Ontem 02/11, moradores da favela Mandela de Pedra, em Manguinhos, junto com organizações e movimentos sociais da região e de fora, realizaram um protesto contra a violência, lembrando em particular a morte de Rafael da Rocha Ribeiro, morto em 25/10 durante uma operação policial.

Angélica Gomes da Rocha, mãe de Rafael, contou que naquele dia, pela manhã, saiu para trabalhar um pouco preocupada com as operações policiais que vem acontecendo quase diariamente na comunidade, mas como ouviu que naquele dia a Polícia Militar, inclusive o Bope, estava em outro local, na favela do Arará (Benfica), nem imaginou que algo grave iria acontecer. Entretanto, por volta das 8:30h recebeu um telefonema dizendo que seu filho havia sofrido um “grave acidente”, voltou correndo para a favela e já encontrou uma grande quantidade de policiais e moradores discutindo. O presidente da Associação acusava a PM de não deixar entrar socorro para um jovem que havia sido baleado. Foi então que entendeu que seu filho estava morto.

Segundo moradores que foram testemunhas do fato, policiais militares “vestidos de preto” (provavelmente do Bope) apareceram no terreno que fica do outro lado do rio Faria Timbó, talvez vindo por dentro da refinaria de Manguinhos. Rafael saiu de um beco, vindo de casa, para jogar lixo fora, e assim que virou as costas para retornar foi atingido por um tiro disparado pelos policiais. Segundo as testemunhas, naquele momento não havia confronto entre policiais e traficantes.

O local onde Rafael foi baleado é uma área de entulhos e lama, onde ficavam barracos demolidos como parte das obras do PAC no Complexo de Manguinhos. Grande número de casas na beira do Faria Timbó ainda faltam ser demolidas, mas os moradores esperam há meses o pagamento da indenização ou a compra de novas residências, assistida pelo Programa. Além da demolição, nada ainda foi feito nas margens do rio.

Participaram da manifestação muitos voluntários da ONG Rio de Paz, a maioria dos quais nunca havia postos os pés numa favela. Todos se escandalizavam com a miséria e a falta de investimentos públicos na comunidade. O coordenador da ONG declarou à Agência Brasil que era um absurdo a decisão de se investir bilhões de reais em uma Olimpíada (a de 2016 que será no Rio), enquanto milhares de pessoas vivem em total pobreza. A ONG ficou conhecida pelos protestos que organiza na Praia de Copacabana (já teve um mural permanente que pretendia instalar lá proibido pela prefeitura), mas durante a caminhada pelos becos da favela, muitos falavam que tinham que vir mais para lugares como aquele, pois em Copacabana a população era muito alienada. A ONGexibia um grande painel que denunciava 20.000 assassinatos no Rio desde janeiro de 2007 (quando tomou posse o governador Sérgio Cabral), incluindo nesses 3.272 autos de resistência (mortes em supostos confrontos com a polícia), denúncia que raras ONGs “do asfalto” fazem.

Moradores, incluindo muitas crianças, carregavam cruzes e cartazes feitos à mão, e denunciavam que as operações policiais são quase diárias e não têm nenhum cuidado com as pessoas que estão nas ruas ou nas suas casas.

Vejam mais fotos no Centro de Mídia Independente

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