Nesta sexta-feira, 25 de Fevereiro, teve lugar a maior manifestação desde a queda de Ben Ali: “Ghannouchi demissão! Fora com o Estado de Ben Ali! Fora com os generais, chefes da polícia e da justiça de Ben Ali!”. Por matierevolution.fr
As agências noticiosas acabam de anunciar, neste domingo, 27 de Fevereiro, que o primeiro-ministro interino da Tunísia, Mohammed Ghannouchi acaba de se demitir. Eles conseguiram. Passa Palavra
Várias dezenas de milhar de tunisinos, na sua maior parte estudantes, manifestaram-se na sexta-feira, 25 de Fevereiro, em Túnis, à frente da Kasbah, epicentro da contestação, para exigir o fim do governo de transição dirigido por Mohammed Ghannouchi, noticiam os médias [a mídia] árabes.
A “revolução de jasmim” teve lugar na Tunísia em 14 de Janeiro de 2011, após um mês de manifestações que acabaram por se espalhar a todo o país. O presidente Zine El-Abidine Ben Ali refugiou-se na Arábia Saudita. A presidência provisória foi entregue ao primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi. Desde que foi criado, o governo de transição foi várias vezes remodelado sob pressão do descontentamento popular.
Mais de 100.000 tunisinos, segundo a polícia, exigiram na sexta-feira o fim do governo de transição chefiado por Mohammed Ghannouchi, diante da Kasbah, epicentro da contestação, onde os cortejos de manifestantes continuavam a afluir no princípio da tarde.
Na praça da Kasbah, repleta de gente, agentes da polícia referiram o número de “mais de 100.000 manifestantes”, enquanto helicópteros do exército sobrevoavam a zona, situada no coração da capital tunisina.
Segundo elementos do Crescente Vermelho e manifestantes, “é a maior manifestação desde a queda de Ben Ali”, em 14 de Janeiro.
Respondendo a apelos à mobilização difundidos no Facebook e aproveitando o facto de a sexta-feira ser dia feriado, os tunisinos vieram afirmar que a sua “revolução”, que expulsou do poder o regime de Ben Ali, “não será usurpada”.
Os manifestantes gritam “Ghannouchi, vai-te embora!”, “Basta de encenações!”, “Governo de vergonha!”. Outros exibem faixas onde se pode ler “Ghannouchi, a tua teimosia mostra que escondes a tua má-fé”.
“Revolução até à vitória”, “Avante, combatentes da liberdade”, “Arrancaremos a repressão da nossa terra”, “Ghannouchi, leva os teus cães e vai-te embora”, “Não ao confisco da revolução” – gritavam outros manifestantes que atravessavam a avenida central Habib Bourguiba em direcção à Kasbah. “Estamos hoje aqui para fazer cair o governo”, atira Tibini Mohamed, um estudante de 25 anos.
No fim de Janeiro, o primeiro-ministro deslocou as suas instalações da Kasbah após uma primeira manifestação em que os tunisinos acamparam ali em frente durante quase uma semana. Transferiu então o seu gabinete para o palácio presidencial de Cartago, nos arredores sul de Túnis.
Mohammed Ghannouchi foi o primeiro-ministro de Ben Ali desde 1999 até à sua queda sob a pressão popular em 14 de Janeiro passado. Depois da formação, em 17 de Janeiro, de um governo de união nacional no qual a maioria cessante mantinha a maioria das pastas, milhares de pessoas manifestaram-se todos os dias para conseguirem a sua demissão.
Em 27 de Janeiro, sob pressão da rua, Ghannouchi remodelou o governo de transição, retirando dele os principais caciques do anterior regime.
Depois, foram anunciadas eleições livres para daí a seis meses, mas o poder de transição não fixou a data nem forneceu pormenores sobre o tipo de escrutínio que tenciona convocar.
Todavia, perante a insegurança, somada ao descontentamento social com a ausência de melhorias no quotidiano dos tunisinos desde a queda de Ben Ali, a mobilização da rua não esmorece.
Estudante de direito, Ramzi declara à AFP que os tunisinos “vivem no vazio político”.
Outros manifestantes ostentaram um cartaz com cerca de 20 metros onde se podia ler: “Ficamos aqui até à dissolução do governo”.
Um grande número de jovens envolveram-se na bandeira tunisina, alguns agitam vassouras com cartazes proclamando “Ghannouchi, rua”. Outros manifestantes gritam “RCD, rua” – o Rassemblement Constitutionnel Démocratique, poderoso partido de Ben Ali, suspenso a 6 de Fevereiro na previsão de ser dissolvido.
Quatro mil tunisinos tinham-se já manifestado no domingo diante da Kasbah para exigir, além da demissão do governo, a eleição de uma assembleia constituinte e a criação de um sistema parlamentar.
Esta manifestação, como as precedentes, transformou-se num sit-in à frente da Kasbah, com jovens ali acampados durante o dia, e desde há algum tempo também de noite.
No dizer de testemunhas, a manifestação desta sexta-feira, organizada no âmbito de um “dia da cólera”, é muito possivelmente a maior desde a queda de Ben Ali.
Helicópteros do exército sobrevoaram o cortejo dos manifestantes, enquanto as forças de segurança observavam a multidão que desfilou apesar da proibição de manifestar em vigor desde a queda de Ben Ali.
As forças de segurança dispararam para o ar por várias vezes, mas os manifestantes não dispersaram. Não há notícia de feridos.
Os manifestantes, alguns deles ostentando retratos de Ghannouchi em sobreposição com a imagem de Ben Ali, gritavam: “Governo de vergonha!” e “Ghannouchi demissão!”. O clamor da multidão ouvia-se a quilómetros de distância.
“A nossa única reivindicação é a queda deste governo”, declarou Alia Soussi, uma estudante de 22 anos no meio do cortejo. “Esperamos que Ghannouchi nos ouça”.
O governo de transição, encarregado de organizar eleições para designar o sucessor de Ben Ali (que fugiu para Djaddah, na Arábia Saudita), já foi várias vezes remodelado na sequência de manifestações, mas Ghannouchi manteve-se em funções.
Um pouco mais cedo, os manifestantes desta sexta-feira haviam protestado contra a sangrenta repressão na Líbia, onde os revoltosos se levantaram inspirados pelas recentes revoluções coroadas de êxito dos dois países vizinhos, a Tunísia e o Egipto.
Artigo original, em francês aqui. Tradução do Passa Palavra.