A Moldávia é um país com uma longa tradição de casamentos mistos e identidades híbridas. Mas, paradoxalmente, a sua paleta política possui uma coloração bem acentuada pelos partidos de nacionalismo extremo. Por Natalia Sineaeva-Pankowska (tradução de Uiran Gebara da Silva)
A Moldávia é conhecida no mundo como um dos mais pobres estados ex-soviéticos, como a Armênia e a Geórgia. É também um dos países mais multiculturais e multilingüísticos, com uma longa tradição de casamentos mistos e identidades híbridas. Segundo o último censo, conduzido em 2004, quase um quarto da população moldava é composta por minorias étnicas, incluindo os gagauz, ucranianos, russos, búlgaros, judeus e ciganos. Mas paradoxalmente, a paleta política possui uma coloração bem acentuada pelos partidos de nacionalismo extremo.
Na última eleição do parlamento, ocorrida em 5 de abril, o Partido Comunista, no governo, conseguiu metade dos votos. Os outros três partidos que ultrapassaram a fronteira dos 6 por cento, com coletivos 35 por cento dos votos, todos, possuem uma conotação nacionalista. O termo “nacionalista” no sentido moldavo significa uma condenação contra as tradições das minorias e a unificação com a Romênia, baseada em ligações étnicas e lingüísticas, dominância da identidade romena sobre a identidade multi-étnica moldava e a afirmação da etnicamente orientada “História dos Romenos”. É esta interpretação da história que tem sido ensinada nas escolas desde que a Moldávia se tornou independente, em 1991.
Enquanto tentam apresentar à Comunidade Européia uma fachada de oposição democrática ao governo de esquerda, os partidos de direita, ao mesmo tempo, criticam a atual iniciativa do governo comunista de substituir a História dos Romenos nos currículos escolares por uma História da Moldávia, que conta a história das minorias étnicas, incluindo o Holocausto.
Este é apenas um exemplo da tentativa dos extremistas de passar a limpo a história do período em que a Moldávia era controlada pelo governo romeno, durante a II Guerra Mundial. A definição de Holocausto na versão deles fica limitada à “exterminação alemã de judeus e ciganos” e exclui qualquer menção de responsabilidade do Estado romeno pelo genocídio.
Tentativas revisionistas de negar ou distorcer fatos históricos sobre o genocídio de judeus e outras minorias étnicas durante a ocupação romena fascista da Moldávia (1941-1944) servem à concepção política de reunificação com a Romênia. Mesmo embora a ideologia pan-romena tenha sido dominante na educação acadêmica desde 1990, a população moldava se manteve votando em partidos moderados, com a exceção de 7 a 10 por cento rotineiramente dados ao Partido Cristão-Democrático Popular, sob a liderança de Iurie Rosca, que se tornou conhecido na Moldávia e no mundo como o principal propagandista da ideologia pan-romena.
Os dois jornais do partido “Tara” (Terra Natal) e “Flux”, que por muitos anos foram patrocinados pelo governo romeno, têm reputação de apresentarem uma retórica explicitamente antiminorias e xenofóbica. No entanto, parece que agora o partido de Rosca perdeu a sua popularidade entre a população e não participará do próximo parlamento.
Portanto, há uma chance de que outros partidos com ideologias similares ocupem o nicho da extrema-direita no parlamento. É também a primeira vez na qual as forças da extrema-direita tomam parte nas eleições em tal escala. Mesmo que alguns destes partidos tenham sido recém-fundados, eles já desfrutam de algum apoio da população, em parte por explorarem a retórica populista de antipobreza e anticorrupção. Uma de suas promessas é a de dar a cada um de seus votantes a cidadania romena e de manter a “História dos Romenos” no currículo.
Partidos Liberal e Liberal-Democrático
Os dois outros partidos que promovem a ideologia nacionalista pan-romena conseguiram entrar no parlamento, cada um ganhando um pouco mais que 12 por cento dos votos: o Partido Liberal de Mihai Ghimpu e Dorin Chirtoaca e o Partido Liberal-Democrático de Vlad Filat. À primeira vista, os seus programas eleitorais não promovem explicitamente a ideologia pan-romena, diferente de outros partidos como o “Ação Européia”. Contudo, ela aparece em seus discursos e seus antecedentes políticos.
Por exemplo, Ghimpu se tornou notório pela frase: “Gagauz são a úlcera no corpo do povo da Moldávia”. Na verdade, gagauz é uma pequena etnia ortodoxa minoritária de origem turca, que recebeu autonomia na Moldávia, em 1994. Ele também fala muito bem de Íon Antonescu, primeiro ministro da Romênia durante a maior parte da II Guerra Mundial, e é conhecido pelo seu anti-semitismo e por sua simpatia por ideologias fascistas e de extrema-direita.
Os partidos de Gjimpu e Filat têm sido suportados por grandes jornais nacionalistas como “Timpul” e “Jornal de Chesinau”, os quais também são acusados de distorcer a verdade sobre o Holocausto. “Timpul”, por exemplo, publicou um artigo descrevendo como libertadores os pilotos romenos que bombardearam as cidades e vilas moldavas em 22 de junho de 1941. Os jornais também se tornaram plataforma para os revisionistas romenos, tais como Íon Coja e Gheorge Buzatu, um colaborador do partido romeno Maré (o Grande Partido da Romênia) e negador do Holocausto.
Coja, que é professor da Universidade de Bucareste, recebeu um palanque no “Jornal de Chesinau” onde ele afirmava que era uma grande bobagem [asneira] colocar um capítulo tendo como assunto o Holocausto nos novos livros escolares. Estes foram incluídos como parte da iniciativa do governo moldavo.
Ele também reivindicou que, na verdade, os judeus no território foram salvos, pelo qual deveriam estar agradecidos. Coja tem autoridade entre acadêmicos moldavos e agora também entre os políticos do país.
“Onde está você, Antonescu?” exclamou um dos visitantes do blog “unimedia”, uma plataforma de mídia pré-eleitoral não-oficial de vários partidos de direita, incluindo os dois partidos liberais que entraram no parlamento. Antonescu e Zelea Codereanu, fundadores da fascista Guarda de Ferro, um partido que existiu na Moldávia no entre-guerras, são heróis populares entre os blogueiros deste recurso.
Natalia Sineaeva-Pankowska é membro da Helsinki Citizens’ Assembly of Moldova e estudante Ph.D. student da Graduate School for Social Research of the Polish Academy of Sciences. Ela também é membro da organização anti-racismo Never Again. Ela pode ser encontrada no seguinte endereço: [email protected].
Eis um artigo que suscitará talvez reflexões úteis, sobretudo nos dias de hoje, quando boa parte da esquerda se deixa ludibriar pelos mais variados nacionalismos. Mas o próprio interesse do artigo leva-me a assinalar uma imprecisão.
Na Roménia, no período entre as guerras mundiais, existiram dois fascismos concorrentes, que se digladiaram com a maior ferocidade até quase se destruírem um ao outro. De um lado havia o fascismo místico, socialmente radical e obsessivamente anti-semita, que teve em Codreanu a figura mais expressiva. Do outro lado havia o fascismo socialmente conservador encabeçado pelo rei Carol II e, depois da sua abdicação, pelo general Ion Antonescu.
Corneliu Zelea Codreanu fundou em 1927 o partido fascista Legião do Arcanjo São Miguel, complementado a partir de 1930 por uma organização de massas, a Guarda de Ferro. Depois de se ter apoderado do trono em 1930, Carol II aliou-se à Legião, mas começou a temer a popularidade crescente que ela estava a adquirir e em Abril de 1938 mandou prender Codreanu e muitos dos seus companheiros políticos, que alguns meses depois foram assassinados na prisão. À frente da Legião e da Guarda de Ferro ficou então Horia Sima, que se lançou numa violenta campanha de terrorismo contra a monarquia. Entretanto, e julgando que o terreno havia ficado livre na extrema-direita, o rei Carol criou uma organização fascista própria, a Frente do Renascimento Nacional, instituída como partido único. Começada a guerra, perante as pressões do Terceiro Reich e as ameaças dos países vizinhos, as duas facções do fascismo romeno uniram-se em 1940 num novo partido único, o Partido da Nação. Mas a aliança foi de curta duração, e em Setembro de 1940 Horia Sima e os seus seguidores desencadearam uma insurreição, que triunfou na província e fracassou na capital. Dependente do apoio político do exército, Carol II abdicou e o governo foi assumido, ainda em Setembro, pelo general Ion Antonescu, que outrora estivera próximo de Codreanu e já fora duas vezes ministro. Antonescu estabeleceu o Estado Nacional Legionário, de que ele próprio foi chefe supremo, o cargo de vice-primeiro-ministro foi entregue a Horia Sima e os legionários ficaram em maioria no governo. Esta situação, todavia, em nada contribuiu para atenuar a hostilidade entre os dois ramos do fascismo romeno. Antonescu dava continuidade à orientação socialmente conservadora que fora prosseguida pelo antigo monarca e Horia Sima não abandonara o terrorismo, o anti-semitismo e o radicalismo social que caracterizavam a Legião do Arcanjo São Miguel e a sua Guarda de Ferro. Em Janeiro de 1941 as duas facções entraram em confronto violento e a Legião lançou um movimento insurreccional, derrotado em poucos dias pelo exército, sob o comando de Antonescu. Em Fevereiro de 1941 o Estado Nacional Legionário foi abolido e substituído pelo Estado Nacional e Social, que prossegiu plenamente a orientação fascista conservadora, sem necessidade de conciliações com o radicalismo social dos herdeiros de Codreanu.
Le 14 avril, Le Courrier des Balkans publiait une analyse de Natalia Sineaeva-Pankowska, qui dénonçait les tendances nationalistes et extrémistes présentes dans une partie au moins de cette opposition, qui a provoqué de nombreuses réactions. Notre collaborateur Nicolas Trifon revient sur la polémique et le fond de l’affaire.
Lundi 6 avril, suite à l’annonce de la victoire des communistes en République de Moldavie, des jeunes affluent au centre-ville de Chişinău pour manifester leur hostilité à la direction du pays reconduite. Le lendemain, mardi 7 avril, ils sont nettement plus nombreux et dans la confusion qui s’ensuit le Parlement est incendié, le drapeau roumain est hissé à la place de celui moldave (les couleurs sont les mêmes, seul l’emblème change). Prises au dépourvu, peu habituées à de telles mobilisations collectives, les forces de l’ordre tarderont à reprendre le contrôle de la situation. Ce sera chose faite à partir de mercredi 8 avril : quelques deux cents arrestations sont opérées, sans rapport forcément avec les violences commises la veille, le décès d’un manifestant est confirmé, plusieurs cas de torture sont constatés, en même temps que les dirigeants du pays accusent les partis d’opposition et la Roumanie voisine d’avoir tenté un coup d’État. Ce même mercredi 8 avril, un hebdomadaire ukrainien anglophone met en ligne l’analyse de Natalia Sineaeva-Pankowska.
C’est également ce jour que démarre une campagne d’une rare violence contre « les fascistes, les revanchards et autres irrédentistes moldaves qui, de concert avec les cercles xénophobes et révisionnistes roumains, agissent contre le jeune État démocratique ». Si les arguments sont le plus souvent grotesques, les accusations sont graves. La mise en ligne de la traduction de l’analyse de Natalia Sineaeva-Pankowska par le Courrier des Balkans a lieu le mardi 14 avril, donc justement au plus fort de cette campagne, et de la répression qu’elle cherchait à justifier. Le succès de la traduction française fut éclatant si l’on compte le nombre de sites qui l’ont reprise. L’humanité l’a échappé belle grâce à l’écrasement dans l’œuf de l’insurrection fasciste en Moldavie, devaient penser plus d’un familier des sites dans le genre Forum Unité communiste et Futur rouge international.
Il y a donc deux bonnes raisons pour s’interroger sur le bien-fondé de la publication dans le Courrier d’un tel papier. La première est d’ordre conjoncturel. La mise en ligne de la traduction du papier à cette date a un effet encore plus déplorable que celle de sa publication initiale. En effet, l’article a été rédigé à un moment où l’on ignorait la tournure que les événements allaient prendre. La seconde raison relève du contenu de ce papier. Les faits rapportés sont bien réels et de notoriété publique, mais ce papier aurait pu être écrit des années auparavant. Avec une certaine naïveté, il ne fait qu’énoncer sur le mode défensif, et pas forcément mal intentionné, les arguments avec lesquels la propagande soviétique bombarde les habitants de la République de Moldavie depuis des décennies. Réinvestie depuis l’implosion de l’URSS par les nostalgiques de tous bords de l’Empire et du communisme de type soviétique, cette propagande trouve des oreilles complaisantes parmi des militants antifascistes et d’extrême gauche occidentaux peu au courant de la situation à l’Est.