Por Passa Palavra
Os espaços estudantis da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) vêm mais uma vez sendo alvo de ataques por parte da diretoria da faculdade.
As medidas opressoras tomadas pela administração universitária já estavam sendo intensificadas desde o fim da Ocupação da Reitoria – movimento protagonizado por estudantes e funcionários que durou 51 dias, atraindo olhares de todo o país no 1º semestre de 2007. Agora, porém, a retaliação da burocracia acadêmica ocorre através do reavivamento de um antigo debate: a legalização dos tradicionais espaços de organização dos estudantes. Isso, na prática, significa expropriar os poucos locais autônomos que foram conquistados por meio de incansáveis lutas e ainda são, apesar da dificuldade, mantidos e geridos pela estudantada.
Os ambientes em disputa são áreas precárias situadas no interior de cada prédio das três faculdades (história/geografia, ciências sociais/filosofia e letras), os quais abrigam as salas dos respectivos centros acadêmicos, do estúdio da rádio livre dos estudantes e da atlética, além dos lugares de convivência habitualmente utilizados para reuniões, debates, projeção de vídeos, oficinas, festas e outras confraternizações.
É importante lembrar que estes espaços são ocupados também por uma série de trabalhadores informais, como os livreiros, as pessoas que vendem todo tipo de lanche, e inclusive pelos funcionários precarizados que labutam diariamente em salas alugadas pelas empresas de fotocopiadoras, sem o que a dinâmica de estudos da faculdade se tornaria impossível.
O gesto político da diretoria intenciona, claramente, desarticular a mobilização dos discentes, retirando-lhes os espaços, e impor, por bem ou por mal, o modelo de universidade que desejam: um “templo imaculado” do saber, exclusivo para a produção intelectual, de preferência, voltada para o mercado. E aos “ambulantes”, que tentam de alguma forma garantir sua sobrevivência enquanto desfrutam um pouco da sociabilidade típica do local, deixa sinalizado que a universidade, definitivamente, não é o seu lugar.
Num episódio emblemático para os alunos da faculdade, o ex-diretor da FFLCH, Gabriel Cohn, durante as férias passadas, fechou – primeiro com grades, depois com concreto – o local conhecido como “Porão”. Este era por excelência o abrigo das festas que se estendiam pelo gramado [relva] entre os prédios das humanidades, ponto de encontro de todos os seus estudantes. Para os espaços que ainda restaram, sua gestão reservava projetos admiráveis, como a construção de um café decente para o seu seleto público.
Como se não bastasse a perseguição latente a diversos alunos e trabalhadores que fizeram parte do grande movimento há dois anos, outras medidas violentas foram empreendidas pela administração, entre elas: os cortes de bolsas e a não-renovação de contratos de estágio, a demissão por “justa-causa” do funcionário Brandão (um dos dirigentes do Sintusp – Sindicato dos Trabalhadores da USP), além da aplicação de multas – exorbitantes – ao sindicato e ao DCE (Diretório Central dos Estudantes), por prejuízos, segundo ela, gerados pela ocupação.
Em relação à tomada dos espaços estudantis, os efeitos da política autoritária da diretoria já podem se fazer sentir. Foi, por exemplo, reativada a Comissão de Segurança e Qualidade de Vida, órgão extremamente conservador, de que uma das atribuições principais já foi a proibição de festas e distribuição de panfletos nas dependências da faculdade.
Outra medida inadmissível foi a restrição de uso do “Aquário”, espaço estudantil do prédio de história e geografia. O serviço terceirizado de segurança está autorizado a trancar as portas do espaço após as 23h e a não liberá-las durante os finais de semana. Se esta perda de autonomia ainda não foi reconhecida legalmente, por que é que os alunos e demais freqüentadores não têm mais o seu acesso garantido?
Os discentes tentam se organizar – a partir das atividades de calourada [1] – para resistirem aos sucessivos ataques de que têm sido vítimas. De início, planejam re-ocupar produtivamente os espaços em disputa e solidarizarem-se à luta pela readmissão do engajado companheiro Brandão. No entanto, o desafio antes colocado é o de superar as picuinhas e o faccionismo que permeiam o movimento estudantil e tanto o dividem e o enfraquecem internamente.
[1] No contexto brasileiro, é como são chamadas as festas e confraternizações que os alunos veteranos organizam para receber os recém-ingressantes na Universidade.
No interior da Unesp as práticas de repressão às lutas estudantís foram sempre acompanhadas, quando não antecipadas, por processos de cerceamento da vida estudantil, pelo fechamento ou tomada de espaços, pela desarticulação de locais de convivência, proibição de festas, limitações ou proibições de uso de instrumentos da universidade. Vivido isso, percebeu-se que as aparentemente apolíticas manifestações culturais abriam um terreno fértil para a sociabilidade necessária à luta estudantil.
Concordo na formulação. Discordo em alguns pontos…
A referida comissão de qualidade de vida foi criada pela profª Ina Camargo Costa em 1996. Ela é a única comissão paritária de toda a universidade (2 funcionários, 2 professores, 2 estudantes) e trabalha em acordos públicos entre as 3 categorias quanto ao uso dos espaços… Ela foi desativada pelo diretor Gabriel Cohn para fazer aprovar seus interesses. “Proibição de festas e distribuição de panfletos nas dependências da faculdade” são decisões tomadas pela prefeitura do campus, órgão constituído da reitoria e da direção de todas as unidades da USP.
Agora que eles estão tirando descaradamente os espaços estão e vão continuar…