Por Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias – NEPPA
Realização: NEPPA – Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias
Inscrições pelo email: [email protected]
EIVI Bahia, do que se trata?
Uma formação política que atinge e entrelaça três sujeitos distintos: 1) Os militantes do NEPPA [1] que desenvolvem trabalho de base permanente em comunidades rurais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e compõem a monitoria do estágio; 2) As respectivas comunidades rurais [2] onde o NEPPA desenvolve atividades de extensão ao longo do ano; 3) Os estudantes e militantes de outros espaços que participam do EIVI enquanto estagiários.
O EIVI está inserido na programação anual do NEPPA, em comunidades do MST no recôncavo baiano. Atualmente, temos cinco atividades de extensão que funcionam durante todo o ano e que atuam nas áreas de Educação Popular, Promoção à Saúde, Produção Agroecológica, Rádio Comunitária e Formação da Juventude, espelhadas na organização em Setores do próprio movimento. Todas as atividades permanentes têm como objetivo central fomentar a auto-organização popular, para o enfrentamento de problemas concretos e desafios militantes. Os Sem Terra são estimulados a serem sujeitos no planejamento das alternativas de atuação na sua realidade e em conjunto com o NEPPA constroem ações de forma horizontal, buscando romper a separação entre trabalho intelectual e manual. Estas atividades são sempre referenciadas nas formulações gerais do próprio MST.
Um dos nossos princípios é que o EIVI só acontece onde houver atividades permanentes do NEPPA. Somente por este motivo é possível que haja intervenções durante o EIVI. Na verdade, ocorre uma inversão da lógica, o EIVI se torna apenas mais um momento entre as atividades permanentes de intervenção e não mais o único momento de contato com a comunidade. Assim, o EIVI surge como uma oportunidade de intensificar os vínculos e as ações nas comunidades e socializar as experiências para que outros indivíduos e organizações possam “conhecer participando”, “aprender fazendo” e, se assim quiserem, aplicar este aprendizado na realidade em que estão inseridos ou, quem sabe, modificar a sua forma de militar e de viver.
Um curso praxiológico, em que teoria e prática compõem um processo único, buscando romper com a equivocada separação entre eles e a conseqüente valorização do trabalho intelectual em detrimento do trabalho manual. Fomenta a participação de todo o coletivo em todas as etapas do curso, em todas as formas de trabalho, buscando a disseminação do poder e a não hierarquização das relações, criando assim, momentos propícios para uma prática pedagógica libertadora. Todos e todas planejando, criando, elaborando, fazendo e avaliando, sempre coletivamente.
Um curso que exige da monitoria a coordenação de dois processos pedagógicos que ocorrem simultaneamente e articulados, envolvendo os trabalhadores e trabalhadoras rurais e estudantes universitários. Este Educador Popular é essencial para a mediação entre diferentes mundos e saberes, que constantemente entram em conflito, das diversas formas e aspectos (luta de classes, campo – cidade, de gênero, de escolaridade, de raça, de estética, de concepção de mundo, saber popular – saber acadêmico, hábitos alimentares, etc.).
Aos Educadores Populares cabe problematizar a realidade das comunidades com os estagiários e a própria comunidade, promover o diálogo para que a comunidade paute suas demandas e necessidades, estimulando a parceria no enfrentamento dos problemas e o desenvolvimento da solidariedade de classe, do espírito cooperativo e da não exploração do outro, atuando sempre em uma perspectiva de transformação radical da sociedade e da emancipação humana.
Proporcionar uma vivência anti-capitalista de sociabilidade, que começa já no momento de capacitação antes da dispersão nas comunidades, quando nos organizamos em brigadas para a divisão eqüitativa e rotativa de todas as tarefas, problematizamos conteúdos necessários para a compreensão da realidade e disseminação da compreensão da desumanidade capitalista, a fim de instrumentalizar os estagiários para que em conjunto com a monitoria e depois com a comunidade, planejem a sua vivência e conseqüentemente a atuação coletiva daquele grupo em cada assentamento/acampamento.
Na comunidade, os estagiários são submetidos às mesmas condições de vida das famílias Sem Terra, trabalhando, comendo, dormindo como um Sem Terra, ou seja, como agricultor e como militante na luta pela Reforma Agrária. Ao mesmo tempo, este estagiário é convidado a se tornar sujeito do processo educativo, construindo e aplicando oficinas, participando de mutirões ombro-a-ombro com os trabalhadores e propiciando momentos de lazer e confraternização. Deve também se inserir e aprender com as experiências das comunidades, inclusive as construídas em parceria com o NEPPA; podendo: Contribuir no fortalecimento do coletivo de juventude que toca a Rádio Sem Terra; Participar da construção de viveiros de mudas, hortas coletivas e de um sistema agroflorestal, participando da introdução da agroecologia militante na vida cotidiana dos trabalhadores e de oficinas pedagógicas na escola ou fora dela, compreendendo e exercitando a pedagogia do MST. Compreender e disseminar ações de saúde pautadas no cuidado consigo, com o coletivo e com a natureza, com base no resgate do conhecimento popular; contribuir na elaboração e execução de uma formação para juventude do campo, utilizando a arte como recurso metodológico.
O processo educativo se completa no terceiro momento, quando todos os estagiários se reúnem novamente para socializar, problematizar e avaliar coletivamente as experiências nas comunidades e a própria metodologia do EIVI. Por fim, estes sujeitos debatem as tarefas revolucionárias postas para a militância, na nossa atual conjuntura. Trata-se de uma concepção de vivência não contemplativa, ultrapassando a inércia e contribuindo para a auto-formação de agentes transformadores da realidade.
Por fim, o principal sujeito envolvido, os trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra, colocam suas demandas na mesa, propõem temas para as oficinas, aplicam oficinas sobre as suas experiências, decidem e organizam o mutirão. As famílias acolhem os estudantes em sua casa como filhos, ensinando-os como é o modo de vida camponês e militante. Além disso, as intervenções desenvolvidas são sempre pactuadas com as comunidades e as lideranças do MST, de acordo com as pautas do movimento. Nas comunidades vemos a esperança e o desejo da transformação social se intensificar, ou muitas vezes ressurgir. Famílias que vêm desenvolvendo habilidades de planejamento, liderança e auto-organização; apropriando-se de conteúdos e técnicas vinculados à agroecologia, à saúde, à radiodifusão, à pedagogia, ao MST e a como funciona a sociedade; construindo alternativas de lazer, de comunicação, de renda, de promoção da saúde e tratamento de doenças, de educação e de sociabilidade na comunidade.
O EIVI compõe uma prática política realizada pelo NEPPA desde a sua origem em 2006. Fundamenta-se na construção de experiências anti-capitalistas, em uma organização popular de confronto ao capital, visando proporcionar melhoria das condições objetivas de vida das famílias, sem cair no assistencialismo e mantendo uma perspectiva de transformação radical da sociedade. Pretendemos construir experiências as mais revolucionárias possíveis e a partir de suas peculiaridades, das possibilidades e desejos dos sujeitos envolvidos; disseminando os acúmulos, fomentando a realização de outras experiências, fortalecendo os movimentos sociais e a luta da classe trabalhadora, contribuindo para autonomia econômica, organizativa e política.
É nesse processo que o EIVI se insere e é só por isso que ele pode conter intervenções. Defender o seu caráter intervencionista, para o NEPPA, é defender a dedicação constante na construção de alternativas que promovam a transformação social referenciada na pedagogia libertadora de Paulo Freire e no projeto socialista de sociedade. Trata-se de intervir para transformar, com responsabilidade, respeito e diálogo.
Salvador, 22 de novembro de 2010,
NEPPA – Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias
[1] O NEPPA (Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias) desenvolve atividades educativas e militância com o MST Bahia desde 2006.
[2] Assentamentos Eldorado de Pitinga, Bela Vista e Nova Suíça em Santo Amaro, Acampamentos Recanto da Paz e Santa Maria em Mata de São João e Assentamentos Bento e Nova Panema em São Sebastião do Passé.
mais videos do EIV BAHIA 2010
pode ser visto no endereço abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=i1DB-tUdfvI
o que é necessário mandar para fazer a inscrição?
Luciana, entra em contato através destes números: Davi (71-8787-2618) ou Hugo (71-8848-9813) ou manda um email para: [email protected].
Abraços.
Até o dia 12 de Dezembro, Não deixa pra ultima hora hein! ^_^
Participei do III EIV -MG (estadual) em 2006 e, com algumas camaradas que participaram do estágio e compas das executivas das agrárias que participaram de outras vivências, tocamos o EIV-SP (que hoje já está na IV ou V edição). A experiência tem sido uma forma bastante privilegiada de formação política e construção de novos valores de solidariedade entre estudantes e trabalhadores do campo. Acho que este aspecto mais subjetivo, ligado à construção de novas identidades forjadas nas lutas é o que há de mais interessante nas vivência: para além da formação política teórica feitas nas fases de preparação e após a vivência, toda a experiência de gestão coletiva dos espaços e a vivência nos assentamentos contemplando o conhecimento popular e uma relação mais horizontal entre os saberes, estes elementos todos (por serem tão distintos das práticas distorcidas da universidade e seu caráter “extencionista”) gera em muitas pessoas uma verdadeira explosão na consciência. Muitos que fizeram estágio começaram a militar e estão tocando alguma luta, anos depois. Ocupações de reitorias e estágios de vivencia foram as duas últimas coisas mais relevantes do movimento estudantil brasileiro. boa sorte aos compas do eiv bahia