Por Rede de Comunidades do Extremo Sul de São Paulo-SP
Sem creche para os filhos, mães do Grajaú vão à luta
Recentemente, um conjunto de mulheres, cujos filhos há meses perderam suas vagas em creches, escreveu uma carta-aberta denunciando uma situação absurda e injustificável. Falavam em mais de 1400 crianças que ficaram sem atendimento educacional depois do fechamento de 8 instituições de ensino só na região do Grajaú, como conseqüência do rompimento de um convênio entre o centro gestor dessas instituições e a Prefeitura de São Paulo. Contavam também do sofrimento de mães que perderam os empregos dos quais tinham necessidade, por não ter com quem deixar suas crianças, e não conseguir pagar uma creche privada. Denunciavam as injustiças cometidas contra mais de 200 funcionárias que não receberam devidamente seus salários e seus direitos trabalhistas. E lembravam as mais de 5000 crianças que já se encontravam privadas do direito à creche na região.
A denúncia que essas mães fizeram é bastante reveladora.
Há tempos o significado da educação infantil para as classes populares praticamente não é discutido. Aparentemente o acesso à educação é um direito alcançado, uma vez que as estatísticas mostram um crescimento relevante no número de vagas. No entanto, sabemos que o direito à educação foi objeto de muita luta e, no caso da educação infantil, dos esforços de mil mulheres trabalhadoras que batalharam por isso em conjunto com trabalhadores da educação comprometidos com o povo e com as mudanças sociais. Os acontecimentos recentes da região do Grajaú mostram que essa batalha está longe de ter sido ganha, e que é urgente retomar o caráter popular das lutas sociais por educação.
Numa conjuntura cada vez mais conservadora, aos poucos se foi transformando o sentido das conquistas populares; no caso, o acesso e a qualidade dos serviços educacionais passaram a ser tratadas de modo empresarial, com parcerias entre setores públicos e privados para maior “produtividade” e “eficiência” do atendimento educacional. A privatização da gestão da educação, que tem como linha de frente os tais “convênios” com instituições privadas para gerir recursos públicos e administrar unidades educacionais, foi o modo encontrado para concretizar tais estratégias. Mas, como já era sabido e se evidenciou ainda mais neste caso, esse modo compromete e nega o acesso a um direito básico, pois a gestão e a responsabilidade pela educação infantil ficam inteiramente à mercê do funcionamento e da relação de institutos privados com a burocracia municipal da educação, ou seja, adquirem um caráter opressivo e anti-popular.
Essa calamidade na educação é uma das facetas da tragédia que o Estado e o grande capital promovem nas periferias, contra a população pobre. Falando especificamente da região do Grajaú, outra faceta é a do transporte, já que depois de um dia inteiro de trabalho somos obrigados a andar quilômetros até nossas casas, por causa do congestionamento. As políticas de despejo em massa é ainda outra faceta, que revela que nesse mundo a vida e a dignidade das pessoas nada significam; basta ser lucrativo, que milhares de famílias são criminalizadas e expulsas de suas casas a troco de um cheque-despejo travestido de bolsa-aluguel.
Infelizmente essa lista poderia continuar por muitas linhas. Mas não devemos fazer disso motivos para desespero, e sim alimento de nossa indignação, de nossa revolta, de nosso ódio contra as opressões e os opressores, de onde extraímos a força para lutar. Do mesmo modo como estão fazendo algumas poucas mães do Grajaú, que resolveram arregaçar as mangas e passar de casa em casa convencendo suas iguais a deixar de lado o conformismo, e a correr atrás do atendimento educacional para suas crianças, mostrando que o povo pobre não aceita, nem aceitará desaforo de ninguém.
Nesse sentido, a Rede Extremo Sul apóia e está junto nessa luta.
Rede de Comunidades do Extremo Sul de São Paulo-SP
(Acesse o blog da Rede e assista ao vídeo Crianças sem creche no Grajaú)