O contra-ataque: ato público na esquina democrática, marcha pela Borges e ato político no Quilombo das Artes. E agora?
Em meio ao desenrolar do inquérito, nos dias frenéticos que se seguiram, deram-se situações interessantes. O movimento de solidariedade para com a FAG ultrapassa o repúdio que as entidades do movimento popular e a esquerda em geral têm ao governo neoliberal e acusado de corrupção, e opera como um reconhecimento ao trabalho desta organização. Tanto no sentido da inserção como forma de empoderamento dos sujeitos sociais organizados (retirando assim poder dos intermediários profissionais) como na efetiva política de unidade em luta e não sectarismo estéril. O raio político-social onde a FAG gravita é muito superior ao estimado por Yeda Crusius e seus asseclas.
Isto se fez ver na 3ª, dia 03 de novembro, quando às 18 horas, após um temporal, quase uma centena de pessoas de distintas agrupações mais à esquerda, se encontraram na Esquina Democrática (Rua da Praia com Borges), Centro de Porto Alegre, para, debaixo de uma garoa incessante, participar de um ato político de desagravo a repressão sofrida pela FAG. Na seqüência do ato, houve uma breve marcha pela Av. Borges de Medeiros rumo ao Quilombo das Artes, espaço cultural da Comunidade Autônoma Utopia e Luta, onde se realizou o ato político. Ao não mudar o estilo de trabalho, se demonstra para os poderes do Estado que a intimidação oficial não deu resultado. Se por um lado o titular da 17ª DP ainda não concluiu o inquérito, o que deixa margem para hipóteses no campo jurídico, por outro, no que é estritamente político, a campanha em solidariedade está fortalecida e tentando reabrir o inquérito policial da investigação do assassinato do colono sem-terra Eltom Brum. Com certeza, aumentou a legitimidade da FAG e a organização sai fortalecida do episódio. E agora?
Podemos apontar algumas variáveis. E se os ativistas de direitos humanos conseguirem reabrir o inquérito do assassinato de Eltom, como fica a cúpula da segurança pública no RS? O que fará o governo Yeda Crusius? Vai redobrar a aposta na repressão política buscando outras organizações mais à esquerda? Vai apontar para outro alvo, talvez este não político específico, mas social, e por sua natureza, de maior envergadura? Vai repetir a campanha de violência como no primeiro semestre de 2008, quando o coronel Mendes (então sub e depois comandante geral da Brigada) era o Capitão do Mato do RS a serviço da máfia neoliberal encastelada no Piratini?
A única certeza é de que 2010 promete, e podemos acumular forças no terreno da política se baixar a guarda na defesa jurídica e menos ainda deixar esta cambada diminuir a moral militante da companheirada. O ano que entra será o da Outra Campanha. Vamos pelear por temas estratégicos e de longo prazo, como a defesa do Bioma Pampa e brecar a venda do Rio Grande para o Banco Mundial. A corrida eleitoral da jogatina democrático-representativa através da urna burguesa, não poderá cessar nosso esforço por ampliar o raio de ação e realmente pautar aquilo que é fundamental para o povo daqui. Parte disso já é mérito político da FAG, reconhecido inclusive pela operadora neoliberal, quando esta decide reprimir a organização. Como disse acima, acerta no que vê e atinge aquilo que antes não enxergava.
Porque como disseram os companheiros faguistas ao encerrar a fala da organização no dia 03 de outubro: “Agora o momento é de Unidade de Pautas e Lutas; é de Fora Yeda e toda a cambada; a hora é de Punição e Justiça para os assassinos e mandantes do Sem Terra Eltom Brum da Silva! Porque esta terra e seu povo não serão vendidos para o Banco Mundial! O neoliberalismo no Rio Grande do Sul não passará!”
Federação Anarquista Gaúcha, 09 de novembro de 2009