No Chile, mais de 3 décadas após o golpe de 11 de Setembro de 1973, em plena vigência de um governo “de esquerda”, a violenta repressão aos movimentos populares continua. Por Henrique Dimitri
As imagens de prédios em chamas atacados por aviões no 11 de Setembro já eram bem familiares aos chilenos muito antes de 2001: em 1973 o palácio presidencial de La Moneda foi bombardeado durante o golpe militar que derrubou o governo de Salvador Allende. Os golpistas ofereceram ao então presidente a opção de render-se e ser transportado para o exílio em outro país, mas ele não aceitou e seus momentos finais puderam ser acompanhados ao vivo em discursos pela rádio estatal, como demonstra muito bem a segunda parte do documentário “A Batalha do Chile”. Allende, sabendo que aquele era seu fim mas rechaçando a condição de mártir, declarou que “o processo social não vai desaparecer porque desaparece um dirigente. Poderá demorar-se, poderá prolongar-se, mas não poderá ser detido”. Era o fim de um longo processo de organização popular no Chile, e o início de uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina.
Esta data que deixou cicatrizes tão profundas na história chilena é celebrada hoje de maneira contraditória. Por um lado, são abundantes as cerimônias e homenagens oficiais em referência a Allende e às vítimas do golpe. Por outro, foi instituído um forte aparato repressor por parte do Estado a qualquer manifestação popular – que expressa não somente a saudade do presidente, mas relembra as milhares de vidas e lutas interrompidas naquela data.
É por essa situação contraditória, onde oficialmente se repudia a ditadura de Pinochet, mas ao mesmo tempo dá-se continuidade à repressão, que há anos a data é marcada por confrontos violentos entre policiais e manifestantes, em geral jovens da periferia de Santiago, denominados pela imprensa e pelo governo como “anarco-terroristas”. Neste ano de 2009, para que a ordem fosse mantida, várias precauções foram tomadas pelo governo: as aulas foram suspensas por duas semanas nas principais universidades para evitar o “clima de tensão”, ruas do centro foram fechadas e qualquer manifestação não autorizada previamente (curiosamente não havia nenhuma manifestação não-oficial autorizada) era proibida. Os conflitos haviam começado desde o início do mês de setembro com ataques de coquetéis molotov aos quartéis, e alguns jovens suspeitos foram presos.
Muitos chilenos haviam me advertido para não sair de casa no dia 11, mas curioso para acompanhar as manifestações, fui ao centro de Santiago, e em vez de agitações encontrei uma “paz de cemitério”: apesar de não ser feriado oficial, quase todo o comércio estava fechado, as ruas praticamente desertas e cheias de policias por todos os lados. Imaginei que aquele cenário parecia, paradoxalmente, justamente como devia ser após um golpe militar, com as forças policiais nas ruas e a população escondida em suas casas. Numa das praças centrais, um dos principais jornais do país fazia uma exposição de fotos do 11 de Setembro… estadunidense! Intrigado, acessei os sites dos principais jornais chilenos, mas nem sinal de manifestações, todos estampavam o “histórico” discurso de Bachelet [atual presidenta do Chile], finalizado com as últimas palavras de Allende: “Viva o Chile, viva o povo, viva os trabalhadores!”
Mas aquela “paz” era ilusória: conforme foi noticiado no dia seguinte de maneira tímida, houve sabotagens à rede elétrica e confrontos violentos em diversas partes do país, em especial na periferia de Santiago, onde os jovens resistiam nas barricadas ao enfrentamento contra a polícia. O saldo noticiado até agora pelos grandes meios de comunicação é de 3 manifestantes mortos, 10 policiais feridos e 32 pessoas presas.
Não deixa de ser uma ironia histórica que tanto as homenagens quanto a repressão sejam levadas a cabo pela presidente Michele Bachelet, que durante a ditadura de Pinochet foi presa, torturada e exilada, enquanto seu pai foi morto pelos militares. Por estes antecedentes, causou surpresa sua nomeação como Ministra da Defesa em 2002, no governo de Ricardo Lagos, e sua posterior eleição para a Presidência da República em 2006 foi vista como um sinal de que definitivamente o passado ditatorial e militar estava superado. Para o governo, a memória do 11 de Setembro deve ser preservada como algo que legitima a repressão no presente, enquanto para os que foram mortos e presos nas manifestações o 11 de Setembro ainda faz parte do presente, como uma série de lutas que não querem ser esquecidas, nem pelo tempo, nem pela repressão.
[*] O discurso final de Allende pode ser escutado em diversos vídeos no Youtube ou lido em http://www.ciudadseva.com/textos/otros/ultimodi.htm.[
[**] O documentário a Batalha do Chile foi dirigido por Patricio Guzmán antes, durante e após o golpe.
No Chile, como no Brasil, a dita “esquerda” mostra sua cara.
Bachelet, no Chile, convoca a policia e o exercito pra reprimir manifestações de rua. Lula, no Brasil, promete que os “bandidos” não comprometerão eventos como Copa do Mundo e Olimpiada. Promete jogar policia e exercito para EVITAR qualquer “conflito”… o MST é alvo de CPI
Enquanto isso, as corjas empresariais que apoiaram os golpes, no Chile e no Brasil, seguem governando
Em 11 de Setembro passaram 37 anos do Golpe de Estado no Chile pelas forças reacionárias lideradas pelo General Augusto Pinochet e com a intervenção do imperialismo dos Estados Unidos da América e da CIA que assassinou o seu Presidente Salvador Allende no Palácio de La Moneda. O Povo Chileno jamais esquecerá este seu herói que morreu no seu posto e os que tombaram depois desse golpe sangrento.
Como dizia Salvador Allende nesse último dia: os trabalhadores e o Povo Chileno Vencerão!