Por Passa Palavra
Foi realizado, no dia 14 de fevereiro, um debate seguido de sarau em apoio a refugiados palestinos, na subsede da APEOESP (sindicato dos professores) de Mogi das Cruzes, organizado por coletivos (Coletivo Trinca), sindicalistas, movimentos sociais e o MOPAT (Movimento Palestina para Todos).
O Sarau contou com uma roda de conversa com vários refugiados palestinos, onde se debateu a difícil situação do povo palestino e se ressaltou que o problema não é étnico nem religioso, mas um problema político, que envolve a questão do imperialismo como eixo fundamental. Os refugiados ressaltaram sua tolerância religiosa e étnica.
Após o debate, houve apresentação de poesia, música e dança palestinas, bem como foi servido o tradicional fallafel (uma espécie de sanduíche tradicional dos palestinos), preparado no local, e também havia Arak (bebida tradicional). Músicos brasileiros e artistas também apresentaram-se em solidariedade aos palestinos – grupos de maracatu, poetas, rappers, banda de soul, blues e jazz, etc. Meninos palestinos vendiam lenços tradicionais (kufiah ou hatta), que eram usados por brasileiros em solidariedade ao povo palestino.
O evento teve como objetivo expor à sociedade e aos movimentos sociais a questão palestina, os horrores da guerra, bem como alertar os movimentos sociais e trabalhadores sobre a necessidade de se apoiar os refugiados no Brasil.
Estão atualmente no Brasil 117 refugiados palestinos, a maioria muçulmanos sunitas. Boa parte estava refugiada no Iraque, mas de lá saíram quando da queda de Saddam Hussein e da ocupação americana, devido às perseguições sofridas, passando por momentos extremamente difíceis, chegando a morar no deserto – num campo de refugiados da Jordânia. No Brasil, cerca de metade dos refugiados está em Mogi das Cruzes, e outros em Santa Catarina.
Os refugiados foram recebidos com pompa por parte das autoridades e meios de comunicação mas em seguida, permaneceram numa situação de descaso [abandono]. Estão tendo dificuldades de adaptação, de aprendizado da língua portuguesa, e até o presente momento têm grandes dificuldades em encontrar emprego, pagar aluguéis de casas e tirar [obter] documentos. Algumas famílias passam dificuldades econômicas sérias, de tal forma que vários refugiados já cogitaram sair do Brasil. Vários estão acampados em Brasília, na frente da sede da ACNUR (conselho da ONU para refugiados), à espera de ser ouvidos.
Ainda, os refugiados foram dispersos em bairros diferentes e distantes, o que dificulta a comunicação entre eles e a união de sua comunidade. A cidade de Mogi das Cruzes, embora possua uma comunidade islâmica e uma mesquita, é em geral uma cidade extremamente reacionária, o que dificulta ainda mais a vida dos refugiados. A mídia local, extremamente conservadora, poucas vezes se referiu a eles, ainda falando mal dos mesmos (fez pompa ao recebê-los, enaltecendo os braços “acolhedores” da cidade e do poder público, e depois passou a ignorá-los ou referir-se depreciativamente a eles). Na maior parte do tempo, a mídia faz absoluto silêncio, não divulgando suas dificuldades, enquanto estas mesmas saem em matérias na Folha de São Paulo e outros jornais de fora.
As elites da cidade (tucanos [Partido da Social Democracia Brasileira]e DEM [Democratas, antigo Partido da Frente Liberal]) criaram uma imagem de cidade do progresso, aberta e moderna (e que tem uma enorme colônia japonesa), fazem festas e publicações de revistas ressaltando este suposto caráter “multicultural” e “pluralista” da cidade, mas ao mesmo tempo ajudaram a criar uma barreira de isolamento onde não se sabe dos palestinos refugiados nem do que lhes acontece – foi necessário que sua situação difícil fosse denunciada na Folha de São Paulo, para que ativistas de movimentos sociais locais organizassem um evento em apoio aos mesmos. Os mesmos têm recebido mais apoio de vizinhos e da população do que das autoridades.
Os palestinos dão demonstrações abertas de que gostam do Brasil e dos brasileiros. Muitos gostam de futebol e se tornaram corinthianos, especialmente as crianças. Esperam poder trabalhar e reconstruir suas vidas aqui. Entre eles há artistas, um poeta, um professor, um engenheiro agrônomo e até um jogador de futebol, que dançou no evento. Houve intensa alegria no evento, um sentimento de solidariedade de classe. Cabe ressaltar que o evento foi auto-organizado de forma coletiva e com uma rica colaboração espontânea de inúmeras pessoas, sindicalistas, artistas, militantes de movimentos sociais, etc. Houve exposição de fotos da fotógrafa inglesa Jennifer Balcombe, que gentilmente cedeu suas fotos para exposição.
De maneira geral, estas famílias necessitam atualmente de empregos ou meios de subsistência (já que é difícil conseguir emprego devido às barreiras da língua).
Neste Sarau estiveram presentes jornalistas da mídia local, que saíram irritados e se recusando a fazer matéria sobre o evento, acusando-o de “ser tendencioso, não ser neutro ou imparcial”. Se irritaram com as instalações feitas por artistas plásticos, que mostravam fotos dos horrores do conflito, e do caráter desigual desta guerra na Faixa de Gaza, onde de um lado há armas e tanques, e do outro, estiligues [fisgas] e pedras. É possível ser “neutro” ou “imparcial” quando ocorre um massacre? Essa mesma mídia é “neutra” ou “imparcial”?
Ainda, no evento, estava fora de cogitação discutir forças políticas ou tendências religiosas dentro do conflito. O foco era denunciar os horrores da guerra e sensibilizar a sociedade sobre a necessidade de se solidarizar com os refugiados. Também é bastante evidente que o evento se organizava sob uma visão laica e socialista do processo. Segundo seus organizadores, assim como não se pode tolerar o massacre que os judeus sofreram nas mãos dos nazistas, não se pode calar diante do massacre que os palestinos sofrem por parte do estado de Israel (lembrando que em Israel existem oposições internas e jovens que são presos por se recusarem a servir o exército por não concordarem com o massacre). Por detrás de tudo, está a ditadura da economia totalitária e dos interesses do Capital, que manipula os racismos e divisões religiosas como forma de dividir a classe trabalhadora e manter o controle sobre ela.
Mais informações:
http://coletivotrinca.wordpress.com/
http://liberdadepalestina.blogspot.com/
http://acampadosnoacnur.blogspot.com/
Nota: Dias depois do Sarau, alguns jovens refugiados palestinos estiveram nas ruas de Mogi com jovens brasileiros, em um cortejo de carnaval – ao som de maracatu e com grandes bonecos, um deles representando Gandhi. O cortejo percorreu as ruas da cidade noite adentro, contando com entre cem e duzentas pessoas, muitos deles integrantes de movimentos sociais e sindicais. Há duas décadas as elites da cidade baniram o carnaval popular para fora do centro, e pela primeira vez, ocorreu novamente um cortejo no centro, com marcado caráter político. Um sentimento de alegria tomou conta de tod@s, por ter a presença dos jovens refugiados palestinos no cortejo. Cantaram-se palavras de ordem ao ritmo do maracatu, em solidariedade ao povo palestino.
Um poeta da cidade, Otto, fez uma poesia em homenagem aos refugiados:
Aos refugiados
Não tenha medo
O pior já passou
Sei que as coisas andam difíceis
Para os que ficaram
Tua dor também é nossa dor
A terra é de quem trabalha
Toma o teu lugar, faz a tua casa
Planta o teu sustento, come o teu pão
A nossa terra deve ser de todos
E também é sua
Somos todos iguais sob o firmamento
E sobre a terra
Aqui também temos nossos problemas
Ricos e pobres,
Estado de Direito para uns
Estado de Sítio para os outros
Quem trabalha para quem?
No fim, somos todos vítimas
Do dinheiro que ganhou vida própria
Das coisas que dominam os homens
Dos homens que viraram coisas
Dos senhores loucos hipnotizados por isso
Que nos governam e conduzem tudo para o buraco
A opressão e a exploração
Estão em toda parte
Mas neste mundo,
Nada é natural,
Tudo é histórico
Quem faz o mundo são os homens
E no final,
Não há tirania que seja eterna
Não há asfalto grosso que não rache
Abrindo espaço para a flor germinar
A flor vermelha de nosso sangue
A flor que é nosso punho levantado
Que é a vida e o amor universal
Que é a luta e a dignidade
Que é nosso grito de verdade
Que é a emancipação da humanidade
(Otto João Leite)
Ola!!
Boa tarde!!
É isso ai, o povo palestino é um povo sofrido, porém muito amável, o lindo de tudo é que eles são muito receptivos e amam a família.
Ainda continuam no anonimato os palestinos em Mogi e passando sérias dificuldades !