A Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória, do MST, desde 1993, põe em prática um modelo de produção baseado no coletivismo e na diversificação de produtos.

copavi-21A Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (COPAVI), localizada em Paranacity, noroeste do Estado do Paraná (Brasil), foi fundada em 10 de junho de 1993, mas sua história começara desde janeiro do mesmo ano, quando diversas famílias ocuparam cerca de 256 hectares e transformaram uma área agreste de monocultivo de cana-de-açúcar, de um só proprietário, numa área agroindustrial com diversidade produtiva que garante alternativas e condições dignas de vida para mais de 70 pessoas.

A COPAVI, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), figura entre os dez assentamentos mais bem sucedidos do estado do Paraná. Pela sua forma coletiva de propriedade, produção e gestão, a direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) o classifica como modelo[1]. Ela já se tornou um símbolo da luta dos trabalhadores sem-terra no país.

A cooperativa, sua infra-estrutura, as casas e o produto das vendas não são  propriedade de ninguém individualmente, pois seus integrantes são filiados à COPAVI; sendo assim, ela e seus bens são de posse coletiva dos membros.  copavi2Mas não apenas a terra é trabalhada em conjunto, como inclusive todos tomam o café da manhã [pequeno almoço] e almoçam juntos no refeitório do assentamento (apenas o jantar fica por conta de cada família). Inclusive quanto à remuneração, predominou por longo tempo o cálculo na hora/trabalho em que todos recebiam igualmente pelo tempo de trabalho, independente da função exercida.

Recentemente os assentados estão a experimentar uma metodologia trazida por uma ONG da Espanha, em que se atribuem diversas notas para atividades diferentes, como força física, intelectual etc.; este sistema foi testado por 3 meses e prorrogado por mais 3 meses para avaliação de todos os membros.

Depois dos barracos de lona preta dos anos iniciais de acampamento e da limpeza de toda a área, o assentamento possui agora casas, padaria, escritório, unidade de beneficiamento e destilaria de cana-de-açúcar, de laticínios, estábulo, ordenha, barracões, abatedouro entre outras infra-estruturas.

De maneira distinta do agronegócio, que se funda no monocultivo de grandes extensões, na destruição do meio ambiente e da saúde humana através do uso intensivo de agrotóxicos e produtos químicos e na superexploração dos trabalhadores e trabalhadoras, na COPAVI procura-se outro modelo de produção agrícola, baseado em sistemas agroecológicos, isto é, que alie respeito ao meio ambiente com desenvolvimento econômico e tecnológico, com distribuição de renda, para a melhora na qualidade de vida dos assentados e da população de seu entorno.

De fato, os alimentos produzidos na COPAVI – do leite e iogurte às hortaliças, cachaça e açúcar-mascavo – estão isentos de agrotóxicos e hormônios [hormonas] químicos, sendo comercializados por um preço abaixo do praticado no mercado, apesar de paradoxalmente a cooperativa possuir o quase monopólio do leite na região.  imag-copavi3Nas palavras de membros da COPAVI, isto se deve a eles produzirem alimentos não visando somente, nem prioritariamente, a sua mercantilização, mas a possibilidade de que os trabalhadores e suas famílias tenham acesso a um alimento de qualidade, saudável, a preço acessível.

A COPAVI não parece se constituir como uma ilha de «utopia» num oceano social no qual impera a propriedade privada, o lucro, a concorrência e a mercantilização de todos os valores. Não obstante suas contradições, dilemas e limites, seu modelo de agroindústrias cooperadas e familiares é entendido pelo MST como alternativa viável para a concretização da reforma agrária no Brasil, a geração de empregos no campo e a produção de alimentos em quantidade, qualidade e preço baixo para toda a população[2]. Passa Palavra

[1] Não é em todos os assentamentos do MST que existe a posse coletiva da terra; em sua maioria predomina a propriedade privada. Além disso, deve-se ter em conta que a cooperativa também funciona nos moldes de uma empresa – ainda que gerida coletivamente –, isto é, com a necessidade de dar lucros e ser auto-sustentada. Contudo, ao conversar com os cooperados, fica nítido que os valores e princípios que os guiam não são o da competição e o acúmulo de lucros.

[2] Para ler mais artigos sobre a COPAVI-MST, consultar a matéria [o artigo] de Luiz Maklouf Carvalho na Revista Piauí:
http://www.revistapiaui.com.br/edicao_21/artigo_648/O_modelo_Vitoria.aspx
Para relato e reflexão do prof. de Ciência Política Antônio Ozaí sobre uma visita à COPAVI-MST na Flor da Palavra:
http://antonio-ozai.blogspot.com/2008/11/cooperativa-de-produo-agropecuria.html
E um editorial do Centro de Mídia Independente sobre a Flor da Palavra ocorrida na COPAVI-MST:
http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2008/11/433400.shtml

1 COMENTÁRIO

  1. Sao mais de 15 anos,levando uma jornada em um pequeno pedasso de terra,onde pode ser plantada, pequenas sementes,para ter bons frutos,portanto,o coletivismo,a produção,o desenvolvimento,esses trez fatores representam pela qualidade de seu trabalho,hoje,é isso que o brasil quer, uma forma adequada e rapida para seguir em frente.

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