O MST comemora 25 anos de luta. Em entrevista coletiva e em carta recém-publicada o movimento reafirma seu compromisso com a Reforma Agrária e fala de suas novas perspectivas. Por Passa Palavra

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), uma das mais importantes organizações sociais da América Latina e do mundo, completou 25 anos em janeiro. Organizado em 24 estados, com 370 mil famílias assentadas e 130 mil acampadas (o que corresponde a mais de um milhão de pessoas), ele reafirma o seu compromisso de fundação pela Reforma Agrária e pela construção de um projeto popular para o Brasil — país que ocupa o segundo lugar em concentração de terra no mundo, em que 1,6% de proprietários controlam 46,78% das terras agricultáveis.MST

No entanto, conforme entrevista coletiva de imprensa concedida na cidade de São Paulo pela comemoração de seu vigésimo quinto aniversário[1], para os dirigentes do MST atualmente estamos num ciclo de descenso da luta social, pois impera a hegemonia do Estado brasileiro com o grande capital e os grandes meios de comunicação, o que impede o conhecimento dos movimentos de contestação, e há também uma forte fragmentação das lutas de esquerda.

Esta conjuntura, aliada à crise do sistema econômico, fez com que o MST percebesse, neste novo momento histórico, uma tendência a se unificar à luta dos trabalhadores, isto é, entre sem-terras, operários, estudantes, camponeses e a população de forma geral.

Os novos inimigos a enfrentar – como o capital transnacional transvertido em agronegócio[2] – exigiram do MST novas construções estratégicas. A bandeira mesma de luta pela terra não se restringe a um processo econômico de produção e acesso a políticas públicas, ou seja, ela não é meramente a posse ou ação isolada. Na visão do movimento, a Reforma Agrária deve ser entendida como um conjunto de políticas que garanta o desenvolvimento no campo e na cidade, uma transformação das estruturas da sociedade brasileira que concerne aos trabalhadores rurais e urbanos, pois é uma maneira rápida e barata de descentralizar a terra, preservar o meio-ambiente, gerar emprego, renda e produção de alimentos saudáveis. Visto que 84% da população se encontram nas cidades e apenas 16% no campo, se faz fundamental o alargamento da política de alianças do movimento, inclusive internacionais, com vistas a discussão de um novo paradigma civilizatório e social.

Notas

[1] Coletiva ocorrida em 19/01/2009, com os dirigentes João Paulo Rodrigues e Marina Santos, que contou também com a presença do professor e geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira. Trechos da entrevista podem ser acessados em: www.mst.org.br/mst/pagina.php?cd=6239
[2] Segundo o movimento, 30 empresas transnacionais controlam a quase totalidade da produção de sementes, insumos e terras, industrialização, distribuição e comercialização de produtos agrícolas. Essas empresas no Brasil pautam-se no monocultivo, notadamente a cana-de-açúcar, eucalipto e soja, que corresponde a 80% da produção nacional, gerando desemprego e alta nos custos alimentares.

Abaixo, reproduzimos a carta aberta que o movimento publicou na ocasião de seu 25º aniversário:

CARTA DO MST

13º Encontro Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

1. Nós, mais de 1.500 trabalhadores rurais sem terra, vindos de todas as regiões do Brasil, e delegações internacionais da América Latina, Europa e Ásia, nos reunimos de 20 a 24 de janeiro de 2009 em Sarandi, no Rio Grande do Sul, para comemorar os 25 anos de lutas do MST. Avaliamos, também, nossa história e reafirmamos o compromisso com a luta pela Reforma Agrária e pelas mudanças necessárias ao nosso país.

2. Festejamos as conquistas do nosso povo ao longo desses anos, quando milhares de famílias tiveram acesso à terra; milhões de hectares foram recuperados do latifúndio; centenas de escolas foram construídas e, acima tudo, milhões de explorados do campo recuperaram a dignidade, construíram uma nova consciência e hoje caminham com altivez.

3. Reverenciamos nossos mártires que caíram nessa trajetória, abatidos pelo capital. E lembramos dos líderes do povo brasileiro que já partiram, mas deixaram um legado de coerência e exemplo de luta.5t0congresso-circulo1

4. Vimos como o capital, que hoje consolida num mesmo bloco as empresas industriais, comerciais e financeiras, pretende controlar nossa agricultura, nossas sementes, nossa água, a energia e a biodiversidade.

5. Nos comprometemos em garantir à terra sua verdadeira função social; cuidar das sementes e produzir alimentos sadios, de modo a proteger a saúde humana, integrando homens e mulheres a um meio-ambiente saudável e adequado a uma qualidade de vida cada vez melhor.

6. Reafirmamos nossa disposição de continuar a luta, em aliança com todos os movimentos e organizações dos trabalhadores e do povo, contra o latifúndio, o agronegócio, o capital, a dominação do Estado burguês e o imperialismo.

7. Defendemos a Reforma Agrária como uma necessidade popular, que valoriza o trabalho, a agro-ecologia, a cooperação agrícola, a agroindústria sob controle dos trabalhadores, a educação e a cultura, medidas imprescindíveis para a conquista da igualdade e da solidariedade entre os seres humanos.

8. Estamos convencidos de que somente a luta dos trabalhadores, e do povo organizado, pode nos levar às mudanças econômicas, sociais e políticas indispensáveis à efetiva emancipação dos explorados e oprimidos.

9. Reafirmamos a solidariedade internacional e o direito dos povos à soberania e à autodeterminação. Por isto, manifestamos nosso apoio a todos os que resistem e lutam contra as intervenções imperialistas, como hoje faz o povo afegão, cubano, haitiano, iraquiano e palestino.

10. Cientes de nossas tarefas e dos enormes desafios que se colocam, reafirmamos a necessidade de construir alianças com as organizações e os movimentos populares e políticos em torno de bandeiras comuns, para que, unidos e solidários, possamos construir um projeto popular, capaz de romper com a dependência e subordinação interna e externa ao capital, e de construir uma sociedade igualitária e livre – uma sociedade socialista.

Sarandi, 24 de janeiro de 2009

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