Em contexto de cortes orçamentais do governo de Berlusconi, os trabalhadores manuais e administrativos da célebre ópera de Milão fazem escândalo na gala de abertura da temporada. Por Passa Palavra

scala_1Os músicos e cantores do Teatro Alla Scala, a célebre ópera de Milão, têm desenvolvido uma luta que já se arrasta desde 2005 por melhores salários, contratos e melhores horários de trabalho. Em 2005 os seus protestos acabaram por levar à demissão do então director musical, o conhecido maestro Riccardo Muti. Na base das reivindicações está o aumento de cerca de 2/3 do número de representações, que entre 2001 e 2007 passaram de 164 para 273.

Este ano, a abertura da temporada de ópera ficou mais ensombrada ainda. Por um lado, o anúncio da redução das verbas atribuídas à cultura pelo governo de Silvio Berlusconi − que cortou 10 milhões de euros do subsídio a conceder ao Alla Scala em 2009, segundo um plano que pretende cortar 922 milhões de euros nos subsídios estatais para a cultura durante os próximos três anos − enfureceu melómanos e apaixonados pela ópera. Por outro lado, o pessoal dos bastidores envolveu-se em luta aberta contra os privilégios de cantores e músicos.

Na noite de gala de abertura da temporada, vestidos de vampiros, o pessoal emergiu no alto das bancadas abanando notas de dólares falsas para músicos e cantores que actuavam no palco, em protesto contra as suas “excessivas scala_4reivindicações de salários”. Como disse um dos representantes destes trabalhadores, Giancarlo Albori: “Os artistas têm um problema de ego […] se o pessoal dos bastidores não fizesse o seu trabalho, este lugar teria de parar.”

No meio dos protestos das elites italianas contra o governo pelos cortes dos subsídios concedidos à cultura, impôs-se em toda a sua crueza a luta de classes, o protesto dos técnicos contra as prima donnas ou dos electricistas contra os violoncelistas… Enquanto os músicos e cantores ameaçavam com uma longa greve, electricistas, vendedores de bilhetes e trabalhadores de secretaria lutavam furiosamente contra os privilégios das vedetas do palco.

Sandro Malatesta, do FIALS (Federazione Italiana Autonoma Lavoratori Sanità), sindicato que apoia os cantores, disse que eles mereciam mais. “A qualidade do Alla Scala começa connosco”. “Eu tinha medo de encontrar o pessoal nos corredores”, desabafou o soprano Barbara Vignudelli.

Por seu lado, um violista que tomou o partido dos empregados de bastidores e tocou num concerto-protesto em apoio da luta dos “vampiros” declarou que a atmosfera se tinha tornado incrivelmente quente no fosso da orquestra por ocasião dos ensaios. “Durante as pausas havia discussões muito animadas”, disse ele.

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