Por Matheus Saldanha Duarte [*]

 

Nos últimos dez anos, a Universidade de São Paulo vem sofrendo uma expansão brutal de cursos e vagas. Foram criadas 85 novas graduações e o número de vagas aumentou cerca de 40%, totalizando 164 cursos de entrada e 243 de saída, por conta da diferença entre bacharelado e licenciatura, com 10.652 novas vagas por ano.

A bonita cerimônia de tomada de posse do reitor João Grandino Rodas

Nesse último mês de setembro, o Conselho Universitário da USP aprovou certas reformas a serem implementadas na instituição, que, além de ser a mais bem qualificada do país em âmbito internacional, é sem dúvida a maior universidade do país. A proposta aprovada pelo Conselho é uma “avaliação de todos os cursos da graduação, com o objetivo de reformular seu projeto pedagógico, rever currículos e modernizar o acervo das bibliotecas. A ideia é criar novas disciplinas, abrir novos cursos e fechar os que têm baixa procura, altas taxas de evasão e baixo impacto social, bem como os que não atendem às necessidades do mercado ou foram superados pelo avanço da tecnologia. A manutenção de alguns cursos noturnos também será discutida.”

Cada unidade da USP, que atualmente soma 41 faculdades, terá a “autonomia” de decidir como serão as mudanças nos seus projetos pedagógicos, rever seus currículos, escolher quais cursos sofrerão mudanças extremas e quais serão fechados. Tais mudanças se mostram totalmente desligadas do interesse do corpo de estudantes, pois elas (as mudanças) deverão ser aprovadas por congregações, que são entidades onde a representação estudantil é ínfima e praticamente incapaz de gerar qualquer tipo de alteração nessa tentativa de elitizar e adequar cada vez mais o ensino superior aos interesses de mercado, formando profissionais cada vez mais fechados em pequenos círculos de conhecimento aplicado e especializado em cada vez menos conhecimento.

Além disso, o REItor ameaçou cortar a verba de infraestrutura das unidades que não desejarem seguir as diretrizes impostas pelo Conselho Universitário, pois não estando em “sintonia com a universidade”, essas faculdades passam a mostrar que não são um “bom investimento para a USP”, disse João Rodas, tornando claras suas intenções empresariais para com o conhecimento produzido dentro dos muros da USP, muros que têm se fechado para a sociedade que está tanto fora quanto dentro deles.

Ainda a bonita cerimônia
Ainda a bonita cerimônia

Um grande exemplo do fechamento desses muros para os que já estão na universidade é a cogitação do encerramento de alguns cursos noturnos. Já é sabido que os cursos noturnos sofrem uma grande procura por estudantes que necessitam trabalhar em período integral para manter condições, de certa forma, dignas, de sobrevivência na capital do estado de São Paulo, que tem um dos custos de vida mais elevados do Brasil. Essa necessidade de trabalhar mostra que a distribuição de capital na universidade, é, com toda certeza, péssima. Além disso, mostra como a instituição não se preocupa com a permanência dos estudantes “considerados” mais capazes, por terem passado pelo filtro social, mascarado com o nome de vestibular; mostra que esta não tem interesse nenhum em ser realmente aberta a todos que desejem frequentá-la, já que é presumível, a partir dessas decisões do Conselho Universitário, que só podem frequentar a universidade aqueles que têm meios de se sustentar e possam produzir o suficiente para dar retorno financeiro à universidade.

Além do mais, deixar passar esse tipo de iniciativa é deixar que ela avance para as outras universidades estaduais, UNESP e UNICAMP, privatizando e sucateando o ensino superior público, que tanto lutamos para que seja de qualidade, gratuito e presencial. Deixar passar esse tipo de iniciativa é deixar de lado todas as lutas travadas pelo Movimento Estudantil das Estaduais Paulistas, é garantir que nos próximos anos o ensino superior será como planeja o governo do estado e os REItores das três estaduais, ao encampar a fala de João G. Rodas, que disse que “público não é sinônimo de gratuito”.

Barrar esse ataque antes que ele aconteça é de vital importância para nós, estudantes que lutam pelos seus direitos de permanência e de um ensino público, gratuito e de qualidade.

[*] Do CA de Filosofia da UNESP-Marília.

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