Nos anos da revolução dos cravos, o SAAL-Norte reuniu alguns dos melhores arquitectos portugueses para (re)construir e reabilitar vários bairros pobres e favelas da região do Porto. A Luísa Brandão fazia o habitual inquérito prévio aos moradores do vasto bairro semiclandestino da zona mineira de S. Pedro da Cova. Fora de casa, a mãe de família lavava a roupa na pia de cimento enquanto, de pé ao seu lado, a Luísa lhe dizia: “Está a ver? Nós queremos reconstruir as casas segundo as necessidades dos moradores… Diga-nos como é a casa de que a senhora precisa para a sua família, e nós desenhamo-la assim.” A mulher respondeu: “Pois…” E a Luísa continuou: “E é preciso a água corrente, os esgotos… É horrível ver aqui estas crianças nuas a brincar nos regos a céu aberto… Veja: olhe aqui este rego cheio de minhocas.” A mulher parou de lavar e olhou um momento os vermes rabejando na água suja: “Pois, coitadinhas, estão cheiinhas de sedinha!” Passa Palavra