Por Passa Palavra
Estudantes, funcionários e militantes do MTST [Movimento dos Trabalhadores Sem Teto] realizaram ontem, 10/11, uma manifestação em frente ao Memorial da América Latina. O ato pretendia barrar o processo eleitoral para reitor da Universidade de São Paulo, entendido pela comunidade como antidemocrático.
Difícil acreditar, mas, desde os primórdios da instituição, a escolha do magnífico é feita por um Colégio Eleitoral altamente meritocrático, composto hoje por pouco mais de 1.900 pessoas (membros do Conselho Universitário, dos Conselhos Centrais e representantes das congregações das unidades de ensino e pesquisa); o que significa menos de 2% do universo uspiano. No segundo turno, o leque de participação restringe-se ainda mais, pois os membros das congregações das unidades de ensino e pesquisa deixam de ter voto, fazendo o índice de participação despencar para menos de 0,5% da comunidade universitária. Todo este processo, por si só verticalizado, serve para repassar os nomes dos três candidatos mais votados, para que, enfim, soberanamente, o governador do Estado escolha o de sua preferência.
O segundo turno da eleição que estava prevista para terça-feira, dia 09, não ocorreu porque estudantes e funcionários organizados conseguiram impedir que o processo se realizasse, barrando a entrada de membros colegiados e dos reitoráveis. Como forma de driblar os manifestantes e poder lançar mão de todo aparelho repressivo que achasse conveniente, a comissão organizadora do processo eleitoral marcou nova votação para ontem, às 13h30, dessa vez, no Memorial da América Latina.
Uma concentração de estudantes, funcionários e militantes de movimentos populares tentou mais uma vez boicotar o pleito. Porém, estando fora da universidade e com o ambiente repleto de policiais militares, (inclusive a tropa de choque) e até a guarda universitária, fora impossível impedir a entrada dos 274 membros votantes, já que todos os acessos ao local estavam fechados pela PM. Além disso, convém notar que os 8 ônibus que traziam os manifestantes do campus universitário chegaram ao local quando a maior parte dos votantes já haviam adentrado o recinto, não lhes restando outra coisa senão os portões trancados e uma grande barreira policial.
Assim, com aproximadamente 280 votos brancos e 6 nulos, foi eleita, sob a proteção da polícia e à revelia dos que manifestavam do lado de fora dos portões do Memorial, a lista dos três candidatos que será entregue ao governador Serra, que decidirá então o novo reitor da USP. São eles: Glaucius Oliva (161 votos), João Grandino Rodas (104) e Armando Corbani Ferraz (101).
No entanto, em meio a toda mobilização, algo não ficou muito claro. Por que as entidades organizadoras optaram por fazer uma concentração às 10h30 – com assembléia, carro de som e tudo mais – em frente à reitoria, no campus do Butantã, quando já estava mais do que acertado e noticiado que a votação tinha se transferido para o Memorial da América Latina, na Barra Funda, às 13h? Não é preciso conhecer muito bem a cidade de São Paulo para supor que o deslocamento de um lugar para outro, após as delongas de uma plenária, seria bem cansativo e teria sérios riscos de atraso. Estaríamos nós realmente dispostos a barrar esta eleição?
Ao que parece, a “democracia ao estilo elitista USP” se fortalecerá com a escolha pelo governador Serra do 2º candidato “eleito”, João Grandino Rodas. A última vez em que isto ocorreu foi em 1981, quando o então governador Paulo Maluf optou por Antônio Hélio Vieira, quarto de uma lista sextupla feita na época.