Ato público em lembrança de Júlio César de Menezes Coelho e Caíque da Mata dos Santos

Lutar sempre, esquecer jamais!

Ato público em lembrança de Júlio César de Menezes Coelho e Caíque da Mata dos Santos

Dia 17 de setembro, às 14hs, concentração na Praça Avilã próximo à Escola Municipal Raul Pederneiras

 

No próximo sábado, dia 17 de setembro, familiares e amigos de Júlio César de Menezes Coelho e Caíque da Mata dos Santos farão uma manifestação pública por justiça e em lembrança dos dois jovens. O primeiro, de 19 anos, foi morto em 2010 por policiais militares do 16° Batalhão, quando estava em uma praça conversando com amigos na Cidade Alta. Já Caíque, de apenas 5 anos, assassinado em 2011, estava brincando na rua quando policiais do mesmo BPM entraram atirando na comunidade Pica-Pau, onde morava.

No primeiro caso, a versão oficial tentou classificar Júlio César como traficante e que este teria trocado tiros com os PMs, que registraram o ocorrido como auto de resistência. Entretanto, logo após esta versão seria desmentida pelas testemunhas e pela própria história de vida deste jovem, que estudava e trabalhava. Em relação ao Caíque, inicialmente o comando do referido batalhão afirmou que não ocorrera uma incursão naquela localidade, voltando atrás logo em seguida depois que se confirmou que os policiais estiveram na comunidade e que, inclusive, passaram pelo garoto, já no chão, e não prestaram socorro.

Desde estes fatídicos acontecimentos, os familiares destes jovens iniciaram uma luta por justiça. Exigem que a justiça seja feita. Exigem a imediata punição para os que retiraram a vida de seus entes mais queridos.

 

Mais informações:

Joelma (tia do Julio Cesar): 9182-5195

Rogério (pai do Caíque): 3137-9466

 

Comissão de Comunicação da Rede contra Violência

Relembre os casos:

Júlio Cesar de Menezes Coelho

No dia 18 de setembro, por volta das 18hs, o jovem Júlio Cesar de Menezes Coelho foi morto por policiais militares do 16º Batalhão na comunidade da Cidade Alta, no subúrbio da cidade. No momento do ocorrido, sua tia, Joelma, tinha acabado de chegar em casa do trabalho, também na localidade, em torno das 18hs. Resolveu tomar um banho e descansar. Logo depois, começaria a ouvir tiros. Escondeu-se e comentou o que ocorria com um amigo. Os tiros continuaram. Joelma preocupou-se com os parentes. Neste instante, ouviu o último tiro e teria feito o seguinte comentário: “deram para matar”. Após este momento, pensou que a situação havia tranqüilizado, mas os tiros retornaram e cessaram rapidamente. Em seguida, sua irmã foi a sua casa e lhe disse que havia ocorrido algo com Júlio César. Joelma ficou preocupada e começou a rezar por ele, pois até então não se sabia o que realmente havia ocorrido.

Posteriormente, integrantes da família saíram de casa para saber mais notícias do jovem. Apareceu uma amiga de Júlio, moradora local, e disse que ele havia sido atingido. Esta amiga informaria aos familiares de Júlio que avistou o jovem sendo colocado pelos policiais no blindado conhecido como caveirão, mas que não se sabia para onde ele teria sido levado. Isso teria ocorrido por volta das 19hs. Familiares descobriram, logo após, e de acordo com uma testemunha, que o jovem levou um tiro e tentou se esconder de baixo de um banco que fica numa praça, próximo a uma escola pública. Neste instante, os PMs viram Júlio César, puxaram-no e o levaram para o caveirão.

De acordo com os familiares do jovem, no dia do ocorrido, ele estava ajudando a organizar uma festa para crianças na referida praça. Esta, além da festa, havia recebido um parque. Por conta disso, havia muitas crianças circulando no local naquele dia. Devido aos preparativos da festa, Júlio foi pegar o bolo e, quando retornou, parou para conversar com alguns amigos que também estavam na praça. Foi quando levou o tiro. Após ficarem sabendo que o jovem havia sido levado pelos policiais, familiares e amigos se reuniram, esperando que Júlio retornasse vivo. Todos estavam chorando e desesperados pela falta de notícias, já que o tempo passava e nenhuma informação chegava. Neste momento, uma amiga da família e um tio de Júlio tomaram a decisão de ir ao Hospital Getúlio Vargas. Após dez minutos, observaram que o caveirão (que já havia saída da comunidade há algum tempo) não havia chegado ao hospital. De acordo com os moradores da região, o trajeto da Cidade Alta até o Hospital não dura mais do que quinze minutos. O caveirão demoraria uma hora para chegar. A amiga da família informou que, quando os policiais começaram a retirar os corpos do blindado, pode observar que aquelas pessoas estavam todas mortas.

A família tentou ver o corpo de Júlio César, mas um policial militar, responsável pela segurança no hospital , não permitiu. Uma enfermeira, que observava tudo, interveio e discutiu com o policial, alegando que a família tinha o direito de ver o corpo do jovem. O chefe do plantão da enfermaria também entrou naquela situação e chamou a atenção da enfermaria, que tentava ajudar a família de Júlio César. Diante da imensa dificuldade, retornaram para a Cidade Alta e informaram ao restante da família o que havia acontecido. Todos ficaram estarrecidos. Um professor, amigo de Júlio César, acionou a imprensa imediatamente. Algum tempo depois, familiares e amigos descobriram que o jovem levou outro tiro. O primeiro foi dado na altura do abdômen. O segundo, no peito, portanto, mortal. Contudo, um fato estranho ocorreu: no boletim de ocorrência não consta este segundo tiro, o que provavelmente causou a morte do rapaz. Além disso, segundo informações obtidas, os policiais, antes de chegarem ao hospital, teriam lavado o caveirão para, desta maneira, tentar afastar qualquer alegação de que as pessoas que teriam sido levados no veículo foram mortas neste, durante o trajeto.

A violência cometida por estes agentes do estado, além de ser algo rotineiro e sistemático em favelas e periferias do Rio de Janeiro, neste caso específico, representou a interrupção do sonho de um jovem. Júlio César trabalha numa loja de uma grande rede de fast-food (MacDonalds). Entrava no trabalho às 23hs. Quando chegava em casa, de manhã cedo, muitas vezes não ia dormir diretamente. Arrumava a casa e ajudava a cuidar de uma prima, de 3 anos. Nos últimos tempos, ele conversava muito com uma tia sobre o fato de que estava gostando de trabalhar. Júlio César era caseiro e gostava de conversar com os amigos. Fez e fazia cursos numa Ong local. Ele havia feito inscrição recentemente para o curso de carnavalesco. Ele gostava muito da área de artes e chegou a fazer balé. Queria trabalhar nesta área. Júlio César estava construindo o sonho dele.

 

Caíque da Mata dos Santos

Caíque da Mata dos Santos, de 5 anos, foi morto em uma incursão policial na comunidade do Pica-Pau, localizado em Cordovil. Ele levou um tiro na barriga durante uma operação do 16º BPM (Olaria). O pequeno chegou a ser internado no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, mas não resistiu. Morreu no dia seguinte.

O pai de Caíque, Rogério, afirmou em entrevista à Rádio Bandnews FM que apenas os policiais atiraram. Segundo informaram outros moradores, os PMs não estavam uniformizados. Após o ocorrido, eles deram a volta e colocaram os uniformes. Os policiais, então uniformizados, entraram num carro modelo Gol da Polícia Militar.

Segundo o que disseram várias pessoas na ocasião, três PMs entraram na comunidade do Pica-Pau à paisana vestidos de sorveteiros, prática muito comum entre policiais e também o que acaba favorecendo o mascaramento de execuções sumárias. Após a fuga de dois suspeitos, os policiais atiraram a esmo e acertaram Caíque, que agora está morto.

A posição do comando do 16º BPM foi confusa: inicialmente, informou desconhecer qualquer operação da unidade na comunidade na tarde daquela quarta-feira. Posteriormente, afirmou que a incursão foi ilegal, embora não tenha feito nada depois dos fatos ocorridos, no sentido da punição dos seus subordinados. Depois, a PM mudou a versão do ocorrido. Numa justificativa muito comum em casos de execução sumários, apontaram que os agentes teriam sido “recebidos a tiros”. O comandante da unidade disse que “não houve revide por parte dos policiais”, ainda tentando afirmar que havia ocorrido um confronto, quando os moradores diziam o contrário.

Quase todos os meios, como o portal iG, jornal O Globo, jornal O Dia e o portal G1, se limitaram a dar a versão oficial. Apenas o jornalista Ricardo Boechat, da BandNews FM, procurou o pai. Ele questionou, após relatar detalhadamente o caso: “Que merda de operação é essa?”. O jornal Extra registrou a entrevista do pai à BandNews. Durante a entrevista, um integrante da Polícia Civil correu para o telefone para informar à BandNews que não tem envolvimento com o caso. O então relações públicas da PM,  também ligou para a rádio para informar que tinha aberto processo investigativo. O jornalista Ricardo Boechat questionou a necessidade de a comunidade ter de ligar para a imprensa para, só então, se instaurada a investigação. “Dá um desconforto, coronel. Dá um desconforto que o Senhor nem imagina”, afirmou o jornalista.

A PM alegou que os policiais “não sabiam” que havia um garoto ferido. Depoimentos de diversos moradores da comunidade apontam o contrário: os PMs viram o corpo da criança, mas não prestaram qualquer ajuda. A mãe do pequenino Caique disse que os policiais entraram de roupa comum, já atirando, sem se importarem se havia crianças ou outras pessoas no caminho. No momento em que foi atingido pelos PMs, Caique estava na porta da casa da avó dele, brincando, quando apareceram três policiais disfarçados atirando em sua direção.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here