A terceira manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo reuniu cerca de 1000 pessoas e foi duramente reprimida. Por Passa Palavra
Cerca de 1000 pessoas se reuniram em São Paulo nesta quinta-feira, dia 13/01, para protestar contra o aumento da tarifa. Os manifestantes começaram o ato em frente ao Teatro Municipal e pretendiam ir para a Câmara dos Vereadores, onde encerrariam o protesto. Após parar na Prefeitura, o ato seguiu pela rua São Bento e pela avenida São João, onde um grande número de pedestres [peões] aderiu à manifestação, somando-se ao Movimento Passe Livre (MPL), aos estudantes, trabalhadores, movimentos sociais, partidos políticos e sindicatos presentes.
A PM desde o início não estava aberta ao diálogo com os manifestantes, ignorando por diversas vezes a responsável do MPL por dialogar com a polícia. Apesar das declarações para a imprensa do responsável pela operação, Tenente Siqueira, de que a polícia acompanhava o ato para garantir a segurança dos manifestantes, evitando que estes fossem atropelados, pudemos observar que a truculência da polícia foi a marca da sua ação.
Quando a manifestação chegou na Praça da República, passou a ocupar todas as faixas da avenida Ipiranga, e então os policiais tentaram empurrar a manifestação para menos faixas. Neste momento começaram a jogar spray de pimenta nos manifestantes e detiveram um deles. Uma parte da manifestação se dispersou pela rua 7 de abril e quando os organizadores conseguiram reagrupar os manifestantes a polícia começou a disparar bombas de estilhaço [1], de gás lacrimogênio e tiros de bala de borracha. (Para ver como foi a repressão assista o vídeo abaixo, feito pelo Latuff)
Já neste momento grande parte do ato se dispersou, enquanto alguns tentavam chegar ao ponto final da manifestação na Câmara dos Vereadores, o que se mostrou impossível devido à ação policial. A Força Tática [unidade da polícia militar paulista] intensificou a repressão, disparando um grande número de balas de borracha e jogando bombas de estilhaço no meio dos manifestantes, mesmo quando estes se encontravam na calçada [passeio] e não estavam mais “atrapalhando o trânsito”. Mesmo aqueles que não estavam na manifestação sofreram a repressão desmesurada da polícia.
Do total de 30 detidos, apenas o primeiro foi durante a manifestação; todos os outros foram pegos pela Polícia Militar após a dispersão, quando a PM caçava grupos de militantes para agredir ou prender. Vale destacar que o primeiro detido ficou circulando dentro do camburão [carro prisional] e demorou cerca de uma hora para ser levado para a Delegacia de Polícia [esquadra]. O objetivo da polícia não se restringiu a dispersar a manifestação, mas tentavam aterrorizar os manifestantes. Um dos detidos teve as fotos da sua câmera apagadas e diversas pessoas foram forçadas pela polícia a fazer o mesmo; uma das militantes detidas teve vasculhada a agenda de seu celular [telemóvel].
Com o auxílio de quatro advogados, todos os detidos foram liberados antes da meia-noite, sem nenhuma acusação formal. Mas todos tiveram que declarar a ocupação profissional e o endereço para o caso de um futuro desenvolvimento do Boletim do Ocorrência. Apenas três dos manifestantes feridos fizeram denúncia por agressão; o caso mais grave foi de uma moça que tomou um tiro de bala de borracha na cabeça, mas após ser atendida na Santa Casa já está bem.
A agenda de atividades contra o aumento continua. Neste sábado, dia 15, às 15 horas, ocorrerá um debate sobre porque se mobilizar pelo transporte, na rua das Carmelitas, 140, próximo à saída do Poupatempo no metrô Sé. Na terça-feira (dia 18/01) está sendo convocado um flash mob contra o aumento dentro do Terminal Bandeira; a ação deverá ocorrer pontualmente às 17h. Aparentemente as ações da polícia não vão intimidar os manifestantes, que estão convocando, para o dia 20/01, às 17 horas, na Praça do Ciclista (Paulista com Consolação), mais uma manifestação contra o aumento, indicando que a luta continua durante o período de férias e anunciando que vai se intensificar com a volta às aulas.
Nota
[1] Apesar de geralmente chamadas de “bombas de efeito moral”, optamos por chamá-las de bombas de estilhaço, uma vez que, quando detonadas, em geral lançam estilhaços que causam um dano físico muito maior do que moral.
Foi fodah, eu fiquei encurralada entre os tiros de bala de borracha e as bombas de efeito moral, tive sorte não fui atingida e só respirei um pouco da fumaça, a polica já chegou atirando pelos dois lados sem nem pensar 2 vezes mas isso não me pôs medo, estarei na AV Paulista lutando pelos meus direitos!