Não me lembro como se iniciara a conversa. Era noite, já tarde, eu tinha entrado numa tasca de um bairro de Lisboa, bebi um copo, ou mais, e o homem acompanhou-me até à rua. Magro, quase velho, pobremente vestido, mãos de operário, olhou em redor com precaução, porque estávamos nos anos sessenta, durante o fascismo. Certificou-se de que não havia ninguém perto, mesmo assim baixou a voz, e disse: «sol, dó, si, ré, dó». Olhei-o atónito. Ele não cantava, falava. E repetiu, em voz monocórdica: «sol, dó, si, ré, dó, sol, mi, lá, fá. Então não conhece?! É a Internacional. Sei-a de cor». Toda a esquerda estava na mesma situação. Conhecíamos o nome das notas, mas quanto à música… Passa Palavra