevedo, do alto de seu salário de R$ 6 mil mensais, sem expressão de cansaço, muito bem vestida e diante de uma platéia silenciosa de futuros vencedores, num ambiente aprazível, limpo e arborizado; da cadeira ou sofá pode-se sentir o frescor que o ambiente transmite.

Esse ponto é importante no filme. Embora se possa desejar que o professorado deveria ser melhor e mais ativo quanto à organização do trabalho educacional, o filme mostra claramente como é falaciosa a tentativa de se culpar pura e unicamente os professores pelo fracasso educacional. Se em algumas cenas mostra-se o descaso de alguns professores com a figura do aluno, muitas outras mostram professores muito engajados que, no entanto, são massacrados pelas condições estruturais reinantes. Se não se pode negar a má qualificação docente e o fato de que todos nós deveríamos saber sempre mais de alguma coisa, o filme mostra que o problema está na falta de suporte geral para os docentes e para o ambiente em que trabalham, a começar pela formação. O professor precário de hoje é o fruto da criação planejada de uma educação solapada, muito útil aos donos de escolas particulares, que precisa lidar com uma realidade social complexa, tendo que atender simultaneamente alunos de alto potencial e jovens desinteressados e indisciplinados, sem auxílio das famílias ou uma rede de proteção.

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Alunas do Colégio Santa Cruz

Mais mérito: o filme consegue mostrar que o desinteresse dos alunos, a sabotagem educacional, não está presente somente nos colégios destinados aos populares. No colégio Santa Cruz, de São Paulo, cuja mensalidade beira os R$ 1.600 reais, encontram-se também pichações, agressões, mal-estar com a escola, alunos sonolentos, desinteressados, repetentes e que pouco valor dão aos estudos, mais interessados nas conversas e nos beijos, amizades e namoros. Por este norte, mostra-se que se a escola existe como uma coisa pensada por seus gestores e professores antes de os alunos a adentrarem; estes, por sua vez, procuram adequá-la aos seus interesses uma vez que nela se inserem. Num mesmo prédio, temos a escola tal como a fazem e pensam os gestores e professores e outra escola tal qual a fazem e pensam os alunos. O que é uma característica de toda organização: o poder de fato é sempre uma média entre o que pretendem os administradores e o que permitem e desejam os administrados, seja na escola, hospital ou penitenciária.

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A talentosa Valéria, de Pernambuco

Embora se encontre quem veja o filme e procure justificar o fracasso das más escolas públicas pelo desinteresse e indisciplina dos alunos, transformando em culpados as verdadeiras vítimas, as imagens não deixam dúvidas quanto aos problemas estruturais da educação pública centrados em gestão, qualificação e financiamento. Péssima estrutura, professores mal qualificados, péssimos gestores, carentes de qualificação mínima, nenhuma ou pouca assistência ao aluno. Enfim, uma escola condizente com a formação de um exército de trabalhadores precarizados onde os índices de segurança pública e fatores disciplinares acabam pesando mais na formação de uma juventude que possui pela frente um mercado de trabalho rústico. Claramente, o maior interesse dos alunos mostrado no colégio de elite é condizente com o futuro que os espera. Enquanto os primeiros estão numa escola que significa uma verdadeira condenação social, com horizontes de trabalho pesado e mal remunerado, os últimos têm, a cada dia, confirmada a sua destinação para cargos de chefia ou trabalhos bem remunerados e bem vistos socialmente. No final do filme, informações mostram que a aluna da escola pública abandona a poesia e os escritos, terminando como dobradora de roupas, enquanto a aluna do Santa Cruz figura como ingressante em engenharia na USP.

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Alunos de Duque de Caxias-RJ

O menino de Duque de Caxias, repetente e indisciplinado, paradoxalmente termina no exército. A sonhadora de Pernambuco faz curso normal para tornar-se professora; outra, de São Paulo, fugida da escola por ameaças de agressão, já com filho, sonha em assumir o giz e o quadro negro. Depoimentos fortes mostram uma jovem narrando como assassinou a facadas uma colega no colégio, e outros rapazes contam suas desventuras no mundo do crime, agredindo e assaltando. Mas o horror maior não está somente nos depoimentos daqueles que ficaram inseridos em locais onde a degradação social instalou uma cultura de morte e desvalorização da pessoa humana. No depoimento da jovem do Santa Cruz, a mesma que figura como ingressante em engenharia na USP, vemos a aluna tentar aludir uma preocupação com os pobres para, em seguida, dizer que não pode se mobilizar em prol de uma melhoria social porque isso implicaria abandonar sua rotina que inclui natação, clube, yoga etc. Explicita que tem sorte por ter nascido na elite e precisa cuidar de seus interesses, como se o seu bem-estar não estivesse umbilicalmente ligado à miserabilidade de tantos outros.

Um grave problema do filme é seu esforço em não culpabilizar os dirigentes pelas condições da escola pública. Embora mostre alguns números, como a quantidade de colégios sem banheiros no país (13,7 mil), sem água (1,9 mil), alto índice de abandono até a 8ª série (41%), e o fato de metade dos alunos do fundamental não saberem escrever corretamente, a abordagem oculta culpados. Faltam dados sobre política educacional, sobre financiamento, sobre currículo, sobre história da educação brasileira, que permitam o adequado entendimento de como é que se criou tamanha barbárie. Dessa forma, o filme alimenta o cinismo de sempre: se sabem os problemas educacionais mas nunca se sabem os responsáveis pelos mesmos. Mais do que qualquer área, em educação só se encontram vencedores. Ninguém se apresenta como o diretor ou antigo secretário do aluno condenado por sua miséria educacional. Quem conhece a coisa por dentro, certamente fica em dúvida se a educação pública, em média, perde para trabalhos como o de policial e carcereiro no aprendizado paulatino de um cinismo organizacional. É um cinismo como método.

Outro grave problema é a forma como o filme alimenta o mito da boa escola particular. Embora foque uma escola em melhor estado ao lado de escolas públicas péssimas, ao compará-las somente com uma escola privada de elite alimenta-se o discurso estelionatário do empresariado da educação. Primeiro, não se consegue entender a má formação docente sem se pensar na forma como empresas de educação extraem dinheiro das pessoas ofertando-lhes um péssimo produto, sem que sejam importunadas pelas autoridades responsáveis em fiscalizar a área. Explicando: empresas financiadoras de políticos e políticos donos de empresas de educação. Eis que a grande maioria dos colégios privados também é de má qualidade e somente uma situação de barbárie nas escolas públicas é que dá a eles alguma vantagem na área. Por outro lado, no seio de grandes redes públicas de educação, existem experiências bem sucedidas, colégios de melhor qualidade que muitos dos particulares das redondezas. Entretanto, além de minoritários, tais colégios possuem mecanismos informais de seleção de ingressantes para excluir os mais precarizados, e acabam sendo preenchidos com filhos de professores, pequenos comerciantes, policiais etc. Quem quiser saber qual é o melhor colégio público de uma dada cidade basta averiguar onde são matriculados os filhos de professores que estudam na escola pública.

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Filmando a escola

Talvez não se possa culpabilizar o diretor por tais lacunas, mas quem vê o filme não pode esquecer as grandes ausências. Aliás, são tais ausências que dão um sentido fatalista para o mesmo. Além de não retratar as boas escolas públicas, tanto de sistemas estaduais quanto do sistema federal, nada se fala/mostra de iniciativas gloriosas da chamada sociedade civil. Existem bons trabalhos não citados de ONGs, movimentos e cursinhos populares, que é o campo onde se afirmam mais acentuadamente alternativas ao quadro majoritário. A rede de cursinhos populares que se disseminou no país desde os anos 1990, focados em iniciativa do estudante, eliminação de burocracias, otimismo, preocupação com a condição do aluno, cidadania ativa e trabalho voluntário ou semi-voluntário, merecia por si só um documentário. Se se podem usar antigas palavras para novas realidades, os cursinhos populares que foram pipocando pelas periferias brasileiras constituem o que há de mais próximo na atualidade de uma educação popular e/ou libertária. Eis que quem olhar de fora somente o objetivo final de aprovação no vestibular e congêneres pouco terá noção do que realmente se passa no seio de tais empreitadas.

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Alunas em Pernambuco

O caso das ONGs é emblemático. O Brasil vive um momento paradoxal em que cada vez mais se fala em educação, ao passo que tradicionais setores se encontram absolutamente perdidos no assunto. É um quadro em que o empresariado está fortemente ativo quanto ao tema, fundando movimentos como o Todos Pela Educação, ao lado do silêncio criminoso das universidades e derrota retumbante dos sindicatos e professores que, presos no debate salarial, não se prepararam para o novo campo de batalhas inaugurado, que foca no currículo, avaliação e projeto pedagógico. Isso para não citar a ausência de pais e alunos quanto ao tema. Nesse quadro, é por iniciativa de algumas poucas ONGs que, bem ou mal, se tem dado uma resposta aos projetos empresariais e tecnocráticos das secretarias. No geral, está-se tentando criar um consenso de que quem entende de educação é o empresariado e seus tecnocratas auxiliares, e são algumas ONGs que têm sido mais eficazes em combater tal linha.

Para não estender o texto, o filme tem enorme valor mas adquire maior potencialidade se for visto não como um discurso pronto e acabado, mas como um alicerce para outras indagações, novas buscas, saber mais. Ao mostrar um quadro discrepante entre a escola de elite e as escolas públicas, talvez, a partir dele, podemos pensar que a educação é uma coisa que só funciona se for oportunidade para sonhos ou confirmação de superioridade social. A escola de elite funciona melhor porque é um ponto de uma rede de proteção que funciona bem e garante ao aluno um futuro promissor. A escola pública só vai bem se permitir sonhar. Enquanto sinônimo de condenação social, os alunos, perspicazes, não se interessam por ela.

[1] Criado em Franco da Rocha, é mestre em Ciências Sociais pela UNESP
de Marília.

51 COMENTÁRIOS

  1. Olá Ronan,
    Assisti o filme depois de ler seu texto e gostei bastante (principalmente do texto).
    É uma realidade muito dura que meu olhar não alcançava nessa profundidade até então.
    Fiquei curiosa para saber quais são essas ONGs que rebatem a posição do empresariado da educação. Você pode falar um pouco mais dessas experiências?
    Um abraço, Tereza

  2. Tereza,

    Quem acompanha o noticiário sobre educação percebe que os governos são mais sensíveis às críticas de certas ONGs, como a Ação Educativa ou a Educafro, ou críticas vindas dos jornais do que a pressão dos sindicatos ou dos professores.

    O problema maior é que o professorado possui apenas reivindicações salariais, não possui nenhum projeto alternativo de educação. Não faz parte das discussões da categoria currículo, avaliação, modelo arquitetônico das escolas…nada. No limite, o que há é a defesa de uma permissividade para que cada professor possa ter o máximo de liberdade possível.

    Ação Educativa e Educafro são as referências mais conhecidas e mais institucionalizadas, mas há um número grande de experiências pequenas para todo canto.

  3. Após ler esta resenha, com a curiosidade desperta, fui a mprucra do filme e o encontrando o assisti. Na minha opinião o filme fica umpouco a desejar, já que vários questionamentos poderiam ser feito, principalmmente relacionados a falência do ensino público e o desinteresse e descaso co a meloria deste. Muitas momentos do filme, me pareceu que o autor, de forma indireta, apresenta o boicote e desinteresse dos alunos como único fator desta crise.Bom, mas o que mais vale atença~neste documentário e este ser u potapé incial e talvez utilizados e HTPC, para discussões e propostas em busca de melhorias.

  4. Faz alguns anos, não me lembro bem quantos, que este documentário foi exibido na UFSCar. Eu o assisti. Depois houve debate. No debate falei sobre a construção de dois brasis, um para os ricos, outro para os pobres. Imediatamente em seguida, um rapaz sutilmente me criticou por eu não perceber (na visão dele) que a história tinha mostrado que acirrar as diferenças não era o caminho. Depois mostrou certa preocupação com as risadas da plateia mediante a menina rica que mostrou uma solidariedade momentânea com os pobres, mas que tinha de se dedicar ao yoga. Claro, esta foi para a universidade. Ele estranhou as risadas, porque achava legítima a preocupação da menina, já que ele também gostaria de fazer yoga. Bom, não tive como responder à sutileza irônica, mas não fui eu quem acirrou as diferenças. Foram aqueles que pugnaram pelo ganho de produtividade e de capital, já que aviltaram condições de trabalho e emprego, aviltaram os trabalhadores nas últimas décadas para consegui-lo. E me assustei ainda mais com alguém que usava a universidade pública para fazer a própria carreira (e só) e ainda encontrar um tempo para fazer yoga. A universidade também colabora na construção de dois ou mais brasis – é este o “silêncio criminoso” da universidade? De quando eu fui para uma, até hoje, dá para contar a história da universidade observando o estacionamento de automóveis dela. A universidade também tem sido produtora de senso comum (consumista, claro, e umbilical), tal como qualquer propaganda de tevê, embora eu saiba que haja exceções. Que bom! Parabéns pela análise. Tudo sempre levanta várias questões.

  5. Eu vi esse filme há muito tempo, quando saiu, e lembro que me incomodou muito o alvoroço que ele causava. Não gostei nada dele, por muitos motivos, mas lembro que o mais forte era muito simples: ele não mostra nada que não se possa ver em toda esquina. E a classe média, ou seja lá o que isso for, fica mais uma vez contente com a possibilidade de se informar sobre a realidade através de uma tela, pra complementar sua janela de automóvel, como diria a Adriana Calcanhoto, vendo tudo enquadrado. E ainda sai do cinema com boa consciência.
    Proponho, Ronan, pela afinidade que costumo ter com as coisas que você escreve, ao menos que você leve em consideração um ponto: será que a gente, que é educador popular, na nossa solidão e profunda ansiedade por interlocução, não tende a ver nesse filme uma oportunidade de estender a visão daquilo que pra nós é tão caro tema de reflexão? Aí, creio, talvez o aspecto emocional leve a gente a ver na exposição da “realidade” uma crítica que na verdade somos nós que estamos fazendo. O modelo do filme, pra mim, reproduz a crítica do senso comum, com todos os seus chavões, preconceitos e principalmente, a idéia de que a pobreza (inerente à sociedade de classes, certo, mas, no filme, naturalizada) é a grande responsável pela calamidade educacional. Eu não acho, acho que o problema é inverso: os pobres são privados da educação PELO sistema educacional dual, não pela pobreza, com o qual toda a classe média, seja isso o que for, é muito conivente ao longo da vida inteira.

  6. E eu acrescentaria ao que disse, a respeito das lacunas que você aponta no filme, uma frase muito cara à professora Lisete Arelaro: “Nada é por acaso”…

  7. Olá Ronan, Muito Obrigada pelo texto.
    Já havia assistido ao filme, exibi-o para uma turma de alunos de último ano de ensino Médio, não ousei comentá-lo em profundidade com os alunos, mas pedi-lhes que escrevessem ao menos 4 linhas sobre o filme. Ao ler constatei: a maioria entendeu escola pobre – tudo pobre, até mesmo o conhecimento do professor! Escola rica – tudo de bom…

    Tens razão! achei o filme muito bom, mas no fundo algo não ia bem… e você no seu texto pode em profundidade e delicadeza explicar…

    mais uma vez, obrigada.

  8. o fime em si é muito interessante; pois monstra a desigualdade do brasil que é imensa onde a minoria tem o poder nas mãos onde a classe dominante exclui a menos favorecida que é os pobres.e essa desigualdade nunca vai acabar pois a classe dominante jamais vai olhar para a menos favorecida e os obres é que vão sofrer com tanta escassez.

  9. olha assistir o filme com minha classe 3 ano d em petrolina pe na escola de referencia em ensino medio clementino coelho
    quem pássou o filme foi a professora JUSCIDETE muito interessante fizemos trabalhos apartir do filme
    relata a mal educação a falta de investimentos na escola para que surja mais cidadaos na sociedade brasileira
    enfim quem nao assistiu e muito massa bom mesmo
    grande abraço

  10. O filme é bom comparado ao que o cinema nacional vem produzindo, é um inicio e pode vir a incentivar mais produções sobre a educação brasileira… Eu faço Geografia, e estou em dúvida em fazer Bacharel ou Licenciatura, vendo o filme e a realidade do professor, cada vez a ideia de ser professora é menos atraente…(é claro que como vc e alguns comentários disseram faltou ao documentário mostrar a realidade de escolas públicas que dão certo..)

    Você disse bem, falando desses filmes onde o professor consegue, apesar de todas as dificuldades Ser um bom professor, criar maneiras de motivar os alunos e etc (assisti a todos esses filmes)
    Mas e os professores que fracassam? Que ficam com depressão, que sofrem ameaças e violência? E quanto a eles? Quem fala deles, para não lhe atribuírem toda a culpa do fracasso?
    É muito desmotivante esse futuro para quem faz licenciatura… Pensa-se que se não for para dar aulas em escolas particulares SER PROFESSOR não vale a pena, baixos salários, desmotivação dos alunos, falta de infra-estrutura, violência…

    Mas ao mesmo tempo eu me questiono, como poderei fazer diferença nessas escolas particulares? Criar-lhes essa consciência de como é a outra realidade é suficiente? “Ajudá-los a sair dessa bolha”… Esses que já tem um futuro promissor…
    Ou eu posso ir para essas escolas precarizadas e tentar semear a esperança de um futuro melhor? Isso é tão tentador… Pensar que posso ajudar as crianças a mudarem seu caminho…

    E pensar que posso acabar não como aquela professora que foi bem sucedida em Escritores da Liberdade…Mas como as milhares de professoras brasileiras em terapias uma vez no mês….

    Um desabafo… meio incoerente de alguém que está perdido

  11. Concordo com todos os comentários acerca da boa qualidade do filme e a urgência da discussão que ele propõe, mas, minha dúvida é de outra natureza: comprei o DVD em uma grande rede de livrarias por R$50,00. Um filme brasileiro, que usa patrocínio público por meio de leis de incentivo e que trata de um assunto tão essencial, não deveria ser mais acessível?

  12. super interessante e importante! mostra realmente a nossa realidade na escola e na sociedade em geral.
    pergunto então, até onde vai toda essa bagunça??Onde estão nossos então, governantes, que prometemqmais isso,aquilo..e continua a mesma vergonha de sempre, na verdade pior ainda.
    é complicado! mais fazer o que.

  13. realmente é preocupante a educação brasileira.
    Tanto os alunos quanto também os professores estão um tanto desinteressados, esse é o meu modo de ver, que me desculpem os professores.
    bom,agora em quem jogar a culpa?? não se pode julgar sem antes examinar o que está acontecendo.Porém, para mim já está bem claro de quem é a culpa diante de tantos fatos e e acontecimentos no nosso dia a dia.
    falta de água, paredes rabiscadas, ventiladores e ar coondicionado que não funcionam…e assim vai…tdo favorecendo ao desinteresse dos alunos e desânimo dos professores, que acabam não aguentando reclamações e cobranças diariamente…
    É UMA VERGONHA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA!!! PÉSSIMA!! essa é a minha classificação como aluna do Instituto Federal, que tbm não está atrás desses problemas, tanto q está até em greve! é complicado…se não tomarem as devidas providências, não sei o que será do futuro dos jovens, sem estudo adequado, portanto sem uma vida justa e digna, que é o que todos nós desejamos.

  14. Quem termina como dobradora de roupas não é a menina de Pernambuco e sim a de Sao Paulo.

  15. Patrícia,

    o texto deixa claro que não é a moça de Pernambuco que termina como dobradora de roupas na seguinte passagem: “A sonhadora de Pernambuco faz curso normal para tornar-se professora”.

  16. O filme documentário relata sim a atual situação da educação. Despertou-me como futura educadora, a pensar nas dificuldades que serão encontradas na sala de aula. Notei que a inclusão digital não aparece com frequência no filme, em nenhuma das vertentes. Sabendo que hoje as novas tecnologias fazem parte do nosso cotidiano e que infelizmente algumas escolas ainda não podem oferecer. Ah, belo exposto querido Ronan. Parabéns!

  17. Eu gosto muito de assistir filmes de documentário a filme de ação e uma coisa que me chamou atenção neste filme foi a desigualdade existente na educação hoje em dia.Toda a minha vida eu estudei em escola pública e vi muitas das coisas que o filme mostrou.Hoje eu tenho um bom emprego e posso dizer que uma das coisas que o que me ajudou a estar na minha situação foi o seguinte :os professores acreditaram em mim e eu acreditei em mim mesmo.Bato palmas para João Jardim por ter feito este filme e a toda asua equipe.Espero ver próximos filmes como esses abordando vários temas diferentes.O Brasil só lança filmes com caráter violento e imoral ,não tem dado tanta importância a assuntos como esse.A ficção pode se engajar na realidade e formar um projeto imenso esse é o meu ver. BRUNO G.C.- RIO LARGO (AL)

  18. Ótimo texto.
    Muito boas as reflexões sobre o que é tratado no filme, como ele é colocado…enfim, uma boa ‘análise’. Parabéns.

  19. ADOREI O TEXTO ME AJUDOU MUITO A FAZER MEU TRABALHO ESCOLA MUITO OBRIGADO ELE EH OTIMO!!!!!!!!

  20. É muito interessante o documentário fala como é que é a história de muitos estudantes como é que é a vida deles e ajuda a fazer um trabalho de escola e eu gostei muito.

  21. Este filme é uma realidadede em muitas lugares,ainda bem que as escolas de União da Vitória são ótimas assim meus filhos terão um ótima formação.

  22. Ainda não vi o filme mas li aqui todos os comentários de quem viu o filme. Uma coisa me chamou a minha atenção, me parece que as pessoas estão em um campo de batalha onde cada um atira para um lado.Não vai matar o inimigo nunca,sim o próprio soldado de seu batalhão, todos temos que atirar para a mesma direção: o inimigo, no caso das escolas publicas são os diretores que não orienta seus professores, pais e alunos, de como se resolve as coisas: cruzar os braços, paralisações, faixas e cartazes, panelaços, meios de comunicações…Todo mundo sabe disso…mas os lideres fracos são fracos, são uns borra botas sem criatividades.

  23. Adorei e De Mais Esse texto me ajudou a Fazer um Relatório Bem Explicado Sobre esse Filme….. Só o que eu tenho a Fazer é Agradecer …. ( Muito OBRIGADO).. ;)

  24. Conheço bem a realidade desse documentário afinal tive uma pequena participação, acho que a realidade de hoje supera ainda mais a inquietação daquela época, a juventude mudou e os objetivos também, o descaso com a educação ainda persiste e, na minha opinião, enquanto o interesse de melhorar não partir também das pessoas ( estudantes) essa realidade não vai mudar, antes todos protestavam e conseguiam direitos hoje se sentam e culpam apenas os políticos dessa forma não haverá mudanças, precisamos é de revoluções .

  25. Adorei o filme,o artigo e os comentários daqui;concordo que os professores só fazem/faziam campanhas salariais ou,pior ainda,os que nem isso: como colegas da UFRJ de meu tempo que alegavam lutar pela EDUCAÇÃO e pena UNIVERSIDADE,fazendo o seu próprio DOUTORADO,o que se traduziria em prestígio pessoal e melhorias no contra-cheque,enquanto os outros se expunham nas velhas lutas,infelizmente … as mesmas até hoje!A LUTA CONTINUA mas por quê a passos de cágado e desgaste do perfil da classe?Confesso que tenho pena de tanta alienação!

  26. Amei o filme sou docente e vejo todos esses descasso na educação de um modo geral .Acredito que o educador fosse mais valorizado,pois e ele que forma todos os cidadoes ou cidadaes

  27. Keila Alves de Souza, já faz tempo seu comentário, nãos ei se vai voltar nessa postagem… mas quero te dizer que sim, você consegue emocionar com sua poesia e consegue fazer alguém chorar… Não sei em que momento vc se encontra agora, mas gostaria que entrasse em contato, de conversar com você.
    email: [email protected]

  28. adorei o filme ,pois mostra a realidade na nossa educação,a boa qualidade do ensino privado e como sempre se o aluno do de escola púlblica que se esforcem pra obter um conhecimento de qualidade…..

  29. Não conheço o filme estou vendo o texto e assim tomei conhecimento. Tenho que assistir imediatamente.

  30. Sou professora de escola pública, e tenho contato com escolas públicas de boa qualidade (federais, uma ou outra municipal). Também conheço escolas particulares de qualidade duvidosa, mesmo que isso seja uma exceção. Gostei muito da professora da escola pública em SP, a dos fanzines, dava para ver que ela estava conseguindo fazer um trabalho diferenciado com os alunos, ao mesmo tempo que era um exemplo típico do quanto sofre o professor ao se envolver de verdade com seus alunos. Psiquitra uma vez por mês, faltas, desmotivação…No filme, senti a ausência do relato de familiares também. Na minha experiência, sei que quanto mais os pais participam da escola, maior é a chance dessa escola ter um bom ambiente e um bom ensino, os professores e a equipe pedagógica se sentem apoiados, pode-se decidir juntos o destino da verba, como lidar com os problemas específicos daquela unidade de ensino e da própria comunidade. Outra coisa interessante do filme foi o papel dos projetos extra-classe, tanto o núcleo de cultura quanto o prõprio fanzine já mencionado, oferecendo um ambiente muito mais pacífico entre professores e alunos. Todas as aulas deveria ser neste clima, e não naquele ambiente do século XVIII agravado pelos problemas socias, pela corrupção, pelo descaso das autoridades e da sociedade como um todo. Outra lição do filme é que existem sentimentos universais, como a tristeza que vira poesia para uns, filosofia para outros. Essa busca de respostas, de sentido para a vida. E isso independe do dinheiro, da escola ou do lugar onde se vive. Tomara que faça m outros filmes que mostrem mais ainda a realidade, mas quem sabe, propondo mais soluções, compartilhando um sentimento mais otimista para que nós, que estamos vivendo isso na pele, não desistamos da nossa profissão, que é uma das mais importantes que existem no mundo.

  31. Prezada Bárbara, fiquei muito feliz com os teus comentários. Acabou apontando coisas que faltam no filme e coisas que eu também não tinha mencionado. O que você aponta realmente é muito importante. Fico feliz que o debate esteja sendo feito. Esse filme tem servido de base para discussão pedagógica entre os professores, é uma espécie de manifesto novo, disparador de discussões amplas. Aí vemos o poder do cinema e da arte para se pensar a educação.

    Uma coisa que eu pensei mas não coloquei na altura foi o fato de o diretor olhar a escola basicamente pelos personagens femininos. É um filme que mostra, também, o quanto a tristeza da educação atinge as mulheres, maioria nas escolas hoje. A escola pode trazer para elas os sonhos, mas também pode significar um encontro mais rápido com a barbárie. Um grande abraço!

  32. OLA… MEU PROFESSOR DE SOCIOLOGIA PEDIU PARA ASSISTIRMOS O FILME,EU ASSISTI E LI O SEU DOCUMENTARIO GOSTARIA DE SABER SE PODE ME AJUDAR ,POIS ELE QUER QUE IDENTIFIQUE-MOS NO DOCUMENTARIO QUAL TEORIA ELA LEMBRA ENTRE -EMILE DURKHEIM,LOUIS ALTHUSSER,ESTABLET,BOUDELOT,PIERRE BOURDIEU E PASSERON,SE PUDER ME AJUDAR AGRADEÇO,POIS NÃO CONSEGUI IDENTIFICAR.

  33. gostei do texto e da crítica ao documentário…mas talvez a intenção do diretor tenha sido mostrar os extremos da educação no Brasil, onde a grande maioria está no extremo mais vulnerável…a classe média ,mantêm seus filhos em escolas particulares não tão boas ou mesmo nas escolas técnicas federais e estaduais, algumas excelentes, mas com poucas vagas disponíveis…mas acredito que diretor ou a equipe do filme quis somente mostrar a realidade, e deixar a reflexão para a sociedade. A conclusão que cheguei é que a meritocracia é balela.

  34. Sou graduando do curso de Licenciatura em Química pelo Instituto Federal Baiano e gostaria de agradecer ao autor do resumo pelo norteamento a respeito do assunto, pois através dele pude terminar, com exito, o meu raciocínio sobre a Educação no Brasil e sua realidade. Obrigado pelo belo texto.

  35. Eu vejo que muitos enxergam a fundo os problemas e esses seriam os que poderiam ajudar mais nas resoluções dos mesmo, entretanto eles se dedicam apenas a aponta-los. A diferença do modo de vida entre as classes sempre vai existir queiramos ou não, porque só funciona se for assim, a não ser que aqui se torne o paraiso, porém até no paraiso alguém vai ter que servir o cafezinho e dai vai começar o mesmo blablabla. Os que podem pagar pra comer uma picanha não poderiam ser os mesmos que cuidam do boi, pois ele iria cobrar muito caro por esse serviço ficando inviável a produção da picanha. Ninguém quer ser um varredor de rua, ninguém quer lavar banheiros e outras outras tantas profissões, porém alguém tem que fazer esses serviços. O que esperamos é o que as diferenças quanto a valorização diminua, porém, certamente isso vai gerar outras discussões.

  36. A mudança deste paradigma perpassa por uma modificação estrutural em toda a metodologia falida do MEC, nenhuma mudança paliativa dará certo para resolver um problema que há décadas possui raízes profundas. Assistido em 2023, na aula de Psicologia da Educação.

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