As comunidades do povo indígena ñomndaa (amuzgo), junto com diversas organizações e coletivos, celebraram nos dias 18, 19 e 20 de dezembro o Sexto Aniversário da Rádio Ñomndaa (A palavra d’água) no município (regional) de Suljaa’ ou Xochistlahuaca (que significa “Vale das flores”). Por Jóvenes en Resistencia Alternativa (*)
As comunidades do povo indígena ñomndaa (amuzgo), junto com diversas organizações e coletivos, celebraram nos dias 18, 19 e 20 de dezembro o Sexto Aniversário da Rádio Ñomndaa (A palavra d’água) no município (regional) de Suljaa’ ou Xochistlahuaca (que significa “Vale das flores”). Esta rádio comunitária está situada na região da costa-montanha no estado de Guerrero, no limite com o estado de Oaxaca.
O trabalho desta Rádio tem a característica de ser um projeto de comunicação popular vinculado à reivindicação da cultura do povo amuzgo, a luta pelo território e o exercício da sua autonomia como povo indígena.
Durante as celebrações as comunidades do povo amuzgo, incluindo os Comitês que integram a Rádio, reuniram-se com diferentes organizações sociais, coletivos, mídias livres, músicos e estudantes em diferentes mesas de trabalho. Na primeira mesa, sobre Mídia Alternativa, diferentes projetos de comunicação alternativa tiveram um diálogo sobre as preocupações, desafios, possibilidades do exercício de uma “comunicação livre que obedeça às necessidades dos povos, que informe a espoliação exercida pelos ricos e poderosos, que impulsione, promova e consolide os processos de organização em defesa da terra e do território.”
A segunda mesa foi sobre a organização do povo para a sua defesa, onde vários povos originários de Guerrero, como os ñu savi, mepha, nahua e os nanncue ñomndaa se encontraram com diferentes companheiros da cidade e reconheceram que, ainda que cada um desses povos venha de lugares diferentes, todos enfrentam problemas comuns, como são a espoliação da terra, a questão da água, a saúde, os saberes. Frente à investida de caráter mundial e de guerra total do capitalismo contra a vida é preciso a articulação entre as lutas e a defesa do que localmente se tem construído.
Na terceira mesa o eixo foi o trabalho no campo e o trabalho das mulheres amuzgos. Aqui se falou sobre a crise do campo mexicano, provocada pelos governos e a falta de oportunidades e outras problemáticas que os povos estão enfrentando nos seus territórios. Frente a isto, concluiu-se que “é preciso se organizar e fazer projetos de curto e médio prazo, autônomos e autogestivos”, bem como “desenvolver redes de comércio alternativo que consigam distribuir (…) nossos produtos a preços justos”.
O espírito festivo e rebelde dos povos amuzgos não se fez esperar e nos dias seguintes desta celebração realizou-se na praça principal de Xochistlahuaca um festival cultural em que participaram diferentes grupos musicais da região e alguns outros da Cidade do México como o combativo rapper Lengualerta. Para finalizar, o último dia fechou com chave de ouro, com um grande baile no qual por mais de 6 horas o ritmo tropical divertiu centenas de pessoas no campo de futebol.
A luta da Rádio Ñomndaa é um exemplo de resistência e dignidade que na costa-montanha de Guerrero luta por construir autonomia e uma vida diferente sem partidos políticos, nem governos. Um embrião de vida para além do capitalismo. A Rádio Ñomndaa, mais uma vez “mandou voar a palavra para que os ouvidos dignos e rebeldes a recebam e a façam maior com sua luta”.