As principais economias emergentes estão a consolidar-se num centro novo e a formar desde já uma periferia própria. É toda uma outra geopolítica que surge. Por João Bernardo

O Brasil vive uma profunda mudança de sua inserção na economia e na política globais. Nunca antes na história deste país se produziu, exportou e investiu tanto, em especial fora das fronteiras – desenvolvendo as empresas transnacionais de origem brasileira. Nunca antes a política externa brasileira foi tão independente – com base na exploração dos recursos econômicos da América Latina e na disputa de mercados e de espaços de investimento em África. Nunca antes o Brasil foi tão engajado – ao ponto de grandes capitalistas apoiarem políticas compensatórias “de esquerda”. Na verdade – e é o que queremos investigar com esta série de artigos – nunca antes o Brasil foi tão imperialista.

A economia brasileira saiu da periferia e está a formar, junto com outras, um novo centro. Mas como uma boa parte da esquerda anticapitalista parece conhecer melhor o mapa antigo do que a geografia nova, vale a pena elucidar os factos. E em economia os factos são números.

A dinâmica de expansão do capitalismo mede-se menos pela exportação de mercadorias do que pela exportação de capital, cuja modalidade actual mais importante são os investimentos externos directos. Definem-se assim os investimentos originários de um país e dirigidos para outro, que asseguram ao investidor o controlo ou, pelo menos, um interesse duradouro e uma influência decisiva na empresa onde o capital é aplicado. Considera-se habitualmente que o investimento externo é directo quando permite adquirir uma participação superior a 10% do capital de uma empresa. Enquanto os efeitos económicos da exportação de uma dada mercadoria são reduzidos, tanto em redor desse artigo particular como ao longo do tempo, os efeitos económicos de um investimento externo directo são perenes e repercutem-se em direcções múltiplas, porque o investimento reforça a companhia que o fez, no país de origem, e gera ou sustenta uma empresa inserida no tecido económico, no país que o recebeu.

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São os investimentos externos directos que tecem a rede da internacionalização das companhias. Como todos os estudos mostram que, quanto mais produtiva e mais avançada tecnologicamente for uma empresa, mais possibilidades ela tem de se internacionalizar, compreendemos que a grande maioria dos investimentos externos directos emane das economias desenvolvidas e procure economias igualmente desenvolvidas. Eu bem sei que uma das convicções arreigadas na extrema-esquerda é a de que o capital transnacional sai do centro em busca sobretudo dos países da periferia, para explorar a miséria. Mas, como infelizmente sucede com muitas convicções, esta é sustentada pela ignorância dos factos elementares. A maior parte das filiais de companhias transnacionais que têm a sede em países desenvolvidos situa-se noutros países desenvolvidos. O crescimento do capital não se obtém explorando a miséria mas explorando a força de trabalho mais produtiva, que é igualmente a mais bem paga e habita em países ou em regiões com melhores infra-estruturas. Aliás, os investimentos externos directos que se dirigem para os países em desenvolvimento ou escolhem as regiões mais adequadas ao nível de produtividade que pretendem ou eles mesmos criam as infra-estruturas materiais e sociais necessárias. Desde os meados do século passado que os investimentos externos directos têm circulado sobretudo dentro do triângulo formado pelos Estados Unidos, a União Europeia e o Japão, e só uma minoria tem sido dirigida para as economias em desenvolvimento.

A fracção dos investimentos externos directos dirigida para as economias em desenvolvimento, que havia sido 2/3 do total mundial antes da segunda guerra mundial, caiu para 1/4 na primeira metade da década de 1980 e desceu para 17% na segunda metade dessa década. Nos anos seguintes ocorreu uma subida considerável, passando para 26% em 1991 e chegando a 35% em 1992, mas o acréscimo não resultou de nenhum afluxo de investimentos externos àqueles países em desenvolvimento que tradicionalmente os acolhiam. Sucedeu que em 1991 cerca de trinta países em desenvolvimento, entre os quais a China e a Índia, até então hostis a este tipo de entrada de capital, inverteram a orientação e começaram a atrair as boas graças das companhias transnacionais, enquanto a privatização de importantes empresas públicas ofereceu oportunidades suplementares ao capital estrangeiro. Neste grupo de países o investimento externo directo foi responsável por 17% do capital atraído pelas privatizações durante o período de 1988 até 1992. Em 1995 as economias em desenvolvimento acolhiam ainda 32% dos investimentos externos directos, mas em 1999 a percentagem tinha descido para 25%. A tendência de novo se inverteu ao longo da primeira década deste século, o que é significativo, porque não ocorreu então nenhum aumento do número de países recebedores. Em 2004 o fluxo de investimentos externos directos dirigidos para as economias em desenvolvimento correspondeu a 36% do total, percentagem que baixou para 33% em 2005. No ano seguinte as economias em desenvolvimento receberam apenas 29% do fluxo total de investimentos externos directos, descendo a percentagem para 27% em 2007. A tabela 1 ilustra a evolução da situação.

Tabela 1: Fluxos de investimento externo directo recebidos por tipo de economia (em %) 

Os leitores atentos — possivelmente existem — terão observado que nas duas últimas colunas da tabela 1 a soma das percentagens é inferior a 100. Isto deve-se ao aparecimento de uma terceira categoria, as Economias em Transição, reunindo os países resultantes da desagregação da esfera soviética.

Mas a crise nas economias desenvolvidas alterou drasticamente a orientação dos fluxos de investimento externo directo e, em 2008, 43% do total dirigiu-se para as economias em desenvolvimento e em transição, que em 2009 receberam quase 50% do total, situação que se manteve no primeiro semestre de 2010.

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Esta reorientação dos fluxos de investimento externo directo é um dos aspectos do decoupling, a dissociação que levou as taxas de crescimento positivo ou negativo do Produto Interno Bruto, as taxas de inflação e os movimentos de capitais a assumirem perfis inversos nas economias desenvolvidas e nas novas economias emergentes. Abordei a questão no segundo artigo de uma série publicada neste site. Como observou Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social, BNDES: «Há, hoje, um consenso de que o crescimento da economia mundial será puxado na(s) próxima(s) década(s) pelas economias em desenvolvimento. Nesse sentido, em termos de tendências, já está configurado um decoupling entre o crescimento anêmico das economias desenvolvidas e a firme propensão ao crescimento das economias em desenvolvimento» [1]. O decoupling indica que a crise financeira desencadeada em 2008 não se converteu numa crise económica mundial, limitando-se a afectar os Estados Unidos e a União Europeia e a agravar a estagnação em que já se encontrava o Japão, enquanto propiciou oportunidades de crescimento aos países emergentes, especialmente àquele grupo de quatro a que desde 2001 se tem chamado BRICs [2].

O decoupling é ainda mais acentuado na evolução dos fluxos de investimento externo directo emanados das economias em desenvolvimento e em transição do que na evolução dos fluxos recebidos por essas economias. Inicialmente inexpressivos, os investimentos externos directos oriundos das economias em desenvolvimento progrediam já antes da crise financeira mundial, como se pode ver na tabela 2.

Tabela 2: Fluxos de investimento externo directo emanados por tipo de economia (em %)


Detalhando a análise para os anos recentes, em 2004 as economias em desenvolvimento e em transição foram responsáveis por 13% dos fluxos totais de investimento externo directo emanados de todo o mundo, e por 17% em 2005, ou 15% se contarmos apenas as economias em desenvolvimento. Em 2006, 16% do fluxo total de investimentos externos directos teve origem nas economias em desenvolvimento e em transição, e no ano seguinte diminuiu a parte que coube às economias em desenvolvimento, passando para 13%. Mas em 2008 a crise nas economias desenvolvidas fez sentir os seus efeitos e a percentagem do fluxo total de investimentos externos directos oriunda das economias em desenvolvimento e em transição subiu para 19% e continuou a subir em 2009, atingindo 25%, ou 21% se considerarmos só as economias em desenvolvimento.

Hoje as companhias transnacionais sediadas em economias em desenvolvimento tornaram-se uma presença significativa, ainda que minoritária, no panorama mundial e, o que é mais decisivo, uma presença que se alastra. As crises raramente trazem algo novo, mas são reveladoras porque precipitam negativa ou positivamente tendências que vinham a verificar-se, e já em 1983 Louis T. Wells, da Harvard Business School, dedicara um livro à formação de companhias transnacionais nas economias em desenvolvimento, prevendo que elas haveriam de se multiplicar rapidamente [3]. Em 2008, quando o crescimento continuado da produtividade nas economias emergentes mais importantes, especialmente nos BRICs, se cruzou com a crise sofrida pelas economias desenvolvidas, ficaram criadas as condições para a inversão geopolítica do capitalismo mundial. Está desde então a formar-se um novo centro, em contraste com as dificuldades sentidas pelo centro antigo. Em vez de a crise nas economias desenvolvidas ter desencadeado uma crise em todo o sistema, é uma parte da antiga periferia que está a converter-se em novo centro, dando outro fôlego ao capitalismo. Não assistimos à crise mundial do capitalismo, mas à sua reorganização espacial.

Se os países em desenvolvimento orientassem os seus investimentos directos para as economias desenvolvidas, estariam a reforçar o antigo centro. Mas é o contrário que se passa, e os investimentos directos oriundos de países em desenvolvimento, na sua maior parte e num volume crescente, dirigem-se para outros países em desenvolvimento, onde escolhem as regiões com uma força de trabalho mais produtiva ou tratam de desenvolver essa produtividade. Assim, as principais economias emergentes estão a consolidar-se num centro novo e a formar desde já uma periferia própria. É toda uma outra geopolítica que surge.

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O imperialismo não consiste hoje numa exportação de capital que amplie o poder do país de onde sai o investimento sobre aquele que o recebe. Desde as últimas décadas do século XIX até à segunda guerra mundial, a forma típica de internacionalização das empresas consistia na formação de sedes nas metrópoles e de filiais nas colónias ou em países semicolonizados. Tratava-se antes de mais de assegurar a obtenção de matérias-primas para processos de fabrico prosseguidos nas metrópoles e de assegurar o escoamento dos artigos manufacturados. A partir da segunda guerra mundial generalizou-se outro modelo, que já começara a desenvolver-se anteriormente. A internacionalização passou a afectar o próprio processo de produção e as filiais reproduziram o modelo da matriz, embora em menor escala. Foram estas as companhias a que devemos reservar a designação de multinacionais. Nas últimas décadas, porém, a relação entre matriz e filiais foi profundamente remodelada e as filiais começaram a especializar-se em fases específicas do processo de produção, instalando-se cadeias produtivas únicas ou interligadas, espalhadas por vários pontos do mundo e dotadas de elevada mobilidade. As companhias transnacionalizaram-se, tornaram-se pluricentradas e geograficamente mutáveis, deixando de ter nas fronteiras um obstáculo e de ver nos países de origem uma cultura a promover e dilatar. As novas companhias transnacionais podem, se isto lhes convier, mudar a sede de lugar ou fraccioná-la consoante ramos de actividade e dispersar estes centros por países diferentes, conseguindo assim iludir as disposições dos governos tanto do país onde tiveram origem como dos países que as acolhem.

Samuel Palmisano, a principal figura da IBM, resumiu estas transformações num excelente artigo [4]. «Nos meados do século XIX assistiu-se ao aparecimento do que se pode designar como companhia internacional», escreveu ele. Estas companhias procuravam abrir ou controlar rotas comerciais internacionais e usá-las para importar matérias-primas e exportar produtos acabados. «A segunda fase da vida das companhias iniciou-se em 1914, com a primeira guerra mundial e o subsequente colapso das economias nos Estados Unidos e na Europa». A interrupção das rotas comerciais provocada pela guerra e os obstáculos que o proteccionismo das décadas de 1920 e 1930 ergueu ao comércio internacional levaram à formação das companhias multinacionais. «As companhias multinacionais eram híbridas. Por um lado, adaptaram-se às barreiras comerciais desenvolvendo a produção no local. […] Por outro lado, as companhias multinacionais prosseguiram num âmbito global algumas tarefas, nomeadamente a pesquisa e desenvolvimento e o design de produtos». Mas a partir da década de 1970, continuou Samuel Palmisano, formaram-se companhias integradas globalmente, «que moldam a estratégia, a gestão e as actividades tendo em vista um novo objectivo: a integração da produção e da obtenção de valor à escala do mundo inteiro. As fronteiras dos países definem cada vez menos os limites do pensamento e da acção das companhias». A crescente subcontratação das actividades permite às companhias ultrapassar quaisquer quadros nacionais e converterem-se em integradoras de actividades especializadas.

Um dos indícios da transnacionalização das companhias é o âmbito de recrutamento dos gestores. Está morta e enterrada a época do «fardo do homem branco», quando administradores com a nacionalidade da matriz eram metidos em barcos, depois em aviões, para irem dirigir as filiais no outro lado do mundo, reprodutores e propagandistas da cultura originária da companhia. Agora, a tendência para dar um carácter plurinacional e intercultural, verdadeiramente cosmopolita, às administrações das empresas é um efeito e uma condição da transnacionalização.

Outro indício da transnacionalização é a criação de centros de pesquisa e desenvolvimento junto a algumas das filiais de uma companhia. Já na fase das multinacionais este processo ocorria, embora em escala reduzida e, salvo raríssimas excepções, somente quando era necessária a adaptação local de tecnologias vindas da sede. O que se passa agora com as transnacionais, porém, não é apenas um aumento da dimensão do processo mas uma mudança qualitativa, porque pela primeira vez estão a criar-se nas filiais centros de pesquisa e desenvolvimento que não se limitam a adaptar um tecnologia e procedem a investigações científicas complexas e inovadoras. E isto tem sucedido não só quando as filiais estão estabelecidas em países desenvolvidos mas também, de forma minoritária ainda que crescente, quando se localizam em alguns poucos países emergentes, especialmente asiáticos [5]. Ora, como nos anos finais do século passado e nos primeiros anos deste século as companhias transnacionais foram responsáveis por perto de metade das despesas globais em pesquisa e desenvolvimento e como se trata de uma das principais actividades geradoras de valor acrescentado [agregado], esta vertente da transnacionalização tem repercussões consideráveis.

As companhias transnacionais não são uma extensão do poder dos seus países originários e converteram-se em poderes próprios, cujos limites espaciais não se confundem com as fronteiras de nenhum Estado nem são estáveis como elas. Por isso a recente crise teve repercussões diferentes sobre as companhias transnacionais e sobre as economias nacionais. «Apesar dos seus efeitos sobre os fluxos do investimento externo directo, a crise global não interrompeu a crescente internacionalização da produção», lê-se no World Investment Report 2010 [6]. «Em 2008 e 2009 a diminuição das vendas e do valor acrescentado nas filiais estrangeiras das companhias transnacionais foi menor do que a contracção da economia mundial. Em consequência, a participação das filiais estrangeiras no Produto Interno Bruto global atingiu o máximo histórico de 11%».

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A integração das cadeias produtivas e a sua dispersão pelo mundo tiveram como resultado a absorção de uma parte considerável do comércio internacional pelos movimentos de transferências internas dessas cadeias produtivas. Enquanto categoria estatística, o comércio internacional é hoje ilusório, como mostrou a economista DeAnne Julius num livro publicado em 1990, Global Companies and Public Policy: The Growing Challenge of Foreign Direct Investment. DeAnne Julius calculou que o comércio no interior de companhias entre as sedes e as filiais no estrangeiro era responsável por mais de metade do comércio total entre os países da OCDE. 1/3 das exportações dos Estados Unidos dirigia-se para firmas no estrangeiro que eram propriedade de matrizes norte-americanas, enquanto outro 1/3 era constituído pelos bens e serviços que as companhias estrangeiras com filiais nos Estados Unidos enviavam para os países onde tinham as sedes. Ainda de acordo com DeAnne Julius, em 1986 cerca de 1/5 das importações dos Estados Unidos fora proveniente de companhias localizadas no estrangeiro, mas de propriedade norte-americana, enquanto 1/3 fora composto por bens e serviços que companhias localizadas nos Estados Unidos, mas de propriedade estrangeira, haviam adquirido aos países onde tinham a sede. Esta economista chamou também a atenção para o facto de as vendas resultantes da produção das filiais de uma companhia transnacional no país de acolhimento não serem contabilizadas como exportações do país onde essa companhia tinha a sede, assim como as aquisições locais feitas pelas filiais não serem contadas como importações. Apesar disto, sob o ponto de vista da companhia as vendas efectuadas por uma filial no país onde está estabelecida integram-se tanto nas vendas ao estrangeiro como sucede com qualquer exportação, o que acentua o carácter obsoleto das estatísticas do comércio externo num sistema mundial transnacionalizado. DeAnne Julius calculou que as vendas totais das companhias de propriedade norte-americana, tanto matrizes como filiais, às de propriedade estrangeira foram cinco vezes superiores ao valor convencionalmente atribuído às exportações dos Estados Unidos, enquanto as aquisições por companhias estrangeiras foram três vezes superiores às importações efectuadas pelos Estados Unidos. Paralelamente, onze das doze principais economias da OCDE vendiam mais nos Estados Unidos através das suas filiais aí localizadas do que através de exportações. Aliás, segundo Ana Cláudia Além e Carlos Eduardo Cavalcanti, em 1992 mais de 1/3 das exportações norte-americanas de equipamentos de transporte e mais de 2/3 das de material eléctrico e electrónico corresponderam a exportações no interior das mesmas companhias transnacionais [7].

A mesma perspectiva foi usada pelo economista e especialista em administração Dennis Encarnation em Rivals beyond Trade: America versus Japan in Global Competition, um livro publicado em 1992. O autor calculou que mais de 2/3 das importações dos Estados Unidos provenientes do Japão ocorriam no interior de companhias estabelecidas em ambos os países, enquanto o comércio no interior de companhias contribuiu com menos de metade das exportações dos Estados Unidos para o Japão. Aliás, note-se que a maioria destas exportações era proveniente das filiais japonesas em direcção às matrizes nipónicas. Em sentido inverso, as vendas nos Estados Unidos por parte de fábricas, unidades montadoras e armazéns existentes naquele país, mas de propriedade japonesa, corresponderam ao dobro do valor total das exportações do Japão para os Estados Unidos. Dennis Encarnation avaliou ainda que o comércio no interior de companhias foi responsável por mais de 2/5 das importações totais dos Estados Unidos e mais de 1/3 das exportações totais deste país, valores um tanto diferentes dos calculados por DeAnne Julius. O carácter especialmente drástico da absorção das transacções internacionais pelas companhias transnacionais nipónicas foi confirmado pelo economista Robert Lawrence, estabelecendo que no Japão o comércio no interior das companhias foi responsável em 1990 por mais de 70% do comércio total do país, enquanto os valores correspondentes se localizaram entre 30% e 50% nos Estados Unidos e na Europa ocidental.

Esta transformação do comércio internacional em comércio intratransnacional, avaliada para os anos em torno de 1990, acentuou-se ao longo das duas décadas seguintes, acompanhando o desenvolvimento da transnacionalização. «No comércio internacional, uma das categorias que mais têm crescido é o comércio intrafirma», afirmaram Ana Cláudia Além e Rodrigo Madeira [8]. Finalmente, segundo o World Investment Report 2009 [9], «calcula-se que as exportações efectuadas pelas filiais estrangeiras de companhias transnacionais sejam responsáveis por cerca de 1/3 das exportações mundiais totais de bens e serviços».

Adoptando outra perspectiva, Ricardo Reisen de Pinho [10] observou que «o fluxo de investimentos diretos no exterior já se tornou mais importante que o comércio no aporte de bens e serviços nos mercados externos, com o faturamento de subsidiárias estrangeiras sendo superior ao do fluxo das exportações mundiais». Mas não pretendo aqui comparar o volume de negócios das companhias transnacionais com as economias nacionais, o que seria um exercício desprovido de rigor, porque se estaria a contabilizar duas vezes a mesma coisa. O meu objectivo é mostrar que a divisão em países, que nos habituámos a considerar como a forma natural de abordagem da economia mundial, deve hoje em grande medida ser substituída pela divisão em companhias transnacionais. As estatísticas de âmbito nacional, divulgadas pela generalidade dos meios de informação e que a esmagadora maioria dos economistas usa nas análises, têm um carácter obsoleto, porque presumem que as matrizes das companhias transnacionais e as suas filiais no estrangeiro prosseguem particularizadamente a actividade, quando é o contrário que sucede, devido à integração das cadeias produtivas.

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No novo espaço transnacional aumentou a complexidade da articulação entre mais-valia relativa e mais-valia absoluta, ou seja, entre as modalidades de exploração tecnologicamente avançadas e produtivas e as modalidades pouco sofisticadas e de baixa produtividade.

Por um lado, o recurso extensivo à subcontratação limita o efeito de arrastamento exercido pelas companhias transnacionais sobre a economia dos países onde estão implantadas as filiais e mesmo do país onde fica a sede. Uma das vantagens — para os capitalistas, entenda-se — da dispersão geográfica das empresas é a possibilidade de recrutarem força de trabalho de diferentes qualificações e diferentes patamares salariais, consoante as necessidades de cada fase da cadeia produtiva ou de cadeias produtivas entrelaçadas. Os benefícios trazidos aos capitalistas por esta dispersão sócio-geográfica ampliaram-se porque a transnacionalização permite instalar de uma maneira exacta cada fase de uma cadeia produtiva no país e na região que lhe for mais favorável. Diversos graus de mais-valia absoluta conjugam-se assim com ciclos mais ou menos avançados de mais-valia relativa, e esta articulação, em vez de indicar qualquer obstáculo ao crescimento da produtividade da empresa, é, pelo contrário, um factor que estimula esse crescimento. O próprio desenvolvimento da produtividade requer que, enquanto partes da cadeia de produção ficam a cargo de trabalhadores muito qualificados, outras sejam entregues a uma força de trabalho pouco qualificada. A dicotomia entre progresso e atraso já não serve para distinguir um centro e uma periferia, mas permeia todos os países e todas as regiões.

E assim podem gerar-se situações como a do Japão, onde sedes de firmas transnacionais muito dinâmicas e que se contam entre as maiores do mundo coexistem com uma economia nacional que atravessa uma estagnação duradoura. A coabitação entre companhias transnacionais prósperas e regiões em dificuldades ou mesmo miseráveis encontra-se em praticamente todos os países, desenvolvidos ou em desenvolvimento, e tende a perpetuar-se porque os países mais bem preparados para triunfar na concorrência internacional são aqueles que dispõem de um leque mais amplo de força de trabalho, desde a pouco qualificada e com salários baixos até à muito qualificada e com remunerações elevadas. Estes países podem produzir e exportar tanto bens pouco sofisticados, produzidos em ramos trabalho-intensivos, como com bens muito sofisticados, produzidos em ramos capital-intensivos.

Por outro lado, esta mesma desigualdade ocorre no interior de cada companhia transnacional. A integração das cadeias produtivas e a sua ramificação pelo mundo pressupõem que as companhias transnacionais distribuam as várias fases dos processos de trabalho por diversos países, e os graus de qualificação da mão-de-obra e os seus níveis salariais incluem-se entre os factores que uma administração leva em conta para organizar uma distribuição eficaz. Não só no interior da mesma companhia mas no interior das mesmas cadeias de produção conjugam-se a mais-valia relativa e a mais-valia absoluta, com o leque de gradações entre os dois extremos. Os países e as companhias que disponham de todos os tipos de mão-de-obra gozam de uma vantagem comparativa relativamente àqueles que disponham de um só tipo de mão-de-obra, e a diversidade interna das companhias transnacionais vem ainda complicar a diversidade no interior dos países.

A divisão entre centro e periferia deixou de corresponder às fronteiras políticas e passou a permear os espaços nacionais, uma situação que deixa sem efeito as antigas noções das teorias do desenvolvimento e das teorias da dependência. Não pretendo aqui tecer considerações sobre a correspondência ou não correspondência daquelas noções a um ou outro quadro teórico. Pretendo afirmar que elas já não se adequam à realidade. Tornaram-se inúteis e, deixando de ser um instrumento de análise económica, ficaram reduzidas à condição de objecto da história das ideias.

«Aceito trabalhar para imbecis»
«Aceito trabalhar para imbecis»

6.

Nesta nova geopolítica, gerada e dominada pelas companhias transnacionais, que espaço resta para os Estados nacionais?

«Entre os desafios mais urgentes com que deparam as instituições globais emergentes em todas as esferas da sociedade contam-se a segurança e a ordem globais. Sem elas, nada é possível», escreveu Samuel Palmisano no artigo que mencionei há pouco, e dificilmente se encontraria uma opinião sobre o assunto mais valiosa do que a da primeira figura da IBM. «As companhias só investirão em sistemas de produção globais se tiverem motivo para crer que as relações geopolíticas que lhes possibilitam os investimentos serão estáveis e duradouras. […] Uma tendência promissora rumo a uma maior estabilidade global é o crescimento de redes horizontais, intergovernamentais, entre os legisladores e os membros dos organismos reguladores de todo o mundo. Edificadas sobre padrões profissionais comuns e sobre as relações entre comunidades de especialistas de variadas nacionalidades, estas redes são curiosamente análogas às novas formas de organização da actividade nas empresas, nomeadamente as cadeias de oferta integradas globalmente, os “eco-sistemas” comerciais e as comunidades de código aberto».

A superstrutura política da economia transnacionalizada decorre, para Samuel Palmisano, dos sistemas organizativos típicos da classe dos gestores, sendo as relações entre companhias transnacionais e conjuntos supra-estatais reguladas por uma tecnoburocracia similar à que se gerou no interior das empresas.

Notas

[1] «A construção de fundamentos para o crescimento sustentável da economia brasileira», em Ana Cláudia Além e Fabio Giambiagi (orgs.), O BNDES em um Brasil em Transição, Rio de Janeiro: BNDES, 2010, pág. 18.
[2] Denominação cunhada por Jim O’Neill em 2001 para designar os países emergentes activadores da economia mundial: Brasil, Rússia, Índia e China.
[3] Louis T. Wells, Third World Multinationals: The Rise of Foreign Investment from Developing Countries, Cambridge, MA: MIT Press, 1983.
[4] Samuel J. Palmisano, «The Globally Integrated Enterprise», Foreign Affairs, Maio-Junho de 2006. Na IBM Samuel Palmisano reúne os cargos de chairman, chief executive officer e president.
[5] Esta evolução pode ser exemplificada no Brasil pelas sucessivas transformações operadas no Centro Tecnológico da General Motors em São Caetano.
[6] United Nations Conference on Trade and Development, World Investment Report 2010. Investing in a Low-Carbon Economy, Nova Iorque e Genebra: United Nations, 2010, pág. xviii; ver também a pág. 16.
[7] Ana Cláudia Além e Carlos Eduardo Cavalcanti, «O BNDES e o Apoio à Internacionalização das Empresas Brasileiras: Algumas Reflexões», Revista do BNDES, Dezembro de 2005, pág. 58.
[8] «Internacionalização e Competitividade: A Importância da Criação de Empresas Multinacionais Brasileiras», em Ana Cláudia Além e Fabio Giambiagi (orgs.), op. cit., pág. 43. O mesmo afirmaram, e praticamente com as mesmas palavras, Ana Cláudia Além e Carlos Eduardo Cavalcanti em «O BNDES e o Apoio à Internacionalização das Empresas Brasileiras: Algumas Reflexões», op. cit., e Beky Moron de Macadar, «Os Investimentos Diretos no Exterior dos Países em Desenvolvimento e a Experiência Brasileira Recente», Indicadores Econômicos FEE, Fevereiro de 2008.
[9] United Nations Conference on Trade and Development, World Investment Report 2009. Transnational Corporations, Agricultural Production and Development, Nova Iorque e Genebra: United Nations, 2009, págs. xxi e 17.
[10] Gigantes Brasileiros: Multinacionais Emergentes e Competição Global, tese de doutorado apresentada em 2008 na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, pág. 35.

Ilustrações: graffiti atribuídos a Banksy.

4 COMENTÁRIOS

  1. É interessante ver como no discurso nacionalista (de direita e de esquerda) existe uma exaltação das empresas ditas de capital “100% nacional”. Como mostra este artigo, a transnacionalização da economia está minando com qualquer possibilidade de definir o capital por sua “origem”. Isso só é possível se o capital não for definido como uma relação social, mas como uma determinada forma de propriedade jurídica, onde a “nacionalidade” do capital seria a mesma dos proprietários e/ou acionistas da empresa; ou relativa ao país onde surgiu a empresa, ou seus investidores. No entanto, como definir, dentro desse marco teórico-metodologico, a nacionalidade do capital de uma empresa que tem parte de sua produção na China, que possui sedes em outros países (exploram trabalhadores de outras nacionalidades), que realiza investimentos financeiros nas mais diversas bolsas mundiais, etc.? No atual nível de cooperação produtiva transnacional, sendo o capital uma relação, o orgulho pelas “nossas empresas” me parece apenas uma ideologia chauvinista. Aqui, anti-imperialismo (que não se resume a este processo) e anti-capitalismo seguem caminhos diametralmente opostos. Como afirmou o próprio autor, não se trata de prescindir do Estado-Nação enquanto categoria de análise, mas de investigar as reais determinações dos processos econômicos. Mas, antes de tudo, trata-se de mostrar o processo de internacionalização da exploração em níveis jamais vistos, aspecto primordial do ponto de vista político.

  2. O texto ajuda a elucidar o que fazem o BNDES e a OAS na Bolívia e o BNDES e a Odebrecht em Cuba, dentre outras demonstrações da pujança do capital brasileiro.

  3. Atualizando alguns dados:

    Fluxos de investimento externo direto recebidos por tipo de economia (em %) (tabela 1)

    2010 2011 2012
    Economias desenvolvidas: 49.4 49.7 41.5
    Economias em desenvolvimento: 45.2 44.5 52.0

    Só Leste e Sudeste da Ásia: 22.2 20.8 24.1
    Só América Latina e Caribe: 13.5 15.1 18.1

    Fluxos de investimento externo direto emanados por tipo de economia (em %) (tabela 2)

    2010 2011 2012
    Economias desenvolvidas: 68.4 70.5 65.4
    Economias em desenvolvimento: 27.5 25.2 30.6

    Só Leste e Sudeste da Ásia: 16.9 16.2 19.8
    Só América Latina e Caribe: 7.9 6.3 7.4

    Lembrando que, dos “Brics” a Rússia não é computada nesses dados das duas tabelas, pois não é incluída na guia “economia em desenvolvimento” e sim em “Economia em transição” (por isso os dados não fecham 100%). E a Índia não está inclusa na guia Leste e Sudeste da Ásia, a qual inclui apenas China, Hong Kong, Singapura, Malásia e Indonésia.

    É injustificável esse artigo não ter gerado um debate. Será que todos que leram concordaram? JB está repensando, fundado em dados, a concepção vigente na extrema-esquerda de o que é o Imperialismo e suas formas mais recentes de ação. Como pensar com realismo qualquer estratégia de revolução socialista sem entender essa problemática? Começo a entender quando o JB diz que o nacionalismo é um problema de falsa-consciência da classe.
    Me parece que os dados mais recentes confirmam a linha de análise desse artigo de João Bernardo. O equilíbrio da tabela 1, que em 2012 acusa inclusive uma inversão, mostra bem que o capital transnacional operou uma reorganização espacial que tornou obsoleto o uso analítico do par conceitual “centro-periferia” e toda a interpretação acerca do modus operandi do Imperialismo tal como foi teorizado pelos clássicos do século XX. O equilíbrio da tabela 1 decorre, a meu ver, do próprio anacronismo de se pensar a economia pela lógica de nações; trata-se de uma consequência do fato de que hoje em dia

    “As companhias transnacionais não são uma extensão do poder dos seus países originários e converteram-se em poderes próprios, cujos limites espaciais não se confundem com as fronteiras de nenhum Estado nem são estáveis como elas.”

    Entretanto, esse mesmo equilíbrio, me parece, mostra que a afirmativa

    “os investimentos directos oriundos de países em desenvolvimento, na sua maior parte e num volume crescente, dirigem-se para outros países em desenvolvimento, onde escolhem as regiões com uma força de trabalho mais produtiva ou tratam de desenvolver essa produtividade. Assim, as principais economias emergentes estão a consolidar-se num centro novo e a formar desde já uma periferia própria. É toda uma outra geopolítica que surge.”

    deve ser vista com cuidado, pois se é verdade que vemos toda uma nova geopolítica pluricentral, por outro lado o equilíbrio da tabela 1 pode mostrar que o IED proveniente das economias desenvolvidas estão sim indo para a antiga periferia, que já se modernizou suficientemente para ter uma estrutura geográfica e uma força de trabalho bastante produtiva e, o que é tão importante quanto, possui uma força de trabalho historicamente acostumada àquilo que os clássicos chamavam de “superexploração”, bem como apresentam muitas vezes menor combatividade (pois no antigo centro as classes trabalhadoras lutam contra as retiradas das concessões históricas do Welfare State, etc, concessões que a classe trabalhadora da periferia nunca teve)e, portanto, menor resistência a algumas das imposições do capital transnacional, que se aproveita de todos os lados possíveis, desde essa possibilidade de mão-de-obra mais barata, até matéria-prima mais próxima e isenções de toda monta (que barateiam os custos de produção) dadas pelos governos dessa antiga “periferia”, governos dispostos e sedentos dos investimentos desses capitais transnacionais, que também encontram, muitas vezes, essa periferia como mercado de consumo isento de alguns gastos de transporte. Enfim, estou falando das vantagens relativas que o capital sabe aproveitar; uma reflexão que foi contemplada na conclusão seguinte de que

    “As companhias transnacionalizaram-se, tornaram-se pluricentradas e geograficamente mutáveis, deixando de ter nas fronteiras um obstáculo e de ver nos países de origem uma cultura a promover e dilatar. As novas companhias transnacionais podem, se isto lhes convier, mudar a sede de lugar ou fraccioná-la consoante ramos de actividade e dispersar estes centros por países diferentes, conseguindo assim iludir as disposições dos governos tanto do país onde tiveram origem como dos países que as acolhem.”

    Essa conclusão, inclusive, poderia nos levar a concluir (como parece ser sugerido no fim do tópico 4 do artigo) que os indicativos de IED se tornarão, no futuro (se não já o são) anacrônicos para se pensar a economia contemporânea, na medida em que ainda operam pelo fracionamento regional e nacional desse movimento de capitais que é transnacional. A única coisa que acho que torna essa ideia equivocada é não só o fato de que o sistema do capital é incapaz de superar a organização política em diferentes Estados nacionais com desenvolvimento desigual e combinado consoante a divisão internacional do trabalho, mas também o fato de que as trocas e fluxos de capital se dão necessariamente por meio de moedas nacionais sujeitas não só a câmbios e políticas monetárias próprias, mas que necessariamente tem que ter um padrão de medida, atualmente o dólar. Isso sem falar que os salários mínimos são politicamente definidos ainda pelo padrão “nacional”. (não tenho certeza se está de todo correto esse último raciocínio que acabo de fazer; o fiz justamente para saber a opinião do autor e dos camaradas do Passapalavra).
    JB, peço desculpas pelo tamanho do comentário. Parabéns pelo texto, é excelente!

  4. Neste artigo, quando afirmei que «a integração das cadeias produtivas e a sua dispersão pelo mundo tiveram como resultado a absorção de uma parte considerável do comércio internacional pelos movimentos de transferências internas dessas cadeias produtivas», concluindo que, «enquanto categoria estatística, o comércio internacional é hoje ilusório», citei a economista DeAnne Julius que, num livro publicado em 1990, calculara que «o comércio no interior de companhias entre as sedes e as filiais no estrangeiro era responsável por mais de metade do comércio total entre os países da OCDE». «Esta economista», acrescentei eu, «chamou também a atenção para o facto de as vendas resultantes da produção das filiais de uma companhia transnacional no país de acolhimento não serem contabilizadas como exportações do país onde essa companhia tinha a sede, assim como as aquisições locais feitas pelas filiais não serem contadas como importações. Apesar disto, sob o ponto de vista da companhia as vendas efectuadas por uma filial no país onde está estabelecida integram-se tanto nas vendas ao estrangeiro como sucede com qualquer exportação, o que acentua o carácter obsoleto das estatísticas do comércio externo num sistema mundial transnacionalizado».

    A este respeito, é elucidativo observar que, segundo um editorial publicado em The Economist em 23 de Maio de 2024, What India’s Clout in White-Collar Work Means for the World, os global capability centres (GCC), definidos como centros «where multinational companies carry out complex tasks, from design to research», são cada vez mais importantes para a economia da Índia, onde já estão estabelecidos cerca de 1.600. E o editorial prossegue: «It is hard to be sure how much GCCs matter to the Indian economy, because they feature in companies’ internal accounts. However, they are thought to employ some 1.7m of its IT sector’s 5.4m workers, with salaries over four times the national average. By one estimate, they create about $120bn in value and are growing by 11-12% a year. If so, GCCs already represent over a third of India’s services exports, which would make them its biggest export category after IT services themselves».

    É mais um elemento a comprovar que a transnacionalização da economia deixou ultrapassadas, e desprovidas sequer de fundamentação estatística, as perpectivas económicas centradas no nacionalismo. Mas poderá uma esquerda que se assume como essencialmente nacionalista reconhecer o seu carácter obsoleto?

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