Por Paul Hampton

A classe trabalhadora iraniana foi a força social decisiva que derrubou o Xá em 1978-79. Mas os trabalhadores não avançaram com a construção do seu próprio Estado, acabando por ficar submetidos ao poder de um regime não menos repressivo que o do Xá.

Os trabalhadores formaram organizações e desenvolveram acções em defesa dos seus interesses próprios. O desenvolvimento de uma política independente da classe trabalhadora era uma possibilidade real em 1979. Todavia este potencial não foi consumado – em grande parte devido ao fracasso da esquerda, tanto iraniana como internacional.

Parte da explicação para o fracasso da esquerda reside na repressão de que foi alvo às mãos do governo de Khomeini. Por exemplo, quando os Fadaiyin recusaram entregar as armas de que se haviam apoderado durante a insurreição de 9-11 de Fevereiro de 1979 e organizaram uma manifestação na Universidade de Teerão, Khomeini denunciou-os como “um grupo de bandidos e gente fora da lei” e “não-muçulmanos em guerra contra o Islão” (Hiro). A esquerda foi acossada pelos Hazbollahi desde o começo – e por outras forças do novo Estado, tais como os Pasdaran, até que foi levada a passar à clandestinidade.

Mas a repressão está longe de ser tudo – e certamente não explica as oportunidades perdidas no começo de 1979. Foram a confusão ideológica da esquerda, a sua desorientação política e os seus erros de organização que levaram à perda de uma oportunidade histórica de uma tomada do poder pela classe trabalhadora – e à submissão dos trabalhadores iranianos a um novo despotismo que se manteve até hoje.

Ideologia

A razão fundamental do fracasso da esquerda, tanto iraniana como internacional, que condicionou tudo o resto, foram os seus erros ideológicos.

Quase toda a esquerda era estalinista e o pseudo-marxismo estalinizado e empobrecido impediu qualquer dos seus sectores de elaborar uma linha independente da classe trabalhadora.

A REBOQUE DE KHOMEINI
O Socialist Worker de 28 de Outubro de 1978 comparava Khomeini ao pope Gapone para justificar o facto de se colocar a reboque do Imam.
“É quase como se, apesar de as massas estivessem eivadas de uma tradição que faz parte da sua história – a tradição de uma oposição religiosa –, a única coisa que soubessem fosse comum a todos, entendida por todos, e fizesse dessa religião uma arma poderosa, que nada tem a ver com religiosidade ou mística e tudo a ver com o poder das massas.” (Joanna Rollo, Iran: Beginning of a Revolution, panfleto do SWP [Partido Socialista dos Trabalhadores, Estados Unidos]).
“Nós já explicámos o que realmente está por trás deste movimento de massas e quão insensato é caracterizá-lo como um movimento religioso. Independentemente da força que possa estar na sua liderança e sejam quais forem as reivindicações com que se exprime, o movimento de massas não tem absolutamente nada a ver com uma qualquer religião, muito menos uma religião reaccionária.” (Saber Nickbin, Iran: The Unfolding Revolution, panfleto do IMG [tendência trotskista pablista]).
O líder da IMG Brian Grogan vangloriava-se de ter gritado “Allah Akhbar” numa manifestação em Teerão, justificando-se com o facto de que isso significava que o povo era mais forte do que o exército do Xá.
Em Dezembro de 1978, a Campanha Contra a Repressão no Irão (CARI) de Birmingham publicou um folheto que denunciava como sendo reaccionária a palavra de ordem “Abaixo os mulás”. Em Março de 1979 a CARI mudou de nome porque “as tarefas do movimento de solidariedade são agora diferentes” (Socialist Change de 29 de Março de 1979).
“Os socialistas não lutam contra a religião. Não pensamos que, no Irão, se trate de uma luta entre marxistas e muçulmanos”. (Intercontinental Press / Inprecor, 17 de Setembro de 1979)

O resultado foi a “teoria” da revolução em duas fases, segundo a qual a classe trabalhadora iraniana teria um papel secundário numa luta geral “democrática” para derrubar a dinastia Pahlavi. O que significava que a liderança dessa “revolução democrática” estava confiada a outras forças sociais conquanto fossem suficientemente “anti-imperialistas”. Isso levou a esquerda a uma subordinação política aos mulás. Quase toda a esquerda foi incapaz de compreender o carácter específico do movimento de Khomeini e o tipo de Estado que ele concretamente queria criar em substituição do Xá. O partido Tudeh chegou mesmo a espalhar a ilusão de uma possível via “não-capitalista” para o [novo] regime. Contudo quase todos acreditavam que, por o regime ser “anti-imperialista” (isto é, anti-estadunidense), ele era de algum modo progressista.

A esquerda não compreendeu que, dadas as forças envolvidas no movimento da oposição, o Estado que iria emergir após o derrube do Xá poderia ser a favor de um capitalismo nacional, independente do capital global e ao mesmo tempo ferozmente hostil à classe trabalhadora. Ao enaltecerem os “muçulmanos militantes” velaram a natureza reaccionária do poder de Khomeini.

A ausência de uma perspectiva de classe levou à subestimação dos comités de greve, e mais tarde das shuras de fábrica, erguidas pelos trabalhadores para defenderem os seus interesses. Diz Assef Bayat: “Quase toda a esquerda foi surpreendida pela súbita emergência das shuras. Quase todas as organizações de esquerda, assim como as próprias shuras, estavam confusas quanto ao que fazer e quanto ao papel político possível das shuras”.

A esquerda foi igualmente incapaz de perceber a importante dinâmica da luta pela libertação das mulheres. A partir dos protestos do Dia Internacional da Mulher, em Março de 1979, e nos dois anos que se seguiram, as mulheres travaram um combate permanente contra o regime. Mas a esquerda não entendeu que o combate contra o véu e outras formas de discriminação das mulheres era uma parte essencial da luta pela democracia e pela libertação das mulheres.

De igual modo, a esquerda não lutou pela autodeterminação das minorias nacionais, como diz o CARI, quando Khomeini lançou a sua guerra santa contra os curdos, “a reacção das shuras e dos grupos progressistas da esquerda deixou muito a desejar”.

Em resumo, faltou à esquerda um programa democrático e socialista para unir a classe trabalhadora e para ele mobilizar outros sectores explorados e oprimidos, como meio de levar os trabalhadores a lutarem pela sua auto-libertação.

Incapacidade organizativa

A principal falha organizativa da esquerda iraniana durante 1978-79 foi a sua incapacidade para construir um partido revolucionário capaz de conduzir a classe trabalhadora contra os mulás e a favor do seu próprio poder.

Bayat exprimiu bem essa ideia quando escreveu: “A mais grave limitação, contudo, foi a ausência de uma efectiva força política empenhada em organizar a classe trabalhadora para o objectivo estratégico da construção do socialismo”.

f_irao32A maior organização da esquerda, os Fadaiyin, tinha cerca de meio milhão de apoiantes. Já ganhara alguma credibilidade a seguir à campanha de guerrilhas contra o Xá. Credibilidade acrescida com o papel que tiveram na insurreição de 9-11 de Fevereiro de 1979. Foi correcto o boicote ao referendo de Khomeini sobre a República Islâmica em Março de 1979.

Contudo a orientação política dos Fadaiyin era estalinista e atolava-se na teoria das fases [da revolução]. Não atacaram claramente o novo regime senão depois de, em Agosto de 1979, eles próprios serem atacados. Apesar de os seus membros participarem nas shuras, nas organizações de mulheres e na luta das minorias nacionais, não elaboraram um programa ou uma estratégia sobre a emergência do Estado teocrático. O mesmo se passou com os Mujahedin “marxistas”, rebaptizados Paykar no começo de 1979, que defendiam um estalinismo maoísta albanês. Um sinal da confusão ideológica dos Fedaiyin foi a cisão de Junho de 1980, em que a maioria se juntou ao partido Tudeh, isto é, o Partido Comunista que representava a URSS no Irão.

O partido Tudeh garantiu o seu apoio ao governo de Khomeini em Fevereiro de 1979 e manteve-se como seu fiel aliado. Chegou ao ponto de apoiar na prática o esmagamento da esquerda pelo Estado. O partido Tudeh disse aos seus apoiantes em Agosto de 1981: “Desmascarar a acção política da contra-revolução nas empresas, nas famílias e em todo o lugar onde as massas estejam presentes, é uma das nossas tarefas mais importantes”. O que ficou claro quando a Maioria Fedaiyin e o Tudeh receberam cartas de agradecimento do comandante do exército responsável pelo esmagamento da revolta curda (Maziar Behrooz, Rebels with a Cause).

Havia algumas pequenas organizações que tentaram uma análise e uma intervenção mais sérias. A Organização da Via dos Trabalhadores, ex-militantes dos Fedaiyin e dos Mujahedin que se opuseram ao maoísmo, consideravam que o regime de Khomeini era um “bonapartismo religioso” assente na pequena burguesia, na burguesia comerciante e na população semi-proletária, sob a liderança do clero. A Organização de Unidade Comunista (OUC) era anti-estalinista e participou na construção do movimento das mulheres (Behrooz, 1999, p.132).

Havia também alguns trotskistas iranianos. Os fundadores iniciaram a sua actividade na Grã-Bretanha nos anos 1960. Formaram a Comissão Iraniana dentro do USFI Mandelite [Secretariado Unificado da Quarta Internacional, tendência Mandelite]. Trotskistas exilados nos Estados Unidos e na Europa formaram o Hezb-e Kargaran-e Socialist – HKS (Partido Socialista dos Trabalhadores) no começo de 1979. Foi publicamente apresentado em 22 de Janeiro de 1979.

O HKS foi alvo da repressão desde o princípio. O seu primeiro comício, em 2 de Março de 1979, foi suspenso quando estudantes islamistas e maoístas tentaram interrompê-lo (Robert Alexander, International Trotskyism). Mas o seu líder Babak Zahraie chegou a participar em dois debates televisivos, em Abril e Maio de 1979, com o porta-voz de Khomeini Bani-Sadr, que viria a ser presidente do regime.

O HKS tinha actividade entre os trabalhadores do petróleo no Khuzistão e no movimento das mulheres. Depois de uma série de greves, os trabalhadores do petróleo e da siderurgia sofreram muitas prisões, entre eles 16 membros do HKS. Em Agosto de 1979, 14 membros do HKS foram julgados pelo “Comité do Imam” local, sendo 12 deles condenados à morte – pena mais tarde suspensa. [1]

Zahraie liderou uma cisão do HKS no Outono de 1979, para formar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores (HKE). Na prática, o HKE deu um apoio crítico ao regime de Khomeini, e o mesmo fez outro grupo trotskista formado em Janeiro de 1981, o Partido Unitário dos Trabalhadores (HVK). Mas tiveram o mesmo destino do HKS e acabaram por se extinguir por volta de 1982.

Mas também o HKS foi incapaz de elaborar o programa e a estratégia necessários para contrariar o domínio de Khomeini. Foi incapaz de alertar a classe trabalhadora iraniana contra a natureza do novo regime. Faltou-lhe a necessária implantação nas empresas. Por isso foi impotente para resistir aos ataques do Estado.

Fracasso da esquerda internacional

A esquerda internacional, em particular a USFI, tem pesadas responsabilidades na derrota da esquerda iraniana. A repressão não foi um factor decisivo e havia conhecimento da história dos erros do passado (como no caso do esmagamento dos comunistas chineses por Chiang Kai-Shek em 1927). A esquerda internacional tinha tudo o que era preciso para analisar a estrutura de classes do Irão, a natureza dos mulás e as lições das derrotas passadas – mas foi totalmente incapaz de o fazer.

Pode dizer-se que nenhum grupo da esquerda internacional se saiu bem no caso da revolução iraniana.

f_irao33Mas o grupo que merece uma particular reprovação é o Partido Socialista dos Trabalhadores dos Estados Unidos (US SWP). Outrora orgulho do movimento trotskista, em meados dos anos 1960 era uma seita semi-castrista, semi-estalinista. O US SWP teve uma actuação particularmente vergonhosa porque tinha relações com o HKS e outras organizações trotskistas – e foi o autor da linha política do apoio crítico a Khomeini.

O US SWP definiu o regime de Khomeini como “um governo anti-imperialista” (The Militant, 10 de Julho de 1981), exagerando as “conquistas” da revolução e desvalorizando ou simplesmente negando a natureza contra-revolucionária e anti-trabalhadores do regime. No final de 1981 o US SWP ainda afirmava que “essas shuras continuam a existir no regime de Khomeini” e os trotskistas iranianos continuavam a actuar abertamente nas fábricas e a publicar jornais. Diziam: “Foram infrutíferas as tentativas para sufocar o debate e para fazer marcha-atrás nas conquistas dos operários e dos camponeses iranianos não foram conseguidas. Falharam as tentativas para desmantelar os comités de trabalhadores, recuar na reforma agrária ou eliminar partidos políticos”. (Janice Lynn and David Frankel, Imperialism vs the Iranian Revolution)

Conclusão

O regime de Khomeini era um governo burguês que assentava em sectores do capital nacional, na burguesia comerciante e na base de apoio do poder financeiro das mesquitas. Foi uma forma de “anti-imperialismo reaccionário”, contrário ao domínio do capital estrangeiro mas violentamente hostil à classe trabalhadora iraniana. Não é um abuso de linguagem descrevê-lo como uma forma de fascismo clerical, dada a destruição que operou no movimento trabalhista.

Khomeini conduziu o movimento de massas na oposição ao Xá e dissimulou o seu programa de um Estado teocrático atrás de um fraseado de aparência progressista. Mas a esquerda foi incapaz de analisar a natureza do seu projecto e de prever a forma que tomaria o seu poder. Como diz Nima: “as alusões retóricas [de Khomeini] à liberdade foram infelizmente mal compreendidas por muita gente da oposição ao Xá, incluindo muita da esquerda”.

A esquerda foi incapaz de preparar a classe trabalhadora iraniana e de a alertar para o que era esperável. Em vez disso, a esquerda usou analogias espúrias para enquadrar o movimento de Khomeini numa paródia mecanicista de “revolução permanente”, que estava bem longe da teoria original de Trotsky.

Por exemplo, a natureza religiosa da liderança foi explicada em analogia com figuras históricas, como o padre Gapon na revolução russa de 1905. Mas enquanto Khomeini era a figura central da hierarquia xiita, Gapon era um padre dissidente favorável à separação entre o Estado e a igreja. Desde o início que Khomeini foi muito claro sobre que Estado pretendia; Gapon pelo menos defendeu uma assembleia constituinte em 1905. E, claro, apesar da sua oposição ao Czar, Gapon não foi elogiado pelos bolcheviques como “sacerdote progressista” – ao passo que Khomeini recebeu credenciais de progressismo de muitos sectores da esquerda iraniana.

Estar em oposição simultaneamente ao Xá e aos mulás não significava metê-los no mesmo saco nem ignorar as diferenças entre os dois regimes, nem engolir a propaganda de muitos médias [mídia] ocidentais que retratava todo o movimento como simples religiosos reaccionários. Tratava-se, muito simplesmente, de tirar conclusões dos factos acerca do movimento de Khomeini.

Também não se pode dizer que a oposição aos mulás implicaria uma estratégia passiva e abstencionista da esquerda iraniana. Teria implicado, isso sim, um envolvimento activo nos comités de fábrica que abalaram o regime do Xá. Teria tornado necessário um envolvimento activo nas shuras dos trabalhadores, no movimento das mulheres e nas lutas das minorias nacionais.

Teria sido preciso lutar por exigências democráticas, tais como uma assembleia constituinte. Teria implicado uma preparação da esquerda para se defender, formando milícias de trabalhadores. Teria implicado juntar-se às manifestações das mulheres. Teria implicado a luta pela autogestão dos trabalhadores nas empresas e por uma rede organizada das shuras que permitisse controlar sectores da indústria, com o objectivo de controlar o conjunto da economia.

Foi precisamente porque a esquerda foi incapaz destas coisas que Khomeini teve a possibilidade de consolidar e depois cimentar o seu regime. O que faltou no Irão, em 1978-81, foi precisamente uma visão interventionista alternativa.

O QUE NÓS ESCREVEMOS NA ALTURA

Durante os últimos anos 1970, os precursores da AWL [Alliance for Workers’ Liberty, a organização de cujo site foi retirada esta série de artigos. NDT] publicaram um semanário, Workers’ Action, que fez uma cobertura alargada da revolução iraniana.

Nos últimos meses de 1978 o jornal continha relatos detalhados da onda de greves que acabou por derrubar o Xá. Os relatos insistiam em que os trabalhadores se deviam auto-organizar de forma independente. Por exemplo, num artigo intitulado “Não a um Estado islâmico, sim ao poder dos trabalhadores”, nós escrevíamos: “Para levar o movimento dos trabalhadores iranianos à vitória, contudo, os CONSELHOS OPERÁRIOS têm de organizar o combate desde já e, depois do derrube do Xá, o futuro poder revolucionário.” (Workers’ Action, 9 de Dezembro de 1978)

No entanto, como quase toda a esquerda, nós subestimámos a natureza das ideias de Khomeini e do seu movimento, assim como o tipo de regime que ele planeava criar. Por exemplo, no artigo “Abaixo o Xá”, escrevemos:

“A participação dos sacerdotes muçulmanos no movimento de oposição não significa que ele seja reaccionário. Muitos movimentos progressistas têm tido membros destacados que são padres – o movimento pelos direitos cívicos nos EUA, o movimento nacionalista da Irlanda e até as primeiras fases da Revolução Russa de 1905. Isso apenas significa que as mesquitas eram os únicos possíveis lugares de encontro para a oposição, e que os sacerdotes foram, até há pouco tempo, as únicas pessoas com possibilidade de levantar a voz contra o regime.

“Mesmo a exigência de um ‘governo islâmico’ não tem (para os manifestantes que a levantaram) um sentido de fanatismo religioso, mas sim um impulso hostil ao luxo corrupto da classe média iraniana enriquecida com o petróleo.

“O aiatolá Khomeini, líder principal da oposição muçulmana, declarou muitas vezes que não queria os barbarismos da ‘lei islâmica’ tal como é praticada no Paquistão ou na Arábia Saudita, onde se castigam os ladrões com a amputação das mãos; e também não se opõe à igualdade para as mulheres.” (Workers’ Action nº 124, 11 de Novembro de 1978)

O jornal transcreveu uma entrevista de Khomeini ao Le Monde, em que ele se deu alguns ares de democrata (Workers’ Action nº 121, 21 de Outubro de 1978).

As contradições da nossa posição ficaram sintetizadas no artigo “O Islão no Irão: o sinal dos oprimidos”.

Aí escrevemos: “Um ‘governo islâmico’ burguês vai enganar os operários e os camponeses iranianos tão impiedosamente como o faz o do Xá. A tarefa dos socialistas, contudo, é apoiar a luta de massas contra o Xá, mesmo quando essas lutas apresentam um governo islâmico como seu objectivo. No Irão, claro, os socialistas revolucionários vão lutar para convencer os operários e os camponeses de que as suas aspirações à democracia e à justiça só podem ser traídas pela burguesia e pelo Islão.” (Workers’ Action nº 125, 19 de Novembro de 1978)

Foi num artigo de Rhodri Evans, “Poderá Khomeini parar a revolução?”, que estivémos mais próximos de uma advertência contra a iminente catástrofe. Aí se dizia: “É quase matematicamente certo que podemos prever um choque entre Khomeini e os trabalhadores. Os socialistas britânicos têm de estar preparados para darem todo o apoio possível aos trabalhadores iranianos.” (Workers’ Action, 24 de Fevereiro de 1979)

A única organização que apresentou uma linha alternativa “abaixo o Xá, abaixo os mulás” foi (ironicamente) a Liga Spartaquista, que cedo advertiu para as consequências do poder teocrático para o movimento emergente dos trabalhadores, a esquerda, as mulheres e as minorias nacionais.

Apesar de a Workers’ Action se ter oposto à exclusão dos spartaquistas dos comícios e manifestações sobre o Irão organizadas pelo SWP e o IMG, a verdade é que não denunciámos claramente o perigo de Khomeini chegar ao poder.

Nota

[1] Os melhores elementos do HKS, alguns deles exilados na Grã-Bretanha, divulgaram uma crítica acerca dos erros da esquerda em 1979-81 e uma análise mais clara da natureza do regime. Em 1983 alguns membros do HKS abandonaram o USFI e editaram o jornal Socialism va Enghelab (Socialismo e Revolução) até 1990 e a partir de 1991, enquanto Liga Socialista Revolucionária Iraniana, o Kargar-e Socialist (Trabalhador Socialista).

[Fim da terceira parte]

Versão original (em inglês) aqui. Tradução do Passa Palavra.

As quatro partes do artigo são:

(1) Como os trabalhadores derrubaram um ditador
(2) Como os trabalhadores foram esmagados
(3) O fracasso da esquerda
(4) Os islamistas contra as mulheres

1 COMENTÁRIO

  1. É certo que não se pode explicar a derrota dos trabalhadores organizados em instituições autônomas, os conselhos operários, somente pela repressão do nascente Estado islâmico. Nem tampouco por causa dos stalinista, já que estes existem e vão continuar existindo por um bom tempo (embora hoje não gozem nem de 1/10 do “prestígio” que possuíam em 70). Tampouco foi porque a esquerda não conseguiu construir um “partido realmente revolucionário”, como diz o autor. A não ser que este o entenda no sentido genérico do termo (não institucional burocrático).

    O interessante é que em todos estes acontecimentos, vários, marchas, repressão, greves, etc… todas estas organizações (stalinistas, islâmicas, etc) parecem ser coerentes. Defendem o seu projeto, e por isso se aliam em momentos, por taticismo.

    Uma pena que os conselhos não tiveram força o suficiente pra se consolidarem e se espalharem pelo mundo.

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